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BSOP – Etapa Goiânia 2009

Na terceira etapa da Brazilian Series Of Poker 2009, a capital do estado de Goiás recebeu mais de 200 competidores, comprovando que o Texas Hold´em é um fenômeno também pelos lados do Planalto Central.


Bruno Nóbrega de Sousa

COMPETIÇÃO ACIRRADA NA TERRA DA FARTURA

Assim que entrei no táxi, saindo do aeroporto, o motorista me dirigiu a palavra com um sotaque peculiar: um “erre” arrastado, parecido com o que se ouve no interior de São Paulo, perguntava se era a primeira vez que eu estava em Goiânia, a que ele orgulhosamente chamou de “Terra da Fartura”.

De fato, a capital do estado de Goiás é uma cidade bem estruturada, moderna e com uma vida noturna agitada. É um cenário apto a receber uma etapa da Brazilian Series Of Poker, que a olhos vistos vem se firmando como o “Circuito do Brasil. E a turma do Planalto Central fez bonito – foram 206 jogadores inscritos no evento realizado no Clube Fiori-Winnin, igualando o field da primeira etapa, em São Paulo, e superando a expectativa dos próprios organizadores.

Para comportar todos os competidores, além do salão principal havia também outros três ambientes, sendo um deles externo. Ao longo desses espaços, era possível encontrar feras como Bruno GT, Sérgio Brun, Sanyo “MoneyEvil” e Marcos “Sketch”, sinalizando que ninguém teria vida fácil no torneio.

Numa mão interessante do Dia 1, Sérgio Augusto entra de limp do UTG, o jogador A dá raise de 900 fichas em middle position, e o jogador B paga, também em MP. Sérgio então volta reraise de 3.000, o jogador A vai all-in com 8.000 fichas e o jogador B, com cerca de 10.000 para trás, dá call. Sérgio também coloca todas as fichas no centro, e lá se vão mais 15.000 fichas para o pote. No showdown, o jogador A tem KQ, o jogador B mostra KK e Sérgio apresenta AA... O bordo não muda a situação, e Sérgio Augusto elimina dois oponentes ao mesmo tempo, puxando um belo pote.

LOOSE-AGGRESSIVE LADIES
Embora os marmanjos ainda sejam maioria nos torneios, já vai longe o tempo em que o poker era uma diversão exclusiva para homens. Hoje em dia, é cada vez mais comum ver mulheres mostrando técnica e habilidade no feltro, e elas não estão para brincadeira.
Uma dessas competidoras se destacou na multidão e seguiu em frente, tendo participação ativa durante toda a disputa: Larissa Metran, que chegou a ser chip leader no Dia 2, viria a conquistar a terceira colocação jogando em sua cidade-natal.

Num dos confrontos travados ao longo dessa caminhada, Larissa, que tinha acabado de dobrar com um par de valetes e agora estava com 200.000 fichas, deu mini-raise em middle position. “Eu não percebi que os blinds tinham acabado de subir. Esse mini-raise foi sem querer, era pra ter sido uma bet...” afirma Larissa, rindo. O button volta all-in de 100.000, metade do stack da goianiense. Após pensar bastante, ela dá call com AJ, contra Q8. No flop vem Q-T-9, dando o top pair ao oponente e deixando larissa com queda para sequência nas duas pontas. O turn não muda nada. No river bate um 8, que dá dois pares ao oponente mas monta o straight de Larissa, que sobe para 320.000 em fichas. “Eu tinha notes de que ele empurrava bastante, por isso paguei”, disse ela.

PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM
Por mais racional e técnico que seja o poker, em determinados momentos são os instintos e a emoção que falam mais alto. Quando bate no river aquela carta que faltava para completar a sequência ou quando um par baixo vence um coinflip, isso desperta o que há de mais intenso nos competidores. São momentos de legítima euforia, torcida em êxtase e muita vibração.

Como sempre, há os dois lados da moeda. Pouco antes de a bolha de premiação estourar, houve um jogador se excedeu nas comemorações e começou a gritar após vencer uma mão, disparando alguns comentários quase infantis contra o oponente, que, de forma civilizada, apenas acenava negativamente com a cabeça.

Passado o surto, imediatamente a organização do torneio aplicou contra o exaltado a penalidade prevista para esse tipo de comportamento (uma volta em “sit out”, ou seja, o competidor é convidado a se retirar da mesa até que o botão de dealer retorne ao jogador que o possuía quando do ocorrido) e advertiu aos demais participantes que o mesmo aconteceria a quem eventualmente se comportasse daquela forma. Ponto para os diretores do torneio, que agiram com eficiência e isonomia.

