EDIÇÃO 21 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Sutilezas com Suited Connectors

Uma sucinta análise avançada


Thiago Decano

Pessoal, vou começar este artigo compartilhando com vocês uma alegria que tive: consegui minha vaguinha para o Main Event da WSOP! E tem mais, neste mês disputarei alguns torneios importantes na Europa, como o European Poker Tour (EPT) e World Poker Tour (WPT). Tomara que a “forra” seja pesada! (risos)
Nesta edição, comentarei uma mão que me chamou a atenção nos últimos dias. Veremos uma forma interessante de jogar os chamados “suited connectors”, aquelas cartas conectadas e do mesmo naipe, que possuem um potencial incrível de ganho, mas também de perda.

A primeira mão ocorreu no Circuito Curitibano de Poker, com buy-in de R$600, 15.000 fichas iniciais e blinds começando em 25/50, com níveis de 40 minutos. Em outras palavras, um torneio deep stack bastante técnico.

Observe a situação do diagrama


Todos pagam, exceto B. Temos 15.000 fichas, e C dá call no raise de 800. Então, nossas implied odds são de aproximadamente 1-para-18 no stack.

Para fins didáticos e de tomada de decisão, vejamos algumas porcentagens para esta mão: flush (0.84%); dois pares (2%); trinca (1.35%); full house (0.09%); quadra (0.01%); sequência (1.31%); 20 outs, ou duas pontas + flush draw + par (0.077%); 17 outs, ou gaveta + flush draw + par (0.153%); 15 outs, ou duas pontas + flush draw (1.424%). Total (7.254%), ou cerca de 1-para-13.

Dessa forma, o call do Jogador C é matematicamente correto, e ele ainda tem vantagem de posição. Porém, o principal fator contrário a pagar uma aposta em razão das implied odds, com um par, visando trincar, é que se pode facilmente dar fold num flop desfavorável. Quando você dá call com suited connectors, a chance de perder muitas fichas é bem maior.

O próximo passo depois desses cálculos (que obviamente não serão tão detalhados no calor da batalha, mas apena um valor aproximado, passível de ser calculado mentalmente) é tentar delimitar o range de mãos do Jogador D. Com base na ação pré-flop, tudo leva a crer que a gama dele esteja restrita a mãos premium, ou seja, AA, KK, QQ e AK.

O flop traz 23J. D coloca 3.000, A dá call, e C aumenta para 8.000. Após pensar por algum tempo, D vai all-in com seu par de reis. O Jogador A larga, mas C dá insta-call.

Em minha opinião, tanto D quanto C jogaram corretamente. Um call do Jogador C naquele flop seria péssimo, uma vez que ele está favorito naquele instante, mas não conseguiria ver o river caso sua carta não batesse no turn, pois provavelmente haveria all-in nessa street.

Outro fator que considero de extrema relevância é que a taxa de “take it down” nesta mão é muito pequena, pois o pote já está grande para que um AA/KK/QQ tenha espaço para dar fold. Isso acaba tirando muito da força do 45, por se tratar de um semiblefe que provavelmente não vai passar. O que eu quero dizer é que C flopou uma ótima mão e mesmo assim terá apenas 56% de chances de ganhar do par alto, já que esse não cairá fora na grande maioria das vezes. Ainda, corre-se o risco de o Jogador A ter trincado com um par na mão, diminuindo seu percentual de chances.

Onde eu quero chegar é: o Jogador C agiu de forma correta. Entretanto, ele comprometeu todo seu stack na primeira mão do torneio, um pecado mortal na estratégia “small-ball” utilizada pelo grande Daniel Negreanu, que prefere jogar vários potes pequenos em vez de um grande. Na fase inicial dos torneios, a vantagem de ter o dobro de fichas da média não se compara com a de quem tem essa quantidade de fichas perto da bolha ou na própria mesa final.

No poker, ganha quem for mais agressivo. Porém, ao jogar com suited connectors, devemos ter em mente que um semiblefe só será lucrativo se sua taxa de take it down for grande.

Algo valioso que aprendi no poker é que você sempre deve tentar aumentar o pote quando for muito favorito na mão e diminuir quando não for. Ou seja, se achar que seu oponente não largará a mão e ainda assim possuir 50% de chance de vencê-la, pense na possibilidade de apenas pagar a aposta.

Tenho visto diversos ótimos jogadores colocando todas as suas fichas no centro da mesa em situações nas quais estão, no máximo, empatando com o adversário. Uma excepcional habilidade que percebo nos grandes jogadores é a de não se envolver, desnecessariamente, em situações difíceis e complicadas. Ainda mais no início de um torneio deep stack. 




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