EDIÇÃO 3 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

All In no Sit and Go Turbo


Vicenzo Camilotti

Na internet, sit and go turbo é o jogo mais defendido de todos, o caminho escolhido por muitos que se iniciam no poker. São torneios de mesa única, com 9 ou 10 jogadores, em que os 3 primeiros chegam na zona de premiação: campo ideal para quem gosta de começar seguro. Mas isso não significa jogar passivamente, muito pelo contrário.

 A grande diferença entre o sit and go turbo (ou speed) e os multi-tables normais é a relação entre o stack e os blinds. Tanto no primeiro quanto no segundo, o ataque a quem quer apenas ficar in the money precisa acontecer, mas o formato turbo (aumento dos blinds a cada 5 minutos ) não permite muitas manobras para o trabalho de flop, turn e river. A relação stack/blind é sempre apertada, muitas vezes até para quem estiver liderando o torneio.

A partir do quarto ou quinto nível de blinds, e dependendo do formato do sit and go do site, é bastante comum que você fique com menos de 10 vezes o big blind. O all in pré-flop nessas situações torna-se uma nescessidade, além de ser, na prática, uma jogada bem eficiente.

Em tese, jogadores habilidosos conseguem tirar mais vantagem ao longo de quatro rodadas de apostas (que uma mão pode conter) do que em uma só. Então, por que seria tão eficiente assim apostar todas suas fichas antes do flop, em uma jogada tão arriscada? Vou respondendo aos poucos.

Aqui, all in pela SIMPLICIDADE. Por exemplo, se você entra triplicando o pingo e o SB é o seu único pagador, um bordo totalmente falho, como 7-8-9, dá a ele a oportunidade de disparar fichas em cima de você e dificultar sua decisão – além de ser uma situação comprometedora no torneio, se você largar o pote. Caso ele tenha 8Q, por exemplo, é possível pagar estando muito por baixo (com 25% de vitória e 3% de empate na mão), arriscando ser chutado para fora da mão depois do flop, contra um QK qualquer.

Quando você “apenas” roubar big blinds com AK na mão, o resultado já terá sido satisfatório.

All in para BOTAR PRESSÃO. Quem joga torneios sit and go na internet deve ter em mente que os oponentes, em sua grande maioria, estão mais preocupados em entrar na zona de premiação, para somente depois tentar algo mais. Na interpretação deles, o lucro por apenas ficar in the money já é grande, e ele só vai pagar um all in, arriscando ser o quarto lugar do torneio, quando possuir um jogo muito forte na mão ou quando estiver tiltado. Coloquei a mão 6-7s porque ela é ultra-defendida em caso de call de duas cartas altas, a exemplo de AQ (42% de chance de vitória, acredite). Mas eu seria mais radical e aconselharia o all in, mesmo com lixo na mão, como 9-3 off (sim, estou provocando quem tem superstição com “pocket chucky”).

Para jogar de maneira INVERSA aos seus oponentes, all in. É unanimidade entre grandes autores que essa é a melhor maneira de se tirar proveito dos adversários na mesa. Se todos (ou quase) jogam apenas para figurar na zona de premiação do torneio, você deve jogar para GANHAR o torneio. Assuma riscos, porque o maior deles é não querer correr riscos em um torneio turbo. Por causa do aumento rápido dos blinds, a iminência da eliminação existe para todos, a toda hora. Melhor assumir o comando da situação, antes que vire uma batalha pela sobrevivência. Par de dez  também é uma mão difícil para se trabalhar flop em situação de pingo alto, e ganhar 500 fichas aqui, sem confronto, é um ótimo combustível para a luta.
 
No próximo diagrama, suponhamos que você já tenha dado all in diversas vezes no torneio:

 All in, mais uma vez, para IRRITAR os adversários. Acredite ou não, a maioria dos jogadores de internet, do alto de sua arrogância, vai julgá-lo como sendo um fraquíssimo oponente, que só sabe dar all in e não tem o mínimo de técnica (a qual eles têm certeza absoluta de que possuem). Se você veio de all in sem parar, a tendência de os adversários darem fold diminui e, caso você entre aqui dobrando ou triplicando o pingo, eles podem interpretar que você está querendo que alguém pague. Considerando que a chance de haver fold é quase a mesma se você apostar todas suas fichas nessa mão, por que não tentar lucrar ao máximo em caso de call? Lembre-se de que isso dificulta muito a leitura dos oponentes, pois será uma repetição do golpe já feito várias vezes.

E melhor, o all in desse exemplo vai, pelo menos, melhorar sua imagem na mesa, se você mostrar as cartas em caso de fold de todo mundo, e seus próximos all ins serão bem mais respeitados pelos oponentes. Assim, esse showdown dará origem, no mínimo, aos vírus da dúvida e da insegurança nas próximas decisões que eles precisarem tomar.

Mais um benefício que deixa bem clara a eficiência, pregada por mim, desse estilo de “poker de rua”, é que você fica com imagem de alucinado na mesa. Qual a atitude que tomamos quando vemos um maluco em nossa direção no fim da esquina? Dobrar a esquina! Qual a atitude tomada pelos oponentes que só querem saber de segurança quando se chega na hora decisiva do torneio, com pingo alto e ainda fora da zona de premiação? Evitar atacar seu pingo! Isso mesmo, você fica mais forte em blind defense. Mas isso é um assunto para o próximo artigo.

Full houses (com all in) para todos!




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×