Em apenas sete anos, o PokerStars Caribbean Adventure deixou de ser um torneio de poker para se tornar uma verdadeira instituição. Ele começou como um evento do World Poker Tour e, em 2008, tornou-se parte do European Poker Tour. Ele hoje também ancora o novíssimo North American Poker Tour e o Latin American Poker Tour. Desde que teve início, em 2004, mais de $53 milhões foram premiados no PCA, e mais de 6.000 jogadores já participaram do evento.
O número de eventos paralelos disponíveis no PCA também cresceu a olhos vistos. “Com mais de 50 eventos no calendário, esperávamos muito da PCA desse ano, e definitivamente não fomos desapontados. O main event gerou a maior prize pool [$14.831.300] e o maior field [1.529 players] que já tivemos”, afirmou o Diretor de Torneio Mike Ward. Os eventos paralelos agora rivalizam com o L.A. Poker Classic e a World Series of Poker em volume e variedade, e o main event do PCA hoje pode ser mencionado na mesma categoria do main event da WSOP, do EPT Grand Final e do WPT Championship como um dos principais eventos de poker do ano. O mundo do poker hoje começa todos os anos no Atlantis Resort, nas Bahamas.
O PCA se tornou um lugar onde os jovens jogadores online podem provar seu talento numa arena mundial. Uma das novas promessas era o jogador de 19 anos Harrison Gimbel. Ele era um dos 1.529 jogadores de 57 países que entraram no main event de no-limit hold’em de $10.000, e possuía a exuberante autoconfiança da juventude quando ocupou seu assento no torneio. “Eu realmente achava que iria ganhar. Eu odeio ser tão vaidoso, mas eu simplesmente previ isso. No Dia 1, eu tive um dia muito bom. Eu estava meio tight no começo para analisar todo mundo, pois esse era meu primeiro torneio com buy-in de $10.000. Ao final do Dia 1, eu tinha mais de 100 big blinds. Eu disse a outro jogador: “Ei, olha, eu tenho 100 big blinds; vou ganhar esse torneio”, disse Gimbel.
Ele sobreviveu ao Dia 1 juntamente com outros 883 jogadores, e resistiu a uma tempestade no Dia 2 que viu 68% do field ser eliminado. Durante esse período volátil, o profissional britânico Praz Bansi aumentou seu estoque para 960.800 e tomou a liderança em fichas. Bansi levou seu stack para a batalha contra Phil Ivey no Dia 3. Os dois titãs se enfrentavam enquanto o field ao redor deles quase prendia a respiração na bolha do dinheiro. Bansi eventualmente ganhou sua batalha contra Ivey para terminar o dia com 2.003.000, mas Gimbel tinha retomado a liderança ao final do dia. Ele tinha 2.625.000 com 63 jogadores restantes no evento.
Após o estouro da bolha no Dia 4, o que importava era saber quem conseguiria muitas fichas para disputar o grande prêmio em dinheiro. Ryan D’Angelo era o chip leader ao final do dia com um incrível estoque de 7.483.000, mas outros grandes desafiantes se juntaram a ele no topo — o fundador do EPT e membro do Team PokerStars John Duthie, que tinha 5.304.000 em fichas, e o editor da Card Player Barry Shulman, com 2.433.000. O quarto dia de jogo para Bansi acabou sendo sua queda. Seu estoque caiu para 542.000, e ele foi eliminado no começo do Dia 5, na 18ª colocação. Outros jogadores notáveis que chegaram ao penúltimo dia do evento, mas acabaram não entrando na mesa final, incluíam Robert Mizrachi (22º lugar), Jeff Madsen (19º lugar), Wayne Bentley (16º lugar) e Duthie, que foi eliminado em 12º, depois de sofrer uma bad beat pelas mãos de Tyler Reiman. Duthie foi all-in com um par de ases contra um par de damas de Reiman, mas uma dama no flop deu a Reiman a liderança em fichas. Ele se manteve no topo durante os últimos momentos da bolha da mesa final e passou para o último dia de jogo.
Contagem de Fichas da Mesa Final:
Tyler Reiman — 10.090.000
Ryan D’Angelo — 9.350.000
Barry Shulman — 6.805.000
Harrison Gimbel — 6.000.000
Tom Koral — 5.370.000
Benjamin Zamani — 3.700.000
Zachary Goldberg — 2.340.000
Aage Ravn — 1.690.000
Ao lado de Reiman como um dos líderes em fichas estáveis do torneio, D’Angelo (9.350.000) e o destaque da mesa final, Shulman (6.805.000), que estava fazendo sua segunda aparição na final table de um grande torneio em apenas três meses, já que ganhou o main event da World Series of Poker Europe em outubro. Ele chegou ao Dia Final de jogo na terceira posição em fichas, graças a um call corajoso contra Benjamin Zamani quando restavam 12 jogadores (veja o quadro ao lado).
