EDIÇÃO 28 » FIQUE POR DENTRO

Análise da jogada – Cash Game

Palm Beach Casino, Londres


Felipe Mojave

A pedidos da galera da CardPlayer Brasil, vou apresentar nesta edição uma mão de cash game. Ela aconteceu na NL 25-50 (libras), no Palm Beach Casino, em Londres, durante o evento PartyPoker World Open V, de que participei recentemente na Inglaterra.

A mão foi muito interessante, pois se tratava de um jogo bem deep stack e de uma jogada um tanto quanto audaciosa da minha parte, por mais que pareça normal para mim. A maioria dos jogadores que participava da ação era composta de locais regulares e desconhecidos no cenário mundial, com exceção de algumas estrelas, como Yevgeniy Timoshenko e Sammy George, que também jogavam nessa mesa.

Eu tinha 11,4K no meu stack e a mesa tinha muitas fichas, com vários jogadores acima de 15K e o menor stack sendo de 5K. O UTG entrou de limp e a ação chegou até mim, no cutoff com K? J?, e aumentei para £275. O button deu call e o UTG também. O flop veio Q-T-6 rainbow, com uma carta de paus.

Esses dois jogadores eram locais e pelo jeito jogavam nessa mesa toda semana, pois tinham várias manias de jogadores de cash game – e todos os funcionários do cassino os conheciam muito bem. Eu já estava jogando ali havia cerca de uma hora, e tinha aumentando meu stack inicial em 1,4K.

O UTG sai disparando £800 e eu, com o meu straight draw e backdoor flush, aumentei para £2.200. Antes de agir o button pensou muito, muito mesmo, e deu apenas call. O UTG raticamente deu insta-fold, e fomos para o turn em heads-up. A quarta carta foi um 4?, que me deu um flush draw. Pensei bastante na possibilidade de disparar uma aposta bem grande,mas fiquei mesmo receoso do call daquele jogador depois de ponderar tanto, pois ele poderia muito bem ter acertado uma trinca no flop e estar aplicando slowplay na jogada. No fim das contas, achei que o check no turn era mesmo a melhor opção, pois, se ele tivesse realmente uma trinca, seria bem capaz de pedir mesa também, a fim de ganhar mais uma bet no river. Em minha opinião, seria bem difícil ele cogitar o backdoor flush ali, então eu ganharia uma carta grátis valiosíssima, já que meu draw tinha 15 outs. Pedi mesa depois de uns
15 segundos pensando, e ele refletiu durante mais ou menos um minuto até dar check também.

No river apareceu um K?, deixando então o bordo com Q? T? 6? 4? K?, e eu acreditava que estava perdendo a mão nesse instante, afinal, meu draw não bateu e o adversário se mostrou bastante sólido na jogada. Diante disso, pedi mesa novamente com o intuito de levar a mão para showdown com o meu top pair. Porém, diferentemente das demais streets, meu adversário foi all-in de 14K no river. Eu tinha £8.125 no meu stack e um pote de £6.050 mais a aposta dele no river de £8.125, que era o meu all-in, totalizando um pote de £22.300 se eu desse o call. Enfim, fiquei bastante desconfiado da jogada dele, mas tudo indicava, com base nas streets anteriores, que meu adversário teria uma trinca ou mesmo Q-T, já que A-J ou J-9 seria bastante improvável, pois com A-J ele teria dado call pré-flop e fold no flop, e com J-9 ele sequer teria pagado pré-flop naquela situação. Essas foram minhas conclusões naquele instante.

Pedi a análise de meu amigo Rafael Vieira, profissional de cash game live e online, de São Paulo. Veja o que ele disse:

Comentários de Rafael Vieira
Moja, gosto bastante de isolar limpers com mãos fortes, e certamente K-Jc é uma delas – bem standard até aí. No flop, o limp do UTG realmente não mostra muita força e, levando em conta que você ainda não tem uma mão pronta, não vejo problema no raise com um draw forte, over e backdoors. O fato de haver três jogadores no pote é um “complicômetro”, mas nessa situação eu acho que o raise é bem lucrativo. O problema vem com o call simples do 3º jogador, e como proceder a partir do turn fora de posição. O fato é que, se o que pagou estiver decente, vai perceber que você isolaria o UTG com um range não tão forte: primeiro, porque você tomou a iniciativa da mão pré-flop (e certamente não quer perder essa iniciativa pós-flop); segundo, porque realmente o lead dele mostra fraqueza.

Acho que, devido a esses aspectos e ao fato de o turn ter aumentado a equidade da sua mão, prefiro a linha bet/ call no turn: ele vai ser obrigado a largar os pure floats e até mesmo algumas mãos mais fortes, afinal, você também está demonstrando muita força em um pote 3-handed.

Do modo como foi jogado, o river fica muito orientado por leituras específicas que você tenha dele. Acho que vou de check/call justamente pelo ótimo “preço” que estou recebendo no river (ele também tem um ótimo preço no shove dele no river, e provavelmente sabe disso). Foi uma mão bem interessante mesmo.

Ação Final da Mão
Bem, conforme a análise que apresentei, acredito que seria um call bem difícil. E como o Rafa falou acima, meu adversário tem um ótimo preço para empurrar no river. Só que existe um fator que me fez dar call: a velocidade com que ele falou no river! Para mim, aquilo não fez nenhum sentido. Nenhum draw completado daria insta-all-in no river, muito menos uma trinca, sobretudo porque uma sequência poderia ter sido completada. Não há como fugir de uma aposta pelo valor no river se ele acredita que está ganhando. Assim, indo all-in, ele basicamente declara para mim que não quer ir para o showdown. Seria muito complicada a decisão de dar call se meu adversário tivesse tomado novamente o seu tempo e tivesse resolvido empurrar tudo depois de 30 segundos. Mas com essas leituras corporais e a forma como ele jogou a mão – com medo e indecisão –, dei call no river com o K e fui muito
feliz, pois ele apresentou A-Qo.

Lembrando a todos que quiserem se informar sobre como meus jogos estão caminhando, basta me seguir no twitter: @PartyBrasil e @FelipeMojave. Visite também meu blog, partypokerbrasil.com.




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