Há 5 anos, era criado o Brazilian Series Of Poker. Vocês sabem como começou? Leandro Brasa e eu fazíamos o Circuito Paulista há um ano e meio mais ou menos. Naquela segunda temporada, o CPH perdeu a característica de rodar pelas cidades do estado de São Paulo (como fez na primeira temporada) e se fixou na capital – a infra-estrutura que os clubes ofereciam eram um atrativo e tanto. Quando rodávamos com o CPH, tínhamos que alugar locais, levar mesas, mobilizar uma estrutura, arcar com custos de segurança, transporte do material e por aí vai...
A preocupação em fazer um torneio de qualidade e com maior conforto para os jogadores já estava presente. A Nutzz oficialmente ainda não existia, mas já começávamos a imprimir uma pegada de empresa. Como crescer? Como oferecer um bom produto? Como fazer esse produto se pagar e dar lucro? E o principal: para onde ir? Qual o objetivo do Circuito Paulista? Qual o nosso objetivo com o poker? Crescer. Transformar o poker em esporte.
É claro que o poker se transformou no meu negócio. Vi a oportunidade de ganhar dinheiro com o que eu gostava de fazer. Tem coisa melhor? Mas como planejar para que tudo dê certo? Algumas dessas perguntas e respostas não vieram em uma ordem cronológica direta. Tínhamos o instinto de que estávamos no caminho certo, o feeling de que conseguiríamos vencer.
Nessa época, três outras figuras conhecidas de todos vocês participaram desse processo: Igor Federal, DC e André Akkari. Cada um de uma maneira diferente. Um dia, quando estávamos ao final de uma etapa do Circuito Paulista, André Akkari chegou com uma proposta: ele tinha um projeto que incluía dez pontos a serem trabalhados para o poker – queria fazê-los acontecer junto conosco, queria montar uma empresa e seguir com o poker. Decidimos começar a sociedade e trabalhar os dez pontos que André sugeriu e mais alguns que estavam na nossa cabeça. A Nutzz surgia? Não ainda. Surgia a ALL (André, Leo e Leandro) Eventos.
Aí, entrou a figura do Igor Federal. Na época, um dos nossos melhores amigos. Íamos juntos jogar torneios e ele, com toda experiência empresarial que possui, dava alguns “pitacos”. Um dia, fui almoçar com ele em Campinas. Nessa conversa, entre outras coisas, ele me apresentou o nome que já tinha sugerido a Akkari: Nutzz! Pequeno, fácil de lembrar e criativo. Nuts é a melhor mão no poker, mas significa também algo ousado, maluco, único. Quem diria que, anos depois, Igor ia fazer parte dessa história de modo ainda mais contundente.
Quanto à sociedade inicial, durou 3 meses. Dos 10 pontos que o André queria implementar, só houve tempo para começar um deles. Algum problema no caminho? Não. Na realidade, estava escrito que ele iria alçar outros voos juntamente com o PokerStars. E esse foi um dos passos mais importantes para o poker no Brasil: o maior site do mundo contratar um brasileiro. E vejam o quanto isso até hoje abre portas para o poker nacional.
Mas eu falei que um ponto foi iniciado, e aqui retomamos nossa história. O ponto que André trouxe era que ele acreditava que, para espalhar o poker no Brasil, tínhamos que ter um torneio nacional, um evento que rodasse o país. Foi aí que, depois de muita discussão sobre o tema, nasceu o BSOP. Não era pra ser um evento que desse lucro (os custos eram altos para o pequeno público que na época viajaria com o evento), mas plantar uma semente para vê-la crescer. Era começar cedo para que, com o tempo, essa árvore se desenvolvesse, desse frutos e expandisse suas raízes.
O primeiro ano foi de muito suor e contou com a participação dos jogadores que fundaram o poker no Brasil. Era uma época em que ainda havia um pequeno grupo que participava de todos os eventos e viajava junto. Eram formadores de opinião. Se dez pessoas se juntassem para boicotar uma etapa, tínhamos um fracasso nas mãos. Se essas mesmas dez levassem cada uma um amigo, tínhamos um recorde de público. Os eventos eram para 80 jogadores no máximo, e os locais tinha uma infra-estrutura bem menor. Tudo ainda era na base do improviso, mas já com uma empresa por trás, organizando os eventos e tentando fazê-los crescer.
Minha memória não me permite escrever uma história clara, mas, quando eu me dei conta, já estávamos na segunda temporada, fazendo eventos que chegavam à espantosa marca de 120 jogadores! O torneio já era conhecido em todo o Brasil, e não havia mais a dependência daquele grupo de dez jogadores, pois, a cada etapa, o público era diferente, mas sempre eminentemente local. Ou seja, não se viajava para jogar o evento: o público da própria cidade que hospedava o torneio compunha 80% dos jogadores. Claro que o BSOP começou a ter seguidores – uns 30 jogadores já iam a todas as etapas.
