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Na mesa com o Editor - Você não é especial

Marcelo Souza teve um dia esquecível nas mesas do maior festival do país


 

21/11/2023 19:17
Na mesa com o Editor - Você não é especial/CardPlayer.com.br


Fala, pessoal. De volta com a terceira parte do nosso quadro. Ontem, joguei dois torneios por aqui, um satélite para o Main Event (R$ 700) e um Freezeout (R$ 1.000).


Como disse no texto anterior, uma infecção gastrointestinal me tirou de combate por dois dias. Como foi feriado por aqui na segunda, aproveitei para almoçar com a família antes de rumar em definitivo para a capital. No entanto, a caminho do evento, tomei conhecimento do ocorrido com Rafael Caiaffa e em parceria com meu amigo Diego Scorvo, soltamos a notícia em primeira mão, com depoimentos do DC (CEO do BSOP), do próprio Caiaffa e de outros jogadores.


O caso tomou uma repercussão gigantesca, com a matéria saindo até no GE. Devido a isso, acabei mudando a programação. Iria jogar só o satélite do Main Event, torneio com buy-in de R$ 700 e 25 vagas garantidas.


As coisas começaram relativamente bem no satélite, fui de 30 mil para 35 mil fichas, mas foi tudo morro abaixo depois. Primeiro perdi metade do stack em uma mão que acredito ter jogado “ok”. Abri raise do UTG com A-Qo, um jogador do meio da mesa deu call e o button fez uma 3-bet bem pequena. Eu não tinha nenhuma informação dele, geralmente eu até foldaria, mas pelo size (eu fiz 2 bb, ele fez tipo 5.2), dei só call. 


O flop foi AQ6 e todos deram check. O turn foi um 4, dei check novamente. A mão para mim já estava bem esquisita, eu realmente não entendi porque o BTN não fez uma c-bet. Talvez K-K? A-A ou Q-Q? Mas eu bloqueava essas duas mãos. Contra dois jogadores, talvez eu deveria apostar, mas não acho nenhum crime o check, minha mão não precisava de proteção, e não acho que conseguiria valor de muita coisa. Um ponto a favor da aposta é que jogadores recreativos de live (como vocês vão ver mais à frente no Freezeout) tendem a pagar demais, principalmente no início de torneios, então talvez eu estivesse perdendo valor ao dar check. Bem, o jogador em MP deu check, e o BTN apostou meio pote. Eu realmente não consegui colocar o BTN em um mão que pagaria meu raise (A-K contra dois jogadores, principalmente contra o UTG, deveria apostar no flop. As outras mãos que poderiam jogar de check no flop, ou eu estaria morto, como A-A ou Q-Q, ou não me pagariam, como K-K ou J-J). Dei call, o jogador em MP foldou.


O river foi um 9, dei mesa novamente, e o BTN apostou 12 mil em um pote de 19k. Agora, realmente parecia uma aposta de valor ou um blefe totalmente aleatório. O size pequeno da 3-bet pré-flop me fez pensar que poderia realmente ser AA, muitos jogadores recreativos de live fazem um size pequeno com K-K ou A-A, mas eu também já vi loucuras de todo tipo, então para ser um mão aleatória, que em teoria não deveria ter tribetado, como K-Jo, K-To, não custava nada. Dei call, e ele mostrou 66. Realmente, uma mão que eu não esperava, porque eu tinha certeza que era o tipo de mão que todo field jogaria de call (e provavelmente, ele teria tomado todo meu stack se tivesse jogado de call).


Sobrei com 15 mil fichas, e pouco depois recebi AK em MP, abri raise, o BB defendeu e o flop veio 937, apostei 2k num pote 4k, ele fez tudo 6k, eu fui all-in. Ele pensou por um tempo e pagou com K9. O turn foi um 9 e o river não veio nenhuma carta de paus, me eliminando. Só pra lembrar que a dinâmica deste satélite do BSOP é um pouco diferente, depois de um tempo, o chip leader ganha uma vaga automaticamente e as outras são dadas ao campeão de cada mesa. Então, basicamente não é um jogo de sobrevivência. Você tem que fazer muitas fichas ou ganhar sua mesa. 


Você não é especial!



