EDIÇÃO 24 » ESPECIAIS

Entrevista com Felipe Mojave


Amúlio Murta

Felipe Ramos nasceu em São Bernardo, mas morou a maior parte da sua vida em São Caetano. Quando criança queria ser palhaço. Na adolescência, vislumbrou no futebol o seu primeiro projeto profissional. Ciente das dificuldades de se consolidar no esporte mais popular do país, desistiu dos gramados. Resolveu ser músico, com direito a formação em conservatório. Formou-se em Administração de Empresas e, ironicamente, encontrou no feltro o caminho para trilhar a sua história. Estudioso, foi um dos primeiros brasileiros a se dedicar a outras modalidades de poker. Hoje colhe os frutos do que plantou.

O garoto que queria ser palhaço foi o responsável por uma das maiores alegrias do poker brasileiro na WSOP 2009. Com mais uma mesa final no currículo, desta feita no evento #35 da World Series (Pot-Limit Omaha com buy-in $5.000), o país conseguiu sua primeira final table na Série Mundial em uma modalidade que não seja Texas Hold’em.

Com uma carreira internacional em franca ascensão e resultados que falam por si só, ele foi cobiçado pelos maiores sites de poker do planeta. Agora, acaba de ser anunciado como “Embaixador do PartyPoker” na América Latina.

Então, quando se deparar com um sujeito que protege suas cartas com um dado, cuidado, pois você pode estar diante de um dos mais completos jogadores do feltro nacional.

Foi em Las Vegas, numa confortável suíte no Bellagio, que ele recebeu a CardPlayer Brasil para essa entrevista.


Amúlio Murta: Vamos falar do início. Como o poker entrou na sua vida?

Felipe Mojave: Eu conheci o Texas Hold´em através de amigos que me convidaram para jogar numa sexta-feira depois do trabalho. Juntavam os casais, namoradas, fazia-se alguma coisa para comer e jogavam. Eles me ensinaram as regras, as mãos possíveis e, já nesse primeiro dia, não sei como, eu limpei a turma. (risos)

Depois me interessei pelo jogo. Quis me informar sobre como funcionava a dinâmica da coisa. Pesquisei na internet, descobri os sites de conteúdo, o poker na ESPN, etc. Na medida em que fui pesquisando, comecei a ter vontade de participar de um torneio de Texas Hold`em de verdade. Foi aí que eu conheci o Texas Tatuapé, em São Paulo, uma casa que não existe mais. Lá eu comecei a jogar os eventos de sexta-feira e de domingo. Eram torneios freerolls ou com buy-in de no máximo vinte reais. Comecei a me dar bem, só que eu tinha muitas atividades paralelas, como o meu trabalho no banco, e os shows e ensaios da minha banda.

Aos poucos eu fui passando para os torneios de cinqüenta reais – na verdade eram SNGs de uma ou duas mesas. Foi nessa época eu entrei no “amazon” e comprei meus primeiros livros de poker. Então comecei a ler e estudar mais a fundo. Quando cheguei aos torneios de cem reais, eu já conhecia bem o jogo, tinha lido vários livros, como a “Teoria do Poker” e a “Trilogia do Dan Harrington”, a coisa começou a ficar mais séria. (para saber mais sobre livros de poker, acesse www.raiseeditora.com)

AM: Você tem no braço uma tatuagem que reúne alguns símbolos da sorte. Você se considera um sujeito supersticioso? E aquele dado que você usa para proteger as cartas, funciona como uma espécie amuleto?

FM: Eu sou supersticioso. Não ao ponto de repetir rotinas, repetir roupas que já venci torneios esse tipo de coisa.  Eu sou supersticioso ao ponto de carregar o meu santo comigo. De trazer comigo um objeto que minha mãe me deu, que me traz energia boa. Esse tipo de coisa.

Quanto à tatuagem de poker, fiz porque tem tudo a ver comigo. É uma mistura dos elementos da sorte. É uma coisa que fiz quando estava de bem com a vida, e naturalmente vai me trazer coisas positivas. Foi um presente de aniversário que eu me dei. Sou supersticioso neste sentido, acredito que coisas boas atraem coisas boas.