A ação começou imediatamente na mesa final quando Gimbel dobrou com apenas alguns minutos de jogo. Ele tinha A-K contra o par de valetes de Ryan D’Angelo e o bordo veio A-Q-3-A-K. Tom Koral foi o primeiro a deixar a FT, alguns minutos depois: seu par de damas se deparou com o par de ases de Reiman, e ele foi eliminado em oitavo lugar ($201.300). Zachary Goldberg foi o próximo a sair quando seu par de dez foi superado pelo A-T de Aage Ravn. Um ás bateu no turn e Goldberg caiu na sétima colocação ($300.000).
Ravn foi então eliminado em sexto lugar em uma mão enorme. Ele e Zamani foram all-in, e Gimbel deu call em ambos. Zamani tinha um par de oitos e precisava de um 8 no flop para triplicar. Gimbel tinha um par de valetes, e eles foram suficientes para mandar Ravn e seu A-Q para casa em sexto lugar ($450.000). Zamani então dobrou pouco depois ao conseguir um runner-runner flush contra Shulman para sobreviver. Shulman compensou a bad beat alguns minutos depois ao dobrar com A-Q e seguir na luta.
As eliminações continuaram quando D’Angelo foi all-in com um par de valetes. Reiman deu call com A-K e acertou um rei no river, eliminando D’Angelo na quinta colocação ($700.000), e ganhando uma liderança maciça com 23.835.000, pouco mais da metade das fichas em jogo com quatro jogadores restantes.
A disputa continuou durante mais uma hora antes de Zamani dar call all-in pré-flop com suas últimas fichas segurando A-T contra Gimbel, que tinha um par de oitos. Um 8 bateu no flop e Zamani foi eliminado em quarto lugar ($1.000.000). Depois dessa mão, Shulman era o short stack, e logo colocou suas fichas em risco pré-flop. Ele chegou a dobrar com A-4, mas suou até o final contra o K♠ J♠ de Reiman em um bordo com T♠ T♦ 5♠ 4♥ Q♥.
Shulman dobrou novamente algumas mãos depois quando seu K-Q foi à luta contra A-T de Reiman. Shulman acertou um rei no flop e agora tinha 6,1 milhões. Mas da terceira vez, não teve tanta sorte. Ele foi all-in pela última vez com Q-T, e Gimbel deu call com A-9. O bordo foi inútil e Shulman foi eliminado em terceiro lugar ($1.350.000).
Chip Count do Heads-Up:
Tyler Reiman — 28.625.000
Harrison Gimbel — 17.255.000
O heads-up durou algumas horas, com Gimbel lentamente virando o jogo e tomando a liderança em fichas. Houve duas mãos monstro no começo da partida que poderiam ter acabado o torneio, mas ambas terminaram com potes divididos. Gimbel realmente levou a melhor ao blefar contra Reiman em um bordo com 6♥ 5♦ 4♥ T♣ 7♥ segurando A-4. Ele induziu Reiman a largar um 8♥ 7♦ com uma aposta forte no river. “Havia três cartas de copas no bordo e também quatro cartas para um straight, então ele precisava de um 8 ou de um 3 para uma sequência. Eu dei check-shove principalmente porque ele não seria capaz de dar um call tão amplo; ele tinha uma gama restrita. Ele daria fold na maioria das sequências aqui, pois eu poderia ter um flush”, disse Gimbel. “Eu também tinha um ás de copas na mão, que era um grande blocker, pois eu sabia que ele não poderia ter o nut flush”.
Gimbel ficou com 36 milhões em fichas depois desse pote, e começou a fechar sua vitória. A mão final foi entre um par de oitos de Reiman e um de dez de Gimbel. Ambos os jogadores trincaram, e Gimbel saiu vitorioso do torneio. O vice-campeão Reiman ganhou $1.750.000, e Gimbel levou para casa o grande prêmio de $2.200.000. Ele é o mais jovem campeão da história do PCA. “Foi um dia muito bom. A sensação é incrível. Eu sempre quis ganhar um torneio grande e por sorte consegui isso num dos meus primeiros. Muitos dos jogadores eram bons demais, mas eu tinha bastante autoconfiança quando cheguei para jogar hoje”, disse Gimbel após a vitória.
