Se, há aproximadamente um ano atrás, você ouvisse falar de um torneio internacional de poker na cidade do Rio de Janeiro com mais de 500 jogadores, estrutura e organização impecável e com uma premiação acima de setecentos mil reais, você, muito provavelmente, pensaria se tratar de uma brincadeira ou de uma pegadinha. O que muitos consideravam algo impensável ou um sonho distante acabou por se tornar realidade num chuvoso fim de semana de março na Barra da Tijuca.
Após a realização de dois mega eventos em alto mar, a Tower Torneios decidiu que havia chegado o momento de aportar em solo brasileiro. Para tanto, não economizou esforços. Na organização do torneio foi contratada a Stack Eventos, empresa do grupo AK&F que têm em sua retaguarda nomes como Igor Federal, Elton Czernysz e Robson Robigol. Nomes, que por si só, já são sinônimo de competência e organização no planejamento e na gerência de torneios. Federal, que ficou com a direção geral do torneio, já trazia a experiência de ter exercido essa mesma função no I° Brasil Poker Fest de Campos do Jordão - maior evento já realizado no país até então, com mais de 450 jogadores.
A expectativa era grande e, desde que foi anunciado, o comentário geral era de que o Rio Poker Fest se tornaria o maior evento já realizado em solo brasileiro. Com 500K garantidos na premiação, uma constelação de estrelas no feltro, e uma organização extremamente zelosa e preocupada com os mínimos detalhes, o evento não frustrou as expectativas. Foram um total de 506 jogadores inscritos, o que superou todos os prognósticos e fez do Rio Poker Fest o maior evento de poker já realizado na América do Sul. O poker nacional, mais uma vez, reafirmou a sua força e escreveu mais uma página de sua história.
O Torneio, primeiro no país a contar com um regulamento baseado e aprovado pela ADTP Brasil (Associação de Diretores de Torneios de Poker), possuía um buy-in de R$800,00, equivalente a 3.000 fichas e oferecia ainda a possibilidade de se realizar um re-buy no mesmo valor e a mesma equivalência de fichas e, ao final do 4°(quarto) nível de blinds, um add-on de R$800,00, equivalente a 6.000 fichas. Os blinds aumentavam a cada 35 minutos e o torneio foi disputado em 3 dias, sendo os dois primeiros qualificatórios para a decisão, realizada no domingo dia 16 de março.
Dia #1 - Chuva de estrelas
No primeiro dia, a disputa teve seu início por volta das 23:00h e tivemos um total de 288 jogadores inscritos. Após aproximadamente 10 horas de batalha, o assunto mais comentado no salão foi o número de jogadores do chamado “primeiro time” do poker nacional que não conseguiu a classificação para a disputa da final de domingo. Vicenzzo Camilotti, Jorge Breda, Gabriel Almeida e Rafael Caiaffa foram alguns dos nomes que ficaram de fora da disputa. Além deles, nomes como o de Thiago “Decano”, Eduardo Sequela, Vovô Léo, Salim Dahrug e Cinthia Escobar também ficaram de fora e não conseguiram ir além do primeiro dia de disputa.
No que foi chamado de “o dia das Bad beat’s” tivemos muitas mãos incríveis. Vale destacar uma mão surreal que aconteceu já na madrugada de sábado: Elisabeth, com um par de 4, faz tudo 2.500 fichas. Julio paga a aposta e é acompanhado por Adolfo até que Rocksted dá um re-raise para 9.000. Elisabeth, Adolfo e Júlio decidem voltar all-in. Adolfo apresenta par de oito, Júlio e Rocksted apresentam AA. Com 4 pares na disputa o flop trouxe K(ouro) 6(Copas) J(espada), a carta virada no turn foi um 5(Paus) e, para o desespero de Júlio e Rocksted, o river trouxe um 8(Ouro) dando uma trinca para Adolfo e eliminando os dois jogadores e fatiando o stack de Elisabeth.
Numa noite em que 61 jogadores conseguiram passar para o segundo dia de disputa, vale destacar a participação do Holandês Dirk Schouten, que além de liderar grande parte do torneio, terminou o primeiro dia de competição como o chip leader com 153.900 fichas. Além disso, Rogério Pistola encerrou a primeira etapa com 77.700 fichas na 6ª (sexta) posição e Maridu, que foi a mulher melhor posicionada no chip count, ocupando a 9ª (nona) posição com 62.900 fichas.
