Ela acabou com um jejum feminino de 47 etapas no Campeonato Brasileiro de Poker ao sagrar-se campeã da 2ª Etapa do BSOP 2014, em Foz do Iguaçu; já foi modelo, dealer e, atualmente, é jogadora profissional de poker. Formada em Educação Física, Igianne Bertoldi fala um pouco sobre sua história, suas emoções sobre a recente conquista e os planos para o futuro.
Khatlen Guse: Fale um pouco sobre você e como o poker entrou na sua vida.
Igianne Bertoldi: Sou natural de Balneário Camboriú, Santa Catarina, cidade que amo demais. Tenho 25 anos. Já fui modelo internacional e morei um tempo na Ásia, trabalhando pela Ford Models. Depois fiz Educação Física e trabalhei na Prefeitura de Balneário Camboriú, dando aulas adaptadas para terceira idade (ginástica, vôlei e handebol). Conheci o poker em um desses home games. Jogava toda segunda feira com um grupo de amigos, a maioria mulheres. Jogávamos bem baratinho mesmo, algo como R$ 5 o buy-in e rebuys ilimitados. Sempre me diverti muito jogando. Com o tempo, fui estudando o jogo, comprando livros e assistindo vídeos dos grandes jogadores. Estava querendo arranjar um novo emprego, já não estava mais dando aulas e foi assim que um amigo me chamou para aprender a dar cartas e trabalhar no clube que ele era diretor de torneios. Uni o útil ao agradável, vi a oportunidade de trabalhar com algo que eu realmente gostava muito e foi muito bom pra mim. Fiz muitos amigos e aprendi muito como dealer.
KG: A sua família lhe apoia na profissão, antes dealer e agora jogadora profissional?
IB: Minha mãe não gostava muito quando eu era dealer. Na verdade, não gostava por causa do horário. Eu ia dormir quase sempre de manhã, e quando acordava, já tinha perdido o dia. Mas ela sempre me apoiou em tudo; e agora, como jogadora, depois que me assistiu na mesa da TV e acompanhou a vitória e o sucesso no BSOP, entendeu melhor o jogo e a minha paixão. Ela vibrou a cada pote e sofreu junto comigo, assim como meus tios e minha irmã, que atualmente mora na Alemanha. Eles torcem por mim e me apoiam 100%. São os meus portos seguros.
KG: Antes da vitória do BSOP, você jogava muitos torneios ao vivo. Online, como era a sua rotina em Balneário Camboriu?
IB: A rotina de quem é Dealer e trabalha todos os dias, sendo em torneios ou cash games, é bem puxada e não sobra muito tempo livre pra jogar. Mas sempre que tinha a oportunidade, eu organizava um jogo entre amigos ou participava de algum torneio que não iria precisar trabalhar. Sempre que podia, jogava online também, mas nada sério, mais por diversão mesmo.
KG: O que significou para você a sua estreia no Campeonato Brasileiro de Poker? Em que momento você sentiu que poderia ser campeã?
IB: Sem dúvidas foi uma grande conquista e fiquei muito feliz. Nem consegui dormir no dia depois da vitória. Pra mim, era um sonho sendo realizado. Uma oportunidade de começar a jogar poker. Quando saí de Balneário para jogar o evento, eu queria mesmo era colocar em prática as coisas que aprendi, ver como era o jogo em um torneio desse porte. Claro que sempre queremos vencer e isso não pode ser diferente, mas tinham muitos jogadores já profissionais e não iria ser nada fácil, essa era a certeza que eu tinha. Sempre acreditei muito no meu jogo e na minha leitura, mas o momento em que realmente pensei que levaria o troféu pra casa foi na FT. Depois de chegar até ali, vencer era o meu único objetivo, pois todos os outros eu já tinha alcançado.
KG: Após quatro dias de batalha, um field duríssimo, o que você fez para manter o foco, a confiança e afastar o cansaço?
IB: Foco 100% no jogo. Nunca me vi tão focada em alguma coisa (risos). Era do quarto do hotel para o jogo e vice-versa. Todos os dias em concentração absoluta. Dormi muito bem todos os dias. Não perdia tempo pra descansar. E a confiança vem junto com essa concentração, pensamento positivo e determinação.