O futuro parece brilhante para o jovem profissional de poker, mesmo que ele precise jogar na Europa durante os próximos dois anos. “É muito frustrante não poder jogar tudo. É isso que eu faço — eu jogo poker. Realmente quero jogar nos torneios de Las Vegas, mas preciso esperar dois anos. Definitivamente jogarei na Europa até lá”, afirmou Gimbel. ♠
A mesa final do evento high-roller de $25.000 do PokerStars Caribbean Adventure 2010 ocorreu após um longo período de jogo durante a bolha na noite anterior. A infeliz garota da bolha depois de horas de jogo nine-handed foi a PokerStars Team Pro Sandra Naujoks. Os últimos oito haviam batalhado arduamente para chegar ao dia final contra um field de 84 jogadores experientes.
Dmitry Stelmark foi o primeiro a empurrar com poucas fichas na mesa final, e isso aconteceu logo na segunda mão. Seu K-T foi dominado pelo A-T do chip leader Tobias Reinkemeier, e Stelmark foi eliminado em oitavo lugar ($66.885) depois que o bordo veio A-T-9-K-J. Matt Marafioti caiu em sétimo ($87,465). Seu par de setes estava disputando com A-K de William Reynolds pré-flop, e um ás no turn selou a sorte de Marafioti.
Houve então uma trégua nas eliminações e, durante esse período, a sorte de Reinkemeier mudou drasticamente. Ele dobrou Will Molson e, mesmo depois de ele mesmo ter dobrado, ainda estava em risco. A mão final para Reinkemeier veio quando ele deu shove com um par de oitos e se deparou com um par de reis de Reynolds. Os reis seguraram e Reinkemeier caiu em sexto lugar ($108.045). Já Lisa Hamilton saiu na quinta colocação ($133.770). Seu par de valetes perdeu o coinflip contra o A-Q de Molson, que recebeu uma dama e pôs fim à corrida de Lisa.
O short stack Adolfo Vaeza dobrou algumas vezes durante o jogo four-handed e sobreviveu a Michiel Brummelhuis, que escolheu um mau momento para ir all-in pré-flop com Q-9, pois Reynolds tinha um par de ases e o bordo não ajudou ninguém. Brummelhuis foi eliminado em quarto lugar ($154.350). Vaeza viu sua vez chegar com uma terceira colocação ($218.150). Ele decidiu dar shove com 5-3 num flop com A-6-4, e Reynolds deu call com A-K. As cartas do turn e do river não mudaram nada, e a batalha heads-up se daria entre os dois jogadores mais ativos da mesa, Reynolds e Molson.
Contagem de Fichas Heads-Up:
William Reynolds — 2.455.000
Will Molson — 1.747.000
O primeiro grande pote do heads-up foi puxado por Molson, que ficou empatado em fichas com Reynolds. Seu Q-J derrotou J-8 de Reynolds em um bordo com K-J-3-9-J. Molson estava jogando HU desse evento pelo segundo ano consecutivo, e não queria ficar em segundo lugar de novo. Contudo, quando ficaram empatados, Reynolds tomou o controle e deixou Molson com menos de 1 milhão em fichas. Molson eventualmente deu shove com A-9, que dominava A-8 de Reynolds. O bordo veio 9-9-5-7-3 e Molson dobrou.
Pouco depois, um par de setes de Reynolds enfrentou o A-3 de Molson. Os setes ganharam, dando a Reynolds uma liderança de 4-1 em fichas. Poucos minutos depois, a mão final aconteceu. Molson foi all-in pré-flop com K-8 e Reynolds deu call com A-T. O bordo não ajudou Molson, que passou a deter a honraria de ter sido duas vezes vice-campeão desse evento em anos consecutivos. Ele ganhou $322.075 e Reynolds foi coroado campeão e recebeu um troféu de prata e mais $576.240. ♠
Shulman Dá Call Corajoso Contra Zamani
Por Julio Rodriguez
Barry Shulman admite que nem sempre é o jogador mais imponente da mesa, mas não há dúvida de que o editor da CardPlayer americana é capaz de colocar o terror em seus oponentes. A tendência de Shulman de tomar decisões rápidas e ir adiante com suas leituras já frustrou muitos que tentaram cruzar seu caminho.
No PokerStars Caribbean Adventure não foi diferente, pois ele enfrentava outro field enorme. Ele era o jogador mais velho nas mesas em que jogava, e muitos qualificados online achavam que ele era fraco ou um alvo fácil. Eles logo se desapontaram quando Shulman mais uma vez se viu no topo dos lideres em ficha nos estágios finais do torneio.
