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Da margem ao centro

A trajetória recente do poker no Brasil



22/03/2012
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Até bem pouco tempo atrás, o poker ainda caminhava timidamente no Brasil. Apesar de já possuir milhares de praticantes e algumas dezenas de torneios espalhados pelo País, era uma modalidade que se encontrava à margem da sociedade.

Motivos não faltavam. Filmes, novelas e amigos de amigos que conheciam histórias sobre salões fechados esfumaçados, trapaças e pais de família que perdiam propriedades inteiras na mesa de carteado. Algumas dessas narrativas até tinham fundamento, mas em outros tempos, distantes dos atuais.

Em 2007, um dos principais expoentes do poker nacional, Igor Trafane, comprou a ideia do poker como uma atividade legítima e deu o primeiro passo para transformá-lo no que ele vem se tornando hoje. Ao criar a Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH), Igor chamava para si a responsabilidade de mostrar que suas convicções tinham fundamento.

Enquanto isso, de norte ao sul do país surgiam pequenas organizações, geralmente criadas entre amigos. Elas viriam a ser embriões do que hoje são as federações estaduais. Aos poucos, o poker finalmente deixava de carregar o estigma de “jogo de azar”. Começava a surgir a ideia do poker como esporte.

Visão geral de um torneio de poker disputado no Brasil

Naquele mesmo ano, um grupo de empresários de Belo Horizonte criou uma editora especializada em poker, uma ideia um tanto absurda à época. Este que vos escreve faz parte desta companhia, a qual é responsável pela Card Player Brasil e pelo lançamento dos principais livros de poker no mercado nacional.

Na World Series of Poker de 2008, em Las Vegas, um curitibano fez o poker nacional aparecer para o mundo pela primeira vez. A vitória de Alexandre Gomes naWSOP, que lhe rendeu mais de um milhão de reais e um bracelete de ouro, deu ao Brasil projeção internacional.

No ano seguinte, veio a afirmação documental. Miguel Reale Jr., um dos mais respeitados juristas do país, assinou um laudo afirmando que “pôquer, especificamente na modalidade Texas Hold'em, para a qual se voltou a análise no caso, não é tipo de jogo em que ganho e a perda dependam exclusiva ou principalmente da sorte, mas sim da habilidade do jogador”.

Essa foi uma peça-chave para fundamentar a noção de que o poker pode ser visto, de fato, como um esporte de habilidade – ou “esporte mental”, para utilizar a terminologia mais correta.

Então, o que se viu foi uma sucessão de laudos, pareceres, sentenças, estudos acadêmicos e outros documentos. E todos eles atestavam a mesma coisa: no poker, o que prevalece é a habilidade.

E isso passou a ser dito e repetido por delegados, promotores, juízes e professores Brasil afora, e até por entidades como o CONAR, que regulamenta a publicidade no Brasil. Pouco tempo depois, a IMSA (Associação Internacional de Jogos Mentais) reconheceu o poker como um esporte da mente, no mesmo patamar do xadrez e do gamão.

Nesse meio tempo, novamente em Las Vegas, Alexandre Gomes assombrava o mundo ao conquistar mais um título histórico, a Bellagio Cup, uma das etapas mais difíceis do circuito de torneios. Sorte? Pouco provável.

A cada conquista, o poker no Brasil ganhava força. Com eventos sendo realizados em praticamente todos os estados, alguns com estrutura de nível internacional, casos do BSOP, considerado o Campeonato Brasileiro de Poker, e do LAPT, o circuito latino americano, o esporte mental trilhava um caminho cujo horizonte era a tão sonhada regulamentação.

Em junho de 2011, André Akkari, principal nome do esporte mental no Brasil, repetiu o feito de seu compatriota Alexandre, e conquistou um título daWorld Series of Poker. Sua vitória teve grande repercussão e foi um divisor de águas para o esporte, sendo destaque na internet, e em canais de TV abertos e a cabo. Foram entrevistas para os principais programas de esportes, jornais, sites de conteúdo e por aí vai.

O poker passou a ganhar adeptos de peso, como o Deputado Federal Walter Feldman, que disse publicamente que gostaria de ver o poker sendo ensinado em nossas escolas. Sem falar no prestigiado MIT (Massachussetts Institute of Technology), que incluiu o poker em sua grade curricular.


Deputado Walter Feldman

No plano internacional, no final do ano passado foi realizado, em Londres, o primeiro Campeonato Mundial de Poker. Um evento cuja abertura aconteceu no famoso County Hall, antiga sede do governo britânico. Participaram doze seleções, cada uma com sua tropa de elite do poker.

O Brasil esteve lá. E nós fomos brilhantes. Conquistamos a prata na competição por equipes e o bronze no torneio individual. Seria prelúdio de algo grande que estava por vir? Parece que sim.

Em janeiro, o poker foi reconhecido pelo Ministério dos Esportes como esportemental. Isso mesmo: o governo federal disse que poker é esporte. Quem poderia supor, cinco anos atrás, uma conquista desse tamanho? E daqui a cinco anos, você consegue imaginar onde o poker pode chegar? Não sabemos ao certo, mas, com base na trajetória até aqui, o futuro é bastante promissor.


Marcelo Souza

O editor da revista Card Player Brasil se considera um sujeito humilde e trabalhador, mas há controvérsias. Acredita ser um gênio dos fantasy games.


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