EDIÇÃO 89 » COLUNA INTERNACIONAL

Call ruim, boa mão

Tradução: Eduardo Marcolino / Revisão: Marcelo Souza


Dusty Schmidt
Fui recentemente à República Dominicana para o Punta Cana Poker Classic. É sempre um prazer jogar esse evento, patrocinado pela Card Player. A viagem é um espetáculo, com tudo incluído: ótima praia, bons quartos, pessoas muito amigáveis e, claro, golfe.

O torneio começou bem pra mim, então vou falar sobre uma mão no nível 800-1600, depois de eu já ter construído um stack sólido. Naquele momento, apenas o SB tinha mais fichas do que eu.

No-Limit Holdem 800-1600 ante 200 – 9 jogadores

Stacks: Eu tenho 113.500 e o SB tem 122.800.

Leitura: O SB é agressivo.

Pré-flop: Estou no hijack (duas posições atrás do button) e tenho KQ. A mesa roda em fold, eu dou raise para 3.700. O cutoff e o button dão fold. O SB dá re-raise para 13.500, o big blind dá fold, eu dou call.

A decisão de abrir raise, em posição intermediária, com KQs é bem fácil. No início de um torneio, eu gosto de arriscar um pouco para tentar acumular fichas em vez de apenas esperar para atingir uma premiação mínima. Eu tento vencer. Essa mão joga bem estando em posição contra stacks de tamanho decente, então me pareceu uma boa situação para pagar uma 3-bet.



Flop: 7 7 6 (30.400 – 2 jogadores)

SB dá check, eu dou check.

Depois de ter dado check neste flop, acredito que meu adversário tem várias mãos que contenham um Ás, mas quero esperar para ver o que acontece. Se eu aposto e sou pago, fica difícil representar uma mão de valor apostando nas três streets. Por outro lado, é fácil dar check e depois representar uma mão com valor no turn e no river. Jogando no meu melhor nível, eu provavelmente daria check em posição com minhas mãos boas e apostaria por valor no turn e no river, já que o check dele no flop representa fraqueza.

Meu check aqui me dá a chance de melhorar meu jogo sem gastar nada. Eu também poderia conseguir uma boa carta para blefar no turn, além de obter uma leitura melhor da mão do SB.

Turn: 8 (30.400 – jogadores)
SB dá check. Eu aposto 17.000. SB dá call.

Já que o small blind deu check duas vezes, eu penso: “Me dá logo o pote”. Ele basicamente desistiu dele. Minha aposta não precisa ser enorme aqui. É um pouco maior que metade do pote. Eu considerei apostar ainda mais baixo para induzir um call, porque uma vez que eu aposte no turn, eu terei que apostar no river para tirá-lo da disputa com qualquer lixo que ele tenha. Há pouquíssimas mãos no range dele que o farão dar check no flop e no turn e depois dar call no turn e no river.

River: 5 (64.400 – 2 jogadores)
SB dá check, eu aposto 30.000, SB paga.

O backdoor flush não veio, mas essa ainda poderia ser uma carta assustadora para meu oponente, o que significa que é boa para eu apostar. Eu não achei que precisava fazer uma aposta grande, já que o range mãos do meu adversário é fraco. Minha aposta de 30.000 me deixa com 52.800 fichas sobrando.  São 33 big blinds nessa fase do torneio, então, mesmo que o blefe não passasse, eu não estaria totalmente fora da disputa.



Ao apostar menos da metade do pote, eu não precisaria que esse blefe funcionasse nem um terço das vezes para que ele fosse lucrativo. Senti que meu adversário tinha A-K ou A-Q, quase 100% das vezes, nessa situação, o que me fez me sentr muito bem em relação à minha aposta. Nenhuma outra mão faria sentido. Achei que ele iria dar fold com esse jogo quase sempre. Mas eu estava errado. Ele deu call e ganhou o pote com A-10.

Mais como um exercício do que como uma forma de zombar de mim mesmo, podemos tirar proveito de uma análise da lucratividade desse call. A melhor forma de começar é pelo meu range de mãos. Eu apostaria no turn e no river com praticamente todas as mãos que eu teria dado check no flop. Isso é algo como 22-QQ e cartas broadway do mesmo naipe (AKs, AQs, AJs, KQs, KJs, QJs, JTs).  Seu A-10 venceria 15 combinações dessas mãos (KQs, KJs, QJs, JTs). Ele perderia para todas as minhas mãos com Ás e meus pares. Isso representa pelo menos 59 combinações.

Para um call lucrativo, o small blind precisa que seu A-10 seja vencedor em torno de 32% das vezes. E na verdade ele é bom em aproximadamente 20% das vezes. O que podemos dizer é: “call ruim, boa mão”. E então jogar um pouco mais e partir para a praia.


NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×