EDIÇÃO 111 » MISCELÂNEA

The Book is on the Table - O Livro dos Blefes


Redação

Blefar. Nada é mais emocionante no poker que um bom blefe! É fácil abocanhar um pote com a melhor mão, mas é necessário muito talento para fazer isso com as piores cartas. Para se tornar um verdadeiro vencedor, é preciso aprender como e quando blefar. O Livro dos Blefes é o primeiro e único livro que ensina a dominar essa habilidade essencial. Aprenda a reconhecer situações de blefe, sentir fraqueza em seus adversários, executar diferentes tipos de blefes, fingir ter mãos fortes de maneira convincente e melhorar seu jogo estudando blefes famosos feitos por lendas do jogo, como Stun Ungar, Chris Moneymaker e Gavin Griffin. Seja você iniciante ou experiente, este livro de Matt Lessinger vai lhe mostrar a técnica e o instante correto para dominar seus adversários sem precisar usar as suas cartas.


BLEFE #45 2004 WSOP – GAVIN GRIFFIN VERSUS GABRIEL THALER 

Griffin havia chegado à mesa final como líder em fichas, e ele era claramente o jogador mais agressivo ali. Por exemplo, mais cedo ele tinha se envolvido em uma mão com Ram Vaswani, membro do famoso “Hendon Mob” e grande jogador profissional. Vaswani aumentou pré-flop com 4♣4♠, e Griffin pagou com K♠Q♠. No turn, o bordo era 2♦6♦5♠3♦

Vaswani apostou $25.000 e Griffin aumentou para $90.000 em um blefe descarado! Vaswani voltou reraise all-in e Griffin teve de desistir, mas essa foi uma jogada bem corajosa. Apesar de não ter dado certo, ela fez muito sentido. Vaswani aumentou pré-flop e Griffin achou que o bordo formado por cartas baixas não parecia ter ajudado o oponente. Ainda assim, essa má leitura lhe custou a liderança em fichas.

Muitos jogadores teriam vontade de sumir após um baque desses. Esses, contudo, não se tornam campeões. Gavin Griffin voltou ao estilo agressivo que o tinha levado até ali. E não apenas recuperou a liderança, como também eliminou quatro jogadores no processo. Suas vítimas incluíam o falastrão Phil Hellmuth, que disse alguns palavrões ao sair (nenhuma surpresa nisso), e também se vingou de Ram Vaswani. Quando a poeira baixou, ele só tinha mais dois oponentes.

Griffin estava iluminado e era o líder em fichas quando restavam apenas três jogadores, mas começou a esfriar. Seus dois adversários passaram a tirar proveito disso, e ele precisava fazer alguma coisa para recuperar o controle da mesa. Foi aí que executou o maior blefe do torneio.

O cenário: Os três participantes eram Gavin Griffin (posição sete), Gabriel Thaler (posição oito) e Gary Bush (posição dez). Griffin tinha 7♦5♣ no BB e pediu mesa. O flop veio 6♠4♣4♦

Todos acertaram alguma coisa no flop: Bush fez dois pares, Thaler também, com um kicker melhor, enquanto Griffin tinha duas pontas para uma sequência. Como primeiro a falar, Bush apostou $16.000, o mínimo permitido. Griffin ponderou durante um breve momento antes de pagar. Thaler então aumentou mais $60.000.

Bush olhou para Thaler com uma expressão um tanto preocupada. Ele colocou uma ficha sobre suas cartas, se recostou na cadeira e pensou por um instante. Na verdade não havia muito que pensar. Nenhum dos seus oponentes parecia assustado com sua aposta inicial, então o par mais alto e um cinco como kicker não parecia mais tão forte. Ele se inclinou para frente, tirou a ficha de cima de suas cartas e deu fold.

Thaler parecia mais confiante agora que Bush tinha desistido, e, em circunstâncias normais, teria motivos para isso. Conforme discutimos no tópico “A Fraqueza de Quem Apenas Paga”, o jogador a ser temido é, em geral, o primeiro a entrar no pote. Ao vê-lo dar fold, a parte difícil geralmente já passou. Considerando que o jogador entre você e o que apostou primeiro demonstrou fraqueza ao apenas pagar, ele normalmente não é uma ameaça.