Algum tempo depois, quando o som que mais se ouvia era o tilintar das fichas, uma mão recria o clima de torcida no Clube Fiori-Winnin. O carioca Robson Ferreira vai all-in do UTG com 217.000 fichas. Rossini Rossi, conhecido jogador local, dá call. Nesse instante, o narrador do evento diz algo como “é um confronto entre Rio de Janeiro e Goiânia!”. Isso foi o bastante para que uma pequena multidão se aglomerasse próximo àquela mesa, colocando as torcidas frente a frente (ao contrário do futebol, não há palavrões nem ofensas entre os grupos, pois isso pode significar a eliminação do jogador por parte da organização, tenha ele influência direta ou não sobre a torcida). Os dois mostram as cartas, e Robson apresenta A9 contra AJ de Rossini. Dominado, restava ao carioca torcer por um improvável flush de espadas ou por um dos três noves restantes no baralho, além de cruzar os dedos para que o oponente não acertasse um flush de paus, nem batesse um valete no bordo. Nessa altura a torcida de Goiânia, aos gritos de “Vamo, Rossini!”, dava como certa a vitória. Entretanto – e isso também faz parte do poker –, lady luck deu uma forcinha a Robson, trazendo um bordo com 3729T. Com o turn salvador, foi a galera do Rio de Janeiro que explodiu em comemoração, e Robson foi pro abraço!

MERCADO PARA PROFISSIONAIS
Para que momentos assim não se percam nos labi-rintos da memória e possam ver vistos por quem não teve a chance de estar presente no evento, a Brazilian Series Of Poker vem sendo registrada por uma equipe que desponta como uma das mais gratas surpresas para o poker nacional em 2009: o pessoal do Mercado Poker.

Formado por Luiz Fernando Braga, Daniel Perez, Igor Ferreira e Mateus Oliveira, o Mercado Poker vem adicionando profissionalismo e descontração às etapas da BSOP e outros eventos nacionais, capturando os momentos mais importantes dos torneios e produzindo entrevistas que oscilam entre o registro jornalístico e a comédia bem pensada. Destaque para a matéria exclusiva com nosso ídolo maior do tênis, Gustavo Kuerten, durante o Floripa Open.

Logo nos primeiros níveis da etapa de Goiânia, Luiz Fernando (entre uma matéria e outra, ele também disputa os torneios) se envolve em um grande pote contra Thelmo. Com blinds de 50-100, a mesa roda em fold. Luiz, que era o button e tinha AT, dá raise de 400. O small blind larga, mas Thelmo paga no big blind. O flop vem com T-T-7. Luiz dá continuation-bet de 800 fichas, Thelmo dá insta-call. No turn bate um 3. Outra c-bet do Luiz, que coloca mais 1.600 fichas, e novamente Thelmo paga. No river vem um 2. Luiz empurra mais 1.600 fichas, só que desta vez Thelmo volta reraise de 4.000. “Esse cara tá me blefando...”, foi a leitura do Luiz, enquanto me contava esta mão. Depois de muito pensar, ele dá call. No showdown, Luiz apresenta trinca de dez com top kicker, e Thelmo mostra 77, acertando um full house logo no flop e executando um slowplay contra o Luiz Fernando Braga.

EVENTO DOS QUATRO CANTOS
Enquanto o torneio se desenvolvia, eu me perguntava se a BSOP realmente poderia ser considerada a competição regular representativa do nosso país. E a resposta veio no Dia 2, em que os 41 sobreviventes personificavam, ao todo, nada menos do que 10 estados (incluindo o Distrito Federal). Do Amazonas a Santa Catarina, os competidores compunham uma Babel de sotaques que reproduzia bem a “brasilidade” do nosso poker.

Na reta final, tivemos uma Catarinense caindo na bolha. Patrícia Comineti vai all-in com 35.000 e recebe call do oponente. Ela apresenta KQ contra KK do adversário. Mesmo dominada, não foi sem emoção que se despediu do torneio. Um flop com 855 a deixou com 33% de chances de permanecer viva na competição. Mas um T no turn e um T no river foram o fim da linha para ela. GG, Pati!

Após a eliminação, Patrícia encontrou sossego nos braços de seu namorado, Leandro Brasa.

Na bolha da mesa final ficou o paulista Sérgio Braga. Mesmo com o apoio de sua esposa e companheira de poker Alê Braga, ele não resistiu ao embate contra o então chip leader Tarcísio Ferreira. Num confronto entre A7 versus KQ, um rei no flop em favor de Tarcísio determinou a queda de Sérgio em 10º lugar.

