Do Aeroporto Para o Feltro
Depois da sua 55ª colocação no torneio em 2008, o integrante mineiro do time dispensa apresentações: Rafael Caiaffa, que se tornou o brasileiro mais bem colocado em um Main Event, já é bem conhecido pela comunidade brasileira de poker graças aos diversos resultados tanto live quanto online, com seu jogo agressivo e variado que fazem dele um adversário muito perigoso no feltro.
Outro profissional renomado a compor o time é Leonardo Bello. O colunista da CardPlayer Brasil, escritor e profissional de poker (desde a época em que dividia suas horas entre as mesas e sua carreira de médico), volta a um de seus destinos favoritos para mais uma vez buscar os grandes títulos. Em 2007 e 2008 Leo obteve excelentes resultados em Vegas, especialmente na série Deepstack Extravaganza, do cassino Venetian.
Fechando o trio de talentos está Nelson Dantas. O profissional de cash games online e live do Rio de Janeiro ainda não era um nome muito conhecido do público em geral, mas isso mudaria depois desta WSOP.
O primeiro a chegar na Sin City foi Caiaffa, que iniciou seu aquecimento para a World Series disputando alguns eventos Deepstack do Venetian e participando de algumas sessões de cash games. Em seguida foi a vez de Leo Bello, que disputou, junto com Leandro Brasa, o primeiro evento da Bellagio Cup, com buy-in de $540. Nesse mesmo dia aterrissava em Vegas o último membro do time: Nelson Dantas, que desembarcou e já foi direto para o Venetian, para tentar pegar o início de uma das etapas do Deepstack de $340. Com o time completo, era hora de entrar em campo para o mais prestigiado torneio de poker do mundo.
A Arena
O Main Event deste ano começou no dia 3 de julho. O Dia 1 foi dividido em A, B, C e D, com até 3.000 participantes por dia. Os sobreviventes passariam para o Dia 2, que foi dividido em A e B. Em cada jornada, eram disputados cinco níveis de blinds com duas horas de duração. A disputa se estenderia até o dia 15 de julho, quando os nove finalistas seriam conhecidos e haveria uma pausa no torneio, já com os chamados November Nine definidos para a mesa final do dia 7 de novembro.
Como se pode ver, um Main Event é uma prova de resistência. São vários dias de torneio, concentração e, acima de tudo, fortes emoções. E os jogadores do BestPoker Team já tinham uma estratégia definida para o evento. Caiaffa, supersticioso como muitos brasileiros, resolveu que iria entrar no Dia 1C, domingo, pois foi o dia em que estreou na WSOP 2008, quando obteve um bom resultado. Nelsinho também escolheu esse dia. Após avançar para o Dia 2 no ano passado, Nelson pretendia ter um dia a mais de descanso até o Dia 2. Leo Bello, por sua vez, escolheu o dia 1D, para, assim, poder descansar ao máximo antes do começo da batalha.
Encerrados os Dias 1A e 1B, vários brasileiros tinham se classificado para o Dia 2A. Entre eles, Felipe Mojave e Cláudio Baptista, atual campeão do BSOP. Era hora de começar o Dia 1C e, depois de muito preparo e concentração, Caiaffa e Nelsinho estavam prontos. Com o stack inicial de 30.000 fichas, ambos pretendiam jogar com muita cautela, procurando observar muito bem os adversários e ir construindo e adaptando a sua estratégia em seguida. Ambos chegaram ao primeiro break sem muita ação, mantendo suas fichas próximas da quantidade inicial.
Welcome to The Table
Já perto do quarto nível, aconteceu uma mão crucial para Caiaffa. Com 4-4, ele paga o raise de um oponente. O flop foi muito bom, trazendo 4-5-8 sem chances de flush, e o turn foi ainda melhor, com outro 8, dando um full house para o mineiro. Mas após o river trazer um terceiro 8, Caiaffa acabou pagando uma aposta alta e viu seu oponente mostrar K-K, derrubando sua mão e deixando-o com menos de 15.000 fichas. Já Nelsinho foi cons-truindo seu stack com muita cautela, sem se envolver em grandes potes. Após se sentar à mesa com ninguém menos do que Dan Harrington, na primeira mão Nelson toma um reraise pré-flop de “ActionDan”. Após dar fold, Nelsinho ouve do adversário: “Welcome to the table!”, cartão de visitas de Harrington.
