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Diretor executivo da CardPlayer Conquista o Main Event da WSOP da Europa

Barry Shulman Vence Épica Mesa Final e Ganha $1,2 Milhões


Justin Marchand

Graças à World Series, Las Vegas tem um punho de ferro no mundo do poker a cada verão. Agora, do outro lado do Atlântico, ele tem seu rival europeu a cada outono.

Londres foi a capitão mundial do poker mês passado, enquanto acontecia a World Series of Poker Europe. Localizado na Leicester Square, no coração da cidade, o Cassino Empire sediou uma série de quatro braceletes que atraiu 1.254 jogadores e gerou um prêmio total de $8,5 milhões.

Concomitantemente, do outro lado da cidade, estava acontecendo o festival European Poker Tour London do PokerStars.com. A chance de ganhar um dos múltiplos eventos de grande buy-in em um dos centros mais dinâmicos do mundo atraiu grandes talentos de todas as partes do globo para semanas de ação ininterrupta.

A joia da coroa da WSOPE 2009 era o main event de £10.000 ($15.868). Ele atraiu 334 jogadores e demorou seis longos dias para enxugar o field até sobrar um único campeão.

Ao final, o dono da Card Player Barry Shulman superou Daniel Negreanu em uma empolgante batalha heads-up para levar para casa £801.603 em dinheiro e seu segundo bracelete da WSOP.

Destaques
Antes do main event, a WSOPE concedeu três braceletes. J.P. Kelly ganhou o primeiro evento, no-limit hold’em de £1.000 (£136.803); Erik Cajelais ganhou o segundo, pot-limit hold’em/Omaha de £2.500 (£104.677); e Jani Vilmunen capturou o terceiro bracelete em pot-limit Omaha de £5.000 (£204.048).

Não haveria ganhadores de múltiplos braceletes na Europa, contudo, pois nenhum desses vencedores conseguiu ir adiante no main event.

Dois dias iniciais — que atraíram 156 e 212 jogadores, respectivamente — marcaram o começo do evento principal. Depois que os fields se juntaram e disputaram um dia de 15 horas de jogo, 92 jogadores restavam. Depois de outro longo dia, o quarto, o field diminuiu para 36 sobreviventes.

O quinto dia de jogo reduziu a disputa até os últimos nove, e todos os olhos estavam em Jason Mercier. O candidato ao título de Jogador do Ano 2009 da Card Player, que faturou mais de $4 milhões em torneios nos últimos 18 meses, jogou incrivelmente bem em seu caminho para acumular quase um terço das fichas totais da mesa final. Em particular, ele derrotou Saar Wilf, que estava em segundo lugar na contagem de fichas quando restavam apenas 18 jogadores. Eventualmente, Mercier levou a maioria das fichas de Wilf para seu próprio estoque, e Wilf foi eliminado na 16ª posição.

Com tantos jogadores notáveis restando na bolha da mesa final da WSOPE, o Empire estava lotado de fãs com copos de cerveja nas mãos. Uma multidão de torcedores de poker e futebol se aglomeravam para tentar ver Teddy Sheringham, um semiaposentado jogador do Manchester United e da seleção inglesa que se tornou figurinha carimbada nos feltros europeus. Ele obteve o melhor resultado de poker da sua carreira ao terminar em 14º lugar (£40.481). Outros notáveis que saíram com boas colocações foram Tony Cousineau, 13º (£40.481); Ram Vaswani, 15º (£40.481); Doyle Brunson, 17º (£32.198); Liz Lieu, 22º (£25.918); e o líder da corrida de Jogador do Ano Yevgeniy Timoshenko, 25º (£25.918).

Mesa Final Histórica
A mesa final da WSOPE 2009 será lembrada como uma das mais incríveis da história do poker, tendo contado com seis ganhadores de braceletes da WSOP — Daniel Negreanu (4), Chris Bjorin (2), Jason Mercier (1), Praz Bansi (1), Matt Hawrilenko (1) e Barry Shulman (1) — e dois membros do “November Nine” 2009, James Akenhead e Antoine Saout.

Eis as contagens de fichas e as posições designadas quando a mesa final teve início:

Muitas fichas e uma estrutura lenta não desapontaram a multidão, apesar das 16 horas para se chagar a um campeão.

