EDIÇÃO 111 » COLUNA INTERNACIONAL

Corra, fuja e sobreviva

Uma estratégia adotada no WCOOP


Jonathan Little
Recentemente, eu tive a oportunidade de viajar, por duas semanas, a Malta para comentar as partidas Global Poker League (GPL). Entre os dias de folga, resolvi jogar alguns eventos do World Championship of Online Poker (WCOOP) no PokerStars — e, no geral, fui bem. Acabei terminando em 18º lugar em um torneio com 20.000 pessoas e buy-in de US$ 100, principalmente por causa da mão que contarei a vocês.

Com os blinds 2.500/5.000 e ante de 500, todos deram fold até mim, no CO, com um stack de 425.000, e eu aumentei para 10.500 com 76. Um oponente — loose, agressivo, com 300.000 fichas e que vinha dando reraises bem mais do que deveria — fez uma 3-bet para 30.000 do button. Os blinds desistiram, mas eu paguei. Olhando agora, meu call é ok. Como eu me sinto confortável jogando pós-flop, normalmente, desistirem muito menos das minhas mãos pré-flop.

O flop veio 872, me dando o par do meio e mais alguns backdoors draws. Eu pedi mesa, meu oponente apostou 30.960 em um pote de 72.000 e eu paguei.

Mesmo não amando minha situação, dar fold com o par do meio e com backdoor straight e flush draw seria muito tight da minha parte. É importante observar que o range dele é muito amplo e, provavelmente, eu tenha a melhor mão. Claro, ele poderia fazer eu dar fold com a melhor mão apostasse nas três streets, mas era um risco que eu tinha que correr. E por que não dar raise? Bem, não é uma boa opção, porque ele provavelmente só dará call quando a mão dele estiver me esmagando — quando isso acontecer, quero estar certo que o pote seja mantido o menor possível.



O turn é um 4. Uma carta ótima. Agora eu tenho par, flush draw e straight draw. Eu peço mesa. Ele faz o mesmo.

Eu não tenho certeza o que fez ele pedir mesa no turn. Se ele for um bom jogador, ele pode tranquilamente ter um par mais alto, já que ele sabe que se apostar no turn, eu posso largar todas as minhas mãos marginais que acertaram o bordo, como A-7. Obviamente, ele pode pedir mesa com cartas altas não pareadas, como K-J ou A-Q.

O river é perfeito. Um 5, que completa minha sequência. Eu resolvo fazer uma overbet e empurrar all-in de 264.076 em um pote de 133.920.

Uma vez que me oponente fez uma 3-bet pré-flop, é muito difícil que ele tenha uma sequência ou uma trinca, já que a maioria dos jogadores irá apenas pagar com mãos como 8-8 e 7-6s. Isso significa que, no river, meu range tem mais mãos fortes que o do oponente. Quando isso acontece, o ideal é fazer uma aposta alta. Isso me permite tornar meus draws que não bateram, como Q-Js ou 10-9s, em blefes lucrativos.

Ele acabou gastando todo o time bank antes de dar call com KJ, rei-high. Ele claramente pensou que minha overbet polarizava meu range, ou uma sequência ou absolutamente nada. O problema do call dele é que, muitas vezes, ele acaba perdendo para mãos de valor marginal que eu transformaria em blefe, como um 9-7s ou um A-9s. 

Mesmo que eu possa estar blefando nessa situação, a mão do meu oponente é extremamente fraca para sequer considerar o call. Mesmo quando você acredita que seu adversário esteja blefando, sabendo que ele tem um range de certa maneira balanceado, você deve dar fold com as piores mãos do seu range. 

Graças a ele, eu ganhei muitas fichas e consegui chegar muito longe em um torneio importante e difícil.


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