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Jason Mercier

O Melhor Jogador da WSOP 2016


Redação

Ninguém brilhou tanto na World Series of Poker 2016 quanto Jason Mercier. Foram 11 premiações, quatro mesas finais e dois braceletes. Ele embolsou US$ 960.424 e muito mais em apostas paralelas — a mais famosa dela contra Vanessa Selbst, em que apostou US$ 10 mil contra US$ 1,8 milhão da norte-americana que ele ganharia três braceletes. Bem, ele também pediu sua noiva Natasha Barbour em casamento quando ela estava em uma mesa final da série — a resposta dela? “Sim”, claro.

Mercier agora alavancou seus ganhos para mais de US$ 17 milhões, o que o coloca como o 13º jogador que mais ganhou dinheiro na história do poker. A Card Player conversou com o jogador da Flórida e você confere a entrevista agora.


Card Player: As pessoas vêm dizendo que você é derradeiro “grinder”. O que você acha sobre isso?

Jason Mercier: Acho que é justo. Acho que joguei mais mãos de poker nos últimos dez anos que qualquer outro jogador, combinando ao vivo e online. Provavelmente, também fui o jogador que mais jogou os torneios high-stakes.


CP: Você ganhou o prêmio de Jogador do Ano da WSOP 2016 e atraiu a atenção da grande mídia, sendo convidado inclusive para um dos programas esportivos mais famosos das rádios norte-americanas, o The Dan Le Batard Show, da ESPN. Infelizmente, o apresentador sentiu a necessidade de comparar você a viciados.

JM: Sim, foi uma infelicidade dele. Eu realmente “me coço” para jogar poker, mas não sinto o mesmo para ir ao cassino e jogar meu dinheiro no lixo. Depois da WSOP, eu fiquei quase duas semanas sem jogar poker e meu sangue começou a ferver. Certa vez, tirei férias por dois meses, quando voltei, parecia que nunca tinha jogado antes. Essa é a razão porque eu não paro e continuo jogando, assistindo vídeos e pesando sobre o jogo.


CP: Seus resultados são impressionantes. No seu pior ano, você ainda ganhou mais de US$ 520.000. Dos nove anos que você roda o circuito, em oito, você ganhou pelo menos sete dígitos em premiações. Nós vemos muitos jogadores conseguindo um ou dois anos de grandes resultados, mas você é diferente. Como manter tamanha consistência?

JM: Eu queria ter uma resposta melhor, mas é simples: eu simplesmente jogo e estudo sem parar. Muitos têm uma sequência boa e, de repente, relaxam. Talvez, eles pensem que solucionaram o jogo. Eu tenho objetivos financeiros e nunca quero ficar enferrujado.


CP: Então você joga apenas por dinheiro? Quero dizer, você tem cinco braceletes e 29 anos. Isso não faz você querer mais?

JM: É mais sobre dinheiro, sim. Se eu fosse jogar insanamente pelo resto da minha vida, todos os meu tweets viriam com a hashtag #PerseguindoPhilHellmuth, ou algo do gênero. Eu sei que tendo cinco braceletes aos 29 anos é um bom começo, mas falando a verdade? Eu não me vejo jogando o calendário completo da WSOP nos próximos 20 anos. Esse é o tempo que acredito ser necessário para alcançar Phil Hellmuth, porque ele não vai parar de jogar e, eventualmente, ele ganhará um bracelete ou outro. Para ele, isso é muito importante. Eu não me importo muito. Meu objetivo é fazer bastante dinheiro para ficar tranquilo na Flórida e começar uma família.


CP: Você poderia falar sobre como foi seu verão em Las Vegas?

JM: Foi o verão mais lucrativo da minha carreira. Acho que nunca havia viajado para Las Vegas e ganhando mais de US$ 700.000 em um verão. Também foi a primeira vez que ganhei múltiplos braceletes, o que é um sentimento incrível. Também ganhei bem nos cash games. Joguei 10 ou 11 sessões e na pior delas, ganhei US$ 15.000. 

Quase tudo deu certo para mim. A única coisa que poderia ter sido melhor seria ganhar o terceiro bracelete. Isso seria perfeito, pois teria vencido todas as minhas apostas paralelas. Mas ninguém precisa chorar por mim. Ganhei muito dinheiro e meu quarto e quinto bracelete. Sem reclamações então.


CP: E quanto você ganhou?

JM: (Risos) Quanto eu ganhei? Um pouco. Algo na casa dos sete dígitos. Você pode chamar isso de uns poucos milhões. Não vou ser específico.


CP: Vamos tentar de outra maneira então. Quanto você ganharia se tivesse vencido o heads-up contra Ray Dekharghani no evento de US$ 10.000 de Razz?

JM: Bem, naquele momento, eu ganharia algo próximo de US$ 1.000.000. Obviamente, seria muito mais depois, se o terceiro bracelete viesse. Eu tinha muitas apostas. Algumas baseadas em cada bracelete que eu ganhasse. Em outras, eu tinha que ganhar dois.


CP: Você acha que essas apostas por braceletes ajudaram de alguma forma em seu jogo?

JM: As apostas têm a ver com motivação. Se apostas por braceletes fossem ilegais, com toda certeza, eu não jogaria todo o calendário da WSOP a cada verão. Provavelmente, eu jogaria metade dos eventos, nada abaixo de US$ 5.000 e, definitivamente, não jogaria dois eventos ao mesmo tempo. Mas apostas servem como incentivo para “vestir minha capa” de Grinder Man e ver como eu lido com isso.