Bem, eu ainda estava disposto a jogar o torneio turbo da noite, que tinha R$ 100.000 garantidos, mas por o salão estar abarrotado (o sucesso do BSOP Millions está sendo estrondoso), eles adiaram o torneio em uma hora. O Freezeout de R$ 1.000 estava no max late, e eu realmente não estava disposto a entrar com 30.000 fichas no blind 800/1.600. Trombei com meu amigo e reg de poker ao vivo Fábio Issa, e ele me convenceu a jogar. O torneio tinha quase 800 entradas e provavelmente pagaria mais de R$ 100 mil para o campeão, se eu dobrasse rapidamente, estaria bem no jogo. 


Bom, me registrei e o torneio fechou com 790 jogadores, sendo R$ 121 mil para o campeão e o ITM de R$ 1.450, começando na posição de 119. Dei muito azar no início porque já caí no UTG, então paguei 4 mil fichas de cara (3.200 do BB mais BB ante e 800 do SB). Quando paguei o SB, minha mesa quebrou e caí novamente no BB! Ou seja, das 30 mil que eu deveria começar, eu tinha agora 22 mil fichas, em quatro mãos e sem jogar!


Eu sobrevivi por mais dois níveis de blinds até ficar com 6 bbs. Um profissional do Samba, então, abriu raise do UTG, e eu em MP fui all-in com 4-4. O jogador imediatamente à minha esquerda, que tinha cerca de 10 bbs, foi all-in. O UTG foldou e eu teria que achar um dos meus dois outs contra o 10-10 do rapaz. Não achei um, mas os dois. Ambos os Quatros apareceram no flop e me colocaram de volta no jogo. Aí passa aquele filme na cabeça: “Pô, eu nem iria jogar o torneio, caí rápido do satélite, deu tempo de registrar, o Issa me convenceu a jogar, agora quebro um 10-10 fazendo uma quadra. Essa história vai ser especial! Daquelas cravadas mágicas”. 


E eu realmente achei que seria um torneio especial, porque me trocaram de mesa e depois do UTG abrir raise, eu mandei meus 15 bbs para o centro com A-Ko e, pasmem, ele pagou com 6-4s. Era um senhor recreativo e que (me contaram) já tinha aprontado das suas na mesa. O flop foi Q-Q-8, bem tranquilo. Mas o turn foi um 9 de ouros, dando flush draw para ele. O river foi uma carta preta e eu passei dos 30 bbs. Novamente, veio o pensamento: “Desviar desse flush… realmente, tem algo especial guardado para mim neste torneio”. 


Perdi dois potes importantes depois, os blind subiram e caí para cerca de 12 bbs. Restavam 170 jogadores, o ITM era 119 e recebi K-Qs do UTG. Um shove bem tranquilo. A mesa rodou em fold rapidamente até o BB, um senhor que deveria ter uns 20 bbs. Ele nem pensou muito, separou as fichas, e deu call com A-2o!!!! Meu estômago até embrulhou. É o call que sempre quero receber indo all-in de 12 bbs do UTG, mas em teoria o pior Ás offsuited que ele deveria pagar seria A-To (claro, ao vivo, você pode até foldar A-To, porque o field, no geral, vai all-in com muito menos mãos do que deveria do UTG em fase intermediária/final de torneio) e naquele momento, ele estava à minha frente. Eu teria que achar meus outs novamente.


Bom, o bordo não trouxe nada e eu fui eliminado a umas 40 posições da bolha, que estourou cerca de uma hora depois (o torneio era muito turbo). Moral da história: ninguém é mais especial que ninguém. Não existe história especial até ela ser completada. Corrigindo: toda história é especial, mas nem toda tem final feliz. Coisas boas e coisas ruins acontecem com todos, o que podemos fazer é trabalhar e fazer com que, no longo prazo, as coisas boas suplantem as ruins. No curto prazo, você pode ter sorte ou não, mas não espere que o acaso ou uma força maior irá te ajudar mais do que o cara ao seu lado (compreender isso vai lhe ajudar a entender, que o que vale é trabalho duro). No final, todos são especiais... até não serem mais, ou ninguém é especial… até ser. 


A batalha continua. Vamos de No Breaks Turbo hoje e amanhã, finalmente, o Main Event! 


Ah, confira também a PARTE 1 e PARTE 2.


Saldo do projeto

Torneios jogados: 3

ITMs: 1

Buy-ins: R$ 4.100

Lucro/Prejuízo: - R$ 3.050



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