EDIÇÃO 80 » MISCELÂNEA

Card Drops: O Jogador Mais Supersticioso Do Brasil


Khatlen Mitzi Guse
Você alguma vez já teve a sensação de que certas atitudes foram capazes de atrair a boa sorte ou o foco para seguir com uma vibração positiva, mesmo que não exista qualquer prova cientifica de que o efeito é real? É essa sensação que muitos especialistas afirmam ajudar os atletas de diversos esportes.
 
O tenista Rafael Nadal, número 1 do mundo, é conhecido pelas suas infinitas manias. São tantas que ele chega a irritar seus adversários. Nadal é capaz de coçar o nariz 251 vezes, ajeitar a cueca outras 123 em um único jogo, arrumar o cabelo atrás da orelha 248 vezes, além de 220 ajeitadas na manga da camiseta. Ufa! Ele afirma fazer isso para ordenar todo o espaço à sua volta, algo como uma faxina mental, para manter o foco e se transformar em uma máquina de jogar tênis.
 
E quando falamos em simbolismos? Então vem em mente o famoso número 13, odiado por muitos, mas símbolo de sorte para Zagallo, que inclusive atribui grande parte do seu sucesso à sua veneração pelo número 13. E ele ressalta, não é superstição, é fé. O número vem de sua devoção por Santo Antônio.
 
Seja fé, superstição ou simplesmente mania, o poker não é exceção. Muitos jogadores têm seus amuletos, optam por entrar com o pé direito no salão, usar um protetor de carta especial e por aí vai. 
No Card Drops desta edição, conversei com Mothel Santoro, atleta bastante conhecido tanto no Brasil quanto no exterior por suas superstições. Ele nos conta de forma humorada, como encara uma partida de poker com sua rotina infindável de rituais para trazer a boa sorte.
 
Khatlen Mitzi: Em relação a outros jogadores de poker, você se acha muito supersticioso?
 
Mothel Santoro: Sou o mais supersticioso do mundo inteiro!
 
KM: Quais as suas principais manias ou rituais quando vai disputar um torneio?
 
MS: Sempre acordo na mesma hora e uso as mesmas camisas que usei em um campeonato anterior que me dei bem. Sempre entro no salão dos torneios dando quatro pulinhos com a perna direita e sempre coloco minhas fichas do lado esquerdo. Não costumo mover a minha cadeira e entro pelo lado direito dela. Se não consigo receber boas mãos ou demoro a ganhar algumas boas, levanto, saio e entro novamente. Às vezes faço isso repetidamente. Depois de ter saído e reentrado algumas vezes, acho que a culpa é da cadeira, então troco a bendita. Caso eu mude de mesa, levo a minha cadeira para a nova mesa — é até engraçado eu ficar carregando a minha cadeira de uma mesa para outra. 
 
E isso não é só no Brasil, é em qualquer lugar e em qualquer país. Grito “Foooogo” em todas as mãos que ganho, o que é uma marca registrada e todos já me conhecem, também, por isso. Também nunca troco fichas, nem durante nem depois do torneio, a não ser quando a direção as retira do evento. E sempre que passo para o Dia 2 de um torneio, levo minha cadeira para um lugar escondido ou coloco algo que a identifique, assim posso pegá-la no dia seguinte.
 
KM: Você já passou por alguma situação engraçada ou polêmica por causa das suas superstições?
 
MS: Sempre tem um engraçadinho que grita “meeeengo”, “áááágua” ou até “foooogo” quando perco uma mão.  
Uma coisa engraçada que aconteceu foi um dia quando cheguei à minha mesa e ao lado da minha cadeira havia um extintor. Quem havia colocado foi um amigo do rio, o Moacyr.
 
Mas o mais engraçado aconteceu no BSOP de São Paulo, há alguns anos. Quando eu passei para o Dia 2, queria, como sempre, esconder e identificar a minha cadeira. Então peguei uma fita e a coloquei nela. Sou conhecido por todos os diretores dos torneios e dealers também, e todos sabem que faço isso e que sou muito supersticioso. Para tirarem uma com a minha cara, eles pegaram todas as cadeiras e colocaram uma fita em todas elas. Quando entrei para jogar, dando os quatro pulinhos, é claro, vi que todos estavam rindo, e quando fui pegar a minha cadeira, percebi que todas estavam com a mesma fita.  Foi uma gargalhada geral. Foi engraçado, mas eu fiquei “pê da vida”.
 
KM: E como os outros jogadores reagem?
 
MS: Como grito “fogo” em todas as mãos que ganho, isso acaba irritando alguns jogadores de outros países, quando estou fora do Brasil, e alguns reclamam. Mas eu tento explicar e procuro comemorar mais baixo, só que nem sempre consigo, claro. Depende da mão.
 
KM: Você se policia em relação às suas superstições, tenta diminuir ou algo assim? E elas são sempre as mesmas?
 
MS: São sempre as mesmas, mas procuro diminuir a quantidade de vezes que grito. Mas quando isso acontece e começo a perder algumas mãos, para mim, só comecei a perder porque deixei de gritar “foooogo”, aí retorno aos gritos.
 
KM: Em todos os esportes, temos grandes ídolos com suas manias e crenças. Psicólogos citam que esse comportamento pode ajudar no desempenho. Que tipo de sensação você tem com relação a isso? Conforto, bem-estar, sensação de foco? 
 
MS: Todos têm manias e são supersticiosos, uns mais outros menos, e isso nos faz bem, pois quando fazemos a mesma coisa que fizemos antes e ganhamos, temos a certeza de que estamos no caminho certo. Para mim, as minhas superstições são fundamentais, e ninguém vai conseguir me provar que deixei de ganhar ou ganhei porque troquei, fiz ou deixei de fazer. Algumas delas me fazem bem e fazem parte do meu dia a dia.
 
KM: Você tem alguma dica para os supersticiosos do poker? 
 
MS: Sim. Entrem sempre dando quatro pulinhos com a perna direita, não troquem fichas durante o torneio, entrem e saiam quando as mãos estiverem complicadas, troquem de cadeira quando estiverem perdendo...
 



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