EDIÇÃO 26 » COLUNA NACIONAL

Sessão online

Situações interessantes e conceitos aplicados


Leo Bello

Resolvi fazer um artigo diferente este mês. Entrei no Bestpoker e joguei uma sessão de NL400 em quatro mesas simultâneas. O objetivo era fazer uma sessão curta de 30 minutos e selecionar mãos que eu achasse interessante comentar: não apenas grandes potes ganhos ou perdidos, mas sim mãos em que eu pudesse discutir algum conceito aplicado, como o tipo de mãos com que opto por jogar em posição e fora, quando acho que as apostas devem seguir um padrão de alavancagem ou quando uma overbet tem seu lugar.

Atente que este não é um ensaio ideal sobre as mãos, mas sim um retrato de uma sessão muito curta, algo que pode acontecer no dia-a-dia de qualquer um de vocês. Como tal, não é um exemplo perfeito de situações, mas o reflexo do que realmente aconteceu na sessão. Nas mãos que selecionei não houve nenhuma situação especificamente difícil ou complicada, apenas conceitos básicos do meu estilo de jogo aplicados.

A primeira mão que escolhi para este artigo aconteceu logo no início da sessão. Para entendermos, vamos analisar primeiro a descrição da mesa.

 MÃO #1

Como vocês podem perceber, a mesa estava com todos os jogadores bem próximos de um buy-in do nível (400), exceto pelo jogador chawips, que tinha 948. Para o meu azar, ele estava a minha esquerda. Eram cinco jogadores e eu era o segundo a falar. Saí com 7-6 de paus, uma mão que gosto bastante de jogar. O pote começa com os blinds e o “chawips” também postando, pois tinha ficado de sit out. Assim, o pote começa com $20. O primeiro jogador a falar sai apostando $20, que são cinco BB para o nível.
Decidi pagar a aposta dele. As razões para o call em um raise tão grande nessa situação são várias:
1. Há dinheiro morto do “chawips” no pote, o que aumenta a chance de eu dar call no raise do UTG e o “chawips” pagar também com uma mão fraca, e talvez um dos blinds, fazendo com que meus suited connectors joguem melhor em um multipote e com implied odds melhores.
2. Não dei tanto valor ao raise do UTG, pois com o blind extra no meio, ele tende a aumentar um pouco mais, principalmente com os botões de bet pot que o software do Bestpoker tem.
3. Terei posição sobre o raiser durante a mão.


Pré-Flop
Acabei vendo o pote em heads-up, pois todos os outros jogadores deram fold.

Flop
O bordo foi muito bom para minhas cartas, me dando duas pontas. O adversário fala primeiro. Nesse momento, temos uma situação clássica de cash game. Você em posição com duas pontas daria raise aqui caso seu adversário apostasse ou esperaria dando apenas call e vendo o turn? Jogadores agressivos advogam o raise, até porque, neste bordo, dificilmente o adversário acertou algo, e dá para você ganhar o pote agora mesmo. Por outro lado, apenas com o call você corre o risco de uma carta alta no turn (J, Q, K, A) lhe deixar numa situação desconfortável, sem saber se está perdendo.
Eu optei por dar apenas call e reavaliar o turn, o que, dentro da situação, também é uma jogada correta.

Turn
Aqui bateu um 9, não completando nenhum draw óbvio, e meu adversário rapidamente deu check. Com um jogo forte, ele com certeza sairia apostando. Com um jogo médio ou um draw, muito provavelmente faria o mesmo. O check rápido só podia significar que ele não tinha nada. O problema é que eu também não tinha nada ainda, e ele poderia ganhar de mim na carta alta. Decidi então fazer uma aposta forte, do tamanho do pote, para tirá-lo da jogada.

Ele dá fold e eu recebo um pote de $111. Como previ no início, a posição foi chave para o desenrolar da mão. Para se jogar com suited connectors, a posição é fundamental, assim como ter boas implied odds. A mesma mão sem o raise do UTG talvez me tivesse feito largar meus suited connectors.

