EDIÇÃO 104 » COLUNA INTERNACIONAL

ICM na mesa final da WSOP


Jonathan Little
O fato dos finalistas do Main Event da World Series of Poker terem quatro meses para se preparem cria uma dinâmica interessante. Se você chega ao November Nine com poucas fichas, você tem 120 dias para estudar a fundo com quais mãos você deve ir all-in e com quais você deve dar fold. Uma situação que aconteceu na segunda mão da mesa final do ano passado exemplifica bem o que estou dizendo.
Há dois shorts na mesa, Patrick Chan e Federico Butteroni, ambos com 15 big blinds. O próximo jogador com menos fichas tinha cerca de 30 bbs. Isso implicava que Chan e Butteroni tinham que brigar entre eles para não serem eliminados na 9ª posição. Contudo, os saltos nas premiações do Main Event da WSOP são, para dizer o mínimo, bizarros.
 
1. US$ 7.683.346
2. U $ 4.470.896
3. US$ 3.398.298
4. US$ 2.615.361
5. US$ 1.911.423
6. US$ 1.426.283
7. US$ 1.203.293
8. US$ 1.001.020
9. US$ 756.897
10. US$ 526.778
11. US$ 526.778
 
Há um aumento de premiação de 240 mil dólares do 11º e do 10º para o 9º colocado — e é na mesa final que as coisas ficam estranhas. Do nono para o oitavo a diferença na premiação é de apenas US$ 96.000, seguido de US$ 103.000 do oitavo para o sétimo e, finalmente, de US$ 223.000 do sétimo para o sexto. Por razões que nunca entenderei, ir de 10º para 9º vale mais do que ir de 7º para 6º. Isso significa que os shorts devem abrir mais o range para ir all-in, uma vez que os primeiros saltos na premiação são tão pequenos. Não, eu não estou dizendo que US$ 96.000 é pouco dinheiro, mas levando em consideração a premiação em jogo e o buy-in, esse valor pode ser ignorado. Ou seja, tipicamente, no início da mesa final do Main Event, subir degraus na tabela de premiação é menos importante do que normalmente.
 
Na segunda mão da mesa final, todos deram fold até McKeehen, o chip leader com 150 bbs, que foi all-in contra Chan e Butteroni. Chan tinha K-Q no small blind e uma decisão difícil a tomar. Perguntei meus seguidores no Twitter o que eles fariam, e as respostas foram variadas. Alguns disseram que Chan deveria dar fold, uma vez que ele esperou quatro meses para aquela mesa final, o que é completamente irrelevante. Outros disseram que ele deveria largar porque ele “só” tinha K-Q. E outros disseram que, obviamente, era um call.
 
Em uma mesa final, podemos determinar qual é a melhor decisão usando um programa para calcular o ICM (Independent Chip Model). Claro que esses programas só levam em consideração cenários de push ou fold. Se McKeehen utilizasse uma estratégia de mini-raise ou limp, tudo mudaria. Mas colocar os shorts em all-in é uma estratégia que eu certamente usaria.
 
Usando uma calculadora de ICM, você verá que McKeehen deve ir all-in com 53% das mãos, que incluem J-2 suited, 10-4 suited, 9-5 suited, 6-4 suited, 4-3 suited, K-7 offsuit, 10-8 offsuit, 8-7 offsuit e 7-6 offsuit. Esse é um range muito amplo, mas notem que se os saltos na premiação fossem normais, esse range aumentaria ainda mais.
 
Levando em consideração que McKeehen está utilizando esse range, Chan deve pagar com cerca de 15% do seu range, que inclui 6-6, A-5, K-10 suited, A-8 offsuit e K-J offsuit. Uma vez que K-Q está nesse range, esse é um call fácil de fazer. Chan só deveria dar fold se McKeehen estivesse indo all-in com mãos relativamente fortes, mas que jogam mal pós-flop, como A-X, alguns K-X decentes e pares pequenos. Mas se a estrutura de premiação fosse “normal”, Chan teria uma decisão bem difícil a tomar. 
Se você quer se dar bem em torneios, esteja certo de estudar a matemática do jogo. Para fazer o download de um boa calculadora de ICM, acesse JonathanLittlePoker.com/icm. Nos vemos nas mesas.
 



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