E, mantendo este ritmo, a terceira temporada chegou. Naquele ano, o recorde foi de cerca de 200 jogadores. Excelente! Quase dobramos em relação ao ano anterior, e as etapas estavam cada vez mais profissionais. E é nesse ponto que devo fazer a pausa para destacar uma pessoa que citei logo acima. Quando ele começou a nos ajudar nos torneios, era apenas um menino. Uma vez ele me disse que o sonho dele era jogar uma etapa do BSOP. Nunca deixei. E acho que esse sonho ele nunca vai realizar, porque hoje ele comanda o BSOP. Devanir Campos, mais conhecido como DC, passou de ajudante de organização a diretor de torneios mais renomado do Brasil (ninguém conhece regras como ele) e agora dirige todo o evento (e não apenas o torneio). Ele começou como uma mão amiga ajudando, e hoje é um sócio da empresa e parte da alma dessa instituição. Foi amadurecendo junto com o crescimento do torneio. Errou pelo caminho – quem nunca o fez? – mas sempre amou o que fazia: o mesmo amor que Leandro e eu temos pelo poker e por torná-lo um esporte reconhecido.
E o sonho começou a se tornar realidade no quarto ano: dois patrocinadores, eventos em resorts e recordes quebrados a cada etapa. Comemoramos os 208 na primeira etapa, só para ver um recorde em Balneário Camboriú com mais de 250 jogadores, e, quando achamos que aquele seria o tom do ano, em Curitiba mais de 450 se inscreveram. Sonho. Só que ainda dava para ir mais longe, então lançamos o BSOP 500 com a meta de colocar mais de meio milhão de reais de premiação. O Rio de Janeiro pulverizou o recorde, colocando 641 jogadores: recorde latino-americano um ano atrás. E esse foi o ano do BSOP: um ano de recordes e crescimento de quase 300%. E tudo isso levou à realização do nosso sonho: ter um patrocinador investindo para colocar o nosso torneio na televisão.
Em 2010, o BSOP vai invadir a telinha. Bom, isso todos já sabem. Mas podia ser de uma maneira meia-boca, aos trancos e barrancos e de forma amadora. Não queríamos que fosse assim. Para crescer, era preciso investir: os principais patrocinadores – Full Tilt e COPAG –, que acreditaram no BSOP antes de todo mundo, estavam presentes. Não se faz um evento grandioso de forma tímida, era preciso arriscar: de cara, resolvemos fazer um evento que, se desse lotação máxima, talvez ainda assim não cobrisse os custos da realização. Por quê? Suicídio empresarial? Não. Depois de plantar a semente e vê-la crescer, chegou a hora de podar e embelezar a árvore. Dar uma forma e torná-la visível para o mundo. Ainda não chegou a hora de colher os frutos – 2010 é o ano de trabalhar, de gastar a nossa energia física e mental para fazer o evento crescer e aparecer, de investir e conseguir o retorno na forma de apoio dos competidores e futuramente das empresas. O poker no Brasil vai crescer quando as empresas começarem a investir nos negócios ligados ao nosso esporte.
O BSOP precisa desses investimentos, e estamos indo buscá-los. Colocamos o nosso circo na rua. A caravana BSOP vai varrer esse país e fazer eventos grandiosos em todas as cidades por onde passar. Os competidores deram sinais em São Paulo de que farão a sua parte comparecendo em massa.
Com a comunidade voltada para um mesmo objetivo, iremos triunfar. E como foi o BSOP? Chorei ao ver mais de 1.000 pessoas querendo se inscrever, com mais de 200 querendo jogar e não tendo vagas para acomodar a todos, ao ver aquele salão magnífico e o palco montado para o programa de televisão, ao bater o recorde latino-americano, ao ver os dealers uniformizados e seguindo padrões de conduta, ao ver as fichas e os baralhos personalizados, o salão inteiro decorado e os competidores se respeitando. Senti-me em Las Vegas. Ou melhor (não quero cometer injustiças), me senti no Brasil mesmo, com um super orgulho de ser brasileiro e de ver que o que fazemos pode ser até melhor do que o que existe lá fora.
Espero continuar vivenciando esse crescimento e realizando meu sonho, ou melhor, nosso sonho. Sonho não só de todos que trabalham com o BSOP, mas também de todos que estão lendo este especial: fazer o nosso esporte ser reconhecido em todo o país.
Sucesso para todos nós. E espero ansiosamente ver o que o slogan do BSOP promete: você na TV! ♠
TEMPORADA JÁ COMEÇA A TODO VAPOR
Texto Base: Amúlio Murta
Matéria em colaboração com a Revista Flop
Abre o Jogo
A expectativa era grande depois que a Nutzz anunciou novidades para a temporada 2010 no começo do ano. As inovações incluíam o Full Tilt Poker como patrocinador exclusivo do circuito, a oficialização do BSOP como o Campeonato Brasileiro de Poker por parte da Confederação Brasileira de Texas Hold’em, e cobertura e transmissão das etapas pela ESPN.
Com a capacidade máxima atingida, a organização teve que recusar mais de 100 jogadores, que puderam participar dos eventos paralelos. Ao todo, 788 inscritos estiveram presentes no main event, batendo um novo recorde latino-americano. A estrutura de TV e a organização do evento impressionavam a todos no salão do WTC Sheraton, e muitos pareciam não acreditar que o poker nacional havia alcançado aquele nível.