 MÃO #2


Pouco depois, em outra mesa em que eu estava jogando, me encontrei em uma situação curiosa. Saí com um par premium (QQ) na posição UTG. Nessa mesa, os estoques também estavam equilibrados, exceto pelo jogador no SB (cassels1), que tinha apenas meio buy-in ($226).

Decidi entrar apenas de limp e ver se algum jogador daria raise para que eu pudesse voltar reraise. Novamente havia dinheiro morto no pote, pois o jogador “...MUMMY...”, que tinha ficado de sit out, postou $6 dos blinds que não tinha jogado na rodada anterior. Nesse caso, minha decisão foi quase que uma “gamble” ou “baralhada”, porque eu não tinha a menor certeza se alguém iria dar o raise que me permitiria dar reraise. A dica, nessa situação, é estar em uma mesa ativa com vários jogadores dando raises e reraises. Se for esse o caso, maiores são as chances de seu limp-reraise funcionar. Entretanto, vale lembrar que com cinco pessoas na mão, se ninguém aumentar, as chances de um pote com quatro ou mais jogadores são menores. É provável que você enfrente apenas os blinds, mesmo com o limp UTG, o que ainda lhe deixa bem. E um raise do UTG pode lhe deixar fora de posição e às cegas.

Minha aposta deu certo, posto que um jogador deu raise para $25 e o jogador no SB pagou. A ação voltou para mim, e agora a questão era definir o tamanho do reraise. Com mais de $60 no pote, qual deveria ser o tamanho do meu reraise e por quê?

A questão é que, em um cash game, quando você está deep stack, não deveria entrar com um all-in pré-flop. O cash game é um jogo em que as habilidades pós-flop são muito mais relevantes. A grande maioria dos potes importantes, nos quais você perde ou ganha um estoque inteiro, é disputada pós-flop, exceto se você estiver jogando contra alguém que entra short stack. Nesse caso, colocar todo o estoque no meio pode ser interessante.

Entretanto, há controvérsias em relação ao cash game online. Para os padrões de hoje em dia, 100BB não é considerado deep stack. Ou seja, com 100 BB e um raise e um reraise, uma boa parte já está comprometida, o que torna tênue a decisão de ir ou não all-in pré-flop. Nessa situação, decidi que, com Q-Q naquela posição e 15BB já no pote, eu estava disposto a arriscar meu estoque contra os adversários. A melhor maneira de tentar colocar tudo pré-flop era fazendo uma overbet suspeita. Decidi reaumentar para $150 num pote de $60. Minha expectativa era conseguir um shove de algum adversário, principalmente do short stack.
 

Pré-Flop
Infelizmente ninguém pagou. Por outro lado, puxei um pote bom, aumentando em 1/8 o meu estoque.

 MÃO #3


A próxima mão que eu escolhi mostra o quanto é preciso estar atento a sua posição e aos estoques dos adversários. Recebi A-7 de ouros no small blind. Todos os jogadores deram fold. Eu, no SB com uma mão de força suficiente para um raise entre blinds, aumentei pra cima do jogador que tinha um estoque de $2.000, ou seja, praticamente 5 buy-ins do nível. 
 
Pré-Flop
Após meu raise de 3BB, o big blind fez uso da força de seu stack e deu um reraise que não significava necessariamente força, visto que eu, no lugar dele, reaumentaria nessa situação com um range enorme. Ele está usando a força do estoque pra jogar potes grandes.

Essa situação é muito boa quando temos uma mão com força suficiente pra dobrar o estoque. Nesse caso, com A7, o valor de showdown da minha mão não é tão grande assim. Opto por não entrar fora de posição contra o big stack, pois sei que as apostas pós-flop serão pesadas. Dou fold e espero uma mão melhor para jogar contra ele.

