EDIÇÃO 22 » COLUNA NACIONAL

Pelos caminhos do small-ball - Parte III

Potes pequenos estão com tudo


Raul Oliveira

Nesta edição, veremos como proceder com a estratégia do small ball pós-flop. De acordo com o que discutimos nos artigos anteriores, assim como qualquer outra tática que você adote, a posição no small ball é essencial. Pois, participando de muitos potes, é preciso ter essa vantagem para ser lucrativo no longo prazo.

Partindo do principio que joga melhor quem joga bem depois do flop, por ser nesse instante que as decisões são complicadas e as variantes enormes, vamos desmembrar algumas situações corriqueiras com as quais nos deparamos, e de que forma o small ball se comporta em cada uma delas.

Uma das primeiras situações que encontramos é com draws no flop. Falando assim, parece uma situação simples, mas existem diversos tipos de draws, e obviamente devemos mudar a estratégia em função da diferença entre elas. Um erro muito comum com uma queda fraca (uma gaveta, por exemplo) é apostar em posição e depois sair da mão ao receber um check-raise. Nesse cão, um check em posição tem a grande vantagem de tornar um pote enorme, caso você acerte seu straight no turn. Além disso, levando em conta que continuation bets no small ball são frequentes, ao dar check você torna a leitura dos adversários mais difícil e, por várias vezes, mesmo não acertando sua queda, o oponente dará check de novo no turn: é aí que você poderá apostar e levar o pote.

Não precisamos pedir mesa em todas as quedas só porque estamos em posição. Porém, com quedas fracas, você quase nunca poderá pagar um check-raise. Já com draws mais fortes (como queda para flush ou duas pontas para seqüência) você quase sempre poderá pagar o check-raise e ver o turn – aconselho prestar bastante atenção ao tamanho do stack do adversário. Por exemplo, imagine que os blinds estão em 1k-2k. Você tem 100k e seu adversário 50k. Você abre raise de 5k no dealer com 76, e ele completa. O flop vem K82, e no pote, agora com os antes, tem 13k. Aqui, uma bet pode ser bem perigosa, porque, apostando o padrão de 60%-70% do pote, este ficará com 21k, e seu adversário terá 45k para trás, fazendo com que o raise dele muitas vezes seja all-in, impossibilitando seu call. Logo, tenha sempre em mente o tamanho do stack do adversário e pense o que fará caso ele volte raise antes de fazer sua aposta.

Algumas exceções são quando temos quedas realmente fortes como, por exemplo, JT num bordo com 982. Nesse caso, já não é preciso se preocupar tanto com o raise do oponente, pois, caso não seja um valor absurdo, você sempre poderá seguir em frente. Uma mão dessas, contra AA, por exemplo, tem 57% de chance de vitória, e mesmo contra 99, ainda tem 42%.

Outra situação bastante importante, e que também acontece várias vezes quando ocorrem muitos raises pré-flop, são as famosas mãos marginais. Quando você tiver o segundo ou terceiro par no flop, sugiro que jogue de forma bem passiva, tentando extrair informações. Um exemplo clássico é quando você abre raise com QQ e toma call. O flop vem A66. Trata-se de um caso típico de mão marginal: aqui, ao invés de apostar para saber onde está, a dica é dar check para extrair essa informação. Nessa situação, ao sair apostando (menos quando seu adversário der fold), você quase sempre vai perder essa mão. Por outro lado, dando check, nem sempre seu adversário apostará. E, se ele apostar um valor baixo, você pode pagar e ver sua reação no turn. Na hipótese de ele ter um par na mão ou mesmo um Ax, ele não deve colocar mais fichas neste pote. Mãos marginais em posição também devem ser jogadas de forma passiva sem que o pote seja alavancado. É importante entender que um dos conceitos do small ball é minimizar as derrotas, uma vez que você disputa muitas mãos.

Mixar seu jogo pós-flop é muito importante para que você dificulte a leitura dos adversários. Entretanto, é bom ter em mente alguns padrões de quando apostar e quando dar check no flop.

Você deve apostar quando: I – não acertar absolutamente nada no flop; II – tiver uma mão boa e uma carta grátis for muito perigosa; III – tiver uma queda muito forte; IV – captar alguma tell do adversário.

Você deve dar check quando: I – tiver uma queda não tão forte e quiser vê-la gastando pouco, II – flopar uma mão muito boa e quiser permitir uma carta grátis para o adversário, III – na tentativa de maximizar sua mão, IV – tiver uma mão marginal pós-flop ou num flop bastante perigoso.

Alguns outros artifícios que podem ser utilizados depois do flop no small ball são: I – slowsplays com mãos muito fortes, esperando que o turn sirva para o seu adversário; II – pequenos raises blefando ou mesmo com mãos fracas no flop, para que você tenha clientes quando der raise com mãos fortes de verdade; III – executar um “Call-Bluff”, que é pagar uma aposta em posição, sem ter absolutamente nada, jogando apenas as cartas do adversário, ou seja, esperando que ele dê check no turn, e você possa levar a mão; IV – não tentar buscar informações no flop e sim no turn, para manter o pote baixo.

Gostaria de dizer que, assim como em tudo na vida, o poker está em constante mutação. E pelo fato de o small ball ter feito tanto sucesso e trazido tantos resultados, podemos dizer que alguns jogadores atualmente estão praticando o anti-small ball. Mas isso será assunto para futuras colunas. Até a próxima! 




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