O CENÁRIO
A já tradicional Grande Final Milionária do Conrad leva ao Uruguai, todos os anos, alguns dos maiores jogadores desse lado da linha do Equador. Realizado em um ambiente luxuoso, digno de Las Vegas, o sofisticado balneário com cara de Europa recebe um torneio cuja premiação ultrapassa a marca de 1 milhão de dólares de premiação, o que se torna mais um requinte desse verdadeiro oásis da América do Sul.
No salão, o ruído de vozes soa quase como um cochicho, um burburinho que sequer ultrapassa o volume do som dominante: o farfalhar e tilintar das fichas em jogo. Salvo por um arroubo ou outro (comemorativo ou não) por parte dos jogadores mais exaltados e emotivos, tudo transcorre na mais absoluta tranquilidade, como se uma grande final milionária fosse algo absolutamente corriqueiro – e é, pelo menos alguns dos participantes, há muito acostumados à adrenalina da disputa, e para os organizadores, habilidosos no planejamento e execução de um torneio dessa magnitude. E o sucesso do evento se deve justamente à combinação desses dois fatores: jogadores empolgados e organização profissional. Nenhum detalhe escapava à atenção dos diretores, que circulavam ininterruptamente pelo salão Monte Carlo, onde até duzentos jogadores jogavam por turno.
O ROTEIRO
As eliminações ocorriam de maneira relativamente rápida, devido à estrutura acelerada do torneio, que contava com níveis de blinds começando em 50/100 e subindo a cada vinte minutos, com antes a partir do quarto nível. No primeiro dia de disputa, que ocorreu das 23h às 2h da quinta-feira, 3 de dezembro, 120 players, que fizeram 28 rebuys, jogaram durante três horas até que restassem apenas 60. No dia 1B, a sexta-feira, houve duas baterias de três horas cada, com dois grupos distintos: um, composto por 196 participantes, fez 40 rebuys e, ao cabo das três horas de jogo (das 19h às 22h), diminuiu para apenas 87 sobreviventes; o outro, com 118 jogadores que realizaram 19 rebuys, terminou a noite de disputa (das 23h às 2h), com 55 jogadores ainda de pé. Ao total, 434 jogadores se inscreveram no torneio e, juntos, realizaram 87 rebuys, o suficiente para compor uma prize pool no valor de US$ 1.522.700.
No sábado, a batalha recomeçou cedo: poucos minutos depois do meio-dia, os 199 sobreviventes dos três grupos se juntaram pela primeira vez, com blinds começando em 1.000-2.000 e ante de 100. Jogadores de vários países compunham o field, com predominâcia sul-americana: argentinos, uruguaios, chilenos, peruanos e os animados brasileiros, que vieram em grande número, claro. Dentre eles, destacavam-se o colunista da CardPlayer Brasil e Pro do PartyPoker Felipe Mojave Ramos e o SuperPoker/FullTilt Team Brazil Caio Pimenta, que, apenas uma semana antes, tinha vencido o Sunday Million. Caio prestigiou o Torneio Milionário do Conrad com o buy-in e todas as despesas pagas, como prêmio pelo título de Jogador do Ano 2008 da CardPlayer Brasil. Caio foi entrevistado break a break, e nos falou sobre suas impressões do evento em tempo real, conforme você pode conferir no quadro da próxima página. Entre os parceiros brazucas que também participaram do evento estavam Cláudio Baptista, Igor Federal, Robigol, Eduardo Marra, Max Dutra, José Guido e vários outros.
OS PROTAGONISTAS
Mojave infelizmente caiu próximo da bolha, na 53ª colocação, após perder um pote de quase 100K e depois um coinflip. Os 43 primeiros colocados (10% do field) ficariam na faixa de premiação, que começava em US$ 5.000. Depois de uma natural diminuição do ritmo de eliminações devido à proximidade da bolha, conheceu-se a mesa final por volta das 20h30, que tinha a seguinte composição, em relação aos stacks:
O primeiro a ser eliminado foi o uruguaio Waldemar Bachini, vítima de seu compatriota Gerardo Álvarez. O próximo a deixar a disputa foi o argentino Román Suárez, eliminado por Caio Pimenta, levando para casa um prêmio de US$ 40.000. Em 8º lugar caiu outro argentino, Juan Carlos D’Orsogna, também pelas mãos de Caio Pimenta. Mas quando tudo parecia ir bem para o brasileiro favorito, ele acabou eliminado na 7ª posição, depois de uma disputa contra o também brasileiro André Barasch, recebendo US$ 56.000 pelo excelente desempenho.