 MÃO #4



Este é um exemplo da mesma situação, só que em relação ao short stack. Eu recebi um par de cincos e dei raise de 4BB. Nesse momento, o jogador short stack voltou um reraise de 11BB, comprometendo mais de 25% do seu estoque. A minha decisão com um par baixo nessa situação é se devo ou não entrar para jogar contra todo o estoque do adversário. Da mesma maneira que na mão anterior, decido que prefiro ter uma mão melhor contra esse jogador para pagar o all-in. Perceba que ele não está tão short stack, com quase meio buy-in.

 MÃO #5


Esta mão abre uma discussão interessante. Talvez a mais rica do artigo. Nela eu saio com A-A e me vejo em uma situação em que todos já estiveram. Após um raise, eu dou reraise e sou pago. O flop vem com dois Reis (K-K-x). E agora? Estou fora de posição com dois reis no bordo, que podem muito bem ter melhorado a mão do adversário, já que o range dele inclui A-K, K-Q, K-J. Acho que podemos quase excluir o K-K, pois, nesse caso, eu teria tomado um terceiro raise pré-flop. O mais provável é que eu esteja à frente, mas o flop também foi seco o suficiente para que uma aposta minha falando primeiro não receba call, e o pote termine aí mesmo.

Se o meu objetivo for tirar o máximo do adversário, a melhor chance que tenho é deixar que ele blefe. O risco que corro é de ele realmente ter o K e me tirar o estoque inteiro. O que vai fazer a diferença nessa mão é a sensibilidade de perceber pós-flop se o tamanho das apostas dele indica que ele está blefando ou que está tentando extrair valor da mão.

Pré-Flop
A ação antes do flop foi: coconutice deu fold, jbully aumentou para $8, Snkplissken também deu fold, eu aumentei para $24, NewBrainiac deu fold, e jbully deu call nos $24.

Flop
No flop, a aposta foi de praticamente metade do pote. Não é uma aposta boa pra definir se é blefe ou pelo valor. Alguém blefando pode decidir apostar baixo para tentar gastar pouco caso o blefe não passe e ele tome um reraise. Da mesma forma, alguém com o K tende a não apostar muito alto na esperança de obter um call. Decido pelo call.

Turn
Esta street deixou bem mais claro para definir de que o adversário está blefando. A aposta de U$35 em um pote que já ultrapassou U$100 evidencia fraqueza do adversário. Neste ponto, se ele tivesse o K e eu mostrasse tranquilidade ao dar call, ele apostaria bem mais forte para extrair valor dessa mão.

Aqui, fora de posição, a jogada correta é o check-raise. Se deixar passar para o river com você falando primeiro, tanto uma aposta sua no river quanto um check tendem a não trazer mais fichas, pois o adversário não vai ter coragem de atirar de novo blefando.

Mas eu falhei e não fiz a jogada correta. Quase paguei pelo erro, pois o river trouxe uma nova Q, deixando a porta aberta para um blefe mais forte da parte do meu adversário, ou ainda pior: para ele realmente ter acertado a Q no river, ganhando da minha mão com um full-house. O consolo é que mesmo com a Q na mão, dificilmente ele apostaria no river.

Acabamos fazendo um check-check. Após ver as cartas dele, J-8, passei a ter certeza de que ele não pagaria nenhuma aposta mais caso eu tivesse dado raise no turn ou apostado no river. Menos mal. Porém, vale o alerta para mim mesmo de que eu joguei a mão mal no turn. Uma dica que não pode ser ignorada nessa mão é ficar atento para saber largar caso as apostas dele indiquem que ele poderia ter esse K.

River
Tanto eu como jbully pedimos mesa, e no showdown, meu par de ases levou a melhor contra o 8J do oponente. Puxei um pote de $171.

Espero que vocês tenham gostado deste tipo de artigo. Enviem feedback pelo meu site leobello.com.br ou pelo e-mail leobello@leobello.com.br. Dependendo das respostas, vou tentar fazer outros artigos baseados em jogos online abordando tópicos interessantes.




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