EDIÇÃO 25 » ESPECIAIS

Alexandre, O GRANDE


Amúlio Murta

Quem conversa com esse simpático curitibano de 27 anos, não imagina a fera que se esconde por trás dos olhos azuis.

Risonho e brincalhão, o menino que teve de amadurecer à força por circunstâncias da vida começou a demonstrar seu talento com as cartas ainda nos tempos do truco. Há cerca de um ano, começou a escrever seu nome na história do poker nacional e, de lá pra cá, não parou mais.

Em sua galeria de resultados estão os maiores feitos conquistados por um jogador brasileiro no circuito live internacional. Sua mais recente vitória eleva seu nome à esfera dos grandes vencedores do feltro mundial, e não é exagero afirmar que o país já possui sua primeira lenda viva do poker. Mas isso não afetou o seu jeito de ser. Alexandre Gomes manteve sua simplicidade e continua fiel às origens. Homem de família, ele demonstra a todo instante sua preocupação e o seu carinho com as mulheres de sua vida: sua esposa, Priscila, e sua mãe, Ivelise.

De volta à terra natal, Alexandre nos recebeu em seu escritório, onde contou à CardPlayer Brasil um pouco de sua vida, desde sua infância, passando pela fase de jogador de truco, seu início no poker e seus melhores resultados.
Coroando este registro histórico, fechamos o especial com as impressões do campeão sobre sua conquista do WPT, narradas por ele mesmo.

Amúlio Murta: Como era a vida do garoto Alexandre Gomes?

Alexandre Gomes: Eu nasci e cresci em Curitiba. Quando eu era criança, tive a oportunidade de morar dois anos fora do país. Então, dos 4 aos 6 anos, meu pai foi estudar e fazer a sua especialização em medicina em Londres e eu fui alfabetizado, digamos, na Inglaterra. Fora isso, passei toda a minha vida em Curitiba, estudei aqui a minha época de colégio, faculdade etc.

Minha adolescência foi um pouco tumultuada. Perdi meu pai quando eu tinha 15 anos. Foi um momento marcante na minha vida e na da minha família. Meu pai recebeu uma proposta de trabalho e, após muito relutar, decidimos nos mudar para o interior de Santa Catarina. Era uma cidade pequena e seria uma mudança radical nas nossas vidas. Compramos apartamento, fizemos tudo o que tínhamos que fazer e, na viagem de ida, sofremos um grave acidente de carro, e meu pai acabou por falecer. Isso foi um marco na minha adolescência porque me levou a enxergar a vida sob uma nova ótica. Eu fiquei com minha mãe e minha irmã e de certa forma me tornei a única figura masculina em casa. Esse momento me fez amadurecer e enxergar as coisas sob outra perspectiva, que talvez eu só viesse compreender mais tarde, caso isso não tivesse ocorrido.

Graças a Deus, conseguimos reconstruir nossas vidas e hoje estamos felizes. Minha irmã está casada e feliz, e eu já tenho uma sobrinha. Minha mãe também encontrou uma pessoa maravilhosa, que se mostrou um pai para mim. Também estou muito feliz ao lado da Priscila. Coincidentemente, alguns meses depois do acidente eu a conheci, quando eu ainda tinha 15 anos.

AM: Dizem que você era um ótimo jogador de truco. É verdade?

AG: No acidente em que perdi meu pai, eu tive uma fratura muito séria na bacia. Quebrei um pedaço do fêmur também. Tive que passar por duas cirurgias muito complexas, que me deixaram afastado de qualquer atividade física por um ano, e foi nessa época que eu conheci o truco.

Lógico que era uma grande brincadeira, sem pretensões econômicas, mas eu gostava muito. Me afiliei à Federação Paranaense de Truco e comecei a jogar os torneios, viajar para jogar etc. Era uma coisa muito bacana. Esse foi meu primeiro contato com baralho.

Tive muito sucesso no truco, ganhei vários torneios, fui campeão Paranaense, vice-campeão curitibano, campeão interclubes (um torneio por equipes). Pra você ter uma idéia, quando eu mudei de apartamento em Curitiba e fui morar sozinho, tive que jogar fora 120 troféus de truco. Não tinha onde guardar no meu novo apartamento, só fiquei com os mais expressivos.

AM: E o poker, como você conheceu?

AG: Eu tinha um amigo que jogava truco. Ele um dia chegou falando que existia um torneio de poker. E eu já imaginei um torneio de poker fechado, aquela coisa que eu já conhecia, mas nunca gostei. Eu tinha amigos que jogavam, já tinha jogado algumas vezes, mas não me atraía muito.