A história do dadinho começou no Texas Tatuapé. Fui jogar um torneio e, quando era minha vez de falar, o dealer passou a mão nas minhas cartas. Então reclamei, e eles me informaram que eu não estava protegendo as minhas cartas. Foi quando fiquei sabendo que precisava proteger as cartas. Um dia encontrei esse dadinho pra vender, acabei comprando e usando para proteger as cartas.

Quando uso o dado nos torneios, antes de fazer uma jogada, as pessoas pensam que tem alguma coisa a ver com as minhas decisões. Na verdade, há momentos em que eu estou fazendo isso apenas para analisar os adversários. Às vezes, enquanto estou ali, jogando o dado pra cima, fico observando o comportamento dos meus oponentes. Noutras vezes, estou apenas pensando na decisão a ser tomada, aliviando o stress ou simplesmente fazendo teatro. (risos)

AM: Como músico com formação em conservatório, que similaridades você vê na música e no poker?

FM: Existem muitas semelhanças! As qualidades de um bom músico são as mesmas de um bom jogador de poker: dedicação, disciplina, estudo de situações. Do mesmo modo que é preciso saber como melhorar uma melodia, deve-se, no caso do poker, saber lapidar uma jogada. Saber quais elementos podemos adicionar numa música para torná-la melhor, equivale a aperfeiçoar seu jogo para deixá-lo mais eficiente.

Além disso, um elemento fundamental para um bom músico e para um bom jogador de poker é a criatividade e a versatilidade. Um músico que conheça todas as escalas, acordes, história da música, independente do som que ele tocar, vai saber como utilizar isso nas suas composições, e fará algo com qualidade. É o mesmo caso dos grandes jogadores: conhecimento e criatividade.

AM: Há cerca de um ano e meio, em sua primeira entrevista para a CardPlayer Brasil, você já mostrava o interesse por outras modalidades. Você continua estudando outras variantes do poker?

FM: Sim, agora mais do que nunca. Eu procuro incluir outros jogos em meu portfólio. Atualmente, tenho estudado bastante H.O.R.S.E., que é um jogo que eu tinha bastante dificuldade, e venho conseguindo bons resultados. Recentemente, consegui uma vitória no maior torneio de H.O.R.S.E. da internet: o Sunday Night H.O.R.S.E. Também já fiz outras duas mesas finais de H.O.R.S.E. online.

Tenho me dedicado ainda ao estudo do Deuce-to-Seven Triple Draw, também conhecido como Lowball, e tenho me dado bem. Tanto que joguei o mixed games da World Series e caí  perto da bolha. Na internet, jogo muito cash game de Stud Hi/Lo, Deuce-to-Seven, Omaha Hi/Low, e tenho estudado muito essas modalidades. Elas são o futuro do poker.

AM: Atualmente, na maioria dos casos, o poker online vem exercendo mais influência na vida do jogador do que os eventos ao vivo. Como você chegou ao poker na internet? E como andavam seus resultados em torneios live nessa época?

FM: Na internet, comecei jogando SNG de $5 e $10 no Party Poker. Através de satélites online, consegui meus primeiros buy-ins para torneios mais caros. Era uma coisa que caminhava junto, jogo live e o online.  Eu jogava satélites online, e era lá que eu conseguia os buy-ins para os torneios live mais caros. Em abril de 2007, ganhei um satélite para os 70K do Omega. Um evento grande na época, que contou com a presença dos maiores jogadores do Brasil. Consegui fazer a mesa final, fiquei em sexto. Esse resultado me deixou muito feliz, porque foi o meu primeiro torneio realmente grande, em um field qualificado.

Na sequência, emendei outro satélite para o BSOP do Rio de Janeiro, que seria na semana seguinte. Consegui a vaga e fiz outra FT. Isso alavancou o meu bankroll. Com o BR maior, comecei a jogar uns torneios mais caros na internet e também live. Em setembro de 2007, após mais duas mesas finais, uma no Circuito ABC e outra no Circuito Paulista, eu cravei o BSOP de São Paulo. Com a vitória eu parei pra pensar, analisei meus resultados e surgiu o primeiro momento difícil pra mim, que foi quando tive que abdicar da minha banda. Foi muito difícil porque a música sempre foi uma das minhas paixões, mas no momento o poker já estava ganhando muita importância em minha vida.

