Joey dá raise para $30 do small blind com 10♥ 7♥. O vilão dá call do big blind.
Craig Tapscott: Você tinha alguma leitura do vilão antes dessa mão?
Joey Lawrence: Eu não tinha nenhuma leitura específica dele. Apesar disso, tinha algumas hipóteses a respeito. Primeiro, como ele tinha feito um buy-in de 100 big blinds, eu supus que ele fosse um jogador regular e não um fish qualquer. Segundo, como eu nunca o tinha visto antes na $5-$10, imaginei que ele fosse um jogador regular de $2-$4 ou $3-$6 tentando a sorte.
Flop: 7♠ 4♣ 2♠ (pote: $60)
Joey aposta $55. O vilão dá call.
JL: Quando meu oponente dá call, sua gama é muito ampla. Ocasionalmente, ele vai me derrotar com uma trinca, 8-8, 9-9 (T-T+ geralmente teria tribetado pré-flop), A-7 e talvez K-7 suited ou Q-7 suited. Com mais frequência, no entanto, ele vai ter uma mão do tipo straight draw, como A-5, A-3, 6-5 ou 8-6, ou algo fraco com um par, como 8-7, 7-6, 5-4, A-4, 5-5 ou 6-6. Às vezes ele vai ter uma mão high-card forte como A-T ou A-J que ele acha que está à frente (já que eu provavelmente daria uma continuation-bet nesse flop com toda a minha gama), e às vezes vai ter apenas floats. Essas em geral são as mãos com backdoor equity, sejam elas apenas overcards ou algo como 9-8, que pode melhorar com muitas cartas no turn e entrar na briga.
Turn: 9♥ (pote: $170)
CT: Essa é uma carta perigosa para a sua mão?
JL: Na verdade não. Mas muitos jogadores instintivamente desanimam quando uma overcard aparece diante de seus pares. Esse é um habito ruim, e o que você deve ter em mente mesmo é como a carta do turn realmente afeta sua gama, a gama de seu oponente e suas equidades relativas. Se você pensar assim, o 9 na verdade é uma carta fantástica para mim. Ela não melhora nenhuma das mãos prováveis do meu oponente, a não ser talvez 9-7 ou 9-8. Ela melhora 9-9, é claro, mas eu já estava atrás de 9-9 de qualquer maneira e, quanto a isso, a carta é boa porque torna menos provável que meu oponente tenha 9-9. Além do mais, se eu estava à frente no flop, é provável que ainda esteja à frente no turn, então...
Joey aposta $144. O vilão dá call.
CT: Isso lhe deixou apreensivo? É importante saber o que esse call faz pela gama do vilão.
JL: Quando meu oponente dá call na aposta do turn, eu acho que sua gama é muito mais restrita. É improvável que ele esteja pagando sem odds para ver draws improváveis e geralmente vai ter uma mão com algum valor de showdown: um par de quatros, ou A-5 ou A-3 na pior das hipóteses. Eu também posso até descartar trincas e 9-7 da gama do meu oponente. Embora essa seja uma boa situação para fazer slowplay com uma mão assim, posso dizer com convicção que a maioria das pessoas é simplesmente incapaz de fazer slowplay no turn.
River: K♣ (pote: $458)
CT: Essa carta muda alguma coisa para você?
JL: O rei, assim como o 9 no turn, é totalmente inútil em termos de nossos valores relativos de mão. Meu oponente não pode ter formado um draw que me derrote com o rei, pois é impossível que ele tivesse chegado até ali com um. Além disso, se eu tinha a melhor mão antes do river, ainda a tenho agora.
CT: Você pode extrair algum valor?
JL: O problema é extrair valor de mãos piores. Embora eu possa apostar no flop e no turn e esperar um call de 8-7, 7-6, 6-6 ou A-4, é quase impossível apostar nesse river e fazer com que essas mãos deem call pela terceira vez. Como diz o velho ditado, se você não pode esperar um call de uma mão pior, não deve apostar, então, num primeiro instante, parece que eu não devo apostar nesse river.