Foi então que ele me explicou que se pagava um valor fixo de entrada e que a coisa funcionava como os torneios de truco. Aí, num belo sábado chuvoso, depois de um torneio de truco, ele me convenceu a ir até o torneio de poker. Fomos eu e outro amigo meu, o Negrelli. Eu já conhecia o valor das mãos, o que não sabia era como funcionava a dinâmica do jogo, o lance das duas cartas, das apostas etc. Mesmo assim, aprendendo na hora, decidi jogar. Eu me lembro que o buy-in era de R$100,00, um valor caro para a época.

Joguei o torneio e acabei achando muito legal. Gostei muito da perspectiva do jogo, de como era a competitividade dos jogadores na mesa. Achei muito interessante e caí próximo da bolha da mesa final. Daí em diante, a gente ensinou outros amigos a jogar, e a gente passou a se reunir nas segundas-feiras à noite para jogar. Geralmente era um sit-and-go de dez reais por pessoa, com direito a um rebuy. Era pura diversão. Lógico que a cada segunda-feira chegava um com uma novidade: “Você viu o novo blog do C.K.? O Clube do Poker? O PokerStars?”

AM: Sabemos que é longo e difícil o caminho entre a empolgação natural com a descoberta do Texas Hold’em e a decisão de se profissionalizar. Como se deu sua evolução enquanto jogador?

AG:
Depois que eu descobri o que era o poker fora do Brasil, aquilo me deixou incomodado. Eu me perguntava: “Como é que pode? Como existem pessoas que vivem disso?” Aí eu comecei a me informar, ler revistas, livros. Daí pra frente, comecei a tomar gosto pelo jogo. Ainda sem pretensões profissionais, eu me lembro do dia que encomendei meus primeiros livros de poker. Me recordo dos meus amigos tirando um sarro com a minha cara, quando fomos buscar os livros no correio. Eles falavam: “Para! Você vai ler isso aí?” Eram quatro ou cinco livros. Comprei os do Dan Harrington, o “Teoria do Poker”, do Sklansky, os “Super/System” 1 e 2 — e olha que nem precisava ter comprado o segundo, porque é uma atualização do primeiro, mas eu não sabia [risos].

O curioso é que, antes disso, eu me lembro de ter tirado sarro com outro amigo que comprou um livro de poker. Eu não entendia, né?! Eu me lembro de falar com ele: “Para! Tá querendo aprender o que? Matemática?” Agora era eu quem estava comprando os livros [risos].

Aí fui estudando, aprendendo. Eu me lembro que eu acompanhava muito o blog do C.K. e do Raul no Clube do Poker. Eu achava muito legal as viagens que eles faziam, os torneios que eles jogavam. Fora os valores que eles falavam, uma coisa impensável naquele tempo.

AM: Você já jogava poker online nessa época?

AG: Nessa época eu tinha uma resistência muito grande quanto ao jogo online. Eu tinha muita desconfiança sobre a credibilidade dos sites, essas coisas. E eu me lembro que o momento em que eu resolvi dar um voto de confiança para os sites se deu quando eu fiz uma viagem para São Paulo para jogar o BSOP.

Fiz a viagem de carro e fui com meu amigo Zezão. Ele já tinha sido Campeão Sul-Brasileiro e, na época, era o jogador mais experiente que tínhamos perto da gente. Nessa viagem, nós fomos conversando sobre poker na ida e na volta, e, dentre as coisas que falamos, uma delas foi o poker online. Em São Paulo, joguei o BSOP e acabei fazendo a mesa final, terminando em 7º lugar. Eu me lembro que fiquei até emocionado porque eu só tinha jogado os torneios locais aqui de Curitiba, mas não tinha muitos resultados. Então fiquei muito feliz com a mesa final no BSOP.

Na volta, o Zezão me convenceu a comprar 100 dólares e começar a jogar no PokerStars. Só que eu não tinha tempo para jogar, porque eu estava numa rotina muito corrida de trabalho, faculdade etc. Então voltamos para Curitiba e eu só fui jogar novamente no sábado seguinte. Eu me lembro que estava na casa da Priscila, e estava emocionado. Só falava daquilo, e ela naquele negócio de “calma, vamos devagar”, com aquele receio que é normal, das pessoas que não têm contato, e o primeiro impacto do jogo é uma coisa que assusta um pouco.