Após cinco níveis de muita ação, Nelsinho e Caiaffa passam para o Dia 2, com 55.000 e 12.500 em fichas, respectivamente. Agora era a vez de Leo Bello entrar na arena.
Logo no início do Dia 1D, muita ação na mesa do Leo Bello. Com muitos raises e reraises pré-flop, seu stack oscilou bastante entre 40 mil e 20 mil. Mas, perto do final do dia, as coisas se complicaram: após perder belos potes com A-A e K-K, ele se envolve em um all-in no turn com T♥T♦, num bordo que tinha 8♥8♦2♥9♦, e vê seu adversário apresentar A♣A♠. Mas o river trouxe um milagroso T♠, dobrando o stack do brasileiro e deixando-o em situação mais confortável para enfrentar o final do Dia 1. Em seguida, após puxar outros potes, Leo construiu um stack de 44.725 fichas, passando para o dia 2B com quase 90 big blinds.
Nadando com os Tubarões
Os membros do BestPoker Team sabiam que, no segundo dia de disputa, enfrentariam o field mais difícil da WSOP. A maioria dos grandes profissionais ainda estava no torneio, e o Dia 2B teve quase o dobro do número de jogadores que o anterior, mas a recompensa animava. Antes de terminar o Dia 1D, a direção da World Series anunciou a premiação: mais de 61 milhões de dólares, com 8,5 milhões para o vencedor.
Logo no começo do novo dia de competição, a primeira má notícia: Caiaffa entra de all-in com 9-9 e encontra 3-3 pela frente. O bordo vem 3-4-5-6-4, eliminando o brasileiro. Agora as esperanças estavam depositadas em Leobello e Nelsinho, além dos outros brasileiros que ainda estavam vivos no torneio.
Cheio de altos e baixos, o Dia 2B teve Leo e Nelsinho administrando bem seus stacks e, após o break do jantar, ambos acharam mãos muito boas, e ultrapassavam da marca das 100.000 fichas enquanto a média era 70.000. Nelsinho, sentado à mesa do campeão do PCA 2007, Bertrand “ElkY” Grospellier, conseguiu manobrar pelo estilo ultra-agressivo do francês e se controlar emocionalmente durante uma sequência de mãos complicadas, terminando o dia com cerca de 110.000 fichas.
Leobello teve uma mesa mais tranquila e terminou o dia passando um blefe em um oponente tight. Com blinds em 500-100, Leo sobe para 2.700 do cut-off com J-5 off. Do button, o rapaz pensa por um tempo e aumenta novamente para 11.000. Leo confia em sua leitura e volta um reraise para 26.100. O rapaz fica visivelmente abalado com a aposta e começa a pensar por bastante tempo, até que desiste da mão. Leo, que agora tinha 150.000, mostra as cartas e deixa o adversário completamente tiltado.
Éramos Seis
Mais de dois mil competidores estavam na disputa do Dia 3, e a faixa de premiação começava apenas na posição 648. Logo no início do dia, Nelsinho acerta uma ótima mão com trinca de ás versus trinca de oitos, e catapulta seu stack para mais de 200.000 fichas.
Em seguida, a boa notícia veio de Leo Bello, que também passou da faixa dos 235.000. Mas o que parecia ser um dia promissor, começou a ficar desconfortável. Nível após nível, Leo simplesmente não acertava mais suas jogadas. Os adversários acabavam recebendo cartas salvadoras e iam abalando o stack dele. Em duas mãos decisivas, Leo acerta dois pares no flop (A-Q) e o adversário consegue dois pares maiores no turn (A-K). Depois, Leo paga all-in de um shortstack com T-T e encontra K-K pela frente, o que o deixou com cerca de 25.000, com blinds em 1.200-2.400 e ante de 400. Não demorou para que a mão derradeira viesse: Leo foi eliminado com A-K versus Q-Q.