AM: Pelo modo como as coisas estavam acontecendo – resultados expressivos, opção por deixar a banda, reflexões sobre como seria sua vida caso se tornasse jogador em tempo integral – tudo indicava que o próximo passo seria rumo à profissionalização. Como se deu esse processo, e como sua família reagiu diante da decisão iminente?

FM: Não foi fácil. Eu tinha uma carreira sólida no banco. Com 21 anos me tornei gerente em uma área importante, que era a de mercado de grandes empresas. Quando falei para a minha família, a reação deles não foi boa. Meu pai disse: “Você têm noção de quantos rapazes na sua idade ganham o que você ganha? Quantos amigos seus, na sua idade, tem o mesmo sucesso que você tem? Você vai jogar tudo isso fora por causa de um jogo?” Então expliquei para ele que eu já vinha jogando há mais de um ano, que eu mostrava regularidade, que meu ROI era positivo e que todo dinheiro que eu investia me dava retorno. Aí ele me disse: “Olha, você já é bem grandinho, mas faz o que você achar melhor”. Mesmo não concordando, obviamente.

Então, em janeiro de 2008, tive uma conversa com o Akkari e com o Brasa. Eu me lembro como se fosse ontem, eles falando: “Pô, e então, vai continuar vestindo terno e gravata, trabalhando de dez às seis?” Eu já tinha um rendimento bom no poker, com regularidade. Outra pessoa com quem conversei a respeito foi o Thiago “Decano”, que já havia tomado a mesma decisão um ano antes. Assim, depois de pensar muito, resolvi largar o banco e me tornar jogador profissional de poker.

AM: O sonho de todo jogador é conseguir um patrocínio. O que representa para você ser o novo embaixador do PartyPoker na América Latina?

FM: É fantástico ter sido contratado como embaixador do PartyPoker.com. É um caso realmente especial porque, até então, eles não faziam acordos desse tipo com os jogadores. Cada integrante já tinha uma ligação forte com o site antes – somos membros VIP do Palladium Lounge – e agora sou o representante na América Latina. O “Party Team” está sendo criado em diversos lugares do mundo, é o capitão do time é simplesmente o Mike Sexton. Enfim, é uma grande honra pra mim fazer parte desse grupo.

AM: O Party Poker foi um dos principais responsáveis pela massificação do poker online no mundo, quando lançou um software revolucionário no começo da década. Agora o site ressurge, pretendendo retomar sua posição de grande potência do poker online. Quais os diferenciais oferecidos pelo Party Poker nesta nova fase?

FM: O novo PartyPoker, que estreou no ano passado, me agradou bastante: está bem mais amistoso para os usuários. Mas foi o lançamento do Palladium Lounge, para os jogadores VIP, e o novo programa de fidelidade que mais me chamaram a atenção. A loja VIP do PartyPoker também está fantástica, acho que é a melhor que existe no mercado. Há itens de luxo à disposição – carrões inclusive (risos) – e também uma seção em que você pode trocar seus pontos por cash e bônus. Outra coisa que destaca a loja ainda mais da concorrência é que, no nível Elite do Palladium, é oferecido um serviço completo de “concierge”, que é a última palavra em tratamento VIP.

Isso sem falar que o PartyPoker.com faz parte de uma empresa que oferece outros jogos, disponibilizando uma experiência online completa, o que torna a conta compartilhada importante, já que permite que você jogue em qualquer uma das opções oferecidas.

Além disso, como você mencionou, o PartyPoker.com foi um dos primeiros a acreditar no mercado brasileiro: desde 2004, junto com o Clube do Poker, com quem desenvolveu um novo conceito de poker online. Nesta nova fase, o Brasil é uma parte importante da estratégia, já que é o maior mercado da América Latina. E nós vamos disponibilizar algumas promoções exclusivas nosso país:

Em agosto vai começar o “Desafio Mojave”, e o primeiro será disputar um heads-up contra mim. (risos) O brasileiro mais bem colocado no Monthly Million vai poder me enfrentar num heads-up de $1.000. Outro desafio vai ser o “Mojave Bounty”, um freeroll all-in de $2.000 somente para brasileiros, duas terças-feiras no mês. A galera vai poder jogar e conversar comigo no chat, e quem me eliminar vai ganhar um bônus de $150.