No penúltimo dia, com apenas 12 jogadores restantes, ele disputou um pote com o eventual quarto colocado Benjamin “thestein” Zamani. Na mão em questão, Shulman deu call com o resto de suas fichas segurando apenas ace-high, e viu que estava correto. Não foi apenas o call que deixou os presentes em polvorosa, mas a velocidade com que ele pagou. A Card Player conversou com ambos os jogadores para discutir a mão e seu impacto sobre os resultados finais.
A Mão
Evento - Blinds/Ante: PokerStars Caribbean Adventure - 30.000-60.000/ ante de 5.000
Jogadores - Barry Shulman, Benjamin Zamani
Mãos - A♣ Q♣ / Q♦ T♠
Contagem de Fichas - 2.335.000 / 5.835.000
Shulman deu raise para 180.000 do cutoff e Zamani deu call do big blind. O flop veio J♦ 9♦ 3♣ e Zamani deu check. Shulman disparou uma continuation-bet de 450.000 e Zamani demorou um pouco antes de anunciar que estava all-in.
Shulman deu insta-call com seu estoque de 2.155.000 e deixou a mesa incrédula ao mostrar A♣ Q♣. Zamani apresentou Q♦ T♠ e precisava de ajuda com suas pontas. O turn e o river trouxeram o 4♥ e o A♠, e Shulman dobrou, colocando Zamani de volta ao meio do grupo.
Entrevista com Barry Shulman
Julio Rodriguez: Tendo em vista sua imagem mais tight, você ficou surpreso quando Zamani deu call do big blind com uma mão que poderia ser facilmente dominada?
Barry Shulman: Não, eu não fiquei surpreso. Nada mais me surpreende. Esses caras são tão agressivos e tão criativos que é realmente muito difícil saber o que eles têm de verdade, pelo menos pré-flop. Só muito depois você pode começar a restringir as possibilidades.
JR: No flop, você conseguiu mais informações com o shove check-raise gigante dele. Você pode nos detalhar sua leitura da situação?
BS: Nessa mão, eu não achei que ele tinha empurrado com uma trinca, que era a única mão que me derrotava. Foi uma aposta tão exagerada que eu pude descartar muitas mãos, o que tornou a decisão mais fácil. Achei que, na pior das hipóteses, ele teria um valete e eu ainda tinha minhas duas overcards, mas, para ser sincero, eu realmente não achava que ele estava tão forte.
O flop possibilitava muitos draws, e eu sabia que ele faria uma jogada com uma variedade de mãos. Eu tinha plena confiança de que meu ace-high estava à frente de muitas das mãos deles, e sabia que era favorito se ele tivesse um duas pontas para a sequência ou um flush draw.
JR: Em genal, você parecia muito mais paciente do que os demais jogadores, sobretudo na mesa final. Como você se adaptou a oponentes que literalmente podiam segurar quaisquer duas cartas em qualquer situação?
BS: A única maneira que eu soube me ajustar foi simplesmente começar a jogar fora minhas mãos, para ser honesto. Eu sei que é chato, mas a estrutura do torneio era tão boa que eu podia me dar ao luxo de esperar por mãos mais fortes e esperar que eles fossem eliminados. Além disso, os jogadores eram tão agressivos que eu sabia que ainda assim pagariam minhas mãos altas. Houve algumas exceções, mas parecia que a maioria dos jogadores não estava fazendo um bom trabalho prestando atenção.
Entrevista com Benjamin Zamani
Julio Rodriguez: Você ficou surpreso ao ser pago por uma mão tão baixa e tão depressa?
Benjamin Zamani: Eu fiquei um pouco estarrecido quando ele mostrou sua mão. Tenho plena certeza de que ele não tinha noção de quantas fichas a menos ele tinha. Eu acho que, se ele tivesse parado por um segundo para pensar um pouco sobre a situação, teria decidido dar fold.
JR: Quais são suas impressões sobre Barry e seu jogo?
BZ: Muitos jogadores acham Barry um jogador muito tight, mas eu sei que ele ocasionalmente gosta de diversificar.
JR: O que você acha que deu errado nessa mão?
BZ: Acho que demorei muito ao tomar minha decisão de dar shove, e ele simplesmente leu que eu estava blefando. Acho que a jogada funcionaria 90% das vezes, mas talvez ele tenha decidido desde o princípio que não deixaria ninguém brincar com ele. ♠