Naquele dia ela estava fazendo um trabalho da faculdade e eu me sentei no computador dela e come-cei a jogar uns SnG no PokerStars. Joguei também um torneio de $3 com rebuy e acabei ficando em 4° lugar. Ganhei US$1.400,00! Aí eu não acreditava! Fiquei deslumbrado com o negócio. Liguei para o Zezão, porque eu queria realizar o lucro, né?! Ele me ensinou como fazer retirada. Deixei $400 na conta, saquei o resto e aproveitei para tirar um sarro com os amigos que falavam: “Vai, fica pondo dinheiro lá... Vai passando cartão pra você ver...” Peguei o dinheiro, mostrei para eles e falei: “Aqui, ó, vocês falaram que esse negócio de jogo não existe!” [risos]

Logo depois, conheci o outro lado da moeda. Descobri que não era tão fácil assim ganhar dinheiro jogando na Internet. Muito pelo contrário. Os $400 dólares que eu deixei lá acabaram sendo pulverizados. Foi assim que eu descobri que era muito difícil ser um ganhador constante no poker online.

Aí eu fui jogando aos pouquinhos. Não era fácil porque eu não tinha bankroll e, além do que, foi uma época em que eu estava sem tempo para jogar. Eu estava dando aula, fazendo monografia, estudando para o Exame da Ordem. Então comecei a fazer umas loucuras. Por mais que eu não tivesse tempo, meu interesse pelo jogo aumentava a cada dia. Eu chegava em casa 10, 11 horas da noite e ia para o computador jogar. Jogava até duas, três da manhã e ia dormir. Acordava estragado no dia seguinte e ia trabalhar. Até que um belo dia meu bankroll deu o primeiro salto: foi em um torneio de $11 com rebuy no PokerStars, que eu acabei ganhando. Cravei o torneio e meu BR, que era de $500 dólares, subiu pra 13K. Com isso, comecei a jogar uns torneios mais caros e obtive alguns bons resultados. A coisa começou a acontecer e eu fui subindo aos poucos.

AM: Com a regularidade e os bons resultados no poker online, surge o inevitável momento de se perguntar: “Devo ou não me tornar profissional?”. Conte-nos um pouco sobre como foi esse momento para você.

AG: Em julho de 2007, ganhei um megassatélite do Stars, que dava uma vaga para a World Series. Eu fui para Vegas, mas não cheguei a jogar o main event. Como o Stars depositava a grana e você tinha a opção de jogar ou não o evento, optei por entrar em eventos menores. Quando eu voltei, o segundo semestre foi o momento crítico de indecisão, em que eu comecei a cogitar a possibilidade de me profissionalizar.

Eu vinha com resultados muito bons. Embora pequenos, eu acreditava que na medida em que tivesse mais tempo para me dedicar, os grandes resultados iriam aparecer. Eu tinha vários receios. Além disso, eu gostava muito da advocacia e já vinha, de certa forma, encaminhado: possuía meu escritório próprio, estava muito feliz com a minha atividade e tinha perspectivas muito boas. Foi muito difícil para mim abrir mão disso.

É diferente de quando você está insatisfeito com a sua atividade. Eu gostava mesmo do que fazia, o fato foi que eu conheci outra situação. Quando o poker entrou na minha vida, percebi que eu poderia extrair frutos. A coisa que começou como um hobby tinha ganhado uma proporção muito maior. No final do ano, em dezembro de 2007, numa reunião de final de ano no trabalho, eu cheguei para os meus sócios e avisei que estava me desligando do escritório.

AM: Imagino que você tenha se sentido pressionado após tomar essa decisão.

AG: Quando você se profissionaliza, é comum sentir aquele receio nos seus amigos, principalmente aqueles que estão mais de fora. As pessoas não fazem por mau, eles fazem isso porque se preocupam com você. Eu sentia isso e, de certa forma, criou-se uma pressão. Mesmo tomando a decisão de forma tranquila, com um bankroll bem razoável, que poderia suportar as oscilações, me senti pressionado por aquela situação. Eu queria que as coisas acontecessem para poder mostrar às pessoas que eu havia tomado a decisão mais acertada. Mesmo com a pressão, eu estava convicto de minhas decisões. Para confirmar isso, em fevereiro eu ganhei o maior torneio online da minha vida: faturei quase 65 mil dólares. Parece que foi um sinal de Deus, dizendo: “Fica tranquilo!”