O favorito local James Akenhead foi o primeiro a dar adeus. Ele foi all-in contra o raise aberto por Chris Bjorin com A Q, e Negreanu, que tinha K K, voltou all-in por cima de Akenhead. Os reis seguraram, e Akenhead foi mandado embora na nona colocação (£66.533).

O próximo a sair foi Matt Hawrilenko, que foi all-in depois que Shulman abriu a ação. Hawrilenko foi pego dando squeeze com J 7, contra A Q de Shulman. Um bordo seguro manteve o ás, e Hawrilenko partiu em oitavo lugar (£87.074).

O membro do November Nine Antoine Saout caiu na sétima colocação (£114.228) depois de perder um coin flip para Negreanu. Saout foi all-in pré-flop com 5 5 contra A Q de Daniel, que acertou um flush no river.

Os confrontos pré-flop continuaram, com Chris Bjorin sendo eliminado em sexto lugar (£150.267) depois que seu all-in com A J foi pago pelo A Q de Negreanu. Essa foi a terceira vez que Bjorin ficou ITM na WSOP Europe desse ano — mais do que qualquer outro jogador. Daniel também eliminou Markus Ristola em quinto (£200.367) depois de dar call no empurrão pré-flop dele com A 5, que se manteve diante do K 10 de Ristola.

A próxima vítima do “Kid Poker” foi Jason Mercier, que caiu em quarto lugar (£267.267). Negreanu deu raise do UTG e Shulman pagou do button. Mercier foi all-in e Negreanu deu call. Shulman saiu do caminho. Mercier se viu em maus lençóis com 7 7 contra 9 9 de Negreanu. Os noves se mantiveram firmes, e o chip leader no começo da mesa final foi mandado embora, enquanto Negreanu pulou para a liderança em fichas com mais de 4,7 milhões.

O favorito local Praz Bansi tinha o apoio vocal de aparentemente toda a multidão do Empire, mas ele se deu mal quando restavam apenas três. Primeiro, ele colocou Shulman em all-in e era um grande favorito com A Q contra A J de Barry. Mas o bordo trouxe 5 4 4 5 10, dividindo o pote e mantendo Shulman vivo. Então Bansi perdeu um grande pote para Shulman depois de pagar um check-raise com K 8 em um bordo K 9 4. Barry o tinha dominado com K J, que segurou e deixou Praz com apenas 825.000. Pouco depois, Negreanu acabou com ele. Bansi empurrou do button com Q 2, e Negreanu deu call do small blind com A Q. A terceira colocação valeu £360.887 para Praz.

Heads-Up
Negreanu havia eliminado seis jogadores da mesa final e, quando heads-up teve início, a contagem de fichas era a seguinte:

Negreanu: 6.180.000
Shulman: 3.855.000

Uma longa batalha se seguiu, durando quase cinco horas. O fogo-rápido do small ball foi marcado por duas mãos memoráveis e importantíssimas.

Primeiro, Shulman, que tinha cerca de 5-3 em fichas, conseguiu dobrar e deixou Negreanu short. Daniel aumentou do button e Barry deu call. O flop veio K 8 6. Shulman foi all-in e Negreanu rapidamente pagou. Daniel tinha A A, mas o A 5 de Shulman tinha nove outs para o flush, e o 2 no turn fez com que ele dobrasse e deixasse Shulman com uma vantagem em fichas de 3-1.

Durante as próximas duas horas, Daniel se manteve firme e eventualmente retomou a liderança em fichas após capturar um pote de 2,5 milhões depois de ir all-in em um flop de 10 7 2 quando sua aposta de 240.000 foi aumentada para 700.000 por Shulman.

Pouco depois, a mão do torneio, se não a do ano, aconteceu. Shulman aumentou do button e Negreanu deu call. O flop veio J 8 5. Negreanu deu check, Shulman apostou 300.000, Negreanu deu raise para 900.000 e Barry foi all-in. Daniel pesou suas opções, perguntou à multidão se eles já queriam ir para casa, e eventualmente deu call. Ele se encontrou em maus lençóis, com Q J contra A A de Shulman. Com Negreanu precisando de uma de cinco cartas (três damas e dois valetes) ou de um flush runner-runner, a multidão foi à loucura quando o J bateu no turn e deu a Negreanu uma grande liderança na mão. Agora era Shulman quem estava em apuros, pois, no river, ele precisava de um dos dois ases remanescentes. Quando o A bateu, Negreanu viu seu sonho de capturar seu quinto bracelete da WSOP se esvair. Apenas algumas mãos depois, ele estava all-in com um par de quatros contra um par de dez de Shulman, e a partida estava terminada, com Shulman consagrado campeão.