Ao final do dia, restavam seis brasileiros entre os 789 sobreviventes. Além de Nelsinho (148.000), seguiam na disputa João Marcelo (600.000), Cláudio Baptista (317.000), Igor Federal (110.000), Giovanni “Tr3cool” (100.000) e Diogo (110.000).
O Estouro da Bolha
O Dia 4 começou com rápidas eliminações, e logo a organização informou que restavam 658 participantes. Neste momento, a nação verde e amarela era representada por João Marcelo, Giovanni, Nelsinho e Cláudio. O hand-for-hand foi iniciado faltando cinco posições para a premiação. O gaúcho Giovanni “Tr3cool” se envolveu em um pote, indo all-in no flop quando faltavam 650 jogadores, e acabou sendo o verdadeiro bolha do torneio, pois o 649º colocado (que só tinha uma ficha de 500 para pagar o ante na mão em que foi eliminado) recebeu da WSOP o buy-in para o Main Event 2010.
Saldo Positivo
Após o estouro da bolha, houve a tradicional comemoração pelo salão. A torcida brasileira, claro, estava presente para dar os parabéns aos nossos três representantes. Pouco tempo depois, com blinds em 3.000-6.000 e ante de 1.000, João Marcelo e Nelsinho Dantas foram eliminados do torneio. João, que havia perdido alguns potes grandes com mãos favoritas, foi all-in com K-T e achou A-Q pela frente. Já Nelsinho, que tinha 97.000 fichas, abre all-in do cut-off com T-9 off e recebe call do small blind, com A-T. Um ás no flop selou a participação do brasileiro no evento, caiu na 535ª posição e conseguiu uma premiação de mais de 23.000,00 dólares.
A responsabilidade de levar a bandeira do Brasil mais longe ficou com Cláudio Baptista, que mostrou um crescimento invejável em seu jogo durante a última temporada, passando para o Dia 5 acima da média de fichas, com mais de meio milhão em seu stack. Durante sua caminhada, ele conseguiu manter um confortável stack de mais de 750.000, lutando contra feras como Dan Harrington, Theo Tran, Dennis Phillips e Michael Mizrachi. Infelizmente, quando já caminhava para o final do Dia 5, com menos de 280 participantes, Cláudio perdeu uma série de mãos grandes que diminuíram o seu estoque para cerca das 150 mil. Logo depois ele foi mudado de mesa e, alguns assentos a sua esquerda, estava ninguém menos do que Phil Ivey. Com blinds em 6.000-12.000 e ante de 1.000, a média se aproximava das 900.000 fichas. Cláudio então aproveita um gap do meio da mesa e anuncia um all-in de 120.000, recebendo call justamente de Phil Ivey. O brasileiro estava em apuros quando viu seu par de noves em péssima situação contra K-K de Ivey. Cláudio acabou eliminado do Main Event como o brasileiro mais bem colocado na competição, sendo o 215º entre 6.494 competidores, o que lhe rendeu uma premiação superior a 36.000,00 dólares.
Que Venha 2010!
Assim foi a participação de um grande time de brasileiros em Las Vegas. Vários outros brazucas fizeram bonito em diversos torneios, como Rodrigo “Zidane” Caprioli, Caio Brites, André Akkari e Rubens Santos, que cravaram ITMs em alguns eventos da World Series. Felipe “Mojave” Ramos conseguiu uma magnífica 6ª colocação no evento #35 (Pot-Limit Omaha de $5.000). Eric Mifune fez mesa final em um torneio do Caesars Palace. Sérgio Savone fez FT no Venetian. Humberto “Kima” Kim foi campeão de um evento de PLO do Deepstack do Venetian, e José “Radio” Heraldo cravou um evento no Binions Poker Classic.
Esses foram apenas alguns dos muitos resultados brasileiros este ano. Com toda certeza, em 2010 teremos ainda mais representantes e muito mais bons resultados. Só o BestPoker vai levar vinte jogadores para integrar seu time de profissionais durante a WSOP 2010. Não deixe de participar e garanta a sua chance de escrever seu nome na história do poker mundial.