KG: Como ex-dealer, a sua observação no jogo deve ser imensa. A qualidade do seu jogo se deve também a essa bagagem como espectadora? Como você se preparou tecnicamente para este desafio?
IB: Com toda certeza. Enquanto dealer, eu observava o tempo inteiro as jogadas e os jogadores. Era um aprendizado diário. Acabamos criando uma biblioteca gigante de mãos. A leitura, tanto de um quanto de outro, fica muito mais aguçada. Além da observação, era muita conversa com jogador a respeito de mãos e muita história de bad beat também (risos).
KG: Na fase final do torneio, a sua torcida ficou gigante, ao vivo e nas redes sociais. Homens e mulheres vibravam a cada puxada de pote. Você esperava tanto carinho do público?
IB: Não esperava tanto. O clima estava muito bom no salão do evento. Pessoas gritando meu nome, me mandando muita energia positiva, uma equipe de amigos e dealers que torciam como se fossem eles que estivessem ali (eles não podiam gritar, porque estavam trabalhando, mas eu sabia e sentia em cada olhar). Emocionei-me várias vezes com as ligações e mensagens que recebi de amigos, de jogadores que já me conheciam, da minha família, que assistiu o tempo inteiro e nem entendia direito o que estava acontecendo, e de pessoas que acreditavam em mim e sabiam do tamanho da importância do que estava acontecendo ali. De uma hora pra outra, o meu celular começou a apitar sem parar, foram mais de 600 solicitações de amizades no Facebook só no Dia Final. Muita gente mandando mensagem, desejando sorte, dizendo que estavam na torcida por mim e me parabenizando pela FT. Eram muitas pessoas acompanhando e vibrando a cada mão. Foi muito bacana. Superou todas as minhas expectativas e me deu muita força pra vitória. A torcida sem dúvida é muito importante e sempre bem-vinda.
KG: Após a vitória, toda a mídia do poker falou de você, teve até matéria na revista Veja. Como foi encarar essa atenção tão intensa de uma hora para a outra? Mudou muito a sua vida agora que é conhecida nacionalmente?
IB: Tirei um dia inteiro, quando cheguei, para responder todo mundo que me mandou mensagem, e durante a semana fui respondendo as entrevistas e tudo mais. Foi bem intenso, sim, não fazia ideia que iria ser tanto. Mas procurei responder a todos na medida do possível.
KG: Com um jejum feminino de 47 campeonatos, você entrou para a história como a 2ª mulher a ganhar o Main Event do BSOP e ganhou uma legião de admiradoras. Qual a sensação de representar as mulheres, em um momento em que o poker já é uma paixão nacional, mas ainda com um número tão pequeno de jogadoras?
IB: Acredito que represento não só as mulheres, mas os dealers também. Conheço muita gente que tem a mesma paixão que eu, e sei que também vão conseguir um dia fazer o que tanto amam. As mulheres vão começar a jogar mais e perder o medo. Isso já vem acontecendo. Esse field vai aumentar nos próximos anos. É só uma questão de tempo. Lugar de mulher também é nos panos, jogando de frente com qualquer jogador.
KG: Quais as suas metas após esta conquista espetacular? Quais o seus planos a partir de agora?
IB: Venho estudando muito. Recentemente, fiz um coaching com o Thiago Decano, grande pessoa e jogador, que me ajudou muito. Ele me fez enxergar situações e ver o jogo de forma mais ampla. Acho que a evolução tem que estar sempre sendo almejada. Tenho o apoio do meu fiel patrocinador, Heitor Losi, que me deu a oportunidade de jogar o BSOP pela primeira vez, e, de lá pra cá, vem junto comigo a cada passo e objetivo. Vou continuar jogando e aperfeiçoando meu jogo a cada dia.
BATE-BOLA
Atividade física: Basquete.
Ídolos: Daniel Negreanu, Phil Ivey.
Para recarregar as energias: Mergulho no mar.
Time de futebol: Corinthians.
Perfume: 212 VIP.
Comida favorita: Nhoque com carne de panela da mãe (risos).
Generalista autoproclamada, a cofundadora do Barbarella Poker é uma típica gaúcha que adora falar muito sobre tudo...o que realmente interessa. Isso inclui poker, economia, moda e, claro, o esquema tático do Internacional.