No entanto, para o azar de Thaler, Griffin não era um jogador normal. Depois de uma pequena pausa, Griffin anunciou que estava voltando reraise de $135.000. Thaler se inclinou para frente com um olhar surpreso, como se não acreditasse no que acabara de escutar.

“O curso de Doyle Brunson sobre poker consiste em uma única palavra: ‘ataque’, e Gavin continua atacando”, disse, admirado, o comentarista da ESPN, Norman Chad. Enquanto isso, Thaler fazia um barulho estranho, batendo suas fichas umas contra as outras, e falando consigo mesmo sem parar.

“Você apostou contra mim como se fosse um campeão, não?”, disse Thaler. “Quero dizer, você tem que ter um quatro, não tem? Só pode ter um quatro. Digo, você não iria aumentar com um seis; você não tem dois setes, senão teria aumentado antes [do flop]...” Thaler falava tanto para si mesmo quanto para Griffin. Mas, só para constar, Griffin estava com a mão esquerda cobrindo metade de seu rosto e sua cabeça virada para a direita, de modo que Thaler não podia ver seu rosto de forma alguma.

Finalmente, Thaler deu de ombros, olhou para as próprias cartas pela última vez, e as descartou, sem qualquer sinal que indicasse dúvida acerca dessa decisão. A multidão foi ao delírio. O comentarista da ESPN, Lon McEachern, estava incrivelmente impressionado: “E funcionou! Gabriel Thaler desiste, e a agressividade de Gavin Griffin lhe deu a vitória nessa mão!”

Essa mão foi realmente decisiva. De repente Griffin tinha $518.000 contra $241.000 de Bush e $191.000 de Thaler. Com mais do que o dobro de fichas em relação a cada oponente, Griffin não perdeu mais o ritmo. Eliminou Thaler algumas mãos depois, e depois entrou de all-in com K♦K♣ contra 7♦7♣ de Bush. Quando as cartas do bordo começaram a surgir, a multidão sabia que o fim estava próximo. Griffin estava prestes a levar o título após ter derrubado pessoalmente todos os últimos seis jogadores. No turn, o bordo continha 10♦6♣J♣5♥

“Gavin Griffin está a apenas uma carta de se tornar o campeão mais jovem da história!”, exclamou McEachern.

“E pelo modo como jogou até aqui, ele merece entrar para a história”, disse Chad.

O river foi o inofensivo J♠, e o modo como Griffin reagiu à sua vitória dizia muito sobre seu caráter. Ele não vibrou feito um louco, não fez cena nem agiu de forma deselegante. Ele apertou a mão de Bush, agradeceu à multidão, e agiu como se tudo aquilo fosse muito natural. Aquela era sua primeira grande vitória, e uma realização maior do que muitos jogadores jamais terão o privilégio de experimentar. Mas embora o comportamento dele não parecesse condizente com seu desempenho espetacular, devemos lembrar que ele era um jogador de torneios veterano, possuidor de vários títulos.

A análise: O blefe de Griffin foi simplesmente perfeito. Para começar, ele evitou o erro que muitos jogadores teriam cometido: aumentar o pote quando Bush fez sua aposta no flop, o que provavelmente traria consequências adversas. Primeiro, ela não seria muito convincente. De maneira alguma seus oponentes acreditariam que ele tinha uma trinca de quatros, pois não teria sentido fazer um aumento do valor do pote com um monstro desses. Eles achariam que ele esperaria até o turn para aumentar, caso realmente tivesse um quatro.

