EDIÇÃO 9 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Um Torneio Quase Perfeito!


Hugo Mora

Estive em São Paulo nos dias 29 e 30 de Março, para disputar pelo CDP Team o Main Event de inauguração do Dealer Club Alphaville. A casa é realmente muito bonita, e a estrutura deep stack foi a melhor dentre todos os torneios que já disputei ao vivo aqui no Brasil. Com um cacife inicial de 20.000 fichas e os blinds aumentando a cada 45 minutos, o torneio proporcionava tempo suficiente para se jogar um poker bem estratégico, privilegiando a técnica e a habilidade ao invés da sorte. Abaixo relato um resumo e algumas mãos desse torneio.

Resolvi adotar minha estratégia básica, iniciando o torneio de forma bem tight e não me metendo muito em confusão durante as primeiras horas de jogo. Seriam nove horas de competição naquele primeiro dia, com breaks a cada três horas. A primeira mesa em que me sentei contava com jogadores de vários estilos de jogo: alguns tight, outros loose, alguns passivos e outros agressivos.

Até o quinto nível de blinds (200/400) oscilei meu stack entre 17K e 25K fichas, perdendo uns potes pequenos aqui e roubando alguns blinds ali, até que finalmente consegui um jogo forte após o flop. Estava na posição do dealer, e um jogador no começo da mesa entrou de limp no pote. Também fiz isso, com 55, e o jogador no SB, que era loose-aggressive, também completou. O flop veio com K58 e fiz a trinca. O SB e o BB pediram mesa e o outro jogador colocou 1.1K. Eu apenas paguei, pois queria ver o turn antes de comprometer mais fichas. O SB e o BB correram. O turn trouxe uma carta inofensiva, 2. Ele pediu mesa e resolvi apostar 2.5K, prontamente pagos por ele, que ficou com aproximadamente 3.5K para trás. O river trouxe a Q. Ele pediu mesa e eu o coloquei de all-in. Ele pensou bastante, mas acabou pagando. Mostrei minha trinca e ele jogou fora a mão, sem mostrar o que tinha. Subi para aproximadamente 33K fichas.

Depois disso, perdi uma mão (e um pote razoável) em que fiz dois pares e o adversário acertou uma seqüência; eu tinha ainda uma pedida de seqüência nas duas pontas, mas não bateu. Cheguei a cair para 22K fichas, mas, ao roubar alguns potes com raises em posição e continuation bets, subi novamente para 30K fichas, até que tripliquei meu stack em uma mão bem interessante: com os blinds em 400/800, um jogador em early position aumentou para 2.1K. Estava na posição do dealer e resolvi pagar para ver o flop com AJ. O jogador no SB também pagou e o BB correu. O flop veio com A87 e acertei o top pair, com o “anzol” de kicker. O jogador no SB pediu mesa e o outro deu um raise para 7.6K fichas. Refleti bastante, senti que estava à frente dele, e resolvi colocar meu all-in: 7.6K + 23K fichas. O jogador no SB colocou o all-in dele por cima (ele tinha mais fichas do que eu) e naquele momento me senti muito mal com a situação. Pior ainda foi quando o outro jogador pagou a aposta e tinha ainda mais fichas do que nós dois. Na hora, já imaginei que o SB tinha trincado e o outro tinha algo como AK ou AQ, e me vi sendo eliminado do torneio. Para minha surpresa, ambos estavam no flush draw: o SB com 85 e o outro com QJ. O turn ainda trouxe o 6, dando um open-ended para o SB, mas nada bateu no river e fui para quase 100K fichas, enquanto a média estava ainda por volta dos 40K.

Fiquei oscilando meu stack entre 85K e 105K, até que me mudaram de mesa. Como estava muito bem em fichas, voltei a jogar mais tight, com o objetivo de analisar os jogadores da mesa antes de entrar em qualquer confusão. Perdendo alguns blinds aqui e roubando outros ali, estava em um determinado momento com 92K fichas, quando um short-stack aumenta para 3K (blinds 500/1000). Ele deixou 6K para trás e, com AQo resolvo colocá-lo de all-in. Ele paga e mostra TT. Foi o primeiro coin flip que disputei no torneio, e logo bateu a trinca dele no flop, fazendo meu stack cair para 83K fichas. Pouco depois, dei um raise de 3x com 66, e outro short-stack entra de all-in. Completo mais 5.6K e ele mostra A3. Trinquei no flop, quadrei no turn e voltei para 95K fichas.

Mantive esse stack aproximado até faltarem 10 minutos para o fim do primeiro dia. Após 8h50min horas de jogo estava com o dobro da média quando a seguinte mão acontece: em UTG+2 vejo 77 e aumento para 6.5K (blinds 1K/2K). O jogador duas posições à minha esquerda dá um reraise para 15K. Esse jogador era muito loose-agressive. Já o havia visto dar reraise all-in em alguns short-stacks mostrando mãos marginais como AJo. Ele tinha posição sobre mim e pensei bastante: voltar all-in, completar, ou largar? Como ele tinha um stack considerável (deixou 41K para trás), decidi por apenas completar para ver se flopava a trinca. Se isso acontecesse, tinha certeza de que conseguiria levar o restante das fichas dele. Eis que surge um flop maravilhoso: K72. Pedi mesa imediatamente e ele anunciou o all-in. Que sonho... me belisca... insta-call! O adversário abre 99. Mostro minha trinca. Bem desapontado, ele começa a pedir: “Nove! Nove!! Nove!!!” Logo no turn o dealer me abre... um nove!!! 91% de chances de vitória e o baralho me apronta essa a 10 minutos do final do primeiro dia. Terminaria o dia em 2º lugar geral em fichas, com 80 jogadores passando ao dia 2, de um total de 249 inscritos. Ao invés disso, terminei em 67º, sendo um dos short-stacks... C'est la vie... Mas não adianta ficar chorando bad beats. Refleti bastante sobre a mão, chegando à conclusão de que fiz uma boa jogada, estando bem à frente quando paguei o all-in do adversário. Isso é o que importa. O longo prazo dirá tudo.

Voltei no segundo dia disposto a dobrar rapidamente, pois os blinds iniciavam em 1.2K/2.4K com antes de 200. Em cada órbita eram 5.4K fichas e tinha iniciado o segundo dia com 28.9K. Quando vi um par na mão, 99, entrei de all-in após outro jogador já ter anunciado a mesma ação. Torci para estar com um par maior ou ser um coin flip, mas ele apresentou QQ. Fim de torneio.
 
Com relação a torneios ao vivo, diria que foi um dos que melhor joguei desde que iniciei a praticar o Texas Hold'em. Infelizmente, o "Senhor do Baralho" não ouviu minhas preces e aquela mão foi como um nocaute bem dado. Não consegui me levantar. Faz parte... Quem sabe na próxima...




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