Eu estava jogando o último evento do U.S. Poker Championship quando uma mão bastante estranha aconteceu. Ela me pegou de surpresa, e eu acabei questionando muitos amigos sobre o tema. As respostas que recebi me surpreenderam ainda mais, e ao mesmo tempo reforçaram minha opinião sobre como a mão foi jogada. Compliquei muito? OK, vamos falar da mão.
Os estoques iniciais eram de 5.000. Na quarta mão do torneio, com todo mundo mais ou menos ainda com essa quantia, eu recebi um par de damas. Os blinds estavam ainda em 25-50 apenas. O jogador under the gun entra de limp. A mesa roda em fold até mim em posição intermediária. Eu aumento para 200. A mesa roda em fold até o jogador under the gun, que dá call. O flop vem A-A-A. Há 475 no pote. Minha reação imediata foi achar minha mão boa, mas continuar jogando small ball. Não faz sentido construir um pote caso ele tenha um ás nesse estágio do jogo. Eu quero fazer mais value-bets que possam ser pagas ou mesmo aumentadas por pares menores. Mas meu raciocínio não durou muito.
O jogador under the gun vai all-in. Eu fiquei totalmente confuso. Essa jogada não fazia sentido algum para mim. Se ele tivesse o ás, por que iria all-in? Se tivesse um par, ele teria de se preocupar com o fato de eu poder ter um par maior ou mesmo um ás. Como eu dei raise de posição intermediária, ele devia concluir que eu tinha alguma coisa. Eu nunca tinha jogado com esse cara antes, então não fazia ideia de como ele era. Minha reação imediata foi dar call, mas essa mão realmente merecia algum raciocínio, em especial porque eu seria eliminado se errasse. Não havia dúvida aqui. Eu estava com uma queda morta ou ele tinha uma queda quase morta.
Quanto mais eu refletia sobre a mão, mas me convencia de que ele tinha de ter o ás. Primeiramente, ele só poderia ter certeza absoluta de que eu não tinha o ás se ele mesmo o segurasse. Caso tivesse, ele poderia facilmente me colocar em um par e incitar um call. Segundo, se ele tivesse um par menor e quisesse fazer com que eu largasse uma mão como K-Q, ele poderia conseguir isso com uma aposta muito menor. Contudo, o que realmente me convenceu foi que, indo all-in, ele devia achar que eu acharia que não havia como ele ter o ás. Ele esperava que eu tivesse uma mão exatamente como a que eu tinha, e que daria insta-call e ele dobraria suas fichas.
Portanto, dei fold e me senti bem com essa decisão. Nosso vilão acabou se mostrando um jogador muito agressivo que construía um estoque relativamente grande e logo depois o perdia – acabou sendo eliminado na terceira rodada. Ele jogava muitas mãos, e a única outra vez que eu o vi dar uma grande overbet all-in foi quando tinha o nuts. Isso apenas reforça meu raciocínio quanto à nossa mão. Eu acabaria chegando à mesa final, o que também solidificou minha lógica.
Apesar disso, o que realmente me convenceu de que eu tinha tomado a decisão certa foi a reação de pelo menos uma dúzia de jogadores que respeito. Quando expliquei a mão, todos eles, exceto um, disseram que era um insta-call de minha parte. Eles teimaram dizendo que não havia como ele ter o ás. Mesmo quando eu expliquei meu raciocínio, eles insistiram em dizer que não havia como ele ter o ás e que eu tinha perdido uma oportunidade única. A única exceção foi um amigo cuja reação inicial foi: “É claro que ele tinha o ás”. Ele nem sequer precisou pensar. Bem, se uma porcentagem tão grande de jogadores está convencida de que ele não tinha o ás e se tratava de um insta-call da minha parte, ir all-in é uma ótima jogada, pois você vai dobrar na imensa maioria das vezes.
Agora, se você estiver querendo uma resposta definitiva, sinto muito, pois não tenho uma. Jamais saberei se ele realmente tinha o ás ou não. Mas vou lhe deixar a seguinte conclusão: se você for para cima com tudo quando tiver um monstro, é garantido que vai encontrar oponentes que põem em dúvida a força da sua mão. ♠
David Apostolico é autor de Compete, Play, Win: Finding Your Best Competitive Self. Você pode contatá-lo em thepokerwriter@aol.com