A parte I desta série citou Nolan Dalla, diretor de mídia do World Series of Poker: “A batalha geralmente é ganha ou perdida antes de ser travada”. O poker é uma batalha, e jogadores de poker e bons generais aplicam essencialmente os mesmos princípios. E o mais importante, você não deve querer uma guerra justa. Você deve querer todas as vantagens possíveis.
Algumas pessoas desavisadas romantizam o poker e a guerra. Elas vêem isso como competições machistas ou acreditam que as regras de cavalheirismo se aplicam. Ambos são “jogos” predatórios. Os mais fortes devoram os mais fracos, o que é o exato oposto do cavalheirismo. Na verdade, cavaleiros raramente lutavam uns contra os outros, porque era mais seguro ou mais lucrativo aterrorizar camponeses e comerciantes. Conforme disse o coronel Hackworth, um dos militares norte-americanos mais condecorados: “Se você se encontrar em uma luta justa, não planejou sua missão adequadamente”.
Seu objetivo deve ser maximizar sua vantagem. A Parte I discutiu maneiras de aumentá-la antes de jogar. Esta coluna irá lhe ajudar a melhorá-la ainda mais, selecionando:
• O melhor jogo
• O melhor lugar
Selecionando o Melhor Jogo
Vários filmes dão a impressão de que os vencedores querem provar alguma coisa desafiando os oponentes mais duros, mas isso é bobagem hollywoodiana. Vencedores jogam para ganhar dinheiro, não para provar algo. Como bem disse uma autoridade: “Nossa estratégia deve ser não competir contra jogadores avançados... Nós não queremos provar que somos os melhores jogadores da cidade, queremos apenas todo o dinheiro” (Othmer, Elements of Seven Card Stud, p. 173).
Mason Malmuth foi além: “Quando você atinge certo nível de competência no poker, sua decisão mais importante é, de longe, a seleção de jogos” (“The Best Game”, in Poker Essays, p. 122). Se não encontrarem um jogo em que possam ganhar, os vencedores não jogam.
Eles seguem um antigo provérbio: “Não adianta ser o 10º melhor jogador do mundo se os nove melhores estão em seu jogo”.
Um amigo argumentou que a televisão permitiu a alguns jogadores obter grandes lucros com livros, merchandising e assim por diante. Para ganhar visibilidade, eles deliberadamente organizam “desafios” contra os jogadores mais difíceis de se derrotar. Mas 99% de todos os jogadores jamais chegarão à televisão. E, mais importante, alguns jogadores famosos estão falidos.
Nolan Dalla escreveu: “Um dos aspectos mais preocupantes do circuito de torneios é ver a grande quantidade de jogadores que estão constantemente falidos. Não estou falando de maus jogadores ou novatos. Estou falando de nomes e faces que todo mundo reconhece” (“So You Wanna Be a Tournament Pro? Fuhgetaboutit!” www.pokerpages.com/articles/archives/dalla27.htm).
Então estamos de volta à questão que levantei em outra coluna: “Vencedores são brutalmente realistas”. A não ser que você tenha o enorme talento e comprometimento necessário para se tornar um grande profissional, e também estiver disposto a arriscar a falência, deve reconhecer suas limitações e traçar metas realistas.
Se você quiser ganhar de forma consistente, comece pelas mesas fáceis. Talvez você deva jogar de vez em quando nas mais difíceis para desenvolver suas habilidades, mas seus lucros advêm basicamente da identificação e exploração de oponentes fracos. De fato, alguns jogadores razoavelmente competentes se tornam vencedores sendo extremamente seletivos. Eu os chamo de “andarilhos”, porque eles caminham por aí, em busca de jogos fáceis. Se não encontram nenhum, continuam caminhando.