Dentre os presentes, destaque para Yael Rosenberg, representando a Secretaria de Esportes do Município de São Paulo, do apresentador Elia Junior, e de várias mídias esportivas, como o jornal Estado de São Paulo, o portal UOL, a Rede Gazeta de Televisão e canal Band Sports.
Dias 1A e 1B
Nesta temporada, o BSOP será disputado em quatro dias. Na etapa de abertura, o Dia 1-A começou em 26/02, com 390 jogadores. Muitos nomes conhecidos estiveram presentes, a exemplo dos Full Tilt Red Pros Christian Kruel, Raul Oliveira, Leandro Brasa e Caio Pimenta. Destes, apenas Caio conseguiu passar para o Dia 2, junto com mais 102 competidores. Destaque para Michel Helal (RJ), que terminou como chip leader com 240K fichas.
O Dia 1-B começou com 398 inscritos, incluindo Felipe Mojave, Edu Sequela, João Marcelo, Vovô Leo e o campeão do Torneio dos Campeões 2009, Márcio “Blue Chip” Araújo. Ao final, após quase 12 horas de disputa, 127 jogadores se garantiram no dia seguinte. O líder em fichas Eduardo Cubas (DF), com 243K.
Dia 2
O dia do estouro da bolha começou com 230 players. Com a zona de premiação tendo início a partir da 81ª posição, os jogadores ficaram ITM após cerca de seis horas de disputa: na mesa da TV, os jogadores Ademir e Luiz Mitsuo se envolveram em um all-in pré-flop. Com uma trinca de ases, Ademir eliminou Luiz Mitsuo na 82ª colocação. Depois disso, o jogo se estendeu até as seis da manhã da segunda-feira (29/02), quando os diretores EltonCz e Devanir “DC” Campos decidiram interromper o torneio.
Dia Final
O último dia da primeira etapa começou com 12 competidores na luta por uma vaga na primeira final table da temporada. Nessa altura, a faixa de premiação variava entre R$9.500 e os R$165.000 do campeão.
A segunda eliminação do dia acontece em uma mão interessante. Mário César, com A♠ J♠ no UTG, anuncia seu all-in com 595K fichas. No button, José Castro volta all-in por cima com K♠K♣, acerta uma trinca no flop e começa a comemorar. Mas as cartas seguintes são T♦ Q♥, montando um straight para Mário. Castro passa da euforia ao desespero e começa a torcer para que dobre uma carta no bordo, o que lhe daria um full house. No turn, o 5♠. Mas no river bate um T♥ – par na mesa e full para José Castro. Incrível.
Entretanto, José deixaria a disputa poucas mãos depois, caindo na bolha da mesa final, após perder um coin flip para o folclórico jogador Márcio “Kamikase”, que ampliava sua vantagem sobre os demais adversários e chegava à mesa final como chip leader. Logo atrás vinha Stetson Fraiha, em excelente fase. Além de ter sido mesa finalista do maior evento realizado no país em 2009, o Full Tilt 750K, recentemente ele venceu uma etapa do FTOPS, a prestigiada série online do Full Tilt.
E a primeira mesa final do Brazilian Series Of Poker 2010 ficou assim:
Final Table
O primeiro a deixar a mesa final foi Luiz Ruppel, eliminado por Alexandre Nudelman, que também decreta o fim da linha para o 8º colocado: com 4-4, ele trinca no flop e quebra o par de dez de Carlos “Carbingo” Cristiano.
Num coinflip, Pedro Todorovic elimina Laucídio Coelho na 7ª colocação. Após essa mão, ele assume a liderança com 3.450.000 fichas, seguido de perto por Kamikaze, que vinha mostrando força e puxando potes. O próximo a dar adeus foi Marcos Canton, vitíma de Stetson em um duelo de blinds.
Com os blinds em 100.000/200.000 e antes de 20.000, o jogo fica mais duro. É quando Pedro resolve fazer fila, eliminando Stetson em quinto, Marco Túlio em quarto e Kamikase em terceiro.
Assim, o heads-up foi decidido entre o catarinense Pedro Todorovic e o paulistano Alexandre Nudelman. Na mão que praticamente definiu o confronto, Pedro flopa um straight e fica com quase todas as fichas de Alexandre. Pouco depois, este vai all-in com K♣4♣ e recebe call de Pedro, com 7♦7♥. Outro sete bate no bordo e põe fim à disputa.
Pedro Todorovic garante o primeiro bracelete da temporada e a vitória no maior torneio já realizado na América Latina, saindo na frente na briga pelo título de campeão brasileiro de poker 2010.
História Viva
O torneio de abertura da temporada foi um marco, um divisor de águas para o poker brasileiro, um evento para encher os olhos e dar orgulho a todos que vêm trabalhando pelo crescimento e pelo reconhecimento da prática do poker desportivo no país. O BSOP começou 2010 com pé direito e tem tudo para ter um ano incrível.