EDIÇÃO 66 » COLUNA NACIONAL

Jogando par de valetes no PCA


Felipe Mojave
No mês de janeiro, estive no PCA, o primeiro major de poker do ano. Entre os diversos eventos que acontecem por lá, está o Main Event de US$ 10.300. É um dos torneios mais difíceis do mundo, com todas as mesas recheadas de profissionais. Neste ano, não foi diferente, e os principais jogadores do mundo estavam na disputa pelo primeiro prêmio de quase dois milhões de dólares – e é um sobre uma mão que aconteceu por lá, no Dia 2, contra o profissional norte-americano Bret Richey, que irei falar.

Bret é um jogador muito experiente e tinha um stack de 40 Big Blinds. Eu estava com 32 BBs, e os blinds estavam 800/1.600 com ante de 200. Ele abre raise do UTG para 3.500, e a ação chega até a mim no cutoff. Eu tenho J-J e decido dar o call. Bret jogava no estilo tight-agressive e não jogava muito, nem era um grande defensor de blinds, mas quando entrava em uma mão, normalmente, ia até o fim. Preferi o call porque, contra um jogador como ele, se eu aplicasse uma 3-bet, teria que dar fold para uma possível 4-bet.
A ação fica em heads up, e o flop vem 7-7-2, com duas cartas de copas. O pote tem exatamente 11.000 fichas. Ele aposta 8.000, e eu dou o call. O turn traz um 10, e ele dispara 18.000 em um pote de 27.000 – criando um pote de 45.000. Eu tinha 51.000 fichas antes de começar a mão. Agora, eu tenho 40.000. O que fazer?

Esse é “o momento da verdade”. Como eu não apliquei a 3-bet antes do flop, fiquei em uma situação complicada, pois meu oponente realmente pode ter um par maior do que de Valetes. Pelo seu estilo de jogo, é realmente difícil colocá-lo em um Sete, mas se ele tivesse acertado um full, no turn, com 10-10, qual seria o motivo por trás dessa aposta? Baseado nisso, fui analisar todas as informações.

Definitivamente, a principal razão para ele apostar no turn é defender uma continuation bet, já que o bordo trazia duas cartas de copas, e a quarta carta foi bastante favorável para ele. Há também o fato que, normalmente, eu vou dar call em posição, com pares médios e baixos, e que, nesse tipo de bordo, me farão dar o call no flop, mas que me deixarão numa situação complicada se houver uma aposta forte no turn – o que me faria desistir, ali, com grande frequência.

Agora, um fator fundamental: uma vez que eu pague, no turn, ele terá a certeza que:

- Não estou tentando um draw;
-  Não tenho um par médio ou baixo;
- Estou comprometido com o pote.
Dando call na aposta de 18.000, eu ficaria com um stack de 22.000 fichas para o river e um pote de 63.000 à frente – ou seja, três vezes maior do que o meu stack –, o que me deixaria pot-committed. Sendo assim, independente da carta, no river, eu teria que pagar a aposta dele.

Eu paguei, e o river foi um A. Bom, essa carta muda completamente o plano da jogada. Como eu disse, as chances de ele acreditar que eu tinha um flush draw eram nulas, e mãos como A-Q e A-K estavam no seu range, e elas não teriam o mínimo receio do flush.

Mas não podemos deixar de lado o modo como meu oponente enxerga o todo:
- Ele seria capaz de blefar o river, mesmo eu estando comprometido com o pote?
- Ele apostaria com uma mão de valor extremo, como Q-Q e K-K?
- Ele apostaria se acertasse o Ás?

A situação era extremamente complicada, e ele acabou pedindo mesa. Eu não enxerguei mais nenhum valor na mão e também dei mesa. Brett tinha 8-8, o que me garantiu um excelente pote.

O objetivo deste artigo é lembrar vocês como é fácil se envolver em situações marginais com mãos boas, mesmo em posição, quando optamos por não fazer um reraise. Veja que um detalhe, um pequeno erro, pode fazer com que você jogue seu torneio fora. Portanto, atenção redobrada diante dessas situações. Eu escapei por muito pouco.

Espero que vocês tenham aprendido bastante com essa mão, e o ano de 2013 seja de muito mais aprendizado para vocês, leitores da Card Player Brasil.




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