HORA DA DECISÃO

9º Colocado: Sérgio Brun (PR)
O primeiro a se despedir da mesa final foi Sérgio Brun. No confronto de A6 contra AK de Ricardo Souza, o representante do Paraná na final table deu adeus à disputa depois de um bordo com 3T345. 9º lugar para Sérgio Brun.

8º Colocado: Rodrigo Macias (DF)
Em seguida foi a vez de Rodrigo “Professor” Macias, do Distrito Federal, despedir-se do torneio. Novamente o protagonista da eliminação foi Ricardo Souza, que pagou com TT o all-in do “Professor”, que tinha 66. Num bordo sem surpresas, Rodrigo cai em 8º.

7º Colocado: Arnóbio Neto (GO)
Agora entra em cena o iluminado Tarcísio. Depois de pagar com A7 o all-in de Arnóbio Neto, que tinha A9, o flop com 6Q7 já indicava que mais um mesa-finalista estava prestes a cair. E as duas últimas cartas, respectivamente A e J, decretaram que Arnóbio Neto ficaria com a 7ª colocação.

6º Colocado: Ricardo Souza (RJ)
Em outro confronto entre Goiânia e Rio de Janeiro, Ricardo Souza vai all-in do UTG com AT, contra 88 de Rossini Rossi. O bordo vem 35754. Desta vez, Goiânia leva a melhor: Rossini segue, Ricardo cai em 6º.

5º Colocado: Rafael Limirio (GO)

No embate entre Larissa Metran e Rafael Limirio, ele, com KQ, paga o all-in de Larissa. Ela então apresenta 99 e vence o coinflip num bordo com 2535T. Rafael Limirio conquista o 5º lugar.

4º Colocado: Rossini Rossi (GO)
Agora é a vez de Rossini Rossi bater de frente com Tarcíso. O jogador local dá call no all-in do chip leader. No showdown, A8 versus KJ. Nada bate no bordo que ajude Rossini, que fica com a 4ª colocação.

3ª Colocada: Larissa Metran (GO)
No adeus da goianiense Larissa Metran do torneio, o impiedoso Tarcísio paga o all-in dela com 65. O AT de Larissa não é páreo para um bordo com 5T65K. Full House para Tarcísio, GG para Larissa!

2º Colocado: Robson Ferreira (RJ)
Num heads-up que durou poucas mãos, Robson tinha 390.000 fichas, contra 2.800.000 de Tarcísio. Aliando a desproporção do stack com o fato de que Tarcísio estava simplesmente iluminado, o resultado não poderia ter sido outro: Robson vai all-in 77, Tarcísio paga com 9J. O bordo decisivo apresenta J8A35. O carioca Robson Ferreira – conformado, mas também satisfeito – dá os parabéns ao inconteste vencedor Tarcísio.

CAMPEÃO:
TARCÍSIO FERREIRA
Os mesa-finalistas da etapa de Goiânia da BSOP certamente eram jogadores habilidosos, mas têm certos dias em que simplesmente tudo dá certo para apenas um deles – e naquele começo de noite de 19 de Abril, todos os ventos sopraram a favor de um homem só... Tarcísio Ferreira.

Natural de São Gotardo (MG), mas morando em Nova York há vinte anos, Tarcísio já vinha gigante desde seus primeiros movimentos na competição. Vale lembrar que ele entrou pelo chamado “alternate”, que é o termo utilizado quando já não há mais vagas no torneio, e a participação está condicionada à eliminação de outros inscritos.

“Recebi umas mãos boas e pude dobrar rápido. Graças a Deus, deu tudo certo”, afirma o simpático Tarcísio, que foi chip leader do torneio praticamente de ponta a ponta e manteve o ritmo na mesa final. Parabéns, Campeão!

Em mais um evento bem produzido pela Nutzz, composta por Leo Bello, Leandro Brasa, DC e companhia, a etapa de Goiânia parece ter se firmado de vez no calendário da BSOP. Parabéns a todos, desde a organização até cada um dos jogadores, pois foi um espetáculo digno do que nosso poker pode apresentar!

Em 2006, tivemos Leandro Brasa como campeão da BSOP. Em 2007, foi a vez de do paranaense Sérgio Brun. No ano passado, Cláudio Baptista conquistou o título. E em 2009, você arrisca um palpite?


Ficha Técnica
3ª ETAPA BSOP 2009 – GOIÂNIA
Local: Clube Fiori-Winnin
Datas: 18 e 19 de Abril
Buy-In: R$ 1.000 + 150
Stack Inicial: 15 mil fichas
Blinds: 45 minutos
Field: 206 inscritos
Diretor Geral: Devanir Campos (DC)
ITM: até o 18º colocado
Site: bsop.com.br




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