EDIÇÃO 79 » MISCELÂNEA

Final Table


Craig Tapscott
Grandes campeões analisam mãos decisivas que lhes levaram a vitórias nos principais torneios do mundo, seja na internet ou ao vivo. Nesta edição, o outro lado da moeda: as mãos vencidas por Justin Bonomo (edições 76 e 78), mas sob a ótica do oponente.
 
BLAIR HINKLE JOGA AGRESSIVAMENTE CONTRA JUSTIN BONOMO POR 1,7 MILHÃO DE DÓLARES – PARTE I
 
Blair Hinkle joga online desde 2005; profissionalmente, desde 2008, ano em que venceu um evento de bracelete da WSOP e levou US$ 507 mil. Ele também é o único jogador a ter vencidos dois eventos principais da WSOP-Circuit. Seus ganhos em torneios ao vivo e online já ultrapassam a barreira dos US$ 5 milhões.
 
Evento 2013 Seminole Hard Rock Poker Open
Jogadores 2.384
Buy-in US$ 5.300
Primeiro Prêmio US$ 1.745.245
Colocação
 
Conceitos-chave: Impor sua presença como chip leader. Pensar fora da caixa. Acreditar nos seus instintos.
 
Craig Tapscott: O que passava por sua cabeça antes da mesa final começar?
 
Blair Hinkle: Eu estava muito empolgado e um pouco ansioso com essa FT. Chegar como chip leader não lhe garante nada. Senti-me nervoso sabendo que era a oportunidade de me firmar entre os melhores do mundo. Eu sabia que poderia colocar pressão nos outros, já que as mudanças na premiação podiam mudar a vida dos jogadores. Quanto a pesquisar sobre cada jogador na mesa final, eu costumava fazer isso com frequência nos grandes eventos, mas percebi que isso afetava meu jogo. Agora, apenas fico pensando sobre as mãos que meus adversários jogaram e como me ajustar adequadamente no futuro. Eu também sei que eles farão isso. Por isso, acredito que é preciso ter um plano de jogo, mas mudá-lo se seus oponentes estiverem jogando de uma maneira diferente da que você esperava.
 
CT: E especificamente contra o Justin, qual o plano?
 
BH: Quando restavam seis jogadores, Justin e eu tínhamos a liderança maciça em fichas. Por sorte, eu sentei em sua esquerda durante toda a mesa final, o que tornou as coisas bem mais fáceis para mim. Eu ainda não havia resolvido se seria muito agressivo contra ele, mas era um ponto a analisar se ele estivesse jogando muitas mãos. O complicado sobre o seu jogo é que ele é o jogador mais “grudento” que já joguei contra. Quero dizer, ele não tem o costume de dar fold pré-flop quando entra em uma mão e raramente desiste no flop.
 
CT: Vocês têm algum histórico?
 
BH: Nós jogamos alguns eventos no Bellagio e uma mesa final do WSOPC, no Caesars Palace, em 2008. Na mesa semifinal, eu tinha posição sobre ele e acho que, de alguma maneira, isso influenciou em seu jogo. Quando restavam somente nove jogadores, os lugares foram trocados e ele acabou terminando na minha frente. Mesmo que naquele evento, especificamente, ele tenha ido melhor do que eu, pude analisar e estudar o meu jogo e dos meus oponentes a fundo.
 
Bonomo aumenta do UTG para 300.000. Hinkle faz uma 3-bet para 750.000 com K8.
CT: Isso já faz parte do seu plano para jogar contra Bonomo?
 
BH: Sim. Estamos há apenas 30 minutos jogando 6-handed, mas essa é minha segunda 3-bet contra ele. Na última vez, eu estava fora de posição e levei o pote no flop. Quero que ele pense que eu sou o cara que tem o grande stack da mesa e sou eu quem manda. Sei que Justin leva o ICM (Independent Chip Model) em conta, então ele não vai fazer uma jogada de alta variância aqui, como aplicar uma 4-bet fora de posição. E K8 não é uma mão que você vai querer ficar dando call para ver o flop. É muito mais fácil jogar se você é o agressor. 
 
CT: Olhando agora, o que você pensa sobre o tamanho da aposta?
 
BH: Foi um erro. Nós estávamos com muitas fichas antes do início da mão, e eu sabia que ele não daria fold depois de entrar no poker. Eu deveria ter dado um raise maior, para punir o estilo de sempre dar call dele.
 
CT: Você tem algumas dicas de qual tamanho de apostas usar para cada situação, sem cair no padrão?
 