Dia #1B
O segundo dia começou por volta das 17:00h com 218 jogadores na disputa. Já no período inicial, Hércules Lutkus da Tower Torneos anunciou que o Rio Poker Fest havia se tornado o maior torneio da história do país. Foram 506 jogadores inscritos. Na disputa pelas vagas para as finais, faziam sua estréia; André Akkari, Raul Oliveira, Paraná, Filpac, o campeão do Tower Cruise 2 - Virgílio Aoki, e os irmãos Lutkus – Marcelo e Luciano. Embora muitos nomes tenham ficado pelo caminho, o baralho não foi tão “carrasco” como no dia anterior e alguns dos jogadores mais conhecidos conseguiram acertar seu jogo e passar para o Final Day.
Um dos destaques, do segundo dia de disputa, foi o português Filpac que, jogando de forma agressiva, chegou a liderar boa parte do torneio e garantiu o seu nome na lista dos jogadores que iriam brigar no dia 2 pelo título do maior torneio de poker da história do país.
Uma das estrelas que acabou ficando pelo caminho, foi o carioca Raul Oliveira. Decorridas mais de 6 horas de jogo, os blinds estavam com o valor de 400/800, e Raul com A(ouro) K(Copas) decidiu aumentar para 2.400 fichas, a mesa correu em fold até que Haroldo voltou all-in. Raul pensou por um tempo e decidiu pagar. Haroldo apresentou A (espadas) e J(espadas). O flop - J(Copas) Q(Espada) 6(Espada) deu um par de valetes para Haroldo deixando ainda uma pedida para flush na gaveta. O turn trouxe um 4(Paus), e o river um 3(ouro). Fim de torneio para o carioca.
André Akkari também foi outra queda ilustre do segundo dia. Ele se despediu do torneio já na madrugada de domingo. Sua última mão começou com um aumento de 7.000 fichas feito por Alessandra Braga. Virgílio Aoki voltou um all-in de aproximadamente 23.000 fichas e Akkari pagou com aproximadamente 17.000 fichas, que equivaliam a todo o seu stack. Virgílio apresentou KQs e Akkari um par de valetes. Com um K no turn o brasileiro integrante do “PokerStars Team” se despediu do Rio Poker Fest.
A última mão da noite se deu num embate entre um par de 6 de Fernando Conrado e um par de 9 de Danilo. Com uma trinca no flop, Conrado dobrou suas fichas e passou para dia seguinte. Danilo, apesar da fatiada, também conseguiu sobreviver e se classificou. Juntamente com Conrado e Danilo, outros 50 jogadores conseguiram se qualificar para a grande decisão de domingo. Entre eles, Paraná, Bruno Foster, Alessandra Braga e Virgílio Aoki. O chip leader do segundo dia foi Jonas Fagundes com aproximadamente 117.000 fichas.
Dia de decisão
O Dia 2 do Rio Poker Fest começou muito agressivo. Muitos jogadores buscando ação, muito jogo pré-flop, raises, reraises e all-ins. Baiano Joel Oliveira, que havia conseguido a classificação para as finais no 1º dia do evento, começou o dia short stack e foi uma das primeiras quedas da disputa. Em seguida, Filpac, que jogou grande parte do torneio agredindo, aplicou um raise de 9.700 fichas sobre o big blind de Nordestino, que pagou a aposta. O flop trouxe um 2(ouro) 3(Copas) 10(Espadas) e os dois pediram mesa. Um 3(Ouro) foi a carta mostrada no turn. Filpac então aposta 18.500 fichas e Nordestino volta um raise de cerca de 37.000 fichas. O river é um 3(Ouro) e Filpac pede mesa. Nordestino, no momento possuía mais fichas que Filpac anuncia all-in. Após pensar por um tempo, Filpac paga a aposta e apresenta A J (Paus). Nordestino não mostra as suas cartas, Filpac puxa o pote e chega a 155.000 em fichas. Logo após essa mão, Nordestino, short stack, é eliminado do torneio com A(Paus) 6(Ouro) contra um par de valetes de Virgílio.
O chip leader a essa altura era André Achutti, com aproximadamente 200.000 fichas, seguido de perto por Maridu e por Filpac, que tinham cerca de 170.000 fichas.
