“Ciclos de feedback” adquirem e utilizam novas informações para fazer ajustes rápidos. A Parte I (que pode ser lida na edição anterior) mostrou como utilizá-los para ler as cartas de seus oponentes e avaliar as forças, fraquezas e estilos deles. Essa coluna irá discutir o principal uso desses ciclos — analisar e aperfeiçoar a si mesmo.
Ninguém é completamente objetivo sobre si mesmo. Como queremos acreditar que jogamos bem, nós naturalmente negamos e distorcemos evidências em contrário. Para reduzir esse problema, os vencedores conseguem e utilizam bastante feedback. Para conservar suas ilusões, perdedores o evitam, ignoram ou minimizam. Alguns passos podem reduzir esse problema, mas você não pode eliminá-lo completamente.
Mantenha Registros
Para se protegerem do auto-engano, vencedores registram cautelosamente seus resultados. “Manter registros lhe obriga a reconhecer a verdade sobre seus resultados” (“Shulman Says”, Card Player, 24 de novembro de 2000).
Como se auto-iludem, alguns grandes perdedores fazem de conta que estão “no zero a zero, talvez um pouco atrás”. Eles lembram e exageram suas sessões vencedoras, mas esquecem e minimizam suas perdas, bem mais freqüentes.
Vencedores também registram as condições. Eles sabem quão bem se deram em vários tipos de jogos ou circunstâncias, tais como limit versus no-limit, tarde da noite versus durante o dia, ou em full table versus shorthanded.
Tais registros ajudam os vencedores a escolher os melhores jogos e ajustar suas estratégias. Eles são capazes de perceber que seu desempenho é melhor em mesas cheias do que nas incompletas, ou que seus resultados se deterioram quando jogam mais do que quatro horas. Portanto, eles jogam sessões curtas em full tables.
Como a maioria dos jogadores não mantém registros adequados, eles não sabem quão bem atuam em diferentes situações. Não sabem, portanto, escolher os melhores jogos, horários e outras condições.
Concentre-se em Seu Jogo Atual
Vencedores se perguntam constantemente: “Quão bem eu estou jogando agora?” Depois ajustam rapidamente suas estratégias. Ocasionalmente, chegam a uma dolorosa conclusão: eles podem em geral ser melhores que seus adversários, mas não estão jogando bem naquele instante. Desse modo, eles param de jogar ou vão para mesas mais fáceis.
Vamos comparar dois amigos meus com habilidades aproximadamente iguais. Um deles viajara até Tunica para jogar uma variante em que ele normalmente vence. Ele se deu mal e perdeu muito. Depois de cometer um erro sério e caro, deixou o jogo e voou de volta para casa. Ele odiou ter perdido, mas aceitou o fato de que provavelmente cometeria mais erros.
Meu outro amigo não olha para si mesmo com objetividade. O jogo dele é bom o suficiente para vencer em quase qualquer lugar. Mesmo assim, ele batalha para sobreviver porque não consegue admitir que está jogando mal. Durante um terrível período de perdas, o jogo dele tinha claramente se deteriorado e eu tentei dar algumas sugestões.
Ele me interrompeu, irritado: “Eu nunca joguei tão bem: eu estou em minha melhor forma”. Então contou uma longa, enraivecida e auto-indulgente história sobre cartas ruins, dealers incompetentes e jogadores idiotas. Não demorou para que ele ficasse falido, tentando conseguir um empréstimo para continuar a jogar.
Esse padrão é bastante comum, e a maioria de nós ocasionalmente o copia. Devemos constantemente lutar contra nosso desejo natural de acreditar que estamos jogando bem, mas tendo azar.
Questione Seus Motivos
Perdedores com freqüência fazem de conta que estão agindo racionalmente — por exemplo, tentar aumentar seus lucros — quando na verdade estão expressando raiva, reagindo a medos, tentando provar alguma coisa ou tentando impressionar outras pessoas.
Vencedores freqüentemente se perguntam: Por que eu fiz isso? Eles sabem que a raiva, outras emoções ou motivos irracionais podem ocasionar erros. Se percebem que tais fatores irracionais estão prejudicando seu jogo, eles dão um tempo ou vão para casa.
