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Daniel Negreanu - O Jogador do Ano da Card Player

Há quase 10 anos, Daniel Negreanu teve um ano maravilhoso no circuito live. Foram US$ 4,4 milhões em ganhos, quatro títulos e onze mesas finais. Naquele ano, em 2004, ele ganhou tanto o título de Jogador do Ano da Card Player quanto o da World Series of Poker. Agora, em 2013, o canadense de 39 anos roubou a cena do poker mundial novamente.


Erik Fast
Foram dois grandes títulos e sete mesas finais. No final, seus US$ 3.114.058 em prêmios, lhe garantiram o topo do ranking de Jogador do Ano da Card Player pela segunda vez, o quarto jogador da história a conseguir o feito.

Negreanu começou a sua caminhada na estreia da World Series of Poker Asia-Pacific (APAC). Ele venceu o Main Event de US$ 10.465, que lhe rendeu cerca de 1,1 milhão de dólares, e ainda foi o 4º colocado em um evento de mixed games. Na primavera norte-americana, ele terminou em 4º lugar no Main Event do European Poker Tour Grand Final e na 7ª colocação do World Poker Tour Championship, no Bellagio. No meio do ano, na WSOP, o canadense foi um vice-campeão em um torneio de 2-7 triple draw lowball. Um pouco depois, no EPT Barcelona, ele foi o segundo no high roller e levou US$ 347.715.

Para fechar o ano com chave de ouro, vitória no high roller da WSOPE, em que venceu o brasileiro Nicolau Villa-Lobos no heads-up para faturar US$ 1.000.000.
O ano inesquecível serviu para que o “Kid Poker” ultrapassasse Erik Seidel e chegasse à terceira colocação dos jogadores que mais ganharam dinheiro em torneios ao vivo da história: US$ 19.399.176.

Negreanu ganhou notoriedade durante o “boom do poker”, resultado de sua personalidade extrovertida e grandes jogadas durante o auge do poker televisionado. Embora muitos dos outros grandes nomes daquela época tenham desaparecido de cena, ele encontrou uma maneira de continuar a ser um dos melhores no jogo.

Erik Fast: Qual é o sentimento de vencer um prêmio como esse, em que a consistência é o mais importante?

Daniel Negreanu: Eu sempre fui fã de disputar os rankings de Jogador do Ano, mesmo de Jogador da Série, que eventos como o L.A. Poker Classic possuíam, há muitos anos. Esses são desafios muito divertidos para mim, porque eles vão ao encontro dos meus objetivos. Sempre procuro vencer os prêmios de Jogador do Ano (JDA). Eles são mais importantes para mim do que vencer torneios, já que mostram a consistência dos seus resultados, e isso é o que importa para mim.

EF: Quando você venceu o prêmio de JDA, em 2004, o poker estava no meio do “boom”. A partir dali, o panorama dos torneios mudou muito. Como é voltar a conseguir esse título, enquanto muitos dos grandes jogadores daquela época não conseguiram acompanhar a evolução do jogo? 

DN: Bem, em 2004 as coisas eram diferentes. Existiam alguns bons jogadores, mas a média era muito ruim. Foi naquela época que criei um sistema para torneios, o small ball. Era tão efetivo que o jogo ficava fácil. Hoje, quando restam poucas mesas nos eventos grandes, elas estão cheias de jogadores muitos bons. Era mais fácil vencer um torneio de 400 pessoas, naquele tempo,  do que um high roller com 150 inscritos nos dias atuais. Tenho orgulho de ter alcançado minha fama pelos meus resultados, não pelo meu nome. Eu sou o maior crítico em relação ao meu jogo, sou quem mais me cobra.

EF: Você sempre se esforçou muito para aprimorar o seu jogo. Há poucos anos, seu foco, por exemplo, foi jogar high stakes online de cash game, certo?

DN: Exato. Em março de 2010, comecei a jogar NLH $100-$200 no PokerStars. O termômetro do meu desempenho foram as filas que se formavam quando eu sentava. No início, centenas de jogadores ficavam esperando um lugar para poder jogar contra mim. Com o passar do tempo, apenas um ou dois se sentavam à mesa, ninguém mais queria jogar ali. Isso porque rapidamente eu corrigi muitas falhas no meu jogo. Mas é bom deixar claro que todo esse desenvolvimento só serviu para o online e não tem nada a ver com o meu sucesso em 2013. Meu estilo de jogo é completamente diferente quando jogo torneios ao vivo.

EF: O sucesso nos torneios depende da habilidade e da variância. Além disso, a que você credita o seu sucesso em 2013?

DN: Primeiro foi o Choice Center [curso que ajuda a aumentar a desenvolver a inteligência emocional], em que me graduei em fevereiro do ano passado. Logo depois disso, fiz três mesas finais (WSOP-APAC, EPT e WPT). O principal do curso foi ganhar bastante confiança e voltar a acreditar nos meus instintos, que eu tinha deixado um pouco de lado. Alguns problemas pessoais acabam afetando o seu jogo, quando eu consegui identificar isso e realizar as mudanças mentais necessárias, voltei a conversar mais na mesa e ser eu mesmo. Gosto de falar durante as mãos, e desde que a Tournament Directors Association (TDA) não destrua o poker para a TV, eu continuarei a fazer isso pelo resto da minha carreira.