AM: No meio de 2008, você foi para Las Vegas, dessa vez para fazer história. Agora, um ano depois, como você se recorda dessa experiência? Houve alguma situação ou mão que lhe tenha dado confiança, ou mesmo um sentimento, de que você poderia vencer o torneio?

AG: Até então eu não tinha conseguido um grande resultado fora do Brasil. Eu já tinha jogado nas Bahamas, em Monte Carlo, em Manchester, na Inglaterra, e também em Las Vegas, no ano anterior. É claro que eu estava um tanto quanto desanimado. Claro que você percebe que não é tão fácil assim ganhar um torneio internacional. Já é difícil chegar, quanto mais ganhar. Então eu fui pra Las Vegas e, nesse período, eu estava colhendo bons frutos no poker online. Fui para lá tentando ajustar no meu jogo alguns fatores que estavam me travando fora do país.

Nessa temporada, joguei vários eventos e optei por entrar em dois torneios da World Series. Um $3K, e o $2K, que acabei ganhando. Esse foi um torneio mágico. Eu me lembro que era muito acelerado, que você começava com quatro mil fichas e blinds 25/50. Então minha estratégia era fazer fichas logo no começo, para poder me colocar na disputa e jogar o torneio. E acabou acontecendo o contrário... As coisas foram dando errado, e eu cheguei a ficar com 2.200 fichas com blinds 100/200. Quando chegou o intervalo, eu me lembro de ter encontrado o Giovani “Tr3cool”. Eu estava muito desanimado. Ele, que vinha bem no torneio, me incentivou, me pôs pra cima e, depois do intervalo, as coisas voltaram, e voltaram acontecendo. Eu dobrei, dobrei de novo e consegui um stack razoável, e me coloquei no jogo.

A primeira vez que eu pensei que poderia chegar nas cabeças do torneio foi quando faltavam cerca de 90 jogadores. No dia anterior, ganhei um coinflip na bolha com 9-9 contra A-K. Com isso, entrei no 2º dia na média. Começaram 198 e, quando restavam mais ou menos 100 jogadores, eu estava muito grande, tinha mais que o triplo da média. Foi quando comecei a perceber que havia chance de vencer o torneio.

AM: Após aquela vitória, você concedeu uma entrevista em que dizia que, naquele horário, sua mãe, que tinha ficado em Curitiba, deveria estar dormindo. Isso me veio à memória por ser um momento curioso, um instante que uniu o melhor dos dois mundos: a família e a fama. Como foi a recepção na sua volta ao Brasil? E como você lida com o fato de ter entrado para a história do poker nacional?

AG: Eu estava muito curioso para ver como seria a reação das pessoas no Brasil. Até então, alguns me conheciam por alguns resultados na Internet, alguma coisa live, mas eu não era um nome conhecido. Então, foi muito emocionante quando eu voltei para o Brasil e me encontrei com as pessoas. Os caras me abraçando, dando parabéns, falando: “Pô, cara, obrigado pelo que você fez!” Os caras agradeciam por eu ser brasileiro, uma coisa muito bacana. Recebi vários e-mails que diziam exatamente isso: “Obrigado por você ser brasileiro! Obrigado por você representar as nossas cores!” Para mim isso foi motivo de muito orgulho. Poder jogar com aquela bandeira nas costas, para o mundo inteiro ver, foi algo que eu nunca tinha imaginado, uma emoção imensa.

Sobre ter entrado para a história do poker nacional, isso é uma coisa que me falam, e é muito séria. É impressionante, quando você para pra pensar na importância que isso teve realmente. É difícil de pensar, é difícil de falar, porque as palavras fogem um pouco para explicar o que representa como realização pessoal o fato de ter sido o primeiro cara a ter conseguido fazer isso.

Qualquer coisa em que você seja o primeiro já é motivo de grande alegria. Além disso, o fato de trazer um título para o Brasil, num momento em que estão todos brigando pela regulamentação do poker, é muito importante porque traz reconhecimento, não só pela comunidade do poker, mas por toda uma massa que está em volta. Saber que eu contribuí com isso é muito bacana, muito legal.

AM: Após a conquista de 2008 você foi convidado a fazer parte do PokerStars Team Pro. O que mudou na sua vida desde então?

