Ultimamente, tive de escutar muitas histórias de amigos sobre no-limit hold’em, enquanto eles faziam a transição de limit hold’em para a modalidade mais popular do jogo. Embora haja muitas diferenças entre as variantes, uma das mais importantes é que a habilidade de dimensionar o tamanho de suas apostas em no-limit hold’em lhe permite cobrar um preço a seus oponentes, fazendo que eles permaneçam ou saiam de situações, de modo a criar a maior vantagem para você. Se eu fosse fazer uma lista das cinco principais habilidades de que um jogador de no-limit precisa, dimensionamento de apostas estaria nessa lista. Para jogadores de limit, ao contrário, essa não é uma ferramenta. Mas, como ocorre em muitas coisas, a aposta pré-fixada é uma faca de dois gumes: pode lhe custar, mas também pode fazer com que você ganhe dinheiro.
“Você jamais pode proteger sua mão em limit”, reclamou um jogador de no-limit para mim depois de mostrar dois ases e descartá-los após dois jogadores diferentes terem feito dois pares no river. E ele está quase certo. As apostas não são grandes o suficiente para afugentar os muitos jogadores que gostam de tentar montar mãos. O fato é que eles não estão pagando o preço certo para tentar acertar o draw, gerando uma expectativa negativa no longo prazo. Em limit hold’em o mais importante é acumular pequenas vantagens no transcorrer do tempo. Além disso, você tem as mesmas chances de acertar um draw e derrotar o inimigo, mas faça isso seletivamente, apenas quando pagar o preço justo – supondo, é claro, que você saiba resolver a equação!
O jogo era limit hold’em de $30-$60 e eu estava no big blind. Bob, uma ave migratória canadense de quem eu era amigo e que estava em Las Vegas para a World Series of Poker, entrou de limp do under the gun. A Srta. Beatrice, uma jogadora local, aumentou de UTG+2 e foi paga por dois outros jogadores e mais o small blind. Eu olhei para baixo, vi Jª T« e joguei três fichas. Bob, que tinha entrado de limp, triplicou a aposta. Eu imediatamente li Bob como tendo ases. Era o que parecia, quando a Srta. Beatrice, que falou: “Eu acho que meu draw não vai bater”, descartou sua mão em vez de adicionar mais uma aposta em um pote relativamente grande! Eu achei que ela tinha A-K ou A-Q e desistiu para não se colocar em uma armadilha. Todos os outros jogadores pagaram, assim como eu.
O flop veio Tª 6« 4¨, me dando o top pair com um valete de kicker. Sabendo que estava derrotado, pedi mesa. Bob apostou, um oponente pagou e eu paguei depois dele, na esperança de conseguir um dez ou um valete. Não tive essa sorte! O K« surgiu no turn. Eu pedi mesa novamente. Bob apostou, o outro oponente desistiu e eu era o único outro oponente que permanecia no pote.
Eu raramente tento um acertar uma queda no turn tendo apenas um par quando sei que estou derrotado. Você tem odds de cerca de 8-1 de acertar seu par ou seu kicker. E é preciso contabilizar o preço que o pote está lhe cobrando mais adiante, porque raramente pode garantir a vitória se acertar. Em geral, um oponente melhora juntamente com você com o mesmo par ou kicker, ou você tem um draw para uma mão inferior à que ele segura. E às vezes você simplesmente não consegue nada!
Mas esse caso foi particularmente diferente. Eu sabia o que Bob tinha e sabia que meu draw poderia ser formado. Além disso, eu não precisava me preocupar com o que um terceiro oponente segurasse. Havia $660 no pote, portanto, ele me cobrava um preço de 11-1, e eu precisava de apenas 8-1 para melhorar. Eu também achava que a Srta. Beatrice tinha segurado cartas diferentes das minhas, o que aumentava ligeiramente minhas odds de 8-1 para melhorar — pois duas cartas que não afetavam minha mão estavam fora do jogo.
Além disso, eu poderia obter ação adicional se acertasse minha mão. Mesmo que não fosse indubitável que Bob tivesse A-A, o pote e o preço justificavam uma quantidade plausível de erro. Embora eu goste de Bob, eu paguei, sabendo que iria fazê-lo sofrer o que pareceria uma bad beat caso eu conseguisse a carta certa.
Não podia ter sido melhor! O J¨ apareceu no river. Eu pensei em fazer um check-raise, mas Bob geralmente pede mesa quando tem um par no river, e eu achei que fosse grande a probabilidade de ele fazer isso, achando que eu sabia o que ele tinha e que o bordo era muito perigoso para um par. Diante disso, poupei meu amigo de um check-raise e apostei, não porque eu sou um cara legal, mas porque eu queria me certificar de que uma aposta entraria! Ele pagou.
Bob me sorriu sem graça, mostrou-me os dois ases e os descartou.
A situação exemplifica diversos conceitos.
Primeiro, se seus oponentes forem capazes de ler sua mão com precisão, é muito mais provável que joguem corretamente contra você. Vale a pena se esforçar para variar seu jogo um pouco, mesmo que às vezes você se dê mal, de modo a impedir que se torne muito previsível (mas não exagere, como muitos jogadores perdedores que querem apenas uma desculpa para apostar de forma insana). Se eu não soubesse quase com certeza absoluta a mão de Bob, eu não poderia ter pagado no turn.
Segundo, sempre saiba seus outs e o preço que o pote está lhe cobrando. Mesmo os bons jogadores descartam draws que seriam dignos de serem tentados, pois não calculam o preço. Sempre que você falha em não tentar um draw correto, perde eqüidade, o que lhe custa muito dinheiro no longo prazo.
Se essa mão tivesse sido jogada em no-limit, Bob poderia ter me cobrado caro para me afastar do pote e ganhado. Mas limit é diferente e, embora você perca com mais freqüência, pode muitas vezes virar o jogo e ganhar de uma mão inicialmente melhor.
Se o preço que lhe está sendo cobrado for justo, tente... tente... tente até obter sucesso.