EDIÇÃO 21 » COLUNA NACIONAL

Pelos caminhos do small-ball - Parte II

Potes pequenos estão com tudo


Raul Oliveira

No último artigo, comecei a falar sobre small-ball. Para quem ainda não está familiarizado com o conceito, vale dizer que se trata de uma estratégia de jogo em que o principal objetivo é o controle do pote. Mais do que manter o pote pequeno, ter o controle é comandar o quão grande você quer que ele fique. Nessa estratégia, não precisamos ir muito longe para perceber a importância da posição e, claro, de uma boa leitura do adversário, como sempre.

Na edição passada, discutimos a forma de jogar de acordo com as mãos iniciais, ou pré-flop. Nesta, veremos alguns outros conceitos. Talvez o principal a ser entendido para se jogar o small-ball, é que não importa tanto com quais mãos você entra no pote, e sim o valor das suas apostas. Lembre-se de que a essência desse estilo de jogo é apostar menos para ganhar mais. Parece um tanto contraditório, mas é exatamente disso que se trata.

Outro ponto alto da estratégia é que, para jogá-la, você realmente precisa estar à vontade na mesa, já que participará de muitos potes e terá várias decisões difíceis pela frente. Do mesmo modo, agindo assim, você vai forçar seus adversários a jogar muitas mãos pós-flop, o que deve lhe trazer vantagens caso tenha a mesa sob controle.

Observe também que, através do small ball, você faz com que a maioria de suas decisões difíceis ocorra depois do flop, e não antes, forçando seus adversários a fazer mesma coisa. Não é difícil entender que qualquer jogador mediano ou que não esteja à vontade na mesa (ou com o valor dela), prefere decidir as mãos pré-flop em vez de pós-flop. Logo, fazer o oponente a jogar depois do flop equivale a forçá-lo a cometer mais erros.

Algo com que você vai se deparar frequentemente jogando small-ball são os reraises. Claro! Levando em conta que você vem abrindo muitos raises, é normal tanto que encontre mãos fortes pela frente quanto que comece a ser testado por adversários que não aguentam mais seus aumentos constantes. Por isso é bom estar preparado para essas situações. Vejamos alguns pontos importantes para você decidir se deve ou não pagar o reraise:

- Primeiro (e óbvio) é verificar se sua mão é boa o suficiente

- Depois, saber se tem vantagem de posição. Como eu já disse outras vezes, nessa forma de jogar, posição é tudo. Assim, sempre que tiver essa vantagem, seu range de mãos para dar call crescerá bastante.

- Calcular as pot odds do reraise e o tamanho do stack, tanto seu quanto de quem deu o reaumento. Quando os dois stacks forem grandes, os suited connectors e os pares baixos serão sempre bem atrativos.

- A última analise que sempre deve ser feita é a respeito da forma com que seu adversário vem jogando. Uma leitura precisa ajuda (e muito) na hora de tomar decisões como essas.

Na reta final dos torneios, esses reraises muitas vezes passam a ser all-ins. Caso em que, obviamente, fatores como posição perdem todo o valor. Aqui, o importante são as pot odds do call e o range em que você coloca seu adversário na mão. Portanto, fazer “notes” durante o torneio é essencial para esses momentos.

Como vimos na edição passada, a estratégia do small-ball parte do princípio de que você se encontra “deep” em relação aos blinds – ou seja, tem folga. Mas é lógico que, em se tratando de poker, várias vezes você vai se encontrar short stack e, apesar de não ser o ideal, ainda poderá utilizar alguns artifícios.

Nem preciso dizer que, se você estiver com menos de 10 big blinds, o certo é esquecer o small-ball e partir para o tradicional all-in pré-flop. Entretanto, digamos que você ainda tenha uns 20 big blinds e o all-in não seja necessário. Você recebe QJs lá da frente e quer jogar a mão, mas sabe que, abrindo raise e tomando reraise, essas fichas vão fazer muita falta. Nessa hora, pode-se entrar de limp ou, em outras palavras, tentar ver o flop e seguir sua estratégia por um preço baixo. Claro, você pode tomar um raise nesse limp, mas é bem provável que isso também acontecesse se você abrisse seu raise padrão de 2,5 vezes o big blind. Portanto, dessa forma você economiza 1,5 blinds caso tome um raise, e ainda conseguirá jogar no flop algumas vezes.

Sem dúvida, um dos aspectos de que mais gosto nessa estratégia é que ela trabalha sua criatividade: o small-ball não permite que você pense como um robô. Para se safar de várias situações complicadas, ganhar várias mãos estando por baixo e confundir seus adversários é preciso raciocinar muito e ter sempre uma saída criativa na manga.

No próximo artigo, começarei a falar do small-ball a partir do flop propriamente dito. Espero que esses conceitos o ajudem mixar seu jogo, e o mais importante: faça você pensar sobre ele.

Grande abraço a todos!




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