Nós fanáticos por poker tendemos a gostar de analisar mãos individuais. Eu tinha tal mão e fiz isso. Depois meu oponente fez aquilo. Depois eu fiz isso, mas na verdade acho que fazer essa outra coisa teria sido mais lucrativo.
Depois nós escrevemos uma coluna de mil palavras sobre os méritos de fazer isso versus fazer a outra coisa.
Analisar mãos individuais tem seu valor, mas se você fizer muito isso, pode cair em uma armadilha. Você começa a pensar no poker como uma série de mãos jogadas independentemente. Existe uma maneira “certa” de jogar essa mão e uma maneira “certa” de jogar a próxima mão, e assim por diante.
O poker não funciona bem assim. As mãos não são independentes. O que acontece em uma mão pode afetar o resultado de uma mão futura. Não vai afetar como as cartas são distribuídas, é claro, mas vai influenciar como seu oponente lê sua mão e reage a suas jogadas.
Em outras palavras, sua meta não é se certificar de que cada mão que você joga é tão lucrativa individualmente quanto pode ser. Sua meta é ter a estratégia geral mais lucrativa. Você certamente desistiria de um centavo nessa mão se isso significasse ganhar dez em outra.
Quando se encara o poker dessa maneira, rapidamente se chega a uma conclusão chave: sob a perspectiva de seu oponente, você não tem uma mão específica; você tem uma gama de mãos. Eis um exemplo rápido: digamos que você aumente pré-flop e seja pago. O flop traz três cartas baixas, e você aposta e é pago. Outra carta baixa aparece, e você aposta e é pago. O river é outra carta baixa. Seu oponente pede mesa e você vai all-in.
Ele não tem como saber exatamente que mão você tem. Mas pode pensar em todas as mãos possíveis que você tem para jogar dessa maneira. Você pode ter um par de ases. Também pode ter um par de reis, ou ainda qualquer outro par que forme uma trinca com qualquer carta do bordo.
Digamos que essas sejam as únicas mãos com as quais você jogaria especificamente dessa maneira. Elas englobariam toda sua possível gama de mãos. Essa é uma gama bastante restrita. Você tem apenas algumas mãos possíveis e elas são relativamente fortes.
Se eu tivesse visto você jogar durante um período e lhe conhecesse suficientemente bem para saber que essa seria toda sua gama, eu jamais pagaria aquela aposta final do river, a não ser que tivesse dois pares. Dar call com o top pair seria inútil, pois cada mão de sua gama o derrota.
Portanto, gamas restritas têm um problema: quanto mais limitada for, mais perfeitamente seu oponente pode jogar contra você. Eu jamais vou pagar sua aposta com o top pair se, quando você aumenta pré-flop e aposta nas três streets, jamais tem uma mão menor que o top pair. Eu vou pagar apenas com mãos que eu acho que me darão dinheiro e, como sua gama é muito restrita, eu terei uma boa idéia de que mãos exatamente elas são.
Então, durante a maior parte do tempo, vale a pena ter gamas de mãos mais amplas. Grosso modo, quanto mais amplas forem suas gamas, mais incertos seu oponentes estarão quanto a como reagir a você, e mais erros vão cometer (obviamente, se forem muito amplas, você estará jogando dinheiro fora o tempo todo com mãos terríveis, e seu oponente pode simplesmente atacá-lo como se você estivesse jogando de olhos vendados). Quando você tiver a oportunidade de ampliar suas gamas de mãos, geralmente deve fazê-lo.
O que isso significa? Digamos que um jogador loose e agressivo abra raise de $30 em uma mesa no-limit de $5-$10. Um oponente fraco paga do button. A mesa roda em fold até você, que tem T♣6♣ no big blind. Você leva em consideração três opções: largar, pagar e reaumentar. Digamos que você seja abençoado com incríveis dons matemáticos para essa decisão em particular. Você pode calcular misticamente com perfeição como cada opção vai se desenvolver, em média, em face de cada resultado possível.
Largar lhe dá um lucro de $0 (se você levar em consideração os $10 do big blind como parte integrante do pote). Coincidentemente, reaumentar para $120 lhe dá um lucro de $0, em média, também. Pagar lhe dá um prejuízo de -$2, em média. (eu acabei de inventar esses números para demonstrar um princípio. Como a mão vai se dar, obviamente depende de seus oponentes).
Portanto, fold e reraise em média lhe dão $0. Sob a perspectiva de lucro em uma mão individual, você é indiferente a essas opções. Então, qual delas deve escolher? Algumas pessoas diriam que escolheriam desistir, pois isso reduz sua variância. Afinal, por que apostar dinheiro se você não tem uma vantagem?
Contudo, eu discordo totalmente. Eu acho que, com certeza, você deve reaumentar. Por quê? Porque isso amplia sua gama. Pense sobre as mãos com as quais você voltaria reraise aqui. Você faria isso com um par de ases ou reis, e talvez com damas, valetes e A-K. Você provavelmente deve reaumentar com outras mãos fortes também (a depender dos tamanhos dos estoques e dos oponentes).
Se você der reraise apenas com boas mãos, sua gama será restrita e composta basicamente de mãos fortes. Como resultado, seu oponente vai achar seus aumentos relativamente fáceis de enfrentar. Mas quando você soma mãos fracas à sua gama de reraise, você se torna muito mais difícil de enfrentar. Se conseguir adicionar essas mãos “de graça”, porque reaumentar tem em média o mesmo valor de desistir, adicioná-las deve ser automático. Você não vai obter lucro algum diretamente das mãos fracas, mas ampliar sua gama lhe dará lucros significativos quando tiver ases ou reis. A mão individual pode não ser lucrativa, mas voltar reraise com ela faz com que sua estratégia geral seja mais lucrativa ao lhe dar mais ação com suas mãos boas.
Eu escrevi há algumas duas edições sobre o squeeze. Seu oponente aumenta, alguém paga e você dá reraise blefando. É um bom blefe para se executar contra jogadores que aumentam pré-flop com várias mãos fracas na tentativa de controlar a mesa. Eles não serão capazes de pagar seu blefe com a maioria das mãos deles, e a jogada individual vai ser lucrativa.
Mas mesmo quando o squeeze individual for, por si só, até ligeiramente não-lucrativo, adicioná-lo ao seu jogo pode melhorar a lucratividade de sua estratégia geral ao ampliar sua gama, confundindo seus oponentes e os encorajando a cometer erros.
O poker recompensa a agressividade. Todo mundo sabe disso. Mas às vezes, quando as pessoas se sentam para analisar jogadas agressivas específicas como o squeeze, elas não parecem muito fortes na teoria. “Claro, você está atacando a fraqueza, mas seu blefe precisa funcionar 65% das vezes para ficar no zero a zero, e isso é pedir muito”.
Mas a agressividade compensa sim. Ela faz com que você seja difícil de ser lido e encoraja seus oponentes a jogar mal contra você. Um dia você vai reaumentar pré-flop com um par de ases e ser pago por J-10 porque seu oponente lhe viu fazer um squeeze anteriormente. Você empurrará em um flop com TT+ e será pago. É aí que vão vir os dividendos. ♠