EDIÇÃO 21 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Use a cabeça

Saiba dizer não!


Daniel Tevez Cantera

Recebi esta pergunta de um mano há alguns dias: “Tevez, tô fazendo as contas... Faz oito meses que tiro o dobro do meu salário de bancário jogando poker. Devo largar o emprego e viver de poker?” A resposta é não. Simples e direto.

Entendo que seu chefe seja um saco, que você trabalhe muito e ganhe pouco. Porém, não recomendo largar o emprego para virar jogador de poker.

Tá ganhando o dobro? Parabéns! Mas ganhe o dobro do seu salário por mais um ano e então comece a pensar nisso. Largando o emprego, na primeira invertida que tomar no game você vai se assustar, jogar pressionado e finalmente quebrar. E o emprego já era...

Dizem que aproximadamente 5% dos jogadores de poker são ganhadores no longo prazo (até acho que seja mais, mas andei vendo muitos manos quebrar a cara). Se vocês olharem com atenção, verão que muita gente “sumiu” – alguns se complicaram e viraram devedores, outros entenderam que não é tão fácil assim, e vazaram.

“Peraí, tevez, tem fulano que se deu bem!” Mas, por acaso, o senhor tem o talento dele(s)? Não interprete isso como um insulto ou como papo de tiozão cinquentenário: quando Alê Gomes largou sua profissão ele estava formado, e sabia que poderia voltar a ser advogado quando tivesse vontade. Além disso, poucos têm o talento e a capacidade de viver disso, como ele.

Só cogite largar o emprego se tiver bankroll e suporte familiar, e se for ganhador por dois anos no mínimo. Não me venha com a conversa de que esta “pra frente” – tem que estar muito pra frente para então pensar nisso.

O que é estar “muito pra frente”? Simples: ter quitado tudo, estar com 1.000 buy-ins e, principalmente, receber o pedido das pessoas com quem convive, para que você se dedique a isso. Então use aquele macete que escrevi ano passado, de como ser um jogador de poker profissional.

Vá forrando duas vezes seu salário, ‘hermano’. Vá puxando uma grana... Mas tem que ser uma boa grana, porque chegar do banco, acessar o site e engatar nos golpes até de madrugada, para então ir trabalhar com aquela ressaca... E a pessoa que está no seu lado começar a reclamar de tudo e seu chefe ficar um traste ainda pior... Como dizemos aqui no Sul: “É caixão, ‘hermano’”!

Complemente sua renda com seus ganhos no poker. Aí sim! Faça isso de forma ordenada e nos momentos em que estiver jogando. Não é puxar 10k num torneio que vai decidir se você deve pedir demissão e ficar apenas jogando.

Tenha sempre um Plano B. Para saber mais sobre isso, deem uma olhada na minha coluna da edição N. 18 da CardPlayer Brasil.

Vegas: “vamo que todavia”!

Falando em Plano B, foi com grande satisfação que recebi do pessoal da revista a confirmação de que continuarei sendo colunista, mesmo com o encerramento das atividades do PokerNews no mercado Brasileiro. Além disso, fiquei emocionado com a solidariedade da galera na internet, e com as novas propostas de trabalho também (risos).

Como não levo muito jeito pra ser sócio, vou partir para um site próprio de notícias e coberturas nacionais e internacionais. Contarei mais detalhes em breve.

A propósito, já dando início a essa nova fase, estarei em Las Vegas cobrindo os torneios da WSOP e gostaria de dar umas dicas que recebi dos “veteranos”.

– Garanta o hotel antes mesmo de sair do Brasil. Se possível pague adiantado, para não esquentar a cabeça com hospedagem. Eu reservei um apto de 60 metros, com todas as mordomias, por 51 ‘doletas’ a diária. Se puder, faça como eu, fique sozinho: aturar ronco dos outros é fria!

– Defina locais comuns e horários para combinar golpes e cavaladas. Assim você não se perde do pessoal e não deixa passar eventuais forras pesadas.

– É bobagem alugar carro. Lá tem táxi a vontade e, caso encontre fila na saída do Main Event, vá tomar mais uma no bar ou dê mais uma paquerada naquela loira até esvaziar um pouco. Afinal de contas, se você beber e lhe pegarem dirigindo, o pepino pode ser gigantesco.

– Pegue um vôo via Miami e tente ficar um dia por lá. Aproveite e compre um notebook “foguete” novo, tipo aqueles “Tevez Malhated” que forraram tanta gente. Vale como presente para os entes queridos também.
– Não leve muitas roupas: lá é barbada! Deixe espaço na mala para trazer aquelas jaquetas de couro dos sites, que serão disputadas à tapa quando você chegar. OK, sei que o mano não é disso, é que eu fui muambeiro muitos anos e não dispenso uma forra extra. (risos)

– Calcule 40 ‘doletas’ por dia para o rango. Procure alternar o cardápio, mesmo que custe uns dólares a mais. Afinal de contas, passar mal em Las Vegas é que nem ficar com dor nas costas antes daquele encontro tão esperado com a rainha da bateria.

– Proteja-se do sol. Mas leve uma camisa extra, porque você pode espirrar um monte por causa diferença de temperatura fora e dentro dos cassinos.

– Jogue todos os satélites possíveis. Mas fique atento aos que parecem mais um bingo, em razão da estrutura oferecida.

– Fique longe de jogos como roleta ou craps, ou o ‘hermano’ vai precisar de um balde.

– Tente ficar lá por pelo menos 10 dias. A passagem custa 1,2K e essa grana precisa ser bem utilizada.

– Procure cavalar os torneios caros antes de sair de aqui. Somente assim para encaixar alguns buy-ins pesados, como o do Main Event.

– Procure o Tevez por lá. Ele vai informar aos seus no Brasil como está você nos torneios.

– Por favor, forre! Queremos ver brasileiros nas cabeças!!

No mais, obrigado pela confiança, CardPlayer! “Vamo que todavia”!




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