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Teorema fundamental do poker



28/03/2012
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Em qualquer biblioteca que se preze, os clássicos têm lugar garantido na prateleira. Na literatura do poker acontece a mesma coisa.

Pensando em levar até você o que existe de mais precioso nesse admirável mundo novo, criamos a seção “Papo Cabeça”. Aqui, apresentaremos alguns dos trechos mais interessantes e importantes da literatura do pano verde.

Para começar, um clássico absoluto, o “Teoria do Poker”. Seu autor, David Sklansky, tem desenvolvido ao longo últimos 30 anos um trabalho fundamental para evolução do jogo, estruturando conceitos que compõem a base do poker moderno.

Na estreia do “Papo Cabeça”, um dos trechos mais antológicos da literatura dos jogos de cartas, o Teorema Fundamental do Poker. Aproveite.


Pode parecer o Sun Tzu falando, mas essa máxima é do David Sklansky.

TEOREMA FUNDAMENTAL DO POKER

Há um Teorema Fundamental da Álgebra e um Teorema Fundamental do Cálculo. Chegou a hora de apresentar o Teorema Fundamental do Poker. Assim como todos os jogos de cartas, o poker é um jogo de informações incompletas, o que o distingue de jogos de tabuleiro como xadrez, gamão e damas, nos quais sempre se pode ver o que o oponente está fazendo. Se as cartas de todos estivessem à mostra o tempo inteiro, sempre haveria uma jogada matematicamente precisa e correta para cada jogador. Qualquer um que se desviasse dela reduziria a sua expectativa matemática e elevaria a expectativa dos oponentes.

Claro, se as cartas pudessem ser vistas o tempo todo, não haveria poker. A arte do poker é preencher os espaços das informações incompletas fornecidas pelas apostas dos seus adversários e pelas suas cartas à mostra nas modalidades em que isso acontece e, ao mesmo tempo, impedi-los de descobrir algo a mais do que aquilo que você quer que eles saibam sobre a sua mão.

Isso nos leva ao Teorema Fundamental do Poker:

Toda vez que você jogar uma mão de maneira diferente da que teria jogado se pudesse ver todas as cartas dos seus oponentes, eles vencerão. E sempre que jogar uma mão da mesma maneira que jogaria se pudesse ver todas as cartas deles, você vencerá. Por outro lado, sempre que os seus oponentes jogarem as mãos de maneira diferente da que jogariam se pudessem ver todas as suas cartas, você vencerá. E sempre que eles jogarem as mãos da mesma maneira que jogariam se pudessem ver todas as suas cartas, você perderá.

O Teorema Fundamental aplica-se a todos os casos nos quais a disputa por uma mão se limitar a você e um único oponente. E quase sempre é válido também para multipotes, com raras exceções, que discutiremos ao final deste capítulo.

Qual o sentido do Teorema Fundamental? Perceba que, caso o seu oponente, de alguma forma, conheça a sua mão, haveria uma jogada correta a ser feita por ele. Por exemplo, se em uma partida de draw poker seu adversário ver que você tem um flush completo ou esteja representando um antes do draw, a jogada correta será largar um par de ases quando você apostar. Pagar seria um erro, mas de um tipo especial. Não estamos querendo dizer que ele teria jogado mal ao dar call com um par de ases; estamos dizendo que ele teria jogado de maneira diferente se pudesse ver as suas cartas.


Livro Teoria do Poker, de David Sklansky lançado no Brasil pela Raise Editora

O exemplo do flush é bastante óbvio. Na verdade, o teorema como um todo é óbvio, e é aí que está a sua beleza - mas mesmo assim as suas aplicações em geral não são tão óbvias. Às vezes, a quantidade de dinheiro no pote torna o call correto, ainda que você pudesse ver que a mão do seu oponente é melhor do que a sua. Vamos ver vários exemplos do Teorema Fundamental do Poker.

Digamos que, ao apostar, a sua mão não seja tão boa quanto a do seu oponente. Ele paga a sua aposta e você perde. Mas, na verdade, você não perdeu: ganhou! Por quê? Porque, obviamente, a jogada correta dele, se soubesse o que você tinha, seria dar raise. Além disso, você ganha quando ele não aumenta a aposta e, se ele tivesse largado a mão, você teria ganhado um belo pote.

Esse exemplo também pode parecer óbvio demais para uma discussão séria, mas se trata de uma regra geral para algumas jogadas bem sofisticadas. Vamos supor que, em no-limit hold´em, você tenha JT, e o seu oponente esteja com a seguinte mão KQ.

O flop traz: Q57

Você dá check, o seu adversário aposta e você paga. Então, o ás de ouros surge na quarta carta (fourth street) e você aposta, tentando representar um ás. Se o oponente soubesse a sua mão, a jogada correta dele seria aumentar a ponto de tornar muito caro o draw para flush ou straight na última carta, e você teria que desistir. Portanto, se ele apenas pagar, você ganha. Você ganha não somente pelo fato de ter conseguido ver a última carta de forma relativamente barata, mas porque o seu oponente não fez a jogada correta. Se ele der fold, claro, o seu ganho será tremendo, uma vez que ele terá descartado a melhor mão.



Sobre o livro:

Título: Teoria do Poker (The Theory of Poker)

Autor: David Sklansky

Publicado no Brasil por: Raise Editora

Nº de páginas: 360

Preço: R$ 79,00

Onde comprar: www.raiseeditora.com


Marcelo Souza

O editor da revista Card Player Brasil se considera um sujeito humilde e trabalhador, mas há controvérsias. Acredita ser um gênio dos fantasy games.


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