AG: Minha vida pós-bracelete mudou muito, principalmente em função do meu trabalho com o PokerStars. Eu tive o privilégio de assinar um contrato com eles. Para mim, isso foi uma realização pessoal absurda. Comecei jogando online lá, então sempre tive uma relação muito próxima com o site. Minha rotina de vida também mudou 100%. Eu tinha outra rotina, outros compromissos e isso me levou a ter uma vida completamente diferente. Tive a oportunidade de conhecer e conviver com outras pessoas do Team Pro do PokerStars. Aquela coisa, né? Um ano atrás eu estava vendo os caras na TV, e agora eles estão aqui, do meu lado, conversando comigo. Isso foi uma experiência fantástica, um aprendizado muito grande. Acho que isso foi crucial para os resultados que eu acabei alcançando pós-bracelete.

AM: Depois de ter sido o primeiro brasileiro a vencer um evento da World Series, você parece que gostou dessa coisa de ser primeiro: foi um dos primeiros brasileiros em uma mesa final de LAPT, em que seu 4º lugar foi nosso melhor resultado até hoje, sem falar da mesa final no PCA das Bahamas, onde conseguiu outro 4º lugar. Agora você foi novamente o pioneiro com a conquista de um bracelete do WPT. Conte-nos um pouco sobre esses eventos.

AG: O primeiro evento que eu joguei quando voltei de Vegas foi o LAPT de Punta del Este. Foi um torneio muito legal porque foi meu primeiro como profissional do PokerStars. Minha família estava lá comigo e eu consegui o melhor resultado de um brasileiro em um LAPT. Foi muito bom.

O PCA das Bahamas foi uma coisa mágica. Um lugar maravilhoso, um evento com uma estrutura perfeita, e eu tive o privilégio de fazer um torneio muito bom. Pelo fato de ser muito longo, eu tive que adotar algumas estratégias, cada uma para um determinado momento, e foi lá onde eu consegui fazer uma estratégia perfeita. Comecei o torneio em uma mesa duríssima, com o Dario Minieri a minha direita, e foi um momento em que minha paciência foi colocada à prova. O Dario é um cara duríssimo de enfrentar, mas, como eu estava com ele a minha direita, ainda consegui me mexer, e fui me acalmando, subindo aos pouquinhos. Fiz um segundo dia muito bom, um terceiro também. O dia anterior à formação da final table foi o que eu mais oscilei. Tive altos e baixos e joguei aquela famosa mão contra o Kevin “BeL0WaB0Ve” Saul.

Essa mão ficou marcada e, até hoje quando eu entro no PokerStars, os jogadores falam comigo sobre ela. Foi marcante porque ele é um cara renomado, que foi chip leader durante boa parte do torneio, e eu consegui extrair o máximo de valor na mão. Consegui atraí-lo para o pote e fazer com que ele colocasse todas as suas fichas no centro da mesa. Com essa mão, acabei virando o chip leader e comecei a final table na primeira posição. Infelizmente, acabei caindo numa armadilha do baralho, com um par de ases que encontrou uma quadra de valetes, mas isso aí é do jogo.

O torneio de Bahamas possui uma estrutura muito boa e um nível muito alto, com uma particularidade: a WSOP, o EPT e o WPT só permitem jogadores acima de 21 anos, e em Bahamas o torneio é aberto para jogadores a partir de 18 anos. Com isso, além de todos os profissionais, estava lá toda a molecada do online. Quem já jogou com esses caras sabe como é difícil enfrentá-los. Eu consegui montar uma estratégia boa e chegar na reta final.

(Confira as impressões de Alexandre Gomes sobre sua vitória no WPT)

AM: Geralmente, quando eu faço esta pergunta, quero saber de meus entrevistados qual torneio eles sonham em vencer. No seu caso, a pergunta é: Ainda há algum evento que você sonhe em vencer? [risos]

AG:
[Risos] Antes de ir para o WPT, eu dei uma entrevista para o pessoal de lá, falando sobre vários aspectos. Dentre eles, um foi o que me motivava a jogar poker. Comecei a pensar sobre isso, e é muito difícil encontrar uma resposta que consiga expressar realmente tudo que eu penso a respeito. Acho que o fascínio do poker, pelo menos para mim, é a questão do desafio. Cada etapa é um novo desafio. Eu, por exemplo, quando me profissionalizei, tinha o objetivo de conseguir um resultado expressivo, conseguir regularidade em torneios, aprimorar meu jogo. Em resumo, tinha o desafio de vencer um torneio grande. Claro que não imaginava que seria uma World Series, mas acabou acontecendo.

