O profissional do poker Alec Torelli teve um ano incrível. Depois de sua aparição na mesa final do LAPT Championship na Costa Rica, ele anunciou sua presença com um segundo lugar no evento heads-up da World Series of Poker.
No início de outubro, Torelli impressionou ao vencer eventos consecutivos na Festa al Lago do Bellagio, ganhando mais de $200.000 por seus esforços. De forma incrível, Torelli derrotou Jonathan Little ambas as vezes no heads-up decisivo.
O jovem novato, que joga como “traheho” em alguns dos maiores cash games online, falou com a Card Player sobre seu sucesso recente e a importância de concentração intensa durante a batalha do heads-up.
Julio Rodriguez: Vamos falar sobre uma grande mão que você jogou, com mais dois participantes, no evento nº 4.
A Mão
Com apenas três jogadores restantes, Alec Torelli aumentou do button para 30.000 e Jonathan Little desistiu do small blind. John Gale pagou do big blind, e o flop veio 8-4-2 rainbow.
Gale pediu mesa e Torelli apostou 40.000. Gale pagou, e o turn virou um par no bordo com outro dois. Dessa vez, ambos os jogadores pediram mesa, e o river foi um 3.
Gale apostou 30.000 e Torelli aumentou para 105.000. Gale foi all-in com 150.000 e Torelli pagou. Gale mostrou 6-5, acertando um straight no river, e Torelli transformou seu par de dois em uma quadra.
JR: Você aumentou do button com um par de dois. Nenhum mistério aí. O que passou pela sua cabeça quando Gale pagou do big blind?
Alec Torelli: Ele dava call com uma ampla gama de mãos ali e defendia sem muita força na maior parte do tempo. Ele definitivamente gosta de ver muitos flops, pelo menos nessa fase do torneio. O flop me deu uma seqüência baixa e ele pediu mesa. Decidi continuar apostando, como eu tinha feito no torneio inteiro. Quando ele pagou, eu sabia que poderia fazer isso com um grande número de mãos, incluindo A-3, A-5, 7-6, 6-5, 5-3. Ele poderia ter acertado um par ou poderia não ter nada mais que uma queda para gaveta. Eu já o tinha visto dando float fora de posição antes, simplesmente pagando para levar o pote em uma street posterior, então tive que computar outras mãos como J-10.
JR: O turn foi um dois, lhe dando uma quadra. Você pediu mesa para permitir que ele se recompusesse ou você estava esperando induzir um blefe no river?
AT: Nesse momento, minha mão estava completamente garantida. Se ele tivesse algo como cartas baixas para apostar no river, eu iria em frente e iria deixá-lo apostar. Se ele estivesse dando float no flop, o turn não o tinha ajudado em nada, então eu poderia deixar que ele acertasse um par. Digamos que qualquer ás surgisse no river. Eu permitiria que ele blefasse, sabendo que com essa carta ele fingiria com uma mão como J-10.
JR: O river trás outra carta baixa, um três, e ele sai apostando 30.000.
AT: Essa foi uma aposta muito pequena, então, nesse momento, achei que ele pudesse ter formado uma mão. Eu aumentei para $105.000 e ele foi all-in com o resto, que eu obviamente paguei de imediato. Ele mostrou 6-5, conseguindo quedas para duas gavetas. Jogo fácil, eu acho.
JR: Vamos falar do segundo torneio. Surpreendentemente, você mais uma vez chegou ao heads-up decisivo e de novo contra Jonathan Little. Eu quero discutir uma mão na qual você fez um excelente call no river e mudou tudo.
A Mão
Jonathan Little aumentou do button para 25.000 e Alec Torelli pagou do big blind. O flop veio J-9-4 com duas cartas de ouros e Torelli pediu mesa. Little apostou 40.000 e Torelli pagou.
O turn foi um 5, e ambos os jogadores pediram mesa. O river foi um rei, mas não de ouros, e Torelli pediu mesa. Little apostou 65.000 e, depois de refletir um pouco, Torelli pagou. Little virou A-10, e Torelli mostrou seu par e levou o pote.
JR: Você flopou um flush draw e pediu mesa. Ele apostou 40.000 e você decidiu apenas pagar. Você cogitou fazer um check-raise?
AT: Eu vinha jogando de forma bastante agressiva pós-flop e vinha fazendo check-raise em um bom número de mãos, então dei call, sabendo que meu check-raise poderia não funcionar. Ele poderia voltar um reraise, forçando-me a jogar com todas as minhas fichas com uma desvantagem de 2-1. Se eu aumentasse para 120.000 no flop, ele poderia atacar, e eu ficaria em situação bastante desconfortável, segurando apenas um flush draw. Eu teria odds de mais ou menos 1,5-1 para pagar e, se levasse em conta o ocasional all-in com um flush draw pior ou um duas pontas para a seqüência, eu poderia ter sido forçado a pagar em uma circunstância na qual estava bem atrás.