Essas são só as duas primeiras promoções do “Desafio Mojave”, então recomendo que você fique de olho na minha coluna aqui na CardPlayer Brasil, e no meu novo site PartyPokerBrasil.com, porque mais promoções virão. (risos)

AM: Vimos o novo site do PartyPoker.com, bem como a nova chamada, “Feel It”. Ela tem algum significado especial?

FM: Como parte da nova estratégia, o PartyPoker está trabalhando no relacionamento com os jogadores. Por esse motivo, foi feita uma extensa pesquisa mundial junto aos usuários, o que ajudou a desenvolver uma nova proposta para o site. E essa pesquisa identificou o it como a adrenalina que a gente sente quando bate o river, por exemplo. Na verdade, o it é algo diferente para cada um. Como você pode ver nos comerciais do PartyPoker.com na TV, é como se os jogadores estivessem no meio de um furacão de adrenalina – uma metáfora para o poker na internet e a diversão que ele proporciona. Eu gostei. (risos)

AM: Como podemos ver, sua carreira está muito bem encaminhada. Prova disso é que, entre os nossos melhores momentos na história da World Series, está a sua final table  no  evento #35 (Pot-Limit Omaha de $5.000). Qual é a sensação de fazer uma mesa final na maior série de torneios de poker do planeta?

FM: A melhor sensação do mundo. Você pensa: “Eu parei de fazer tudo que eu vinha fazendo na vida para jogar poker e agora estou aqui”. É um filme que passa na sua cabeça. Você se lembra das pessoas que lhe desacreditaram, lembra das que lhe incentivaram. Pensa na sua família, nos seus amigos. Aliás, quero aproveitar aqui para agradecer a minha família. Sou muito grato a todos porque, mesmo sendo difícil no começo, eu não estaria aqui se não fosse pelo apoio deles. A vontade que dá é ligar pra todo mundo e dizer: “Vocês que confiaram em mim, tá aqui, a vitória é nossa!”.

AM: Essa é uma pergunta recorrente em entrevistas, mas é inevitável: qual o conselho que você dá aos jovens iniciantes que admiram seu jogo e querem se profissionalizar no poker?

FM: Uma coisa é o que você quer fazer na vida, outra coisa é o que você consegue ser na vida. Por exemplo, se você quer ser jogador de futebol e têm 180 kilos, desista porque não é a sua. Esqueça. Você não vai jogar futebol, simplesmente porque está impossibilitado de fazer isso. A mesma coisa vale para o jogador de poker.

É preciso fazer uma análise e descobrir por que você quer jogar poker. Se você for uma pessoa disciplinada, paciente, que sabe controlar seus recursos financeiros, venha para o lado do poker Existe a chance de conseguir se dar bem. Quem não possui essas qualidades, melhor ficar de fora. Se você é uma pessoa ansiosa, impaciente, que não tem boa capacidade analítica, não será um bom jogador de poker.

Depois disso, muito estudo e dedicação. É preciso se preparar com afinco. Assim, meu conselho é: primeiro avalie suas qualidades, depois, procure entender o jogo. Estude, confronte as suas qualidades com o seu conhecimento nas mesas e veja qual é o resultado. A partir daí você saberá se tem ou não as características necessárias para se tornar um jogador profissional de poker.

E se você for jogar online, tenha cuidado onde vai colocar seu dinheiro. Eu confio no Party Poker não só porque sou do time, mas porque se trata de uma empresa séria, com capital aberto na Bolsa de Valores de Londres. Sei que meu bankroll está seguro lá. Outra coisa: certifique-se de que está conseguindo o máximo de valor possível pelo seu dinheiro. Um bom exemplo disso são as promoções e o programa de fidelidade do site (vide ilustração), que agora está oferecendo aos jogadores “Palladium Elite” um bônus equivalente a 40% de rakeback.

AM: Depois de tudo isso, o que vem por aí? Quais são os objetivos do Felipe “Mojave” Ramos para o futuro?

FM: Meus objetivos daqui pra frente são ajudar a desenvolver o poker no Brasil. No que diz respeito a torneios, meu contrato com o Party Poker engloba a participação em grandes eventos internacionais como o Party Poker World Open, um evento com os Top 48 jogadores do mundo, que vai acontecer em Barcelona, em setembro. Também sonho em conquistar um grande torneio internacional, e para isso vou trabalhar muito.




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