Depois do bracelete eu tinha um novo objetivo, que era conseguir uma mesa final ou um bom resultado na Europa. Acabei conseguindo um bom resultado nas Bahamas, que não é na Europa, mas é um torneio representativo, e que até o ano passado valia pelo EPT. A mesa final do PCA foi importante porque tirou da boca das pessoas aquela história de: “Ganhou uma vez só... Quebrou par de ases no HU...” e toda aquela coisa.

Passado o PCA, eu queria muito um resultado expressivo em um WPT. Eu te falo, do fundo do meu coração, é três vezes mais fácil vencer um bracelete da World Series do que um World Poker Tour. No WPT o field é muito mais qualificado, a estrutura é muito mais técnica e o buy-in muito mais caro. Agora eu lanço para mim mesmo um novo desafio, que é continuar na briga por um título na Europa. Acho que é isso que faz a chama estar sempre acesa: a busca de novos desafios que fazem com que eu tenha que ficar estudando, atualizando, lutando pra estar sempre crescendo.

Realmente, conquistei muitos resultados em um curto período de tempo, mas acho que eu tenho muito a conquistar ainda. Ainda tenho muito a crescer, aprimorar meu jogo, desenvolver aspectos sobre algumas deficiências que eu tenho.

AM: Quem vivencia o universo do poker de forma profissional, independente de ser jogador ou não, percebe que a “convergência” parece ser a tendência desse nosso mercado. E com você não tem sido diferente, pois você tem ampliado seus horizontes para além do jogo em si. Conte-nos um pouco sobre TV Poker Pro, seu projeto com o Akkari.

AG: O TV Poker Pro é uma idéia que surgiu no ano passado, em uma viagem minha com o Akkari. É um portal que une entretenimento e conteúdo. A ideia do site partiu dos vídeos que mostram como é a vida de um jogador profissional de poker. O que nós fazemos, os bastidores das nossas vidas etc. O outro lado do site é a Pro School, onde são produzidos vídeos didáticos de torneios, análises de mãos, vídeos didáticos com instrutores etc. Além disso, existem as promoções, torneios especiais, ranking interno e outras coisas para o assinante. Graças a Deus, o site está no ar há alguns meses e a aceitação tem sido acima da expectativa.

AM: Alê, abrimos este espaço para você fazer os seu agradecimentos e deixar um recado para a “turma do F5” — a torcida da internet.

AG: Eu gostaria de agradecer a todos vocês pela oportunidade, pela seriedade com que a CardPlayer leva o poker brasileiro, não só do ponto do jogador em si, mas do ponto empresarial. A gente só tem a agradecer a vocês porque isso só valoriza o nosso trabalho. Então eu gostaria de agradecer pela oportunidade de estar aqui mais uma vez. Quero falar também que a capa da outra edição deu sorte, porque aqui estou eu de novo [risos].

Quero agradecer, lógico, a minha família, a minha mãe, a Priscila, que estão comigo desde o começo, e isso foi fundamental para que eu conseguisse ter equilíbrio emocional e chegasse até aqui — principalmente na carreira do poker, em que lidamos com umas questões cruciais, como dinheiro, viagens, e somos obrigados a abrir mão de algumas coisas. O equilíbrio emocional e familiar foi fundamental, e eu acho que isso me ajudou muito a chegar aonde eu cheguei.

Quero agradecer também aos grandes amigos, não só do poker, mas meus grandes amigos que já me acompanham me dando suporte. São todos esses que estiveram comigo desde o início da caminhada. Eu não vou falar nomes para não cometer injustiças e deixar de citar alguém. Quero agradecer também a toda a equipe do TV Poker Pro que está na estrada com a gente.

Para a turma do F5, que sofre na torcida, vocês não têm ideia da importância e da ajuda que vocês nos dão em nossa caminhada. É impressionante. Você chega em casa cansado, três, quatro, cinco dias de evento, e olha o computador: centenas de mensagens, aquela torcida no Orkut... Isso dá uma injeção de ânimo na gente. É uma coisa que eu não tenho palavras para agradecer. Quero dizer, do fundo meu coração, que eu espero um dia poder fazer o mesmo por cada um de vocês que já torceu por mim. Isso não tem preço. Não tem como expressar a alegria que isso passa. E tem mais, isso incomoda o pessoal lá fora, essa energia, essa vibração, essa garra que nós brasileiros temos. Isso é uma das nossas armas para, cada vez mais, estar atrapalhando os caras lá fora. Muito obrigado a todos vocês. Eu realmente não tenho nem palavras para agradecer isso que você fazem.




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