EDIÇÃO 13 » COLUNA NACIONAL

Não estou nem aí...

Aprendendo a Não Se Importar


Leo Bello

Assim que terminei de escrever o especial sobre Las Vegas que foi publicado na edição anterior, meus resultados por lá começaram a aparecer. Depois de decidir não participar do Main Event, acabei ganhando um torneio com 660 jogadores no Deep Stack Xtravaganza do Venetian, fechando um acordo quando estávamos em três.

Apesar de eu ser contra acordos e acreditar que devemos jogar até o final para ver quem sai como campeão, em Las Vegas, devido aos altos impostos (30% retirado na fonte), o “deal” acabou sendo vantajoso. Recebi a premiação oficial da segunda colocação e acertei o restante com os outros jogadores. Se eu tivesse jogado e caído em terceiro, sem fazer o acordo, após os impostos, meu prêmio líquido seria um terço do que consegui no torneio.

Por que comecei o artigo falando sobre isso? Porque uma pergunta recorrente que recebo é “como lidar com impostos vindos da premiação ou ganhos ligados ao poker?” Apesar de não ser da área jurídica, um conhecimento básico que tenho e que recomendo a todos é: recolham seus impostos.

Todo dinheiro que você ganhar, independente da origem, deve ser declarado. E é preciso pagar imposto sobre essa renda. No caso do poker, existe uma dúvida cruel, que ainda não está regulamentada: você paga quando ganha, mas desconta seus prejuízos dessa conta?

Quando se paga IR relacionado ao Mercado Financeiro, especificamente ações, você pode descontar seu prejuízo em operações passadas ao fazer o seu acerto com o Leão. No poker, você entra em uma série de torneios e não chega na faixa de premiação até que finalmente acerta um prêmio grande. Em teoria, o seu resultado líquido é a soma do prêmio menos todos os buy-ins investidos até ali. Portanto, o imposto devido deveria ser deduzido sobre desse lucro.

Bom, esse é apenas mais um ponto para ilustrar como essa discussão ainda deverá dar bastante pano pra manga – o pagamento dos impostos e o modo de recolhimento dos mesmos. Não há dúvida de que esse acerto deva ser realizado. A questão é chegar ao método correto para essa avaliação.

Bom, mas saindo um pouco do tema “impostos”, tenho que confessar como fiquei feliz com a temporada em Las Vegas. Ter encerrado uma viagem com um título na bagagem me enche de certeza de que escolhi o caminho certo ao me profissionalizar. Em março, foram as vitórias no Wynn Classic e agora no Venetian. Isso, juntamente com o resultado dos outros brasileiros, reforça a minha teoria de que estamos em um nível técnico muito bom, e que apenas precisamos ter mais oportunidades de participar dos torneios internacionais que os títulos virão.

Quem quiser ler uma descrição mais detalhada do que aconteceu no torneio, recomendo acessar o blog criado pela Cardplayer para mim. Além de poder acompanhar os meus relatos, os leitores podem enviar perguntas pela seção Pergunte ao Pro, ver vídeos e fotos das viagens e fazer comentários nos posts. Para acessar é so ir até http://www.cardplayerbrasil.com.br

Mas eu não queria passar por uma coluna inteira sem abordar um pouco de estratégia e acabei escolhendo uma das perguntas que recebi no blog para discutir aqui. Essa interatividade entre o leitor e o colunista me ajuda a manter os artigos mais próximos dos temas que vocês gostariam de ver na revista. 

O leitor me apresentava uma situação em que ele segurava JTs no meio da mesa e deu um raise. O jogador no button deu reraise e todos os outros saíram da mão. A ação voltou para ele, que não sabia se devia ou não pagar o raise. Ele disse suspeitar que o adversário estivesse fazendo o aumento sem ter um grande jogo, apenas como um blefe, mas que ainda assim não se sentia a vontade para chamar com o JT, e depois jogar fora de posição pós-flop tendo que falar primeiro. Ele pergunta se foi errado aumentar com o JT.

É claro que os dados eram insuficientes para responder com exatidão sobre essa mão, pois faltavam várias informações no enunciado, como os stacks dele e do adversário, situação no torneio, média e histórico do adversário (já tinha dado reraises antes?, agressivo ou passivo?).

Mas pensei em responder abordando outro conceito que, acredito, ajude mais a chegar a uma solução para essa situação em geral, e que chamei de “não estou nem aí”.

Basicamente, você só deve dar um raise se “não estiver nem aí” se tomar um reraise.

Claro que essa afirmação tem dois lados na mesma moeda. Não se importar em tomar um reraise só vai acontecer em duas situações: sua mão é muito forte e, se tomar um reraise, estará feliz a ponto de até mesmo re-aumentar e ir de all-in ou; sua mão é fraca e, se você tomar uma reraise, não pensará duas vezes antes de jogá-la fora.

Antes do flop, com todas as outras mãos você deve optar pelo fold ou pelo flat call, não aumentando a aposta. Acredito que ao aumentar pré-flop, já se deve estar preparado para a ação se for re-aumentado (ou então chamado e tiver que agir após o flop). O risco de aumentar a aposta deve ser calculado de modo que ações do seu adversário não possam colocar você em uma situação difícil.

No caso do JTs citado pelo leitor, ele poderia ter tentado apenas dar limp ou então já deveria ter formulado em sua cabeça uma linha de ação caso fosse re-aumentado pelo button, small blind ou big blind. Nesse caso em particular, observe como fica bastante fácil tomar uma decisão ao utilizar o método “não estou nem aí”.

Seguindo esse raciocínio, fica até mais fácil aumentar uma aposta com uma mão medíocre do que com uma mão de força intermediária como suited connectors e pares baixos. Lembre-se também de que este conceito só irá se aplicar se os adversários que falam depois de você não estiverem short-stacked. Contra adversários com poucas fichas, mãos intermediárias podem crescer em valor e justificar chamar um re-aumento se for all-in.

Na próxima vez que você for aumentar um aposta, principalmente em um torneio de No-Limit Hold´em, procure pensar no seu grau de desprendimento em relação à mão que segura, e se for aumentado dê fold ou termine de empurrar o seu stack para o meio, com um sorriso no rosto e sem levar para o lado pessoal.

Por último, um toque da parte de psicologia: apesar de utilizar o método “não estou nem aí”, nunca se esqueça de que seu objetivo maior é ganhar o torneio, e que para isso você deve sim, estar sempre focado em vencer.




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