CP: Depois dos seus resultados, tivemos todos os tipos de comentários em nossas redes sociais, do tipo “o melhor jogador de torneios do mundo” até “o jogador mais sortudo do mundo”. Onde você se vê na hierarquia do poker?

JM: Eu acho que sou apenas o melhor jogador mais sortudo de todos os tempos (risos). Mas é muito difícil responder a essa pergunta e ser humilde ao mesmo tempo, mas, sim, eu acredito que sou um dos melhores jogadores de torneio do mundo. Uma coisa que me deixa orgulhoso é que de todos os outros grandes jogadores, sou um dos poucos que consegue jogar em alto nível outras modalidades. Acho que é isso que me separa de alguns especialistas de no-limit hold´em que você vê no topo dos rankings.

Também ajuda muito ter tantos jogos que não sejam hold’em durante o verão. Se você olhar para os caras no field dos torneios limit de US$ 10.000, a maioria dos jogadores não rodam o circuito. Isso me dá uma vantagem extra por ser bom em mixed games e em torneios.


CP: Ser bom em torneios é uma qualidade melhor do que conhecer a estratégia de um jogo mixed, por exemplo, stud eight-or-better?

JM: Você precisa ser bom nos dois. Quando mais experiência você pega, melhor você entende como teoria short stack e como economizar uma aposta, o que você pode aplicar em qualquer jogo. Uma pessoa pode dominar com maestria a estratégia de stud eight-or-better, mas se ele não entender como se ajustar quando os blinds aumentarem ou quando a mesa ficar com seis ou menos jogadores, então ele terá dificuldades.

Uma das razões de porque eu me senti afiado para a WSOP é porque eu passei duas semanas jogando todos os dias no PokerStars. Acho que joguei todos os eventos do SCOOP (Spring Championship of Online Poker) e foi um aquecimento perfeito. Eu pude jogar todos os formatos de poker.


CP: Você não apenas dominou Las Vegas, como também noivou. Acho que mesmo o mais teimoso dos seus haters tiveram que dar o braço a torcer quando você pediu Natasha em casamento em plena mesa final.

JM: Para ser sincero, eu pretendia fazer o pedido depois que a WSOP terminasse. Eu nem tinha um anel, o que é essencial para toda essa coisa (risos). Mas depois que eu ganhei o bracelete, eu comprei um anel só para o caso de ganhar outro. Eu pensei que se o terceiro viesse, o momento seria épico.

Mas ganhar três braceletes é bem complicado. Fiquei em 8º e em 11º, mas então ela ganhou sua primeira mesa no evento shootout. Então, eu disse a mim mesmo que se ela chegasse à mesa final, eu faria o pedido lá. Mas ela perdeu o heads-up na segunda mesa e o peso voltou para meus ombros. Mas ela acabou chegando à mesa final de um evento de US$ 5.000 e, desde que ela não sofresse uma tremenda bad beat, eu faria o que tinha que ser feito.


CP: Eu vi você suando na torcida por ela. Você estava mais nervoso do que a Natasha, certo?

JM: Eu estava mesmo suando. Com duas mesas restando, ela estava muito short e foi all-in de A-K. O adversário tinha J-J e um Rei apareceu no river. Mesmo sabendo que era um flip normal, eu fiquei louco, insano. Não acho que teria uma reação como aquela jamais, a menos que fosse online e ninguém pudesse me ver.


CP: Natasha tem mais de US$ 1 milhão em ganhos. Ajuda ela ser uma jogadora de poker?

JM: Eu já estive nos dois lados. Em relações passadas, eu tive muitos pequenos confrontos sobre jogar por demais ou passar muito tempo fora. Mas com a Natasha é diferente. Ela ama esse estilo de vida e me apoia sempre. Ela sabe que vou ter meus dias ruins quando perder e que, em outros dias, o jogo estará bom demais para sair. A verdade é que ela é muito boa em me deixar para cima.


CP: Você está no topo da cadeia alimentar há tanto tempo. Deve haver algum segredo sobre seu jogo que você não quer compartilhar com o mundo.

JM: (Risos) Eu não acho loucura acreditar que os melhores jogadores do mundo têm segredos escondido, mas não há uma fórmula secreta para vencer. Na última década, em muitas entrevistas, eu realmente não discuto as razões que me levaram a fazer minhas jogadas na mesa, mas posso garantir que não é mágica. Eu apenas jogo melhor do que a maioria e isso se traduz em ganhar dinheiro e torneios.



TODAS AS MESAS FINAIS DE JASON MERCIER NA HISTÓRIA DA WSOP

ANO - EVENTO - POSIÇÃO - PRÊMIO (USD)
2008 £5,000 Pot-Limit Omaha £26.812*
2008 $1,500 Pot-Limit Omaha $237.462
2009 £10,000 Main Event £267.267*
2011 $1,500 No-Limit 2-7 $10.524
2011 $5,000 Pot-Limit Omaha $619.575
2011 $2,500 2-7 Triple Draw $25.967
2012 $10,000 Pot-Limit Omaha $72.132
2012 £5,000 Pot-Limit Omaha £12.245*
2012 £10,000 Main Event £84.672*
2013 £1,500 Pot-Limit Omaha £23.036*
2014 $10,000 No-Limit 2-7 $99.313
2015 $5,000 Six-Max No-Limit Hold’em $633.357
2015 $50,000 Poker Players Championship $139.265
2015 $10,000 Pot-Limit Omaha $572.989
2016 $10,000 No-Limit 2-7 $273.335
2016 $10,000 Razz $168.936
2016 $10,000 H.O.R.S.E. $422.874
2016 $10,000 Omaha Eight-Or-Better $39.269
*WSOP Europa (premiação em euros)




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