O Brasil fez mais vítimas argentinas, com Jorge Centurión sendo eliminado na 6º posição por David Dayan e, em seguida, Pablo Zarnicki caindo após disputa contra Barasch. A 4ª posição ficou com Gerardo Álvarez, também eliminado por Barasch. O ultimo argentino ainda na briga, Alberto Palaversich, caiu na 3ª posição, levando US$ 130.000.
O DESFECHO
E o heads-up decisivo seria brasileiro: André Barasch contra David Dayan. Eles fizeram um acordo e combinaram de ir all-in na primeira mão, para que o vencedor fosse definido logo. E, com J-4 contra T-4, André sagrou-se campeão da Gran Final Millonaria do Conrad Poker Tour 2009, tornando-se o primeiro brasileiro a conseguir tal título e levando para casa mais de US$ 200.000.
André, em entrevista concedida com exclusividade à CardPlayer Brasil, confessou que jamais havia jogado um torneio e que não era jogador de poker online. Ele afirmou que costuma jogar apenas com os amigos, semanalmente, e que foram eles que o convenceram a ir disputar o famoso evento do Conrad. Barasch tem consciência da influência da sorte no seu resultado, afirmando que “há dias em que a gente ganha e outros em que a gente perde”, mas atribui a seu jogo responsável e a seu estado mental tranquilo o incrível resultado.
Parabéns, André Barasch, primeiro brasileiro a conquistar o Main Event da América Latina, na Grande Final Milionária do Conrad Poker Tour 2009! E parabéns ao Conrad, na pessoa de José Silva, diretor de marketing do Hotel Cassino, pelo excelente trabalho à frente do evento. Esperamos que em 2010 o Torneio Milionário seja um sucesso ainda maior!
O ALL-IN QUÁDRUPLO DE EDUARDO MARRA (Dia 1, 1ª bateria)
“Exatamente na primeira mão do torneio, eu tinha um par de seis. Um senhor pagou apenas o blind, e eu também. Teve mais uns três calls, e o flop veio Q-6-5. Trinquei o 6 e havia duas cartas de paus na mesa. O mesmo senhor começou apostando 600 fichas, e eu apenas paguei, esperando que alguém aumentasse a aposta. Comecei a me preocupar com o andamento, pois o primeiro a falar deu call também, assim como o segundo. O terceiro então aumentou para 1.060 e, quando a ação voltou para o senhor, ele deu all-in com 10.000. Eu sequer cogitei dar fold, pois ele não poderia ter um par de damas, senão teria dado raise pré-flop. Dei all-in com 10.000, o jogador do lado também foi all-in com mais 10.000 e o último a aumentar colocou os 10.000 também. Eles não estavam preocupados porque podiam fazer rebuy, mas eu, como não pretendia fazer rebuy, poderia cair já na primeira mão. No showdown, o primeiro tinha par de reis, eu tinha trinca de seis, o outro tinha 6-5 (dois pares, um call duvidoso, já que havia dois all-ins) e o senhor tinha Q-3. Eu só perderia se batesse um rei, ou seja, tinha dois outs para perder, basicamente. O 6-5 e o Q-3 não tinham mais chances. Não virou nada e eu fiquei com 41.000 fichas, quadrupliquei na primeira mão”.
CLÁUDIO BATISTA E O SHOVE ETÍLICO (Dia 1, 2ª bateria)
“Eu estava no small blind, com A♥J♥, short-stacked – tinha 6.000-7.000 fichas mais ou menos. Com blinds em 800-1.600, o cara abre raise de 4.000 e outro dá call. Cheguei dando shove: meu all-in era de 7.925. O parceiro do meu lado parece que tinha tomado umas, porque eu já tinha dado shove contra ele várias vezes, e ele não viu que tinha dois na parada, não percebeu e deu shove por cima, e isolou tudo. Dois que abriram raise deram fold, e o cara me apresenta A-T. Bate um valete já no flop, quadruplico, vou para 25.000 fichas. Tá ótimo. Tô na média”.
CAIO PIMENTA, BREAK A BREAK
Caio Pimenta, por ter conquistado o título de Jogador do Ano da CardPlayer Brasil em 2008, foi contemplado com o pacote completo para disputar a Grande Final Milionária do Conrad Poker Tour 2009, incluindo buy-in, passagens aéreas e hospedagem. E, claro, ele fez bonito no torneio. Nesta sessão especial, Caio comenta todo o torneio, break a break, com exclusividade para a CardPlayer Brasil.
