EDIÇÃO 17 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Vencedores se Concentram no Poder

“No poker o que importa é atacar a fraqueza...”


Alan Schoonmaker

“No poker o que importa é atacar a fraqueza. Podem ser mãos fracas, jogadores fracos ou simplesmente jogadas fracas”. (“Shulman Says”, Card Player, 24 de outubro de 2003). Você pode não gostar desse aspecto de nosso jogo porque ele parece imoral, e ele certamente não é cavalheiresco.

Se atacar a fraqueza lhe incomoda, o poker pode ser o jogo errado para você. O poker é predatório e a vida em geral também. Os mais fortes engolem os mais fracos em todo lugar, não apenas na mesa de poker. Vencedores reconhecem essa realidade, enquanto perdedores negam, ignoram ou minimizam-na.

Como são muito competitivos e realistas, os vencedores se concentram no poder, não na sorte, na justiça, na moral ou nas relações pessoais. O poker e a vida são “injustos”. Os melhores jogadores nem sempre ganham, nem aquele que “merece” por outras razões. Câncer, acidentes de trânsito e outras tragédias acontecem com pessoas maravilhosas, enquanto bêbados que batem nas esposas ganham a loteria. É assim que são o poker e a vida, e você deve aceitar e lidar com essa dolorosa realidade.

Vencedores constantemente se esforçam para aumentar seu poder, ou seja, sua vantagem. Eles querem o melhor lugar na melhor mesa, e atacam quando têm as cartas certas e estão diante da situação ideal. Sua vantagem muda constantemente. Você tinha uma vantagem meses atrás, mas ela pode desaparecer imediatamente. Vencedores sempre querem saber quão fortes estão agora.

Apesar de sua importância, muitas pessoas ignoram ou minimizam o poder porque acreditam que ele não deve ser tão relevante. Eles se concentram em temas mais agradáveis como sorte, moral e relações pessoais. Fazer isso os deixa mais confortáveis, mas negar o poder custa fichas.

Por se concentrar em como adquirir e usar o poder, O Príncipe é visto como um livro perverso, e “maquiavélico” significa “duas caras”, “enganador” ou simplesmente “maldoso”. Essa percepção mostra o quão desconfortáveis as pessoas ficam diante do poder. Um mundo ideal seria governado por moralistas, mas nosso mundo é impulsionado pela busca por poder. De fato, muitos dos homens mais poderosos da história estudaram O Príncipe, e eu lhe aconselho a lê-lo.

David Apostolico escreveu um excelente livro, O Poker e Maquiavel [em breve disponível pela Raise Editora]. Ele afirma, de maneira convincente, que as pessoas que aceitam e utilizam a ênfase maquiavélica sobre o poder e o realismo são muito mais propensas a vencer na mesa do poker e em todo lugar.

Quando você está jogando poker, o poder supera a justiça e todos os outros fatores que a maioria das pessoas aprova. Digamos que você tenha perdido todo seu dinheiro, estourado os limites dos seus cartões de crédito e pedido o máximo de dinheiro emprestado que podia, e que o proprietário da sua casa tenha exigido o pagamento imediato dos aluguéis atrasados. Você está jogando seven-card stud, e seu único oponente depois da third street é um milionário bêbado.

Suas três primeiras cartas são todas ases, a melhor mão possível, enquanto ele tem um lixo. Como ele não se importa com dinheiro, vai em frente, consegue quatro cartas, acerta uma seqüência e leva seu último dólar. Se o poker se baseasse na justiça, você teria ganhado o pote e pagado seu aluguel. Mas, como um straight é mais forte que três ases, você acaba falido e sem poder pagar o aluguel.

É preciso aceitar que os jogadores de poker que se confiam na justiça, moral, sorte ou em qualquer coisa que não seja o poder são “vítimas naturais”. Negar a importância do poder apenas aumenta a vantagem dos que buscam o poder em relação a você.

O Poder é Sempre Relativo, Não Absoluto
Seu poder depende da relação entre suas cartas, habilidades, posição e assim por diante, e as de seus oponentes. Essa relatividade é mais óbvia na maneira como os potes são vencidos.

Em muitos lugares, o poder geralmente é confuso. Um processo judicial vencedor perde quando o júri ignora as evidências. Um ótimo produto está tão à frente de seu tempo que não obtém sucesso no mercado. O melhor corredor tropeça na pista. Essa incerteza não ocorre no poker. Se a mão vai até o showdown, um flush sempre vence uma seqüência; uma trinca de dois sempre vence ases e reis.

Um full house de três ases e um par de reis é uma mão ótima, mas se alguém tiver uma quadra, ela irá lhe custar muito. Ao contrário, um par de dois é uma mão ruim, a não ser que seu oponente tenha algo pior.

Como apenas uma mão pode ganhar cada pote, todo jogador se pergunta constantemente: Minha mão é a mais forte? Se não for, as odds de ela se tornar a mais forte (bem como as odds de se blefar com sucesso) justificam que se coloque mais fichas?

Habilidade e Disciplina são as Fontes de Poder Mais Duradouras
Se você não jogar melhor que seus oponentes, acabará perdendo. De fato, como a casa leva muito dinheiro, você deve ser muito melhor para ganhar (especialmente em mesas mais baratas, pois os rakes são relativamente mais caros). Se ninguém tiver uma vantagem significativa, todos perderão.

Vencedores reconhecem esse fato e constantemente se comparam a seus oponentes. Selecionar mesas com os tipos certos de jogadores fracos tem mais impacto em seus resultados do que qualquer outra coisa, talvez mais do que todos os outros fatores combinados. Ainda assim, inúmeros jogadores prestam pouca atenção a esse tema crucial.

De fato, algumas pessoas deliberadamente buscam jogos difíceis por causa da emoção. Se você realmente se importa mais com a emoção do que com o dinheiro, tudo bem procurar mesas difíceis. Mas, se quiser ser um vencedor, isso é estupidez.

Seu Bankroll é uma Grande Fonte de Poder
Se você jogar acima de seu bankroll, corre riscos desnecessários. Primeiro, uma fase de má sorte pode acabar com você. Segundo, você provavelmente jogará “com medo”, e jogar com medo é jogar mal.

Vamos analisar novamente a falência com três ases. Seus ases lhe dão muito poder, mas a sorte superou esse poder. É certo que sua mão, em regra, ganharia, mas você se enfraqueceu ao jogar com um bankroll muito baixo. Vencedores evitam essa fraqueza. Como as habilidades deles no final prevalecem, mas sorte fatal faz parte do jogo, eles se certificam de que têm dinheiro suficiente para os inevitáveis períodos de perdas.

Muitos profissionais em tempo integral quebraram várias vezes. Eles culpam a má sorte, mas raciocínios irreais sobre bankrolls em geral foram um grande fator. Vencedores se certificam de terem capital adequado para esse jogo. Se o bankroll deles se tornar muito pequeno para seus jogos usuais, eles entram em limites mais baixos para assegurar a sobrevivência.

Minha próxima coluna irá discutir as maneiras como o poder muda e como se ajustar a tais mudanças. Por enquanto, eu insisto em dizer que, se você quiser ser um vencedor (um grande vencedor), você deve se concentrar no poder.

Para aprender mais sobre si mesmo e sobre os outros jogadores, você pode comprar os livros do Dr. Schoonmaker, “Psicologia do Poker”, “Seu Pior Inimigo no Poker” e “Seu Melhor Amigo no Poker”, em breve disponíveis pela Raise Editora.




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