Além disso, ao fazer um check-raise, minha mão pareceria pronta, o que facilitaria ganhar o pote no river caso eu não a formasse.
JR: O turn foi um 5, dando-lhe um par, e você pediu mesa novamente.
AT: Eu estava planejando fazer um check-call no turn e reavaliar a situação no river, sabendo que ele era capaz de apostar com mãos como K-Q, K-10, Q-10, 10-8, 9-7, basicamente todos os straight draws. Ele podia inclusive estar apostando com mãos como A-3 ou A-2 que tivessem melhorado e se tornado um flush draw ou uma queda para seqüência terminada em cinco, que agora eu derrotaria, já que acertei um par.
As únicas mãos que me derrotam com as quais ele poderia apostar no turn top pair hands como J-10 ou maiores. Ele não apostaria com nenhuma mão que tivesse um 9, pois é mais provável que tentasse controlar o pote. Levando tudo isso em conta, eu posso derrotar a maioria das mãos com as quais ele apostaria no turn.
JR: Bem, depois desse raciocínio, ele acabou pedindo mesa em seguida.
AT: Exatamente, então agora nós sabemos um pouco mais sobre a mão dele. Ele pode ter algo como um par de seis ou melhor, ou tem um 9 e quer controlar o pote, mas não tem um valete. Ele definitivamente apostaria com um valete no turn, diante de todos os draws do bordo, sabendo que eu iria apenas dar check-call ou check-fold.
JR: O river foi um rei e seu flush não bateu. Você agora tem o quarto maior par e pediu mesa de novo. Ele apostou 65.000 e você corretamente deu call. Qual foi seu raciocínio?
AT: OK, agora eu tenho que esmiuçar todas as mãos que se encaixam nas tendências dele. Ele não pode ter formado uma seqüência com Q-10, pois já concluímos que ele teria apostado no turn. O mesmo vale para K-Q ou K-10. K-J não é uma possibilidade porque nós sabemos que ele não pode ter um valete em sua mão.
Eu pensei com que mãos ele poderia estar apostando pelo valor. Agora podemos eliminar a maioria dos noves da gama dele, pois ele provavelmente pediria mesa, sabendo que eu poderia ter um rei. Portanto, as únicas mãos com que ele poderia apostar e me derrotar são K-2, K-3, K-4, K-5, K-6, K-7, K-8 ou K-9. Dois pares são pouco prováveis, o que elimina metade dessas mãos.
Agora refletimos sobre as outras mãos que o trouxeram até o river e que constituem a maioria da gama dele. Como ele aumenta do button e aposta na maioria dos flops, existe uma enorme possibilidade de estar segurando algo como ace-high, Q-7o, e coisas do gênero. Ele também sabe que o rei é uma carta ruim para mim se eu tiver um par como seis, setes ou oitos, então é provável que ele blefe com mãos desse tipo.
Eu dei call e meu par de cincos era bom. Isso me deu moral e a liderança em fichas. Eu continuei a atacá-lo e, por fim, meu A-10 se manteve contra o K♠ 9♠ dele na segunda vitória.
Heads-Up Decisivo — O Processo de Eliminação
JR: Você foi capaz de raciocinar sobre todas as mãos que seu oponente poderia estar segurando, diminuindo a gama dele para um número manejável. Em cash games completos, os jogadores só podem segurar um número pequeno de combinações possíveis que se conectam com as cartas do bordo, ou um lixo. Mas parece que, em heads-ups, como o jogo se torna tão mais amplo, você quase precisa usar o sistema de eliminação para ler seu oponente.
AT: Definitivamente. Eu sempre uso esse método, esteja eu jogando em um torneio ou em um cash game. É por isso que eu não consigo jogar meu melhor por 12 horas seguidas. É claro que se eu me distrair e não prestar atenção ao jogo, posso sobreviver a um dia de jogo de 12 horas. É como jogar xadrez, mas apenas sabendo as regras. Obviamente você pode seguir adiante e até mesmo ter sorte algumas vezes e ganhar algumas peças, mas se não estiver pensando algumas jogadas adiante, provavelmente será derrotado.
É exaustivo sentar-se lá e refletir sobre a gama de todo mundo para cada mão em cada pote durante o dia inteiro. Isso também inclui mãos nas quais eu não estou envolvido. O poker deixa de ser uma atividade de lazer se você jogá-lo corretamente: ele pode exigir muito de seu cérebro.
Isso é especialmente verdade quando se joga mano a mano, quando é preciso ser capaz de limitar as mãos de alguém a um montante finito. Se você errar por 5%, essa pode ser a diferença entre um call ou um fold, uma vitória ou uma derrota. A pior sensação do mundo é ficar em segundo lugar, e quando eu chegar nessa situação, vou me certificar de que fiz tudo que pude para impedir que isso acontecesse. ♠