Eles podem jogar apenas quando as partidas são mais fracas, como em fins de semana, feriados e temporadas de férias, particularmente tarde da noite. Turistas e jogadores de fim de semana geralmente são mais fáceis de derrotar do que os jogadores habituais, e as mesas mais fáceis ocorrem cedo da manhã dos sábados e domingos. Os piores jogadores prosseguem jogando muito tempo depois de quando deveriam ter ido dormir. Eles podem estar perdendo muito e tentando ficar no zero a zero, o que os torna ainda mais fracos do que o habitual.
Eles também estão cansados, e podem ter bebido demais. Mesmo jogadores medianos podem facilmente vencer tais partidas. Eles dormem até meio-dia, então jogam descansados enquanto seus oponentes estão cansados, bêbados e/ou desesperados.
Vencedores também procuram partidas que favorecem seu estilo de jogo. Eles mantêm registros que mostram, por exemplo, que ganharam mais dinheiro em mesas com menos participantes do que em full tables, ou que se deram mal enfrentando oponentes muito agressivos. Então participam apenas dos tipos certos de jogo.
Como não fizeram seu dever de casa, a maioria dos jogadores não sabe que tipo de mesas os favorece. Eles apenas se sentam onde encontram um lugar vazio. Alguns perdedores até buscam jogos difíceis. Eles encaram o poker como uma competição machista, como a batalha entre Edward G. Robinson e Steve McQueen em “A Mesa do Diabo” (“The Cincinnati Kid”, Estados Unidos, 1965). Eles jogaram não por dinheiro, mas para duelar, tentando provar quem era o melhor.
É divertido ver confrontações desse tipo, mas elas raramente ocorrem, pelo menos não entre vencedores. Se houver jogadores ruins o suficiente na partida eles dividem o dinheiro enquanto se evitam. Não se trata de “cortesia profissional”, mas apenas de valorizar mais o dinheiro do que o machismo.
Nolan Dolla ensinou muito sobre seleção de jogos, e contou ao Wednesday Poker Discussion Group como ele “trabalha” uma sala de jogos de cartas. Assim que ele chega, circula por ela, tomando notas mentais, procurando os jogadores mais fracos e a melhor ação. Ele quer saber: “Onde está a maior oportunidade para lucrar neste segundo?” Então coloca seu nome nas listas de todos os jogos que lhe apetecem.
Mesmo depois de se sentar em uma boa mesa, ele mantém seu nome nas outras listas, e pode mudar muitas vezes. O jogo dele pode se tornar mais duro se jogadores fracos saírem e forem substituídos por fortes. Ou outro jogo pode melhorar de repente quando alguém “tilta”. Ou ele pode ter uma péssima imagem na mesa por causa de erros e bad beats. A recomendação primária dele é: Procure constantemente o jogo mais lucrativo.
Selecionando o Lugar Correto
Bons generais sempre levam em conta o campo de batalha. Eles querem estar em uma posição que os favoreça, como lugares altos ou com o sol à suas costas. Vencedores do poker aplicam o mesmo princípio escolhendo seus assentos com cautela.
Já que é interessante sentar-se à esquerda ou direita de vários jogadores, eles escolhem ou planejam mudar-se para o melhor assento. Ray Zee, um grande jogador, incluiu “péssimo lugar” em um artigo para a revista online da twoplustwo.com, “Dez Maiores Razões Por Que Você Perde”. Ele escreveu: “Se você se encontra em um lugar com o jogador errado à sua direita ou esquerda, pode ter certeza de que sua conta bancária irá retroceder... Muitas vezes jogos excelentes não valem a pena ser explorados se você não puder mudar de posição na mesa”.
Meu livro, A Psicologia do Poker, incluiu uma questão para cada tipo de jogador: “Onde você deve se sentar?” Em geral, prefira jogadores passivos ou previsíveis à sua esquerda, e agressivos e imprevisíveis à direita. Assim, você não terá muitas surpresas, e poderá explorar as fraquezas de seus oponentes.
Considerações Finais
As partes I e II abordaram os tipos de preparação que geralmente são ignorados ou minimizados. A parte III discutirá a preparação enquanto você joga suas mãos. ♠