Esse tal de Confúcio era um cara muito inteligente. Embora tenha vivido há mais de 2.000 anos, boa parte do que ele tinha a dizer tem muito a ver com o poker, e abordaremos isso daqui a pouco. Primeiro, contudo, que tal uma pedaço aleatório de informação? De acordo com a Wikipedia, “Quando criança, Confúcio gostava de colocar vasos de ritual na mesa de sacrifício”. Desculpe, mas eu preciso perguntar: como você sabe disso?! Estamos falando de mais de 2.000 anos atrás! Quer dizer, seria como se alguém daqui a 2.000 anos dissesse: “Como jogador de poker, John Vorhaus gostava de tribetar com 8-7 suited”. Sim, é verdade, mas duvido que eu vá sobreviver ao teste do tempo.
Mas muito do que Confúcio disse (ou, sendo mais sensato, dizem que ele disse) superou o teste do tempo. E muito se adequa de forma harmônica a uma abordagem sensata do poker. Vamos analisar.
Não se envergonhe dos erros e não os transforme em crimes. Bons jogadores de poker sabem que todos os jogadores de poker cometem erros. A maneira de lidar com eles é não insistir neles — mas tampouco esquecê-los muito facilmente. Afinal, quando há um erro, há também uma correlação, que deve ser investigada, selecionada e aplicada. Confúcio nos lembra que nossa reação aos erros não deve ser emocional, mas analítica, e, portanto, útil.
Antes de embarcar em sua jornada em busca de vingança, cave duas covas. Esse aforismo trata também de emoção. Ele nos adverte que as motivações negativas, como a vingança, são essencialmente autodestrutivas. Todos nós já passamos por isso, é claro, enfrentando algum idiota que tem aquele dom de nos irritar. Mas assim que transformamos nosso jogo de poker inteligente e não passional em algo saído de Kill Bill, agiremos de forma prejudicial a nós mesmos.
Tudo tem sua beleza, mas nem todo mundo a vê. Muitas pessoas jogam poker mal. Contudo, algumas pessoas apenas parecem estar jogando mal, mas estão jogando bem de acordo com alguma estratégia oculta. Portanto, quando você vir alguém fazendo algo aparentemente anormal, lembre-se que você não deve fazer julgamento de valor sobre o jogo dele. É seu dever derrotá-lo. Portanto, primeiro descubra se ele está realmente jogando mal ou apenas aparentemente mal. Caso seja apenas aparência, se ajuste de acordo com isso. Caso seja real, não espante os fishes. Deixe-o pensar que é bonito. Não há mal nisso.
Não importa quão lento você vá, desde que não pare. Impaciente para subir de nível? Tão impaciente que você vai pôr seu bankroll em risco? Confúcio lhe diria para relaxar – em termos confucionistas, é claro. A vida é longa, e enquanto não estiver vendo uma tendência para cima em sua curva de aprendizado, você pode se dar ao luxo de ir devagar. Vamos admitir: o poker é difícil, e fica mais difícil quanto mais alto você joga. Algumas pessoas avançam mais depressa que outras, mas nenhum de nós consegue chegar a lugar algum antes do tempo. Mudando um pouco de filósofo, John Fortescue disse: “Comparações são odiosas”. Seu caminho é o seu caminho, não o meu nem o de outra pessoa. Se você estiver satisfeito com o próprio progresso, isso basta.
Respeite-se e os outros vão lhe respeitar. Quando jogo poker — especialmente online — as pessoas geralmente acham que eu sou bobo, idiota ou estúpido. Eu admito que minha abordagem ao jogo é pouco convencional (pois se baseia amplamente em parecer se bobo, idiota ou estúpido), mas nunca me incomodo quando alguém me chama de idiota (e eles chamam!). Eu tenho meu plano de jogo, e ele funciona para mim. Portanto, eu me respeito. Mas, para dizer a verdade, eu não sei ao certo se Confúcio está certo quanto a isso, pois meus inimigos ainda desrespeitam muito meu jogo. No entanto, eles me dão seu dinheiro.
Estude o passado se quiser definir o futuro. Com tantas informações sobre poker tão disponíveis através de livros, revistas, fóruns na Internet e sites de treinamento, é incrível algumas pessoas não estudarem nada. Será que elas acham que de alguma forma solucionaram o jogo? Mesmo que isso fosse verdade (e não é), eles teriam decifrado apenas a situação atual, pois o poker continua a evoluir, e bons jogadores estão comprometidos a evoluir com ele. Se você quer que seu poker futuro seja lucrativo, deve realmente estudar o jogo — muito.
Perceber o que é certo e não fazê-lo denota pobreza de coragem. Quantas vezes você já viu (ou foi) alguém que disse: “Eu sabia que tinha lhe derrotado”, enquanto alguém descarta? O poker, como conhecemos, é um jogo de informações imperfeitas. Se você estiver esperando saber, com 100% de precisão, que sua leitura está correta, vai esperar muito. Analise a situação com a mente fresca, pese todos os fatores, chegue a uma conclusão e então aja. Suas melhores leituras não servem para nada se você não as executa.
Quando a raiva chegar, pense nas consequências. Essa pode ser a melhor defesa contra o tilt que eu já escutei. Quando as coisas derem errado — e elas dão errado para todo mundo — pare um pouco para levar em consideração seu próximo curso de ação. É muito fácil piorar uma má decisão ao se levar raiva, ressentimento ou arrependimento para sua mesa de poker. Você gostaria de perder todo seu dinheiro ou sua vida no torneio? Caso não deseje isso, deve fazer uma escolha diferente. Livre-se de sua raiva, para o bem de seu jogo subsequente.
Eu não sou alguém que nasceu em posse de sabedoria: sou alguém que gosta da antiguidade, e ávido em buscar sabedoria aí. Eu fico me perguntando qual seria a perspectiva de antiguidade de Confúcio. Essa citação parece sugerir que Confúcio bebeu em fontes de sabedoria muito mais antigas que a sua própria. Portanto, esta coluna toma ideias não apenas de 2.000 anos atrás, mas talvez de 4.000 anos atrás ou mais.
Para esse desconhecido pré-Confúcio, eu devo dizer somente obrigado. Ao ter sua sabedoria filtrada através de Confúcio e depois para os tempos modernos, você fez do mundo — pelo menos essa pequena porção dele — um lugar melhor.
Eu me diverti interpretando os pensamentos de Confúcio aplicados ao poker, mas vamos ser realistas, essa é uma abordagem apenas superficial. O que você pode aprender com os grandes pensadores desse mundo? Eles não precisam ser pensadores de poker, sabe: verdade é verdade, não importa como seja aplicada. E talvez tenha ideias próprias, pois ninguém, nem Confúcio, nem eu, jamais vai falar de forma tão articulada e profunda com você como você fala consigo mesmo. ♠
John Vorhaus é autor da série de livros Killer Poker e do novo romance de poker Under the Gun, já nas lojas. Ele mora no ciberespaço em vorza.com, e blogueia para o mundo do site somnifer.typepad.com. Foto de John Vorhaus: Gerard Brewer.