Apesar de não ter ganhado seu quinto bracelete da WSOP, o vice-campeão Negreanu garantiu um incrível prêmio de consolação: com esse segundo lugar, tornou-se o maior ganhador de dinheiro em torneios de todos os tempos. Ele agora tem mais de $12 milhões ganhos em torneios, tendo feito as mesas finais de dois main events consecutivos da WSOP Europe. Negreanu terminou em quinto lugar no campeonato do ano passado.

Para Shulman, sua atenção agora está voltada para seu filho Jeff, que é um dos finalistas do November Nine.

 “Fiz minha parte”, ele disse em uma entrevista pós-vitória. “Agora faça sua parte. É sua vez de ganhar”.



Jogadores iniciantes geralmente ouvem que a chave para vencer no poker é prestar atenção aos seus oponentes. O diretor executivo da Card Player Media Barry Shulman não deve ter recebido esse memorando.

Um homem que certa vez usou a cardroom do Mirage como escritório para fechar negociações imobiliárias, ele afirma que encontrou prazer absoluto em jogar poker recreativamente durante as últimas cinco décadas.

Embora o poker tenha sempre permanecido sendo uma atividade divertida e ocasional para Shulman, sua vitória no main event da World Series of Poker Europe prova que ele tem capacidade para competir com qualquer um.

Mesmo ocupado freneticamente digitando mensagens de texto em seu Blackberry para administrar seu império comercial, ele simultaneamente vai all-in contra seus oponentes.

Amor Pelo Jogo

Shulman, que também publica a revista Card Player, diz que simplesmente ama o poker, que era um popular passatempo do executivo de 63 anos na época de colégio e faculdade.

“Eu achei que tinha morrido e ido para o céu quando vi minha primeira cardroom enquanto frequentava a University of California”, ele recorda. “Eu comecei jogando no Oaks Card Club. Eles tinham provavelmente 20 mesas de lowball e uma mesa de high draw. Eu não tinha o suficiente para o buy-in do lowball. O jogo mais barato era de $3-$3 com um buy-in de $100. Mas eles tinham um jogo de high draw poker com um blind de $1 e buy-in de $60. Foi assim que comecei, e era muito difícil!”

Shulman ganhou experiência nessas mesas de buy-in baratos durante anos. Depois de se formar e obter sucesso no mundo dos negócios, ele se aventurou mais e mais no poker, mas em geral apenas nas férias.

“Eu estava realmente ocupado trabalhando. Mas nas férias nós costumávamos ir ao Tahoe, e eu adorava jogar poker lá”.

Anos de trabalho bem sucedido no ramo imobiliário o impediram de jogar regularmente. Mas ele retomou o jogo com seriedade após se mudar para Las Vegas no começo dos anos 1990 para “se aposentar”.

“Eu estava basicamente aposentado na época, mas precisava de alguma coisa para ocupar meu cérebro”, disse Shulman. “Eu adoro negócios e adoro números, e achei que, se esses outros caras conseguiam ganhar, eu também conseguiria”.

Ele começou a jogar hold’em de $10-$20 quase que diariamente. Os torneios também estavam se tornando populares nessa época, e Shulman admite ter sido infectado pelo vírus dos freezouts baratos.

“Comecei a jogar um [torneio] quase todo dia no Gold Coast. Eles tinham um pequeno evento todo dia ao meio-dia, e eu estava lá cinco dias por semana, tentando aprender as minúcias dos torneios de poker. Nós não tínhamos muitos livros, a Internet ou sites de treinamento online como os jogadores têm hoje para aprender os detalhes”.

Mas a ação ao vivo era o ganha-pão de Barry, e o Mirage era o lugar para se jogar na época. Ele jogava Omaha high-low de $20-$40 diariamente, mais pelo aspecto social do jogo do que pelos lucros potenciais. De fato, ele passava tanto tempo confinado na sala de poker esfumaçada do Mirage que mandou confeccionar cartões que diziam: “Barry Shulman: Poker”, com o número da sala de poker impresso.

“Isso foi em meados dos anos 1990”, ele ri. “As pessoas não tinham celular. Nós começávamos o jogo todo dia por volta das 10h da manhã, e eu escolhia um assento perto do telefone da sala de poker”.

