EDIÇÃO 28 » COLUNA INTERNACIONAL

Provocando Ação Com Indução ao Erro

Valor agregado a mãos futuras


Roy Cooke

O poker é jogado por pessoas emotivas e cautelosas. As decisões delas, tanto atuais quanto futuras, devem ser computadas em suas equações atuais do poker. Fazer jogadas que provoquem futuras más decisões por parte de seus oponentes agrega valor às mãos que você vier jogar. Às vezes esse valor é tão grande que vale a pena fazer jogadas que têm péssima expectativa, uma vez que o valor perdido será mais do que recuperado pelo aumento de jogadas ruins do seu oponente no futuro. Executar tais jogadas no momento em que elas terão o maior efeito sobre seus oponentes e o menor custo para você em termos de equidade perdida vai lhe dar o maior valor.

O final de semana do Dia do Trabalho é uma época agitada para o poker em Las Vegas. Eu me sentei para uma mesa de limit hold’em de $30-$60, e tendo postado do button, eu olhei para baixo e vi A 2. Um turista com o qual eu jamais havia jogado antes, que parecia estar desconfortável ali, abriu raise do under the gun e foi pago por vários jogadores. Como eu já havia postado, dei call. O small blind também deu call, e o big blind, um jogador loose-aggressive com o qual eu já tinha jogado várias vezes antes, tribetou. Todo mundo deu call.

O flop veio 9 8 7, me dando o nut flush draw. Pedi mesa check no bordo coordenado, achando que não havia muitas chances de todo mundo dar fold caso eu apostasse. Além disso, eu não queria iniciar as apostas diante de um raiser pré-flop que muito provavelmente iria aumentar e cortar minha ação. Minha mão ganharia mais mantendo jogadores para me dar ação caso eu conseguisse acertar meu flush. O Sr. Loose-Aggressive apostou, e tomou raise do turista. Dois jogadores deram call, assim como eu e o Sr. Loose-Aggressive.

A carta do turn foi o 10, colocando quatro cartas para uma sequência no bordo. Todos deram check até o turista, que contemplou por um momento e apostou. Eu achei que a hesitação dele era genuína, e que ele provavelmente não tinha um valete. Ambos os jogadores entre nós dois deram fold, e chegou a minha vez de falar. Dessa vez, achei que um raise possivelmente iria levar o pote. Contudo, eu tinha acabado de chegar à mesa. Eu nunca tinha jogado com esse oponente em particular antes e não tinha nenhum conhecimento de suas tendências.

Mesmo que um raise não leve o pote agora, um aumento aqui seguido por uma aposta tomando a iniciativa no river pode levar. E, se isso não funcionar, pelo menos eu posso agregar algum valor em uma mão futura. As circunstancias para uma jogada de indução a erro eram ideais, pois eu tinha acabado de me sentar e aquele jogador parecia inseguro, alguém que eu poderia confundir em ações futuras.

Aumentei. Para minha decepção, o Sr. Loose-Aggressive pagou, assim como o turista. Eu ainda planejava atirar de novo no river, mas sabia que o raise tinha perdido muito valor.

Nada disso importou quando o 6 bateu no river, colocando um straight no bordo e me dando o nut flush. Eu alegremente atirei uma aposta. Ambos os oponentes pagaram. O turista me jogou um olhar bizarro e mostrou um par de dez: ele tinha top set. O Sr. Loose-Aggressive balançou a cabeça e mostrou um par de noves, tendo flopado top set.

Foi um ótimo começo para a minha sessão. Ganhei muito no meu primeiro pote. E coloquei dois oponentes mentalmente onde eu os queria — confusos e emocionalmente atordoados. Quando um assento situado antes deles dois ficou vago, eu fui para lá e passei a noite inteira fazendo todos os esforços razoáveis necessários para me envolver nos potes deles. Nenhum dos dois deu fold em nenhuma mão remotamente marginal contra mim. E, o mais importante, eu sabia que eles não dariam e ajustei meu jogo de acordo com isso. Joguei a sessão até ambos quebrarem, e obtive uma vitória maciça!
Sim, eu tive sorte na minha mão inicial e tive uma boa fase depois. Mas grande parte de minha vitória se deveu ao jogo que executei na mão inicial. O valor da jogada turn-raise foi aumentado pelo fato de eu tê-la executado no começo da minha sessão e jogado com ambos os oponentes ao longo da noite. Certos de que eu jogava todo draw de maneira agressiva e blefava muito, eles pagavam cada mão formada que eu tinha.

Quando dei o raise no turn, a combinação do valor do blefe com a indução ao erro a transformou em uma jogada de EV+ grande, independentemente do resultado. Embora eu não soubesse no momento, o valor do blefe certamente estava diminuído pelo fato de eu estar enfrentando duas trincas. Dito isso, ele foi aumentado pela presença das quatro cartas sequenciais no bordo. Embora seja difícil de quantificar, o blefe sozinho pode ter tido valor suficiente para transformar o raise no turn em uma jogada de valor esperado positivo.

O valor da indução a erro foi aumentado pelo fato de eu ser novo no jogo, pois as impressões obtidas no começo da sua sessão, quando os jogadores prestam mais atenção a você, demoram mais para ter valor. Eu ter tido sorte e acertado uma das sete cartas que formariam minha mão reforçou as impressões inicias ainda mais. Esse efeito somado nos dois oponentes tornou a jogada altamente positiva.

Alguns teóricos do poker sugerem que você deve fazer jogadas pouco usuais para induzir a erro, sabendo que a vantagem negativa pode voltar para você na forma de calls ruins por parte de seus oponentes. Mas um método muito mais efetivo é utilizar jogadas pouco usuais, como a aqui exposta, que têm valor além da indução a erro. O efeito é o mesmo, e você perde muito menos em forma de expectativa negativa.

É um princípio chave do jogo você precisar induzir seus oponentes a dar call quando deveriam dar fold, e a dar fold quando deveriam dar call. Você não pode se confiar apenas no baralho para criar as condições certas para isso. Você precisa manipular as situações que o baralho oferece para encorajar seus oponentes a fazer a coisa errada — não apenas na mão atual, mas em mãos futuras. E quando tiver deixado seus oponentes confusos, você saberá que está no jogo certo.




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