O estouro da bolha
Quando os blinds chegaram de 2000/4000 com ante de 400 fichas e, com quase três horas de disputa, chegamos a 92 jogadores e a ansiedade tomou conta do salão. Faltando apenas duas eliminações para o estouro da bolha, o Jogador Guilhermo Apesteguia foi obrigado a entrar de all-in na posição de big blind (possuía apenas 3.600 fichas). Álvaro Otero entra de limp, e, enquanto os outros jogadores decidiam se pagavam ou não a aposta, o Diretor do Torneio, Igor Federal, anuncia que acabava de cair mais um jogador em outra mesa. Com isso, estávamos a um passo do estouro da bolha. Num momento dramático, a mesa corre em fold. No showdown A(Espada) 10(Paus) de Álvaro contra 8(Paus) 9(copas) de Guilhermo. Com o bordo trazendo um 6(Paus) 6(Ouro) Q(Paus) 10(Ouro) K(Copas), Guilhermo acabou caindo na bolha do torneio e o salão explodiu em festa.
Após o estouro da bolha, aconteceram várias quedas de jogadores que vinham se mantendo short stack e estavam segurando o jogo para entrar na zona de premiação. Quando chegamos ao primeiro break, tínhamos 38 jogadores de pé, e o chip leader era Luciano Lutkus com 290.000 fichas. Os irmãos Lutkus, aliás, fizeram um belo torneio, além de Luciano, os Lutkus também estavam representados por Marcelo Lutkus - o Marcelão - como é mais conhecido. Eles fizeram um excelente torneio e estiveram muito próximos de fazer a final table. Luciano foi eliminado quando restavam apenas duas mesas no jogo. Anunciou all-in pré-flop de 138.000 fichas. Renato Lage pagou com A(Espada) Q(Paus), Luciano apresentou A(Paus) J(Copas), não obteve ajuda do bordo e acabou eliminado na 20º colocação. Marcelão caiu logo em seguida na 19ª posição.
Após conseguir uma trinca de 9 obtida no flop - 9(Espada) 9(Espada) 10(paus), Charlão “Caipira” anuncia all-in de cerca de 250.000 fichas, sobre uma aposta de 60.000 fichas feitas por Filpac. Jogando com a mesma coragem que o colocou nas cabeças do torneio, Filpac pagou instantaneamente e apresentou J(Paus) 8(Copas). Charlão mostrou 9(Ouro) e um 3(copas). O turn e o river não trouxeram alterações e Charlão assumiu a ponta do torneio com mais de 500.000 fichas. Apesar da enorme fatiada, Filpac continuou no jogo só deixando o torneio na 16ª posição, eliminado por Rogério Pistola com um par de Q.
A formação da Mesa Final
Com 2(Paus) 2(copas), Alessandro Ginez foi a última queda antes da mesa final. Seu par de dois não segurou a mão e ele caiu derrubado por um par de 8 de Pardal. A mesa final ficou assim:
Com aproximadamente 20 minutos de disputa tivemos a definição do décimo colocado do Rio Poker Fest. O argentino Adolfo entrou de all-in com A(Paus) 6(Ouro) e recebeu instant call do carioca Marcelo Sparanto, que mostrou 10(Ouro) 8(Espadas). Marcelo conseguiu seu par de dez no flop. O turn lhe deu um par de oitos e o river trouxe um novo 10, lhe dando um Full House e eliminando o Argentino.
Alguns minutos depois, após anunciar all-in pré-flop, o Holandês Dirk foi pago pelo último representante Argentino no torneio, Ivan Raich. Dirk apresentou A10s (espada) e Raich AQs (Ouro). O flop não mudou muita coisa e o Holandês, que liderou boa parte do evento, terminou na nona colocação.
Decorrida a primeira hora de disputa, Rogério “Pistola”, com dois pares, aplicou uma enorme fatiada em Ivan Raich e assumiu a ponta da corrida com mais de 1 milhão de fichas. Raich permaneceu no torneio com aproximadamente 300.000 fichas. Logo em seguida, foi a vez de Charlão “Caipira” - com um call no escuro - eliminar o chileno Raul na oitava posição. Matheus Scalabrini foi o próximo a deixar a mesa, eliminado por uma trinca de damas conseguida por Maridu no turn.