Quando a grande ação de poker em Vegas saiu do outro lado da Flamingo Road para o Bellagio, Shulman seguiu, jogando Omaha $15-$30.

Mas o astuto homem de negócios, que estava entediado apenas gerenciando algumas propriedades ao redor de Vegas, viu uma onda de ascensão no poker. Em 1998, ele comprou a revista Card Player.

“Estava bastante claro para mim que o poker ia explodir”, afirma. “O Bellagio estava abrindo sua linda cardroom. A Internet era recente, e eu achei que ela ajudaria a facilitar o crescimento do poker. E a habilidade de usar câmeras individuais para mostrar o poker na TV fez dele um esporte de espectadores”.
“Mas o que realmente me convenceu foi a crescente popularidade dos torneios. O melhor jogador não ganha todo dia, e eles são divertidos e oferecem grandes prêmios com pouco risco”.

A bola de cristal de Shulman se mostrou correta e, sob sua administração, a Card Player cresceu e se transformou em um negócio internacional com publicações em 25 países.

Negócios Na Mesa e Longe Dela

Em geral, Shulman diz que o poker é similar a conduzir um negócio, e que por isso ele achou que poderia ser bem sucedido nos feltros.

“Há habilidades gerais necessárias para o sucesso em ambos, tanto que eu acho que o poker deveria ser ensinado em MBAs”, ele explica. “Ambos envolvem uma compreensão de riscos e recompensas, odds, proteção e conseguir ler as pessoas, blefar e ter disciplina”.

Apesar de se autodescrever como jogador recreativo, Shulman já acumulou incríveis $2,87 milhões ganhos em torneios. Ele agora computa dois braceletes da World Series, com seu primeiro tendo sido ganho em 2001 em um evento de seven-card stud high-low split de $1.500.

Mas ele admite que, ao longo dos anos, algumas vitórias teriam provavelmente ocorrido caso seu foco fosse apenas no poker.

“Enquanto homem de negócios, eu cometi alguns erros ao longo dos anos nas mesas por estar focado nos negócios e não 100% nas mãos”, Barry explica. “Meu filho [Jeff] frequentemente me critica por estar ao telefone trabalhando no meio dos torneios. Mas eu simplesmente adoro fazer negócios”.

A concentração não foi problema para Shulman na WSOP Europe, apesar das longas horas. A véspera da mesa final foi uma batalha de 15 horas. Depois, foram necessárias mais 16 horas para que se apagassem as luzes da mesa final.

Qualquer um que tenha assistido à batalha heads-up de cinco horas, em que os dois competidores tomavam decisões valendo suas vidas no torneio em ritmo acelerado, testemunhou que no poker a resistência e a concentração são tão importantes quanto ter uma leitura sobre seu oponente.

Shulman credita sua energia e concentração renovada na mesa a um programa de exercícios, uma dieta balanceada e um alto consumo de chá verde e mel.

Tal Pai, Tal Filho

A maior história da vitória de Barry não se limita a ter derrotado Daniel Negreanu no heads-up pelo bracelete de campeão e uma pilha de libras esterlinas. Em vez disso, o foco vai para seu filho Jeff e a possibilidade de o mundo do poker ter pai e filho campeões da World Series.

Então, em que momento os jogos deles se parecem?

“Quando ambos estamos jogando nossos melhores jogos, eles são bastante similares”, explica Barry. “Nós não jogamos muitas mãos, entramos em potes pequenos, jogamos agressivamente quando temos grandes mãos e não somos exibicionistas. Você não vai nos ver fazendo dancinhas quando acertamos grandes mãos. E você não vai nos ver chutando as cadeiras ao perder”.

Barry afirma que uma habilidade que ele gostaria de tomar do arsenal de Jeff é sua capacidade de “ler a alma”. “Ele é mestre em saber o que os outros jogadores têm. Essa habilidade é muito natural para ele, e muito difícil para mim”.

Independentemente de sua maestria impulsionar ou não Jeff para o título do campeonato da World Series 2009 e lhe garantir o primeiro prêmio de $8,5 milhões, esse foi um bom ano para os Shulman.

Os dois já ganharam, em conjunto, mais de $2,5 milhões esse ano.

E sob uma perspectiva histórica, eles têm a chance de escrever uma dos capítulos mais incríveis do jogo em apenas algumas semanas.




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