DIA 1
Nós sabíamos desde o princípio que o torneio teria uma estrutura mais turbo, então, em vez de jogar muitas mãos, optei por escolher a mão certa para poder comprometer todas as minhas fichas.O clima do evento estava muito bom, o pessoal do Brasil tomou conta mesmo. Meu stack foi caindo, até que veio uma mão com blinds de 300/600, em que eu tinha 7K fichas no button e fui all-in. O small blind pensou, pensou, e acabou dando fold. Eu mostrei meu A-J, e ele, que tinha 10-10, começou a falar que eu era muito ruim, que eu estava ficando louco, que eu não devia ter feito aquilo (risos). Então eu consegui um par de ases, o cara subiu, eu paguei e consegui tirar todas as fichas dele. Flop K-T-5, ele tinha A-T e entregou tudo. Na verdade, o pessoal está com medo, querendo passar de todo jeito. Até ouvi um tiozão dizendo: “Vamos devagar e tal, para a gente passar”. E eu disse: “Não, não, eu gosto de emoção. Eu prefiro com emoção” (risos).
DIA 2, 1º break
Eu entrei com 17 BB, com blinds de 1K-2K. Estrutura muito rápida, mas a mesa estava bem tight e eu consegui aumentar meu stack para 60K. Caí para cerca de 50K, e eis que surge uma mão interessante com os blinds já em 4K: dois jogadores entram de limp, eu já estou all-in com Q-3 de espadas e recebo um call de A-9 de um cara. A-9 off e Q-3 de espadas: um 3 no flop, guerreiro, segurador (risos). Fico o dobro da média. Caio fala sobre ter havido ou não mudança de estratégia devido à presença de Felipe Mojave na mesa. Mojave é um cara perigoso, mas que tem um jogo bem sólido. A gente não costuma se bater muito. Ele só envolve suas fichas numa situação realmente boa.
DIA 2, 2º break
Muita ação. Abri esse período com 110K já acima da média. Na primeira mão, venho com par de dez e um cara que eu nunca tinha visto move all-in com 20 big blinds. Eu não me senti muito bem e dei fold. Na mão seguinte, o cara abre com 6 big blinds e eu, com A-K, embolo com ele, com par de seis. Bateu o rei e eu ganhei, então subi para 160K, uns 25 big blinds. Eu era o cara que mais movimentava a mesa, que estava muito tight. Agora na última mão eu consegui passar um blefe gigante, um pote com mais de 100K. Estou confiante e sentindo o cheiro da forra.
DIA 2, 3º break
Quinze “left”, já atingi uma boa faixa de premiação, que agora está dando 15K dólares. O jogo está muito travado. Um cara ali, à minha esquerda, me deu um steal agora. Consegui fazer um resteal com Q-4 suited, que passou e me deu um pote gigante, de mais de 100K fichas. Eu me mantive nas 400K fichas. Estamos vivos, estamos na briga.
DIA 2, Definição da Mesa Final
É muita emoção, cheguei à mesa final. Estou um pouco acima da média, entre os favoritos. Os blinds vão subir agora e vou ficar com uns 17 BB – é onde sei trabalhar, é como eu jogo todo dia na Internet. Rolou um par de dez ali que não existe: um louco sobe do UTG e eu estouro meu par de dez. O cara do outro lado da mesa pensa, e chumba muito acima da média com A-J. Quase enfartei ali, mas segurou. Entramos na final com 630K, e vamos brigar. É Brasil!
FIM DA LINHA
Balanço dessa última fase do torneio e do evento como um todo. Foi muito legal, mesmo sem cartas para me mexer na mesa final. Fui até onde deu, fazendo uns moves, encaixando. Achei que o cara fosse largar um A-T ali. Ele abriu 150K e tomou call. UTG tinha 800K, mas tinha um takedown legal. O stack efetivo fazia muito estrago no estoque do cara. Achei que ele fosse dar fold, mas teve coragem e pagou bem. É isso aí, sétimo lugar. Ano que vem estaremos aqui de novo e – quem sabe? – ficaremos em primeiro. Sobre o Sunday Million que ele tinha ganhado no domingo anterior e sobre a vinda para o Conrad. É só alegria. Da vitória no Sunday Million eu não tenho do que reclamar (risos). E vir ao Conrad, com tudo pago pela CardPlayer Brasil, e ainda forrar, está de ótimo tamanho, sensacional! ♠