Feedback de Outras Pessoas
Muitos vencedores trabalham duro e se expõem à vergonha de conseguir feedback de várias fontes: fóruns da internet (como os da CardPlayer.com), grupos de discussão, técnicos pessoais e parceiros de poker. Siga o exemplo deles: reconheça que, por ser tendencioso, você precisa de feedback.
Leis dos Vencedores
Essas leis se referem tanto à Parte I quanto à Parte II. Você precisa de mais que compreensão intelectual para entender como os ciclos de feedback funcionam. Necessita de uma postura totalmente diferente no que diz respeito às informações.
1. Mantenha sua mente aberta para novas informações. Reconheça que você não pode impedir que suas tendências lhe influenciem. Quando colocar alguém em uma mão específica ou concluir que ele é determinado tipo de jogador, irá naturalmente ignorar ou minimizar evidências em contrário. Depois de concluir que você é melhor ou pior do que certos jogadores, pode fazer o mesmo com novas informações sobre eles ou si mesmo. Até que tenha sólidas evidências, considere todas as suas conclusões como hipóteses. Mantenha sua mente aberta para outras possibilidades e busque continuamente novas informações.
2. Não espere até que seus erros se tornem óbvios para todo mundo. Desenvolva ciclos de feedback para identificar e corrigir pequenos desvios antes que eles se tornem grandes o suficiente para que os outros percebam.
3. Mantenha registros precisos. Você precisa de bons registros para reduzir os efeitos de suas inclinações naturais e da memória seletiva.
4. Desenvolva todas as habilidades necessárias. Você precisa dominar os quatro passos que discutimos na Parte I: adquirir informações, interpretá-las, utilizá-las para revisar seus planos e implementar bem tais planos.
5. Relacione-se com pessoas que lhe digam a verdade, especialmente quando você não quer ouvi-la. Tenha pelo menos uma pessoa que lhe diga o que você precisa escutar, especialmente as informações desagradáveis que você não deseja ouvir. Isso se chama “amor rude” e pode impedir muitos erros.
6. Faça o possível para obter feedback freqüente e honesto. Entre em grupos de discussão ou fóruns online, ou participe de reuniões regulares com um parceiro de poker ou técnico pessoal. Como você muda muito depressa, precisa de freqüentes feedbacks de alguém que olhe para você de modo imparcial.
7. Facilite para os outros o fornecimento de feedback útil. Quanto mais fácil você tornar o processo, mais feedback obterá. Infelizmente, a maioria das pessoas faz o exato oposto. Elas comunicam, direta ou indiretamente, que na verdade não querem ouvir críticas.
Comunique que você quer feedback honesto, não reafirmação. A maior parte das pessoas hesita em ser honesta porque você pode ficar defensivo. Você pode achar que está apenas tentando “explicar” por que fez algo. Talvez você seja sincero, talvez não, mas explicar ou de outra forma se defender pode destruir todo o processo de feedback. Apenas escute com atenção e depois agradeça-os sinceramente. Você aprenderá muito mais.
Como Você Se Classifica?
Esta escala de classificação analisa quão bem você utiliza os ciclos de feedback para corrigir erros. Circule o número que melhor descreve sua concordância com a afirmação seguinte: Eu sou excepcionalmente bom em usar ciclos de feedback. Eu sempre encaro minha primeira conclusão como hipotética, buscando atentamente informações que a contradigam, e jamais rejeito alternativas simplesmente porque elas não condizem com minha opinião. (7) Concordo fortemente, (6) Concordo, (5) Concordo em parte, (4) Neutro, (3) Discordo em parte, (2) Discordo, (1) Discordo fortemente.
As Questões Críticas
Revise ambas as partes dessa série e depois responda a duas perguntas:
• Quais são as implicações de minha autoclassificação?
• O que eu devo fazer de diferente? Liste ações específicas que você deve executar para melhorar o uso dos ciclos de feedback.
Discuta suas respostas com alguém em quem você confia, e faça boas anotações. ♠
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