No mês de janeiro, todos os olhares estiveram voltados para o QG Akkari Team, sediado em Cabreúva no estado de São Paulo. O QG abriu suas portas para sua 1ª turma 100% feminina, o projeto intitulado de Akkari Team Feminino iniciou-se com um processo de seleção muito divulgado nas redes sociais, em que 10 jogadoras foram escolhidas e receberam, de forma gratuita, acesso ao melhor aprendizado e experiência evolutiva no poker. Uma proposta inovadora, visando a inclusão e profissionalização de mais mulheres no poker.
Conversamos com o Leonardo Bueno, diretor técnico do Akkari Team, que participou ativamente de todo o processo. Ele contou como foi a experiência que tiveram com as meninas, suas impressões e aprendizados, tanto para elas quanto para o próprio Centro de Treinamento. A experiência foi tão positiva que já está confirmada uma segunda edição para o próximo semestre.
Khatlen Guse: Como foi o processo de seleção da 1ª Edição do Akkari Team Feminino? Foi difícil escolher dentre tantas candidatas? Vocês traçaram um perfil do que buscavam nas meninas?
Leonardo Bueno: Foi um processo um pouco mais fácil porque tivemos menos candidatas do que candidatos (temos mais de 5 mil e-mails de candidatos, mas de mulheres foram cerca de 70), e aí foi mais rápido pra selecionar as 20 que seriam entrevistadas. A partir dali, o processo foi mais ou menos o mesmo: procuramos pessoas de perfis diferentes, mas que tenham alguns traços em comum, como vontade de aprender, possibilidade de se tornar profissional, pegada e apresentação, além, claro, de ser uma pessoa sociável, já que a candidata vai passar um mês morando com a gente, na nossa casa.
KG: O Centro de Treinamento do Akkari Team é referência no Brasil, possui uma estrutura completa, com funcionários, hospedagem e conta com grandes instrutores. Comente um pouco sobre como foi o planejamento do QG para absorver todo este custo já que vocês disponibilizam tamanha estrutura de forma gratuita.
LB: O Time Micro é uma parte da nossa estrutura de marketing. Ao pegar 10 jogadores, todos os meses, e transformá-los em profissionais lucrativos e consolidados, nós estamos mostrando para a comunidade do poker do Brasil que sabemos ensinar poker e transformar as pessoas em jogadores vencedores. Com isso vendemos nossos cursos, como o Curso Mensal, o Curso Semestral e, agora, nosso novo projeto: "Viaje para o LAPT com o QG". Com o dinheiro desses cursos que conseguimos manter toda a estrutura do QG, em que temos mais de 10 pessoas trabalhando para que tudo ande bem.
KG: O poker como esporte mental, não difere sexo, mas imagino que seja diferente a dinâmica de treinamento, pelo perfil que elas possuem: mais organizadas, metódicas e dedicadas. Pela experiência que vocês tiveram agora com a 1º edição, vale a pena fazer turmas mistas ou se torna mais produtivo a separação por sexo?
LB: Com certeza é mais produtiva a separação por sexo. Mulheres tem características diferentes de homens, que fazem com que elas aprendam, joguem e pensem de maneira diferente. E para ensinar pessoas a jogar é mais fácil quando você trabalha com perfis parecidos. Um traço marcante das mulheres no poker é a insegurança, então facilita já trabalhar isso em cima de 10 mulheres ao mesmo tempo, em vez de trabalhar isso com cinco mulheres e um dos homens que é inseguro. Outro ponto é que para a mulher é bem mais confortável passar um mês em uma turma só com mulheres, em que elas vão se identificar melhor, fazer amizade mais fácil etc.
KG: Como se deu a evolução das meninas durante esses 30 dias? Algumas eram mais experientes que outras, foi um processo homogêneo? O grupo ficou coeso apesar das diferenças de nível técnico?
LB: A evolução foi absurda. Elas tinham níveis técnicos diferentes, mas nenhuma tinha muita noção do papel da agressividade no jogo, principalmente no online. Então focamos nisso, e durante um mês elas tiveram aulas semanais comigo, com o Victor Begara (Headão), viram nosso Curso de Poker Mensal, uma aula do Curso Semestral sobre tamanho de apostas (módulo básico ao avançado), grind acompanhado e com isso evoluíram muito. O processo foi homogêneo, pois, apesar de elas terem níveis técnicos diferentes, nenhuma delas tinha um nível muito alto, então simplesmente começamos do zero com todas e ensinamos do básico ao avançado em todos os aspectos do poker.
