EDIÇÃO 10 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

O Turn Ideal

Jogando o turn no no-limit hold’em


Marc Karam

Você provavelmente já deve ter lido ou ouvido falar a respeito de um estilo de jogo denominado “small ball”. Eu creio que, para dominar realmente o poker, você deve ser armar com o conhecimento de muitos estilos diferentes, bem como ajustar seu jogo de acordo com um oponente ou situação em particular. Dito isso, existem alguns conceitos relativos à carta do turn em no-limit hold’em que eu acho que todo jogador deve ter noção, e que podem se encaixar perfeitamente no que se chama de jogadas “small balI”.

Se você estiver pensando: “Nossa, eu nunca jogo no turn, pois geralmente estou de all-in, já dei fold ou ganhei no flop”, isso pode ser uma falha em seu jogo. Se você possui a melhor mão, seu oponente tem a metade das chances de superar você no turn, do que tinha no flop. Portanto, esperar até o turn para agir com firmeza é, em geral, uma sábia decisão. Tomemos o seguinte exemplo:

Em um torneio, você aumenta em posição com A-K. O big blind, que tem um estoque de fichas modesto, paga, e vocês vêem um flop contendo um ás e duas cartas baixas do mesmo naipe (paus). Seu oponente toma a iniciativa, colocando quase metade do stack no pote. Se você botar pressão e ele estiver com um draw decente, é provável que ele tenha que pagar sua aposta. Já se ele tiver um ás mais fraco, como A-J, ele pode ser capaz de largar a mão, acreditando que seu kicker sejamais forte. Se você simplesmente pagar, é difícil para ele lhe pensar isso, e ele tem que levar em consideração a hipótese de você ter um flush draw. Portanto, quando o turn trouxer a terceira carta do mesmo naipe, ele ficará hesitante em comprometer mais fichas no pote, a não ser que tenha acertado um flush, mas, mesmo assim, ele pode optar por fazer slowplay, dando-lhe a oportunidade de manter o pote pequeno caso você tenha perdido para o draw dele. Se uma carta de paus aparecer e ele apostar alto, você pode dar fold, economizando algumas fichas: isso é muito importante em um torneio. É claro que, se outra carta baixa qualquer aparecer no turn e ele não acertar o draw, ainda tem chances de formá-lo no river. É o momento, então, de ir de all-in. Além disso, seu call no flop torna bastante provável a possibilidade de seu oponente apostar com qualquer coisa que apareça no turn se ele tiver um ás mais fraco, o que torna mais difícil para ele desistir da mão, pois essa aposta o deixa comprometido com o pote.

Existem muitas situações em que faz sentido esperar pelo turn antes de empurrar all-in, especialmente em torneios. Se você achar que tem ido de all-in no flop em demasia, pergunte-se por quê. Pode ser que, na maioria das vezes, esteja se comprometendo pré-flop e, portanto, sendo obrigado a botar pressão no flop. Se for esse o caso, eu sugiro — a não ser que saiba que seu oponente irá pagar sua aposta — que você leve em consideração pressionar pré-flop em vez de no flop. Ao fazer isso, coloca muito mais pressão em seu oponente e se livra de uma situação desconfortável no flop.

Outra situação em que o turn é importante surge quando se flopa um draw forte contra um oponente agressivo. Nesse caso, ao enfrentar um jogador fraco e passivo, geralmente se pode apostar e levar o pote. Se seu draw for suficientemente forte, você pode até apostar pelo valor contra um “pagador”, no intuito de disfarçar sua mão e aumentar o pote para as ocasiões em que seu draw bater. Se, no entanto, se você estiver diante de um oponente que provavelmente irá fazer um check-raise ou triplicar a aposta, apostar com seu draw no flop pode trazer conseqüências desastrosas. Na verdade, contra esse tipo de jogador, eu quase nunca aposto sequer com cartas bastante altas. Analisemos dois outros exemplos de torneios:

No primeiro exemplo, suponhamos que uma oponente agressiva aumente pré-flop e você pague em posição, com AJ. O flop traz lixo com duas cartas de paus e ela faz uma continuation bet padrão. Se você aumentar e sofrer um reraise, ficará em uma situação bastante delicada. Ainda que ela peça mesa no flop e você aposte, só para poder dar check-raise, a situação é difícil. É muito melhor que você simplesmente pague aqui para poder ver o flop o mais barato possível. Mais uma vez, fosse ela uma jogadora mais fraca e mais passiva, uma aposta no flop seria justificável. Porém, como ela é agressiva e provavelmente irá colocar a decisão novamente em suas mãos com um raise, é útil que você veja a carta do turn. Se a mesa não lhe beneficiar e ela continuar apostando, você pode desistir da mão sem pagar caro. Por outro lado, se você se der bem no turn, ela provavelmente apostará com qualquer tipo de mão, e você poderá, a partir desse momento, extrair valor de seu draw tanto apenas pagando para induzir outro blefe no river quanto executando um pequeno aumento pelo valor.

Em seguida, vejamos uma situação bastante comum: você aumenta pré-flop em posição, com ás e outra carta alta, e o flop vem disperso. Diante um oponente fraco, geralmente é aceitável ir em frente e fazer uma continuation bet no flop. Contra um “pagador” ou um jogador agressivo, você em geral deve preferir a chance de ver uma carta grátis. É provável que você esteja com duas overcards, o que significa dizer que um ás ou um rei no turn lhe dariam a melhor mão. Além disso, ainda que o turn não lhe ajude, se seu oponente pedir mesa de novo, você provavelmente possui a melhor mão, podendo apostar e levar o pote.
A conclusão central aqui é que você deve ajustar seu jogo ao oponente e, contra determinados adversários, nas circunstâncias certas, faz muito mais sentido ver a carta do turn antes de agir.

Existe outra linha de jogo a respeito do turn que você precisa conhecer. Em situações nas quais você pede mesa e depois paga a aposta no flop em posição, ou em que você aumenta no flop em posição e seu oponente paga, se você não estiver certo de que tem a melhor mão, é em regra boa prática pedir mesa depois de seu adversário no turn. Isso mantém o pote pequeno e permite que você pague uma aposta no river, já que elas geralmente são proporcionais ao tamanho do pote. Poder pagar apostas no river é em geral muito importante, já que lhe dá informações e evita que seus oponentes blefem muito. A jogada certa no turn possibilita esses calls.

Portanto, jogar no turn corretamente com base em seu oponente e na situação é um passo chave no sentido de se tornar um jogador melhor. Espero que os exemplos e dicas que você leu aqui lhe ajudem a conseguir isso. Lembre-se apenas de que toda estratégia e jogada é algo a ser adicionado ao seu arsenal, e depende de você utilizar a jogada certa no momento propício e contra o jogador ideal. Experiência e bagagem teórica lhe ajudarão a fazer isso. Nunca ache que existe apenas uma jogada correta ou um estilo de jogo certo que funcionará o tempo todo.

Marc “Myst” Karam é um profissional canadense do poker que já ganhou milhões de dólares competindo em grandes torneios ao redor do globo. Apesar de seu sucesso em torneios, o principal meio de vida dele são os cash games online do Eurolinx Poker, em alguns dos limites mais altos disponíveis.




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