Para grandes jogadores, a resposta é sim. Se esses blefes não fossem lucrativos, grandes jogadores não os executariam. Eles jogam poker para ganhar dinheiro, não para se exibir.
Para você, eu e a maioria das pessoas, a resposta é não. Nós não possuímos as habilidades excepcionais necessárias para executar blefes de efeito de maneira lucrativa, e alguns de nós fazemos jogadas elaboradas primordialmente para nos exibir. Essa afirmativa pode lhe ofender, mas eu trabalho com realismo.
Meu último livro, Poker Winners Are Different (Vencedores no Poker São Diferentes), afirma que vencedores são brutalmente realistas, enquanto perdedores se enganam quanto às próprias habilidades e motivações. Um excerto desse livro afirma: “O desejo de pensar bem sobre nós mesmos faz com que superestimemos praticamente todas as nossas habilidades”. Antes de analisar como essa tendência afeta os blefes, vamos examinar os fatores que determinam a lucratividade de vários blefes.
O EV é Sempre a Questão Central
Seus lucros no longo prazo são aproximadamente iguais a seu EV (valor esperado), suas chances de ganhar ou perder vezes os montantes que você pode ganhar ou perder. Muitos blefes são lucrativos — mesmo se falharem com frequência — pois você arrisca muito menos do que pode ganhar. Por exemplo, se você blefar por $10 em um pote de $40, ele é lucrativo se suas chances de ganhar forem maiores que 20%.
Com muitos blefes de efeito, você arrisca muito mais do que ganha. Você aposta de forma exagerada ou joga excessivamente com cartas fracas ou terríveis nas streets iniciais para fazer um blefe no turn ou river. Vários de meus amigos descreveram esse tipo de blefe:
• Matt Lessinger, “Meu Prêmio ‘Blefe do Ano’ 2000 Vai Para…” (Poker Digest, 28 de dezembro de 2000, página 39)
• David Sklansky e Ed Miller, No Limit Hold’em: Teoria e Prática (páginas 196-197)
• Sam O’Connor, How to DOMINATE $1 and $2 No-limit Hold’em (páginas 373-375)
• Barry Tanenbaum, “Blefando em Limit Hold’em: Missão Impossível? Parte VIII — Mais Blefes no River e a Conclusão” (Card Player Magazine, 25 de março de 2009), e “Contrarrecursos” (nesta edição da Card Player Brasil)
Alguns dos blefes que eles descreveram não devem sequer ser tentados sem uma carta favorável no turn ou river. Isto é, você pode investir muito dinheiro nas streets iniciais, mas se a carta certa não aparecer, você deve desistir do blefe.
Por exemplo, O “herói” de O’Connor’s preparou um blefe em no-limit hold’em pagando raise e reraise pré-flop com J-3 offsuit, e fez um check-raise no turn quando uma terceira carta de ouros surgiu.
Tanenbaum descreveu “um blefe incrível”. Um jogador de limit hold’em com J-7 offsuit pagou ou aumentou um total de 4,5 big bets pré-flop, no flop e no turn, e poderia ganhar apenas se virasse um par no river, e esse blefe fez com que o oponente dele largasse um straight.
Lessinger descreveu um blefe em pot-limit Omaha com um par de reis e um flop com todas do mesmo naipe, que ele acreditava (corretamente) que tinha dado a seu oponente uma trinca de ases. Ele não tinha como acertar um flush, e o blefe só funcionaria se não virasse um par no bordo, e se seu oponente desse fold depois de pagar apostas substanciais no flop e no turn.
Ed Miller deliberadamente construiu um grande pote quando achava que estava perdendo, pois acreditava que seu oponente weak-tight desistiria em vez de pagar uma aposta forte. Ele colocou $100 em um pote de $90 com um par de dez e um flop com Q♥ 5♥ 5♠. Depois do 9♣ no turn, ele apostou $300. Seu oponente pagou, criando um pote de $890. Quando o 7♥ surgiu no river, aparentemente formando um flush, ele apostou $760. Seu oponente mostrou 5♦ 2♦ e largou.