Após eliminar Ivan Raich – o último representante estrangeiro ainda no torneio -- com KQs (Ouro) contra Q(Paus) Q(Copas), Charlão “Caipira” começou a mostrar seu jogo. Foram vários raises e reraises e algumas fatiadas. Em uma delas conseguiu ganhar de Rogério Pistola cerca de 600.000 fichas. Como conseqüência, assumiu a liderança do torneio e, com duas horas de disputa na FT, já tinha acumulado 2.400.000 fichas, mais de três vezes o número de fichas do segundo colocado.
A última representante feminina, ainda na disputa, acabou deixando o torneio na 5ª colocação. Maridu caiu com K8s (espadas) eliminada por Rogério Whitaker com A(Ouro) J(Paus). Este foi o início da reação de Rogério.
Igor federal é um dos maiores nomes do Texas Hold’em nacional. Além de excepcional jogador e empresário de sucesso, é uma referência e uma inspiração para todas as gerações de jogadores do país. Além disso, tem agora, também em seu currículo, a experiência de ter dirigido os dois maiores torneios da história do país.
Tivemos uma rápida conversa com o Federal em um dos intervalos do Rio Poker Fest, confira aqui os melhores momentos deste papo.
Federal, conte-nos um pouco sobre a AK&F e sobre a Stack Eventos, empresa que está fazendo a sua estréia aqui no Rio Poker Fest.
Na verdade eu e o Akkari nos juntamos, sabendo que possuíamos uma imagem muito forte no poker. Eu tinha uma experiência empresarial e ele como um homem de negócios. Decidimos juntar os dois nomes, os dois jogadores, os dois conhecedores do poker e fundamos a AK&F.
A AK&F no princípio era baseada na Revista Flop e no site Superpoker. Depois disso, decidimos difundir a empresa em outros braços e em outros produtos. Trouxemos então, o site PokerPepper, uma produtora de vídeo e também a Stack Eventos.
Para a Stack nós chamamos o Elton Czernysz e o Robigol que são dois dos organizadores de torneios com maior experiência no país e estamos aqui fazendo nossa estréia.
E sobre o Rio Poker Fest? Fale um pouco da estréia da Stack, que já começou com pé direito.
Não tem como ter uma estréia melhor. Você tem um torneio com 506 inscrições, batendo todos os recordes do Brasil e da América do Sul. Nunca na América do Sul foi feito um evento com mais de 450 pessoas. Nós fizemos um evento com uma premiação nunca antes imaginada no país, cerca de 750 mil reais, então não tem como estar mais feliz. Nós estamos muito contentes. A Stack Eventos nasce uma empresa vencedora!! Estamos muito satisfeitos com tudo isso.
Sem dúvida o Rio Poker Fest escreveu mais uma página na história do Poker nacional. Qual é a satisfação de realizar um evento deste nível num país ainda com tantos preconceitos em relação ao poker?
Ah, sem dúvida. Todos nós estamos construindo aqui a história do poker nacional. Esse é um evento com mais de 500 pessoas, na Barra da Tijuca, que mostra que poker é legal! Que poker é válido! Que poker é lícito! Que poker é esporte!
Em todos os países os campeões desse esporte são exaltados com capas de revistas, entrevistas em programas de televisão etc. No Brasil não poderia ser diferente.
Poker é um jogo de matemática, de habilidade, de paciência de raciocínio, então, não tinha como não ser. O Brasil está aqui reconhecendo a legitimidade desse esporte. E estar participando disso tudo me traz uma satisfação tremenda.
Com tanto negócios, o empresário Igor Federal está muito ocupado. E o jogador? Tem tido tempo de jogar também?
Esse tem sido um dos maiores problemas que eu tenho enfrentado. Ao saber que as empresas necessitam de uma pessoa para estar à frente dos negócios, o jogador acaba ficando comprometido. Mas ele sempre vai existir, ele sempre vai estar em minhas prioridades. Tudo que existiu na minha vida, tudo que a aconteceu comigo, aconteceu por eu ser um jogador de poker. Tudo surgiu a partir deste caminho. Então, essa é uma de minhas prioridades. Pode ser que neste início o lado empresarial e executivo tenha que ocupar mais tempo, mas no futuro as coisas devem estar mais equilibradas e aí, o jogador vai voltar a estar mais presente.