CT: Desde o começo você supôs que o vilão era um jogador regular inteligente. Como você pode usar essa inteligência?
JL: Bem, quando você chega a limites médios, precisa começar a pensar no que seu oponente acha que você tem. Quando eu aposto no turn, posso fazer isso com muitas mãos pelo valor. Basicamente, qualquer A-7 ou melhor ele pode presumir que eu aposto pelo valor. Além disso, embora muitos jogadores dêem tiros com overcards perigosas no turn, como ases e reis blefando, um 9 geralmente não é uma carta com a qual os jogadores blefem, então meu oponente provavelmente não acha que eu tenho muitos blefes puros na minha gama no turn. Contudo, tenho alguns semiblefes, como J-T, 6-5 e A-5.
CT: E como todos esses semiblefes não formaram nada...
JL: ... há boas chances de eu continuar blefando com o perigoso rei. Entretanto, ainda tenho um número considerável de mãos em minha gama com que posso apostar pelo valor. Ademais, se eu colocar uma quantia normal de dois terços do pote, ainda assim será muito difícil para ele dar call. Ele sabe que o rei não me ajudou e que eu, portanto, posso apostar no river com uma mão como J-J ou A-9 pelo valor. Então tive que ir além e dar overbet pelo valor.
Joey aposta $525.
CT: O que você está tentando induzir aqui?
JL: O propósito de dar overbet nessa situação é polarizar sua gama aos olhos do seu oponente. Quando as pessoas dão overbet, elas geralmente têm o nuts ou um completo blefe. As pessoas normalmente não dão overbet com mãos fracas como a minha, pois sabem, com razão, que nenhuma mão pior daria call se eles apostassem tão alto. O grande benefício da overbet, contudo, é que, do ponto de vista do seu oponente, ela tira muitas mãos de valor da sua gama. Nesse caso, embora meu oponente possa achar que eu sou capaz de apostar com J-J ou A-9 pelo valor nesse river, ele não acharia que eu daria overbet.
CT: Como isso afeta a gama de mãos do vilão?
JL: Bem, o corolário disso é que minha overbet na verdade fortalece a gama de mãos relativa do meu oponente. Se ele tem, digamos, 7-6 suited e eu aposto uma quantia normal de dois terços do pote, ele tem medo de perder para J-J, A-9 e K-K. Mas, se eu dou overbet, ele fica com medo de perder apenas para K-K, ou dois pares ou melhor, o que é mais raro. Além disso, blefes como J-T ou 6-5 se tornam proporcionalmente mais prováveis na minha gama. Isso significa que, deixando as pot odds de lado, meu oponente na verdade fica mais propenso a dar call em uma overbet do que em uma aposta normal de dois terços do pote. Sob essa perspectiva, uma mão como 7-6 suited agora tem a mesma força de uma mão como T-T ou mesmo A-A. Todas elas são simplesmente “pega blefe”. Ele ganha se eu estiver blefando e perde se eu não estiver.
CT: Eu entendo fazer isso com o nuts para induzir um call, mas apenas com o terceiro par?
JL: É aqui que a leitura de mãos se torna realmente crucial. Se você tiver convicção de que está à frente, não importa se tem o nuts ou um mero kicker melhor que o do cara. De uma forma ou de outra, você quer um call. Ao dar overbet numa mão que é apenas um pouco melhor do que a do meu oponente, estou tecnicamente fazendo uma “fusão de gamas”. Mas o que importa é que eu estou tentando fazê-lo achar que sua mão é mais forte do que realmente é, e obter um call que, de outra forma, seria evitado.
O vilão dá call e revela 8♣7♦. Joey ganha o pote de $1.508.
Joey Lawrence é instrutor do CardRunners.com. É também estudante do quarto ano de comércio exterior/direito da University of Sydney. Especialista em cash games de no-limit hold’em six-max, ele pode ser encontrado jogando em qualquer lugar entre os limites de $5-$10 e $25-$50 online.