Como a probabilidade combinada de conseguir as cartas certas e blefar com sucesso é muito pequena, e você pode perder mais do que ganhar, tais jogadas são em geral extremamente não-lucrativas. Elas precisam dar certo com muita frequência.
Mas espere, você não viu muitas jogadas similares na televisão? E elas não dão certo quase sempre? É claro que você viu, mas você não está levando em conta duas coisas:
• Os produtores de TV mostram apenas as mãos mais dramáticas, e blefes de efeito são dramáticos. Blefes que falharam — em especial quando um jogador investiu uma quantia substancial de fichas para preparar um blefe que nem sequer tentou — não são mostrados.
• A maioria dos jogadores na TV são imensamente melhores em leitura e manipulação de oponentes do que nós somos, assim como meus amigos autores (muito embora outras pessoas tenham feito a maioria dos blefes que eles descreveram). Sem essas habilidades, tentar executar blefes complicados é em regra insensato.
Lessinger afirmou isso em “Exagerando no Float” (Card Player, 30 de janeiro de 2008). Ele exaltou a habilidade de Stu Ungar de dar float no flop para poder blefar no turn e river, depois afirmou: “Eu vejo jogadores demais (especialmente os mais jovens) tentando fazer, indiscriminadamente, jogadas que requerem precisão e sutileza”.
Eu Devo Evitar Completamente Blefes de Efeito?
Talvez. Certamente seria mais seguro. Contudo, se você jamais tentou, pode se tornar muito previsível. Se joga contra adversários fracos, pode ser previsível. Se enfrenta bons oponentes, a previsibilidade é uma séria fraqueza. Se você joga contra grandes jogadores, é fatal.
Vamos olhar novamente a análise de Lessinger sobre float no flop. A palavra chave é “indiscriminadamente”. O poker é um jogo altamente situacional, e você não deve fazer nada de maneira indiscriminada, especialmente quando se trata de blefes de alto risco. A não ser que a hora e o local sejam exatamente certos, nem sequer pense em tentar um blefe de efeito.
Você deve tentar blefes de alto risco apenas quando estiver extremamente confiante de que:
• Leu seu oponente e a situação corretamente.
• Tem imenso controle sobre seu oponente. Você sabe como ele lhe percebe e como ele vai agir.
Advertência: A maioria dos jogadores superestima os dois. Eles se lembram de suas jogadas de sucesso e esquecem seus erros.
E as Recompensas e Punições Intangíveis?
Blefes de efeito podem produzir tanto recompensas intangíveis quanto punições intangíveis. Quanto maior for a frequência com que você blefar, mesmo que seja pego blefando, mais ação você vai conseguir com suas mãos vencedoras, e mais confusos seus oponentes vão ficar. E um blefe assim é um grande “estímulo” que pode aumentar sua autoconfiança, agressividade e determinação.
Contudo, se você falhar, pode se sentir estúpido e se martirizar por ter perdido dinheiro. Também pode se tornar muito passivo e não aproveitar oportunidades de blefe subsequentes com EV alto. E cada blefe fracassado aumenta a probabilidade de seus blefes futuros serem pagos.
Advertência: Você pode não conseguir analisar com precisão essas recompensas e punições intangíveis. Se você adora blefar, pode argumentar que suas perdas são “despesas de propaganda”. Se odiar blefar, pode superenfatizar os custos de blefes fracassados. Subestimar e superestimar esses efeitos intangíveis são grandes erros.
Tais erros nos trazem de volta o EV e a lucratividade, que devem sempre ser sua preocupação central. Conforme afirmei em “Vencedores Induzem ao Erro de Forma Criteriosa” (Card Player Brasil), “Esqueça sua culpa por induzir ao erro, seu medo de parecer tolo e a adrenalina que advém de fazer jogadas de efeito. Faça o que for preciso para aumentar seus lucros no longo prazo”. ♠