Eu estava jogando um torneio particular diário no Taj Mahal em Atlantic City que tinha uns jogadores muito bons. O jogo era atípico para um torneio diário normal, pois os jogadores estavam menos propensos a baralhar sem necessidade. Houve muitas side bets também, então eu sabia que tinha de fazer alguns ajustes.
Nós começamos com 5.000 em fichas e os blinds em 25-50, o que parecia ser uma estrutura relativamente decente. Contudo, os blinds aumentavam a cada 20 minutos, então, embora você pudesse ser paciente, não era possível ser tanto assim. Depressa eu percebi que os jogadores eram bastante sólidos. Não havia jogadas insanas. Predominava o estilo conservador com agressividade seletiva. A primeira eliminação não ocorreu até o quarto nível – fato inédito em um torneio diário com quase 70 jogadores. Eu consegui evitar erros e mantive um estoque um pouco acima da média ao longo dos primeiros níveis. Após algumas horas de jogo, contudo, eu comecei a ficar short stacked. Então, fiquei mais agressivo e consegui aumentar meu estoque novamente.
Eu me deparei com uma conjuntura crítica com os blinds em 300-600 e ante de 100. Cada pote começava com 1.900, valor que valia à pena ser tomado. Eu estava em posição intermediária com um estoque de 6.000 quando a seguinte mão aconteceu. A mesa rodou em fold até mim, e eu olhei para baixo e vi par de dez. Eu sabia que ia aumentar, mas a questão era quanto. Havia uns dois estoques relativamente grandes ainda por falar depois de mim. Mas eles vinham jogando de modo bastante conservador, então eu queria apostar o suficiente para testá-los. Eu não queria dar a eles a chance de jogar com uma mão como A-J ou K-Q. Eu queria apostar o suficiente para, se eles dessem call ou raise, eu saber que estava em apuros e poder reconsiderar. Isto é, queria ficar com fichas suficientes para jogar caso tivesse de largar a mão. O big blind tinha apenas cerca de 1.800 em fichas. Eu sabia que ele estaria disposto a jogar com quase qualquer mão, então eu queria isolá-lo.
Finalmente decidi colocar 2.400, que era quatro vezes o valor do big blind. Caso eu tomasse um raise, poderia dar fold e ainda teria 3.600. Não é muito, mas esse era um grupo bastante tight, então minhas chances eram boas caso eu tivesse de jogar com um estoque tão baixo. Todo mundo deu fold até o button, que olhou para suas cartas, colocou-as de lado e então contemplou o que fazer. Eu sabia que ele iria jogar a mão: era apenas uma questão de como ele iria jogar. Ele finalmente reaumentou o suficiente para me colocar all-in. Eu estava 99% convencido de que ele tinha um par de valetes ou damas, com uma pequena chance de ter A-K. Como era de se esperar, o big blind deu call sem muita hesitação.
A ação voltou para mim, e a coisa certa a fazer era largar minha mão. Eu sabia que estava derrotado, e minha jogada original o tempo todo era me livrar dessa mão em caso de reraise. Em vez disso, paguei com meus últimos 3.600 em fichas. Como eu previ, o button mostrou par de damas. Para piorar, o big blind mostrou 10-7 offsuit, tirando um de meus outs. Meu plano de isolar o big blind teria funcionado perfeitamente — eu o tinha dominado — se o button não tivesse damas. “That´s poker”, claro.
O bordo não ajudou ninguém, e eu fui eliminado. O erro de verdade que cometi foi não ter me livrado da mão diante do reraise all-in. Eu sabia que estava dominado. Mais importante, eu tinha uma estratégia de saída para tal hipótese, mas falhei em segui-la. O foco desta coluna não é a estratégia aplicada, mas o fato de eu ter me desviado do que planejava fazer, sem nenhuma razão justificável. Se você tiver fé na sua análise e traçar um plano para determinados eventos, siga esse plano quando tais eventos ocorrerem. ♠
David Apostolico é autor de vários livros de estratégia de poker, incluindo Poker de Torneios e A Arte da Guerra. Ele está disponível para aulas, e você pode contatá-lo no endereço eletrônico thepokerwriter@aol.com