KG: Vocês, além de proporcionarem o curso completo, presentearam as jogadoras com a experiência de disputarem torneios ao vivo, como o Ladies e o Last Chance Small do BSOP de São Paulo. Isso já estava na programação de vocês? Houve alguma mudança de programação ao longo do curso em função da dedicação delas?
LB: Nós fazemos nosso planejamento por mês, antes das turmas chegarem. Então, quando elas chegam, já sabemos exatamente qual será o conteúdo da semana, o que elas jogarão e, no caso da turma delas, culminou de terem dois eventos grandes em SP, o BSOP e o Masterminds, então aproveitamos para colocá-las pra jogar e dar mais experiência a elas, ver a questão de postura à mesa, e assim saber quem delas, um dia, pode representar o Akkari Team. Elas, de fato, eram muito dedicadas, e aí o que acaba mudando é que isso contagia nossa equipe e nossos jogadores/instrutores, como o Rafael Fernandes, Rafael Culica e Ivan BanMartins, que acabavam ficando discutindo mãos e revendo hand histories com elas até tarde.
KG: Quais as mudanças mais significativas que vocês perceberam nas meninas? Elas absorveram bem o que vocês tentaram transmitir? O que você percebeu de mais positivo entre as mudanças?
LB: Houve algumas mudanças importantes. As principais foram que elas perceberam que a carreira de um jogador de poker não é um conto de fadas, precisa de muito estudo, dedicação, coragem e resistência a dias ruins. Com isso, vimos que elas se dedicaram, durante esse mês, mais do que se dedicaram a vida toda ao estudo, discussão de mãos e jogo. Se mantiverem essa pegada, estão no caminho certo. Além disso, mudaram muito a mentalidade de um jogo mais passivo para um jogo mais agressivo, o que é primordial para o sucesso no poker. Outro ponto importante é que não tem mais choro quando toma porrada nas mesas. Antes, quase todas reclamavam muito de bad beats, coolers, flips, mas hoje já perceberam que isso faz parte do dia a dia e estão com uma postura mais profissional.
KG: Qual a mudança/experiência que o QG teve de mais significativa após todo esse novo processo, recebendo exclusivamente mulheres no Centro de Treinamento?
LB: O mais significativo foi com certeza o quanto a gente aprendeu. Como eu disse, ensinar para mulher é muito diferente. Hoje, eu sinto, de fato, que sei como ensinar mulheres a jogar poker. Sei trabalhar as inseguranças, sei usar a dedicação como ponto forte, sei suprimir a tal da intuição feminina, que é um grande problema no jogo da maioria das mulheres, sei qual metodologia, qual maneira de falar que funciona mais. Isso tudo porque foi uma experiência muito intensa durante esses 30 dias, que nos preparou muito bem para ensinar mulheres a jogar poker nos nossos cursos, o que é um dos objetivos do nosso cotidiano no QG: nos transformar em melhores instrutores. No dia a dia também foi bem legal a experiência, porque as mulheres eram muito dedicadas, e trabalhar com gente dedicada lhe dá gosto pra ensinar melhor e dar seu máximo nas conversas fora da programação das aulas e tudo mais.
Além disso, hoje, nossa página do Facebook é a página com maior % de likes femininos das páginas de Poker do Brasil. Isso nos dá um alcance e um mercado novo, o que também é muito importante e mostra o potencial de marketing que mulheres jogando poker têm.
KG: Podemos esperar uma 2ª edição?
LB: Com certeza. No segundo semestre faremos mais uma turma feminina.
KG: Que mensagem você gostaria de deixar às jogadoras amadoras que almejam um dia se tornarem profissionais?
LB: Tudo que vocês precisam para virarem profissionais já está disponível. Basta disposição para correr atrás. Tem um monte de blogs sendo atualizados diariamente, sites de treinamento, como o CTSuperpoker e o PokerLab, transmissões com comentários técnicos, fóruns de poker etc. E gostaria de dizer também que o poker é um jogo duro. No poker, o seu melhor amigo não é aquele que releva seus erros e não critica a sua jogada, mas, sim, quem lhe ensina, puxa a sua orelha e, por consequência, acaba lhe ajudando a evoluir.
No próximo post, vamos conversar com as jogadoras que participaram desta 1ª Edição. Elas contarão suas experiências e mudanças após a participação no curso Akkari Team Feminino. Não percam.
Generalista autoproclamada, a cofundadora do Barbarella Poker é uma típica gaúcha que adora falar muito sobre tudo...o que realmente interessa. Isso inclui poker, economia, moda e, claro, o esquema tático do Internacional.