Segundo, um raise não iria assustar Thaler, que tinha A-6. Se Griffin entrasse de all-in, talvez Thaler se convencesse a não pagar, mas eles estavam jogando pot-limit. Um aumento do valor do pote, em um pote sem raise pré-flop, não seria nem um pouco ameaçador, e provavelmente não seria forte o suficiente para afugentar ambos os adversários. O resultado mais provável, caso Griffin tivesse aumentado a aposta inicial de Bush, seria um reraise all-in da parte de Thaler. Então Griffin desistiria, desperdiçando valiosas fichas, ou faria um call ruim, torcendo para acertar sua mão. Em ambos os casos, ele teria ficado na defensiva, que é sinaliza um poker mal jogado.

Griffin era inteligente demais para cair em uma cilada dessas. Ele simplesmente pagou no flop, esperando uma oportunidade melhor para subir a aposta. Então Thaler aumentou para $60.000, mas não parecia ter uma mão forte, pelas mesmas razões que descrevi acima. Será que ele realmente aumentaria no flop se tivesse um monstro? Será que ele não esperaria pelo turn, e prepararia uma armadilha para os oponentes mais tarde? Seu raise sinalizava uma mão decente, mas que provavelmente não suportaria um reraise.

Essa foi a razão do desconforto de Bush na hora de decidir o que fazer. Ele também sabia que era improvável que Thaler tivesse um monstro, mas ele também tinha que se preocupar com Griffin. Bush reconheceu sua própria vulnerabilidade e fez a coisa certa saindo de cena.

Agora a mão estava do jeito que Griffin queria. O pote era suficientemente grande para que ele empurrasse um reraise substancial, e representou com perfeição uma trinca de quatros, apenas pagando a primeira aposta e depois demonstrando vigor quando a ação voltou até ele. Seu aumento foi grande o suficiente para, caso Thaler pagasse, colocar seu futuro no torneio nas mãos de Griffin. E Griffin não achava que Thaler tivesse uma mão tão boa que fizesse isso valer a pena, e estava certo.

Você precisa de mais evidências para acreditar na genialidade desse blefe? O cara deixou seu oponente falando sozinho! Todas as vezes que fizer seu adversário falar, pode ter certeza de que fez uma grande jogada. Isso significa que ele perdeu o foco do jogo e provavelmente continuará desorientado durante as próximas mãos. Além de Thaler ter feito um enorme monólogo, Griffin o convenceu totalmente de que ele estava fazendo a coisa certa ao desistir! E alguém pode culpá-lo por isso? Pouquíssimos teriam a coragem ou a sabedoria para dar o reraise que Griffin deu sem ter um par. É possível fazer com que seu oponente desista da melhor mão e, ao mesmo tempo, sinta-se bem com isso, o que é impressionante! Essa mão foi, sem dúvida, decisiva naquele momento, e com certeza o conduziu à vitória.

No fim, tudo se resume aos erros – evitar erros e induzir os outros a cometê-los. Thaler cometeu um erro quando entrou de limp do button com A-6. Se tivesse aumentado, talvez levasse o pote sem ter que brigar.  Em vez disso, achou que poderia jogar melhor do que seus oponentes depois do flop, esperando que eles cometessem erros. Para azar dele, Griffin fez muito mais do que jogar sem cometer um único erro. Ele fez com que Thaler colocasse uma contribuição de $60.000 no pote antes de fazê-lo desistir. O erro de Thaler foi o lucro de Griffin e, em última análise, a vitória no torneio.

Coloquemos em foco as realizações de Griffin. Ele derrotou oponentes de todas as partes do mundo em pot-limit hold’em, jogo que, na minha opinião, requer mais esforço para se dominar. Tendo feito isso, ele se tornou o mais jovem campeão da história da WSOP. E não para por aí: ele também derrubou pessoalmente os últimos seis jogadores. E, nesse meio tempo, foi capaz de executar um dos melhores blefes jamais televisionados da história da WSOP. Nada pode ser melhor do que isso.





TÍTULO: O LIVRO DOS BLEFES – COMO BLEFAR E VENCER NO POKER (The Book of Bluffs – How To Bluff And Win At Poker).

AUTOR: Matt Lessinger.

NÚMERO DE PÁGINAS: 282 páginas.

PREÇO: R$ 55,90

DISPONÍVEL EM:  www.raiseeditora.com





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