No poker, as quatro palavras mais prejudiciais para sua carteira são “Eu tive que pagar”. Geralmente elas são precedidas pela frase: “Eu sabia que ele tinha, mas...” Coloque-as juntas e você terá algo como: “Eu sabia que ele tinha o flush, mas eu tinha uma sequência, então eu tive que pagar”. Em jogos limit, essa linha de raciocínio pode não ser tão ruim, mas em no-limit pode ser desastrosa.
Há certas ocasiões em que você deve fazer um call chorado. Se estiver enfrentando um oponente superagressivo que constantemente atira no river, você não precisa do nuts para pagar. É claro que, nessa situação, provavelmente você não está dizendo para si: “Eu sabia que ele tinha”. Em tais situações, você é justificadamente cínico. Esta coluna é sobre aquelas ocasiões em que você se sente compelido a pagar apesar de seu bom raciocínio.
Se as quatro palavras mais perigosas são “Eu tive que pagar”, as cinco mais simpáticas para sua carteira são “Eu não tenho que pagar”. A segunda melhor mão pode ser uma proposta cara, mas não precisa ser um fait accompli (fato completo). Eu vejo muitos jogadores se conformando em perder com essas mãos boas, mas não vencedoras, como se não tivessem escolha. Você tem livre arbítrio, então o exerça.
Ninguém gosta de ser considerado um idiota. Eu acho que a maioria de nós preferiria pagar com uma mão forte, porém perdedora, do que largá-la e para sempre se perguntar se tomou a decisão certa. Eu recentemente joguei uma mão no WRGPT (o maior e mais antigo torneio gratuito de poker por e-mail do mundo) que me fez pensar sobre como nós podemos superar esse grande bloqueio mental que nos força a dar call. Nossos estoques iniciais eram de 20.000. Na primeira rodada, com os blinds em 50-100, eu abri raise de 300 de posição intermediária com Q-J do mesmo naipe. Recebi um call de um jogador que falava depois de mim. O flop veio K♦ J♣ 4♠. Apostei 450 e fui pago. O turn trouxe a Q♦. Dessa vez eu apostei 750. Meu oponente voltou all-in com mais 18.000 e uns trocados. Se eu fosse pagar, ficaria com apenas uns 500 restantes. Não há dúvidas de que eu vou dar fold. Existem muitas mãos que podem me derrotar. Muito embora eu ache esse all-in estranho, ele pode ter uma mão forte, porém vulnerável, como parte mais baixa de uma seqüência ou uma mão de dois pares como K-Q. Ambas me derrotam, mas ele pode estar preocupado com meus possíveis draws. Nesse momento, não vou ser cínico mesmo em face de uma overbet ridícula.
Contudo, esse é o detalhe. Às vezes nossos oponentes tornam nossa decisão fácil para nós, como nesse caso. No entanto, isso raramente vai acontecer quando nosso oponente tiver uma mão muito forte e estiver querendo extrair valor. Então, da próxima vez que você se deparar com uma daquelas decisões “eu tenho que pagar”, quando seus instintos estiverem lhe dizendo que você está derrotado, faça a si mesmo uma simples pergunta: “Você pagaria uma aposta muito maior aqui?” Se a resposta for não, você tem sobre o que refletir. Não estou sugerindo que o tamanho da aposta não deva ser um fator assim como outros, como as tendências de seus oponentes, a textura do jogo, os tamanhos dos estoques e assim por diante. O que eu quero que você alcance ao fazer essa pergunta é abrir sua mente para a possibilidade de escolha. Você pode sim dar fold. Na verdade, você desistiria diante de uma aposta bem maior. Agora, reflita um pouco, avalie todos os fatores e tome a melhor decisão possível. Você tem escolhas, então leve todas elas em conta. ♠