EF: Enquanto os eventos principais continuam com o mesmo buy-in (ou até diminuem), os eventos high rollers tornam-se cada vez mais frequentes e mais caros. Em 2013, você venceu um desses eventos, na WSOPE. Quais seus pensamentos sobre isso?

DN: O que realmente vemos são os buy-ins entre US$ 10.000 e US$ 100.000. Com vários milionários querendo jogar, um novo mercado que cresceu. Eles querem jogos rápidos e muito dinheiro. Os high rollers são perfeitos. Eu tenho escutado muitos questionamentos se isso seria bom para o poker, se esses torneios deveriam “contar”. Se cinco caras jogarem uns contra os outros, em um torneio de US$ 5 milhões, por que isso seria ruim para o poker? Não entendo a lógica por trás disso. Se há um mercado para isso, por que não explorá-lo? Deixe-os jogar.

EF: Em 2004, assim como neste ano, foram seus resultados fora dos eventos no-limit a chave para a vitória. Quais seus pensamentos sobre isso?

DN: Naquele ano, eu ganhei um bracelete de limit hold’em e fiz uma mesa final de Omaha hi-lo. Eu sempre fui um defensor do poker em sua essência, ou seja, ele não é só no-limit hold’em. Esse o motivo da WSOP ser uma grande aliada dos jogadores. A série respeita a história. Obviamente, eles precisam de jogadores, então fazer vários jogos de NLH, mas nunca deixam os outros jogos morrerem. Eu sou um cara da velha guarda, então meu pensamento é: “Se você é bom em no-limit hold’em, parabéns, você domina um dos 15 diferentes tipos de poker”. Se você não pode jogar todos, não pode ser considerado da elite.

EF: Houve uma vitória especial em 2013?

DN: Tudo o que joguei foi divertido por alguma razão, mas uma vitória que pode surpreender as pessoas foi online. Eu venci meu primeiro título no SCOOP, do PokerStars — um evento 6-max de pot-limit Omaha, com buy-in de US$ 5.000. E eu fiz isso nu. Joguei todo o evento completamente sem roupas. Então, esse foi o primeiro evento nu que eu ganhei (risos). Ao vivo, o high roller na WSOPE foi especial. Eu dependia dele para ser o Jogador do Ano da WSOP. Cheguei muito short na mesa final, fui dobrando e, de repente, lá estava eu vencendo.
 
EF: Recentemente você tem sido bem aberto quanto aos seus objetivos profissionais e pessoais. Obviamente, 2013 será um ano difícil de ser superado, mas quais os seus objetivos para 2014?

DN: Já coloquei em meu blog os objetivos para 2014. A grande mudança é limitar o número de eventos que vou jogar. O foco será qualidade, não quantidade. Outro ponto são minhas férias. Planejo descansar e me dedicar a outras coisas fora do poker, como o golfe. Também tenho alguns objetivos em relação a relacionamentos. Espero achar a pessoa certa. Se isso acontecer, pretendo constituir uma família. 
 
No mais, quero balancear mais a coisas. Aproveitar cada viagem, relaxar. Isso não quer dizer que vou me afastar do jogo. Eu ainda vou trabalhar para vencer novamente o prêmio de Jogador do Ano da WSOP e da Card Player. Vencer esses prêmios é ótimo, mas não muda minha vida ou quem eu sou. Quero dizer, por quanto tempo continuar vencendo torneios será meu objetivo? Com 70 anos eu ainda serei um grinder de torneios? Provavelmente não. Tenho outros objetivos. Quero ajudar pessoas, ajudá-las a atingirem os seus objetivos, servir de inspiração. Dividir um pouco da minha vida com outras pessoas é uma coisa fora do poker, e eu quero fazer isso.
 

Daniel Negreanu e a corrida ao título de Jogador do Ano da Card Player 2013

EVENTO

POSIÇÃO

PREMIAÇÃO (USD)

PONTOS PARA O RANKING

WSOP Europa €25,000 High Roller

$1.001.225

672

EPT Barcelona €10,000 High Roller

$347.715

700

WSOP $2,500 Limit 2-7 Triple Draw Lowball

$107.055

570

WPT Championship $25,000 Main Event

$137.085

252

EPT Grand Final Main Event

$416.722

1.050

WSOP Asia Pacific Main Event

$1.087.160

1.800

WSOP Asia Pacific Mixed Event

$17.096

96

 

 

TOP 10 – JOGADOR DO ANO DA CARD PLAYER 2013

JOGADOR

GANHOS (USD)

TÍTULOS

MESAS FINAIS

PONTUAÇÃO

Daniel Negreanu

$3.114.058

2

7

5.140

Paul Volpe

$1.526.579

1

6

4.298

Vanessa Selbst

$2.635.659

3

6

3.921

David Peters

$1.225.863

2

8

3.802

Steve O’Dwyer

$2.348.975

1

6

3.488

Blair Hinkle

$1.967.527

2

5

3.448

Justin Bonomo

$1.567.896

0

5

3.395

Ryan Riess

$8.363.58

1

2

3.313

Ole Schemion

$1.406.439

2

8

3.256

Scott Seiver

$3.831.486

1

10

3.244


 



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