BH: Isso é algo que venho experimentando há alguns anos. A comunidade do poker está muito presa aos tamanhos de apostas padrão, para que a mão fique bem escondida. Você pode usar apostas grandes ou pequenas para tirar certos adversários do pote. O mais importante é ajustar o seu jogo de acordo com as respostas do seu adversário a suas apostas. Depois de assistir a transmissão da mesa final, fiquei muito feliz em ver que até mesmo os comentaristas (profissionais) ficavam confusos durante as minhas jogadas. Sei que, na cabeça deles, não é a jogada perfeita, mas, no futuro, eles não saberão como reagir quando jogarem contra mim.
Flop: K64 (pote: 1.875.000)
Bonomo pede mesa.
 
CT: Um flop muito bom para você.
 
BH: Estou bem satisfeito com o flop. Não há muitas mãos que me dominam, e se ele tem um par menor, ele pode me pagar no flop e no turn.
Hinkle aposta 525.000
 
CT: Por que uma continuation bet (c-bet) tão pequena?
 
BH: Pelos seguintes motivos: 1) Tenho feito uma c-bet pequena quando eu sou o agressor e quando estou em posição. 2) Esse é um flop que eu não espero ser pago por Ás-high ou por um par de mão. 3) Não acredito que Justin irá para o check-raise-blefe devido aos saltos na premiação. E, por fim, percebi que ele acredita ter uma imensa vantagem jogando pós-flop contra os adversários da mesa.
CT: Então, dar check, para uma armadilha, não é uma opção.
 
BH: Muitos jogadores pediriam mesa nessa situação para não enfrentar um check-raise. Acho que essa jogada de pedir mesa com mãos marginais está tão batida que acaba demonstrando mais força para adversários profissionais. Contra um amador, eu provavelmente pediria mesa, mas contra um bom jogador eu gosto de fazer jogadas diferentes e ir sempre realizando pequenos ajustes de acordo comas informações que vou recebendo.
 
Turn: 2 (pote: 2.925.000)
 
Bonomo pede mesa. Hinkle aposta 1.500.000.
CT: Essa carta não muda nada, então...
 
BH: Eu continuo atacando. Acho que essa carta não muda nada para Justin. Mas se ele está em um draw, é hora de aumentar o tamanho da aposta e não dar a ele as odds correta para pagar. Outra vantagem de apostar nesse turn é que tenho a opção de dar check behind no river, se uma carta ruim aparecer, e ele pedir mesa.
Bonomo paga.
 
CT: Ele segue com você.
 
BH: Isso me preocupa um pouco. Aqui, a jogada correta com um draw seria desistir. Bem, ou ele tem um Rei melhor ou está em um draw. Provavelmente vou dar mesa no river. A maioria dos Reis que ele segura me derrotam. Então nada justifica que eu aposte por valor nas três streets. 
Turn: 8 (pote: 5.925.000)
 
CT: O flush apareceu, mas você acertou o seu segundo par.
 
BH: Essa carta me deixa tranquilo contra um possível top pair que ele tenha feito, mas Justin pode ter acertado um flush ou uma sequência.
Bonomo aposta 4.700.000
 
CT: E agora?
 
BH: Ele me ajudou um pouco com as opções que eu tinha. Se ele pedisse mesa, eu estaria inclinado a disparar o terceiro barril. Com um possível flush ou uma sequência no bordo, já não gosto tanto da minha mão.
 
CT: E o que você acha da aposta dele? É um tamanho de aposta que polariza o seu range.
 
BH: O range dele está totalmente polarizado. Ou ele tem o flush/straight ou está em blefe seco. Ele apostou muito alto e minha cabeça começou a girar. Eu sabia que aquele seria um pote chave para o resto da FT. Se pagasse e perdesse, além das muitas fichas que perderia, eu também daria confiança para ele. Comecei a pensar em quais mãos eu derrotaria e que poderiam estar nesse tipo de blefe — não havia muitas. Eu tinha que mensurar muitas coisas, mesmo com esse tipo de informação, é difícil desistir dos dois maiores pares, principalmente quando eles estão mascarados. Mas senti que a melhor ação era realmente o fold.
 
Hinkle desiste. Bonomo puxa o pote de 5.925.000. As câmeras mostram que ele tinha J9.
 
CT: O que passou na sua cabeça depois de ter jogado fora as suas cartas?
 
BH: Acabei dando o fold por dois motivos. O mais importante deles foi de um tell que peguei do Justin quando jogamos uma mesa final em 2008. Eu me considero um jogador que acredita muito no “feeling”. Pode ser que esse tell não seja mais confiável hoje, mas ele estava confiante, como em 2008, quando pegou as fichas para apostar. A outra razão é porque é um risco muito grande você executar um grande blefe no início da mesa final. Os saltos na premiação eram muito grandes. Não era um bom momento para um grande blefe.
 
NOTA DO EDITOR: A visão de Justin Bonomo sobre esta mão pode ser lida na edição 76 da Card Player Brasil.



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