Quando se trata de pressentimentos, olhar em retrospecto tende a não ser muito preciso. Ao invés disso, tende a se distorcer com imagens daquele full house que poderia ter sido seu se você tivesse ido com aquele 6-3 offsuit quando teve um pressentimento. Ou, o que é mais provável, que esse olhar em retrospecto seja totalmente dominado por aquela queda na gaveta que teria batido quando você simplesmente sabia que um daqueles quatro outs ia aparecer no river.
Essas são mãos que tendemos recordar e que reforçam nossa noção de que nossos pressentimentos frequentemente se concretizam. Quando aquela queda na gaveta não se materializa, nós culpamos os deuses do poker e amaldiçoamos nossa má sorte, mas não colocamos em dúvida nossos pressentimentos. Obviamente, se estivermos jogando um poker objetivo e emocionalmente isento, tomamos boas decisões com base nas informações disponíveis no momento em que tal decisão é tomada. Seus possíveis outs certamente são um fator a se considerar, mas sua escolha deve ser feita com base na probabilidade real desses outs, não em uma probabilidade aumentada com base em um pressentimento.
Eu não nego completamente a noção de pressentimento. Se isso lhe ajuda a diversificar seu jogo ou lhe dá autoconfiança para fazer um semiblefe de vez em quando, isso pode ser bastante útil. Mas use-o apenas em perspectiva e para ajudar seu jogo, não como desculpa para uma postura loose e errática. A conclusão é que, quando se trata de pressentimentos, é melhor ignorá-los completamente quando se tratar de visões de que carta vai sair do baralho. Se você for do tipo que gosta de jogar com base em pressentimentos, não deve se preocupar em diversificar seu jogo. Em vez disso, deve aprender a jogar um poker objetivo e dissipar tais sensações quando elas invadirem seu estado consciente (ou mesmo inconsciente). A maioria de nós provavelmente os utiliza mais do que desejamos admitir. Eles são uma falha em nosso jogo e devem ser eliminados.
Há outra área do poker, contudo, em que a maioria de nós não utiliza nossos pressentimentos com frequência suficiente. Estou me referindo à análise dos nossos oponentes. Eu tenho certeza de que há bastantes vezes em que reconhecemos fraqueza em nossos adversários, mas mesmo assim não fazemos nada a respeito, pois tampouco temos uma boa mão. É difícil pôr em prática o poder de suas convicções quando você não segura nada além de suas cartas sem par nem draw. Ainda assim, esses “pressentimentos” que temos sobre nossos oponentes são muito mais reais do que os que temos sobre as cartas que estão por vir.
Pressentimentos sobre nossos oponentes se baseiam na observação e em como a mão está sendo jogada. Se você for do tipo de jogador que estuda os adversários, não se trata de pressentimento. Essas são situações exploráveis das quais você deve tirar vantagem. É a razão por que você deve jogar o jogo. Pense nisso. No primeiro exemplo de pressentimento que discuti, você está pagando com base em uma crença irracional de que pode prever a carta que sairá do baralho. Na segunda hipótese de pressentimento, você pode dar raise e afastar seu oponente da mão se sua observação estiver correta. Qual aposta parece ser melhor? Por mais óbvio que pareça, a maioria dos jogadores iniciantes tende a se sentir muito mais confortável jogando o primeiro pressentimento do que o segundo.
Se você sentir que precisa jogar com base em pressentimentos, pelo menos escolha aqueles que se baseiam em algo mais tangível do que uma mera sensação. ♠
David Apostolico é o autor de Compete, Play, Win: Finding Your Best Competitive Self. Você pode contatá-lo em thepokerwriter@aol.com