EDIÇÃO 19 » COLUNA INTERNACIONAL

Blefe Difícil Leva à Liderança em Fichas

WPT Doyle Brunson Classic


Phil Hellmuth

No jantar de 12 de dezembro, David Williams estava contando uma história para vários profissionais do poker. Ninguém na mesa acreditou no “causo”. Finalmente, Theo Tran disse: “É, eu vi a mão, ela realmente aconteceu”. Eles estavam falando sobre uma mão que eu joguei mais cedo naquele dia no Bellagio, no Doyle Brunson Classic do WPT, com buy-in de $15.000. A razão por que os profissionais acharam a mão tão incrível é porque não é do meu feitio tentar algo tão louco. O mundo do poker me vê como um jogador conservador e, durante a maior parte do tempo, é verdade. Mas você não pode ganhar 11 braceletes da World Series of Poker usando táticas puramente conservadoras! Às vezes é preciso ser louco ou sair da zona de conforto ou, como Doyle “Texas Dolly” Brunson diz: “Quando as portas se fecham, às vezes você precisa entrar pela janela”.

Eis minha loucura: com os blinds em 200-400, Theo Tran abriu raise do button com 1.200, eu paguei do small blind com 95 e Jeff Madsen aumentou para 4.000 do big blind. Tran largou e eu paguei, com a intenção de blefar se não acertasse nada. O flop veio 1074. Pedi mesa e Madsen apostou 6.500. Pensei: “Eu sei que Madsen não tem nada aqui, mas vou esperar pelo turn para agir. Desse modo, vou conseguir mais um blefe no caminho”. A carta do turn foi o 2. Pedi mesa e Madsen apostou 12.000. Mais uma vez, senti extrema fraqueza, então declarei: “Eu aumento” e joguei 25.000 de meus 30.000 restantes no pote. Madsen olhou para minhas fichas e eu disse: “Não tenho muito restante, garoto”, quando ambos vimos que eu só tinha mais 5.000. Madsen largou depressa e eu resolvi mostrar minha mão! Não fiz isso para esfregar na cara de ninguém — eu gosto muito do Madsen — mas para dizer: “Pessoal, hoje eu estou aqui para jogar poker, então saiam do meu caminho ou eu usarei seus blefes contra vocês!” Quando mostrei a mão, não esperava a reação que causou. Todo mundo na mesa deu suspiros de oh, ah e uau. Acho que foi uma jogada bastante atrevida, pois eu coloquei mais de 80% de minhas fichas em jogo em um blefe descarado.

No final de novembro eu estava na Inglaterra, disputando a Premier League Poker, e nós podíamos ver as cartas ocultas de todo mundo quando estávamos na sala verde. Notei que, sempre que eu fazia uma jogada, ela funcionava. Mais de 20 vezes seguidas, minhas jogadas funcionaram perfeitamente. Então, mais tarde, revi minhas habilidades de leitura na sala verde e eu estava com tudo. Além disso, tinha uma confiança extra em minhas habilidades de leitura quando cheguei ao evento do WPT, e estava determinado a utilizá-las para minha máxima vantagem. Os melhores jogadores de poker do mundo sabem como “produzir fichas”. Os melhores jogadores de poker vencem torneios não porque são mais sortudos do que os demais, mas porque temos uma jogada ou duas que nos garante fichas extras e nos mantêm no jogo por mais tempo. Basicamente, os melhores jogadores têm um nicho. Um nicho é o que nos separa deles — os ótimos dos muito bons. Para mim, parte desse nicho é paciência e a habilidade de sobreviver por longos períodos de tempo quando tenho cartas muito ruins. Outra parte é atacar os outros jogadores quando eu sei que eles estão fracos, o que quase sempre os força a sair da mão e me possibilita ganhar mais fichas sem correr riscos. Outra parte de meu nicho, que era mais eficiente no passado, era roubar grandes quantidades de blinds e antes pré-flop.

Aliás, quando você está jogando depressa, um pouco de sorte pode lhe valer um pote enorme. O dia inteiro eu ataquei Tran e pude notar que ele estava ficando cansado disso quando pagou um reaumento com 10-9 de naipes diferentes. Eu tinha K-Q e o bordo veio Q-9-8-10-6. Ele ganhou um pote pequeno, mas depois abriu 2.000 com A-A e eu aumentei para 6.000 com 65. Ele apenas pagou, o flop veio 8-4-2, ele pediu mesa e eu apostei 10.000. Ele então aumentou mais 15.000, totalizando 25.000. Eu paguei, um 3 veio no turn (gin para mim!), ele apostou 25.000 e eu aumentei os últimos 35.000 que ele tinha. Ele pagou e eu o eliminei. Mais tarde naquela noite, no clube Tao, Tran dizia: “Você não deve fazer esse tipo de coisa comigo! Eu é que tenho que fazer esse tipo de coisa com você. Tenho que derrotar seu par de ases com 6-5, não o contrário”. Tran é um ótimo jogador, um jovem de bastante talento, e ele planeja ganhar muitos títulos importantes nos próximos 20 anos, mas não vamos nos esquecer que há alguns jogadores estabilizados com grandes planos também. Chan, Seidel e Brunson têm usado seus nichos para ganhar títulos há mais de 20 anos! Em qualquer caso, eu acabei o Dia 1A com a liderança em fichas e muita confiança. Eu estava jogando bem, cara! Em minha próxima coluna, discutirei meu Dia 2 no WPT Doyle Brunson Classic.

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