Na mecânica quântica, o princípio da incerteza de Werner Heisenberg afirma que, ao se tentar estudar uma partícula atômica, a medição da posição necessariamente perturba o momentum de uma partícula. Em outras palavras, de acordo com Heisenberg (e ele tem autoridade, já que teve o princípio batizado em sua homenagem), você não pode observar uma coisa sem influenciá-la.
Como isso nos afeta no poker? Muito. Quando você entra em um jogo de poker, é como se se sentasse com várias outras partículas. Deixadas à própria sorte, tais partículas — jogadores — vão se comportar como se comportam. Mas quem disse que você deve deixá-los à mercê da própria sorte? Se você der um Heisenberg neles — preparar-se para perturbar intencionalmente o momentum deles — pode afetá-los de maneiras que não são necessariamente boas para eles, mas que são ótimas para você.
Tomemos o exemplo da única mulher sentada em uma mesa cheia de homens. O mero fato de ela ser mulher faz com que pelo menos alguns homens tirem conclusões sobre o jogo dela. Eles vão supor que ela é fraca, tight e previsível, apenas porque ela é uma mulher. Isso parece ridículo, é claro, mas acontece todo dia. O gênero dela vai ter um impacto Heisenberguiano sobre os demais jogadores. Alguns vão subestimá-la. Outros vão querer impressioná-la ou perturbá-la (ou namorá-la). Não vamos condenar nem endossar esse comportamento, mas apenas reconhecer pela fraqueza explorável que ele representa. Sempre que os jogadores virem uns aos outros sob as lentes da visão distorcida, cometem um erro — que pode ser usado contra eles.
Olá! Aí vem Samantha “Sam” Pellegrino, uma mulher que tem jogado poker na Internet sem parar durante os três últimos anos. Ela ganhou muita experiência, embolsou muito dinheiro e hoje está fazendo a transição para o jogo nas cardrooms reais. O fato de ser jovem e bonita é a ferramenta de Heisenberg que ela usa para tirar dinheiro dos rapazes, pois ela sabe que — garotos sendo garotos — eles vão julgá-la (erroneamente) com base em sua aparência. À primeira vista, vão achar que ela é uma idiota ou um fish. Embora nada possa ser mais distante da verdade, essa é uma imagem que Sam fica feliz em cultivar. Se ela realmente quiser dar uma incrementada à la Heisenberg, pode começar a falar algo que sugira que ela não entenda nada de poker. Se mentir abertamente não fizer o estilo dela, ela pode simplesmente ficar sentada e deixar que o silêncio seja tido como ignorância. Já que seus adversários presumem que ela seja previsível e pouco sofisticada, eles vão dar crédito por qualquer mão com a qual ela aposte. A mera presença dela no jogo, em outras palavras, causa o efeito Heisenberg de fazer com que eles deem valor às apostas dela. Traduzindo, é uma licença para blefar; para dar steal.
Infelizmente, isso também funciona da maneira inversa. Seus oponentes vão jogar contra você de acordo com o modo como lhe percebem, e isso pode lhe trazer problemas. Se, por exemplo, eles lhe virem como um alvo fácil, vão tentar lhe manipular. Isso transcende gênero, é claro: bons jogadores rotineiramente buscam fraqueza sempre que suspeitam que ela exista, e exploram-na brutalmente sempre que a encontram. Se você por acaso for um jogador tight, novato ou alguém que jogue mais alto do que seu limite (aquele em que você se sente confortável com os valores das apostas), terá grande dificuldade em ganhar tração contra tais oponentes. Não é culpa sua — pois eles estão apenas jogando de acordo com a projeção de Heisenberg que percebem.
É dever seu, portanto, ver-se como seus oponentes lhe veem e se ajudar de acordo com isso. Se eles lhe virem como alguém que podem atropelar, você precisará revidar para provar que eles estão errados ou — se você não suportar tamanha agressividade — procure um jogo diferente. Se lhe virem como alguém imprevisível (uma boa imagem para se ter), faça tudo que puder para reforçar essa imagem com sua conversa e seus maneirismos à mesa, enquanto torna mais tight seus requisitos de seleção de mãos iniciais. Eles vão ficar impressionados como alguém loose como você (aparenta ser) sempre parece ter uma mão boa. Se eles lhe encararem como alguém inteligente e forte, você vai poder manipulá-los, e isso é sempre bom. Portanto, certifique-se de estar sempre monitorando a imagem que os outros têm de você. Ela nem sempre será precisa — na verdade, ela não deve ser precisa — mas será sempre algo que você pode usar em vantagem própria.
Sua outra tarefa é ver seus adversários como eles realmente são. Só porque alguém chega vestido de cowboy isso não quer dizer que ele seja um cowboy de verdade – ele pode ser um cowboy de butique. Do mesmo modo, alguém que pareça ser um maníaco pode ser um falso maníaco disfarçado. Filtre todas as informações que você receber através da seguinte pergunta: “O que meu inimigo quer que eu faça com isso?” Então faça o oposto do que ele espera. Você não vai errar muito.
Diz-se que a imagem mais persuasivamente vendida é aquela que se aproxima do seu eu verdadeiro. Se você for brincalhão por natureza (como eu), vai ser mais bem sucedido ao vender uma imagem brincalhona do que, digamos, um intimidador ou um estúpido. Dito isso, para um Heisenberg máximo, você deve aprender a jogar contra sua imagem também. Se você não estiver acostumado a fazer isso — se for do seu feitio simplesmente jogar seu jogo sem pensar muito sobre sua imagem — é algo em que você terá de trabalhar para se tornar bom.
Eis o que você deve fazer: da próxima vez que for jogar, simplesmente trace a meta de projetar uma imagem extremamente não característica (para você). Se você em geral for passivo, tente ser ativo; se normalmente for calmo, tente ser exagerado. Se você nunca, nunca importunar ninguém — tente incomodar. O sucesso com essa estratégia cria, na mente de seus oponentes, certa confusão, certo conflito interno. Eles não sabem se devem acreditar em sua imagem ou em suas ações, e acabam ficando confusos. Eles vão começar a tentar acertar um alvo que sequer está presente. Então, quando eles menos esperarem, mude sua imagem de repente. Você ficará surpreso com quão fácil o jogo vai se tornar quando você tiver treinado seus oponentes a jogar de acordo com a (falsa) imagem que eles têm de você. Como benefício secundário, quanto mais atenção você prestar à manipulação de sua própria imagem, mais fácil vai ser perceber as imagens enganadoras que os outros querem projetar.
Aí você terá realmente dado um Heisenberg neles! ♠
John Vorhaus é o autor da série de livros Killer Poker e do novo romance de poker Under the Gun. Ele mora no ciberespaço em radarenterprizes.com. Foto: Gerard Brewer.