Você já ouviu um amigo contar uma mão que perdera, em que algo parecia não estar certo? Seu primeiro instinto pode ter sido pensar que ele estava mentindo, ou racionalizando para tentar justificar a jogada ruim para si mesmo. Ele estava buscando apoio para sua jogada ruim quando reinventou o que realmente aconteceu.
Muitas vezes, acho suspeito quando alguém relata uma mão ou uma situação de falta de sorte que não faz sentido como um todo. É claro, às vezes estou sentado à mesa durante a mão em questão, e posso testemunhar a ação. Isso aconteceu recentemente durante um evento no Harrah’s Open, em Atlantic City. Farei um breve resumo, e então descreverei a reinvenção, que foi realmente fantástica.
Estou no big blind, e um jogador sólido, porém previsível, está sentado imediatamente à minha esquerda. Ele estava muito afim de discutir as jogadas dos outros, e já havia errado várias leituras que para mim pareciam bem óbvias (um comentário a parte: os jogadores frequentemente revelam muito sobre si mesmos quando discutem as jogadas dos outros, já que todos nós tendemos a projetar nosso próprio referencial. Preste atenção nisso, e tire proveito). O Sr. Sólido dá um raise padrão de três vezes o big blind. Ocorrem três calls até que a ação chegue a mim. Tenho um par de dois e dou call. O flop vem 8-4-2 rainbow. Eu peço mesa, achando que eventualmente conseguirei ação. Para minha surpresa, a mesa roda em check.
O turn traz um valete, e coloca uma segunda carta de ouros no bordo. Faço uma aposta de aproximadamente o tamanho do pote. O Sr. Sólido imediatamente dá call. Os dois próximos jogadores dão fold, e o jogador no button demora bastante a pagar. O river traz uma terceira carta de ouros. Nessa altura, eu peço mesa. O Sr. Sólido também. O button espera um pouco, e então dá uma grande overbet. Não tive pressa para decidir o que fazer. Se eu pagasse e perdesse, ficaria muito fraco. Eu não estava tão preocupado com o button. Achei que ele estivesse apenas fazendo uma jogada. No entanto, o primeiro a ter dado raise me assustava. Ele poderia ter A♦ K♦. Mas será que ele daria check, torcendo para que o button apostasse? Isso não fazia sentido, então eu paguei, e o Sr. Sólido mostrou um par de ases antes de dar muck. Minha leitura estava certa, e o jogador no button não tinha nada. Puxei um grande pote.
Quando chegamos à mesa semifinal, eu estava outra vez sentado logo à direita do Sr. Sólido. Para minha surpresa, ele mencionou aquela mão, e reclamou sobre seu par de ases ter sido quebrado. No entanto, ele se vangloriou de ter perdido o mínimo, porque o jogador que flopou uma trinca havia dado uma grande tell. Tive que rir por dentro. Não que eu ache que eu seja perfeito, mas essa tell, cá para nós, eu não dou. Mais importante, ele não perdeu o mínimo, e eu acho que o possível flush no river poupou-lhe mais dinheiro do que qualquer “tell espírita”. Finalmente, se ele era tão astuto em ler os outros, não deveria saber que o jogador que deu a tell estava sentado bem ao lado dele...? Não pude deixar de olhar para ele, que ficou muito sem graça quando a ficha finalmente caiu.
A moral da história é que, frequentemente, muitos jogadores deixam que seus egos os impeçam de ser honestos com seu jogo. Em certa medida, eles reconhecem que cometeram um erro, já que estão mudando os fatos ao contar a história. No entanto, até que aceitem os erros em vez de escondê-los, nunca vão melhorar. Pense nisso, e se assegure de ser completamente honesto ao examinar suas jogadas, independente das consequências. ♠